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A Herdeira

--Dimas


A noite terminava serena na Casa da Babilônia. E os últimos clientes saiam apressados, fugindo dos raios do sol que começavam a banhar a terra, espantando as sombras da noite e despertando ao mundo ao som do canto dos galos, e os gritos dos pescadores e marinheiros que enchiam o porto da cidade, enquanto os bêbados abandonavam as tavernas, quase sem poder andar.

Os cabelos da mulher já estavam maculados pela idade e a dura vida que ela levava, mas seus olhos azuis continham ainda o mesmo fragor que há tantos anos antes, e apesar das rugas profundas e o sorriso falho, o velho a reconheceu iluminada pela luz do lampião. Por mais de uma década ela havia conseguido se ocultar, naquele dia faziam-se 12 anos desde o dia que ela os havia traído. Mas agora ele a haviam encontrado.

Haviam se passado muitos anos desde que ele havia estado naquele lugar por última vez, e muito havia mudado desde então, mas aquela casa parecia continuar a mesma que há quase trinta anos quando ali esteve naquela ocasião.

A noite era como aquela, a lua não brilhava, e sobre o alaranjado que iluminava as ruas, as estrelas brilhavam majestosas no manto celestial. O negro manto o ajudava a fundir-se nas sombras, e desde as sombras ele observou-a e esperou. Esperou a que o caminho estivesse livre, e então cruzou a rua que o separava daquela casa.

Ingressou para um recinto viciado pelos aromas, e mal iluminado. Aquela não era uma tarefa fácil, mas era fundamental, se a Ordem esperava conhecer algo do inimigo que se aproximava.
--Julia_campos
Júlia estava sentada numa das gastas poltronas da sala de estar. Os cabelos pretos manchados pelo branco da idade, caiam-lhe pelas costas pesadamente, e os seus olhos, marcados pelas olheiras, estavam perdidos e introspectivos. Há muito que o tempo lhe roubara os encantos da juventude, não era agora mais do que um espectro de tempos gloriosos. O seu corpo e as suas vontades definhavam a olhos vistos.

Os primeiros raios de sol daquele dia teimavam em invadir a sala e purgá-la da vida nocturna. Aos poucos, os quartos foram-se esvaziando e o seu colo encheu-se de moedas. As suas raparigas lançavam-lhe olhares desconcertados e saíam sem nada dizerem. Júlia não se importava, naquele momento desejava apenas o silêncio que o dia lhe trazia. A última a sair foi Madalena, a bela jovem que crescera no seu encalço...


Por momentos, Júlia fixou-se no pequeno pendente que repousava nas suas mãos. A idade também por ali passara e roubara parte do brilho àquela peça, todavia as memórias que aquele pendente lhe traziam eram mais do que muitas.

Quando a porta de entrada se fechou atrás de si, os olhos da proxeneta marejaram-se de lágrimas.

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--Dimas


Ele se lembrava daquele dia como se tivesse ocorrido no dia anterior, o cheiro almiscarado e doce daquele lugar parecia invadir o seu olfato ainda na distancia.

Aquela tinha sido uma missão confiada a ele pelo próprio Prior Bernardo e ele não poderia falhar.

Havendo entrado o jovem Dimas ao estabelecimento, seus trajes da Ordem trocados pelos de um rico mercador, o escuro manto de viagem era a unica peça de roupa negra que ele levava naquela ocasião, e portanto ele foi visto como um cliente muito especial por aquela que dirigia o lugar. Uma pesada bolsa de moedas cingida ao cinto de Dimas, ajudava nessa ideia.

Assim, não tardou muito para que Dimas, o mercador, fosse atendido.

A Madame fez desfilar diante de seus olhos a praticamente todas as moças do local, todas exceto a jovem a quem ele procurava...
--Julia_campos
Ali, ao olhar aquele pendente, Júlia sente-se transportada para outra realidade. As memórias e pensamentos de outros tempos desenrolam-se tal como um novelo a quem o fio foi puxado contra a gravidade. Emoções e sentimentos até agora distantes precipitam-se para si e embatem contra o seu coração agora fragilizado. A proxeneta sabe que escondeu o passado por demasiado tempo e está agora preparada para lidar com as consequências das suas acções. Não obstante a sua aceitação, Júlia resiste à tentação de reviver aquelas lembranças, prefere pois o doce oblívio.

O primeiro passo está dado e nada havia a fazer, as gavinhas psíquicas estão desenlaçadas e a proxeneta, de olhos fechados, mergulha no passado...

Algures no ano de 1436...

Júlia é agora uma rapariga na flor da idade. Apesar das origens humildes, a jovem é dotada de uma beleza negra. Os cabelos de ébano cobrem-lhe completamente as costas e os olhos ainda mais negros parecem prontos a engolir quem quer que ouse enfrentá-los. A pele marmórea contrasta com o vermelho vivo dos seus lábios e a candura do seu sorriso.

Sentada num dos muitos quartos da Babilónia, Júlia contempla a porta à sua frente, as mãos da jovem enrolam nervosamente as saias do vestido e os seus ouvidos estão atentos ao menor ruído proveniente da sala de estar. Naquela noite trajava um vestido róseo de decote discreto e corte justo e os cabelos estão presos num coque decorado com pequenas rosas de jardim. Há medida que o tempo passa Júlia fica mais nervosa. Já não suporta agora estar sentada e movimenta-se um lado para o outro do quarto, roendo as unhas e suspirando excessivamente. Os seus devaneios são interrompidos pelo súbito silêncio na sala de estar, num impulso ruma à porta e ali fica suspensa, aguardando não sabe quem ou o quê...

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--Dimas


Discretamente o falso mercador interpelou a Madame sobre a existência de alguma outra jovem que ali trabalhasse. Uma menina-moça de cabelos negros e pele clara. Descreveu tão bem a jovem Julia que a Madame até se estranhou por um momento antes de responder. Ao que Dimas adicionou.

- Os pagarei muito bem, pela moça correta minha senhora. - fazendo tintilar as moedas na bolsa. O tintilar do metal fez com que qualquer suspeita da Madame se esfumasse como a neblina matutina.

- Meu Senhor. - respondeu serviçal. - Temos uma jovem como a que busca, mas a tinha apartada para um cliente muito especial, que prometeu pagar muito pela primeira noite da rapariga. - e dando-se aires de importância. - Um estrangeiro muito rico sabe...

Era ela! Sim, era ela. Pensava Dimas procurando não fazer notar sua excitação. - E quanto custaria compensar-lhe o infortúnio? Posso ser uma pessoa muito generosa... - disse com a voz tranquila.

Os olhos da Madame brilharam com o prospecto do lucro e sempre poderia enganar o estrangeiro, afinal ele nunca havia visto a rapariga. Mas a família dele era perigosa, ou isso diziam... ela poderia correr um grave risco com essa treta, e no final sempre poderia colocar a culpa na pequena...

No final, a ganancia falou mais forte no espirito da Madame, e ela falou baixinho um valor ao homem.

- Quero ver a pequena, só então lhe direi se o preço que pedes é justo ou não. - impôs como condição.

Assim, acompanhando a Madame, chegaram a uma porta...

- Pois bem. Abra a porta. - indicou Dimas, cujo nervosismo já estava ao borde do controle...
--Julia_campos
De ouvido encostado à porta, Júlia tenta encontrar algum sentido para os sons incoerentes que chegam até si. O coração da jovem bate descontroladamente e pequenas gotas de suor formam-se na sua testa enrugada de preocupação. É então que ouve passos no corredor. Todos os seus instintos lhe dizem que deve voltar a sentar-se, todavia a sua curiosidade é dominante, pelo que permanece de ouvidos à escuta. O perigo iminente daquelas acções não desencoraja a pequena que, corajosamente, resiste ao instinto de assumir uma posição mais recatada.

O arrastar dos sapatos pela madeira rangente torna-se cada vez mais claro, devem estar quase a chegar...

Num ataque de pânico, Júlia acorre para a cama, sentando-se como lhe haviam ensinado. A pequena cruza as pernas, deixando entrever um pouco da carne branca por entre a racha do vestido, e as mãozinhas são estrategicamente colocadas sobre o seu regaço. O olhar ainda comporta a ternura da idade, mas os lábios molhados e a face rosada dão-lhe um ar mais experiente.

A maçaneta da porta roda e Júlia prende a respiração, aguardando a sua sorte...

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--Dimas


A Madame abriu a porta, e lá estava a jovenzinha a quem buscavam, sentada na cama, esperando.

- Olá menina. Qual é o seu nome? - perguntou com delicadeza, enquanto fazia um gesto imperativo silenciando a Madame.
--Julia_campos
Os olhos da pequena, muito abertos em espanto, observaram por breves momento o homem à sua frente.

Recordando os ensinamentos de uma das suas primeiras lições na Babilónia, Júlia concluiu que o homem seria um mercador. Apesar de ter conseguido fazer aquele raciocínio, todos os outros preceitos pareciam estar fora do seu alcance e a rapariga não conseguia encontrar as palavras para responder àquela simples questão.

Os seus negros olhos procuraram a aprovação da Madame que lhe gesticulou fervorosamente incitando-a a responder.


- Ju... Júlia, senhor.
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--Dimas


Julia. Esse é um nome muito bonito. - contestou sorrindo o falso mercador. - E quantos anos tens Julia? - Ele procurava fazê-la sentir-se mais cômoda, e ao mesmo tempo avaliava cada um dos movimentos da menina.
--Julia_campos
Júlia respirou fundo e passou as mãos pelos cabelos, prendendo algumas mexas atrás das orelhas.

- Quinze, senhor, quinze primaveras... - respondeu e levou as mãos discretamente ao colo semi-desnudado.
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--Dimas


Ele sorriu. Sim, ela há de servir. - pensou. E então se dirigiu com secura à Madame. - Vossos serviços serão recompensados, agora deixe-nos.

A Madame fez menção de se querer dizer qualquer coisa, mas havia algo no olhar do mercador que a fez capitular, e se retirou em silêncio, pensando se havia feito um bom negócio. Aquele homem começava a dar-lhe escalafrios...

Com a Madame para além da soleira, Dimas fechou a porta, enquanto perguntava: - Diz-me Julia, gostas de viver aqui?
--Julia_campos
Inconscientemente, Júlia levou as mãos à boca e roeu as unhas enquanto pensava.

- Não sei... Não conheci outra vida, senhor...

A rapariga encolheu os ombros e olhou para o chão de madeira gasto.
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--Dimas


Com a porta já fechada, ele esperou ainda alguns momentos até que escutou os passos da Madame a se afastarem resignada. Então voltou a abrir a porta, apenas uma fresta, e observou por um momento o corredor, assegurando-se de que ninguém estava ali a espiar.

Só então virou-se para a pequena. - Não precisa ficar nervosa pequena. Não estou aqui pelo que pensas, mas para conversar contigo e oferecer-te a oportunidade de um propósito para a tua vida. Mas devo alertar-te. Jamais deves contar a ninguém o que conversaremos, e se não quiser saber do que falo, estás em tempo, só tens de dizer e eu me irei e não voltarás a verme. - Disse Dimas, apelando um pouco à curiosidade de Julia.
--Julia_campos
Os lábios de Júlia arquearam-se numa expressão de admiração.

- Não está? - perguntou incredulamente, não esperando qualquer tipo de resposta.

A rapariga pareceu estudar um pouco mais a sua própria questão, enquanto mordiscava o lábio inferior. Quando por fim chegou a uma conclusão, os seus ombros pareceram relaxar e tornar-se mais altivos. As palavras daquele homem haviam-lhe aguçado a curiosidade e a menção a um segredo despertara o seu mais genuíno interesse. Mesmo naquela tenra idade, Júlia podia antever o poder que aquela confidência lhe traria.


- Fale comigo, senhor... Quero saber mais. Prometo guardar segredo. - os seus olhos brilharam e um sorriso matreiro desenhou-se-lhe nos lábios.
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--Dimas


Dimas sorriu, aquela era uma pequena vitória, restaria saber se a pequena realmente estaria disposta a cumprir a tarefa que estava por encomendar-lhe. Então, ainda apoiado contra a porta, atento a qualquer ruído que pudesse vir do exterior, disse: Está bem pequena. Lhe contarei. Um grande mal se aproxima de Portugal, o Reino está enfraquecido, debilitado pela corrupção e a inveja na alma dos que nos governam e nos enfrentamos à nossa destruição. E tu pequena, pode nos ajudar a salvar o reino desse mal que espreita, esperando para lançar-se como uma besta feroz contra sua vitima. Mas lhe adverto, não será nada fácil, e vossa vida mesmo poderá estar em risco algumas vezes. - e ele então fez uma pausa para deixar as palavras assentarem e então disse - Ainda estás a tempo de deixar todo este assunto de lado e continuar com a vossa vida.
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