Afficher le menu
Information and comments (0)
<<   1, 2, 3, 4, 5, 6   >   >>

Info:
Unfortunately no additional information has been added for this RP.

[RP] O discípulo

Johnrafael


Chegara o verão, e a forja não era mais um lugar tão agradável para demorar-se, como fora no inverno. Mas o trabalho com os machados a afiar e fazer era muito, e não haveria tempo de refrescar-se. As encomendas não esperariam.

John Rafael, em tronco nu, avental e luvas de couro, retirava uma peça de ferro da forja, olhava um lado e outro, virava-a e devolvia-a às brasas. Fez isso por quatro ou cinco vezes, até tê-la enegrecida, com um ou outro lampejo rubro. Por fim, levou a peça à bigorna e começou a dar a ela a forma básica de um machado, a marretadas.

-Tardia.
-Precoce.
-Precoce.
-Tardia.
-Tardia.


Um senhor havia entrado na forja, e olhava as espadas. Aproximava tanto o olho das lâminas que mais de uma vez o jovem ferreiro pensou que ele poderia ter furado o próprio olho. E depois de cada espada que via, dizia "precoce" ou "tardia". Quando terminou de ver todas, John lhe perguntou:

-Desejais uma espada, senhor?

_________________
Adriano


- hmpf! - fez o velho ante a pergunta do ferreiro. E passou a olhar as laminas dos machados que se assomavam em um barril. Tomava os machados um a um e os sopesava, e olhava as laminas.

- Tardia.
- Precoce.
- Tardia.
- Tardia.
- Hmpf.


Voltou às espadas, até que uma lhe chamou a atenção, pois essa não estava nem tardia, nem precoce, tomou a lamina nas mãos e a largou em seguida na mesa com outro sonoro - hmpf!

O velho Adriano já estava às beiras da sua sexta década, já havia perdido um dedo e a metade do outro no continuo trabalho de seu oficio, careca há muitos anos já, sua sobrancelha era espessa e se unia sobre o cenho ao ponto de parecer uma unica linha sobre os olhos e o nariz. Baixo e atarracado, o velho caminhava curvado. Se tivesse barbas, talvez os mais meninos o confundissem com algum anão de algum conto de qualquer jogral.

Na porta outro velho aguardava, recortando a luz do dia e parecendo apenas uma sombra recortada contra o umbral, e foi a este a quem Adriano falou, e sua voz era profunda e rouca: -Em toda esta forja não há uma unica lâmina decente! E é a este rapazola inepto que queres que tome por discípulo? - e então completa indicando com o polegar, sem virar-se, para a forja e o ferreiro - - Olhe lá, deixou passar mais uma.
Johnrafael


O senhor não era minimamente cortês. Primeiro as espadas, depois os machados. Olhou a tudo com desdém. Pegou então a espada do próprio John, que estava em uma mesa, e nem era mesmo sua, pois fora Yochanan que lhe dera quando teve a sua roubada. Essa nem precoce nem tardia, apenas mais um "hmpf".

O homem parecia desagradado com tudo aquilo, mas sem dizer nada, nem sequer responder ao jovem ferreiro. Voltou a porta, onde havia alguém que o acompanhava, mas John não conseguia ver quem era. E foi a este companheiro que o homem falou:

-Em toda esta forja não há uma unica lâmina decente! E é a este rapazola inepto que queres que tome por discípulo?

Aquilo não soou bem aos ouvidos do jovem ferreiro. Indignado com aquelas palavras, voltou a chamá-lo:

-Quem és? Diga a que vem!

-Olhe lá, deixou passar mais uma. - A lâmina que acabara de bater havia ficado mais tempo que o necessário na água. Retirou-a, mais irritado, e pôs de volta na bigorna, e depois foi ao homem.

-Senhor, eu perguntei-lhe quem és, e porque vens a mim com tais palavras. Responda-me! - pôs a mão em seu ombro, e quando o homem virou-se, reconheceu no justilho uma insígnia. A cruz de Azure.

_________________
--Dimas


Olá John. - disse o velho que ficou na porta da forja. - Permita-me apresentar-lhe a Adriano Adoy y Vivar, Mestre Ferreiro e Comendador de nossa Ordem. - apresentou Dimas ao velho que até a pouco esteve criticando as lâminas de John. - Agora vos deixarei a sós. Tenho certeza que vocês se darão muito bem. - disse sorrido. - E Adriano, tente não matar a este. - adicionou sério enquanto já se virava para sair dali e desaparecer em meio às pessoas que enchiam as ruas da cidade.
Adriano


Hmpf! Não prometo nada. - foi a resposta de Adriano às últimas palavras de Dimas enquanto observava a John de cima a baixo.

- Assim que você é o menino John. Hmpf. - e o riso de Adriano que se seguiu foi baixo e ronco. - Vejamos se podemos fazer disso daí. - disse fazendo um gesto com a mão solta para cima e para baixo diante do jovem ferreiro. - um ferreiro que se preste. Vá garoto! Não fique aí parado! Me mostre o que sabe fazer!. - Ordenou Adriano com sua voz rouca e grave empurrando a John em direção à forja.
Johnrafael


A verdade é que John não era um ferreiro tão primoroso. Sua espada, a que ganhara de seu avô (não teria sido um fantasma? Ah, já faz tanto tempo...), demorara quatro dias para ficar perfeitamente afiada, enquanto as outras só levavam alguns instantes. Seria a qualidade do aço, o tratamento da lâmina, ou o jovem era só um ferreiro muito bronco? Provavelmente um pouco das três. Mas ora, era mesmo necessário mandar um mestre?

Voltou à peça de aço. Martelou, martelou e martelou, levando-a uma vez ou outra ao fogo e a água. O homem olhava-o com um olhar inquisidor. Como se fosse matar o rapaz caso a lâmina não ficasse boa. Após algum tempo, tinha em sua mão uma lâmina batida, ainda um pouco rústica, mas já com os primeiros contornos de um machado.

Citation:
26/06/1461 01:15 : Martelaste um(a) lâmina não forjada.


-Eis aqui. Uma lâmina. Não era isso que querias ver?

Via-se um acintoso brilho nos olhos de John. Seria aquilo um desafio para o velho Mestre Adriano?

_________________




Adriano


Você chama isso de lâmina? - disse Adriano apontando para o pedaço de ferro batido que tinha diante de si. - Hmpf. Como está o teu braço? - perguntou o velho já sabendo que o rapaz teria o braço cansado. Ele via o músculo latejar e tremer embaixo da pele de John. E o apertou com força.

- Dê-me isso. - disse tomando-lhe o martelo das mãos. - Vá para casa! Você não está em condições de aprender o que quer que seja! - E com um movimento fluido fez o martelo cair uma única vez sobre a lâmina, deformando-a completamente, a um estado que a um iniciante possivelmente levariam pelo menos dez golpes e um braço cansado. E com o som do único golpe da ferramenta sobre o pedaço de metal ainda a ressoar na forja, o velho deixou o martelo ao lado da peça deforme com um último e sonoro - Hmpf. - e saiu sem falar nada mais. Aquele potente golpe não o havia cansado no mais minimo.

O próximo dia seria um novo dia mas não por isso um melhor dia.
Johnrafael


Ahhh! - O braço do homem era forte. Muitos anos de forja fariam isso consigo também, mas isso nem passava pela cabeça. E tamanha força ficou comprovada em uma martelada que danificou a lâmina.

O cansaço que se abatera era quase ínfimo diante da vergonha. Era um bom ferreiro, fazia tudo com muito esmero e paciência, mas não tinha a forja há muito. Cerca de um ano ou ainda menos. Deixou a lâmina inutilizada por lá, depois teria de consertá-la, e foi embora.

---

Na manhã seguinte, tomou novamente o caminho da forja, pronto para continuar o seu trabalho naquele machado, que teria que ser batido para tirar a imperfeição que o velho deixara. E qual foi sua surpresa, ao chegar às portas de sua oficina? Lá estava de novo o homem

-Mestre Adriano, bom dia. - Disse num misto de incômodo e cortesia.

_________________
Adriano


-Chegas tarde! - resmungou Adriano - Hoje não trabalharás na forja. Venha comigo.

E com passos acurtados pela idade, tomou o caminho até a pedreira da cidade.

Ali diante das pedras, do pó, e do constante som das ferramentas em contra das pedras, colocou nas mãos do jovem um martelo. Mas não era um martelo ordinário. Completamente de madeira, tinha apenas uma pequena superfície de metal na cabeça, justo no centro, e a haste era em realidade um feixe de varetas mais finas unidas em volta de um interior quase completamente oco por onde passava uma vareta de metal espinhada sem tocar por muito a nenhuma das frágeis varetas de madeira.

O velho mestre viu a desconfiança na cara do jovem quando lhe entregou a estranha ferramenta, mas apenas disse - Venha.

E o levou a uma pilha de pedras menores. - Faça-as pó, usando, mas sem danificar o martelo! - disse apenas. Aquelas pedras destruiriam a madeira do martelo, assim como as espinhas de metal feririam a mão do aprendiz se segurasse o martelo demasiado forte, mas se o jovem agarrasse o martelo com corretamente, firmando o agarre apenas no momento do golpe e com golpes certeiros, então um engenhoso mecanismo oculto no interior do martelo manteria as mãos do aprendiz a salvo dos espinhos e a madeira a salvo das pedras.

Com as primeiras marteladas já se via as magulhas na madeira e o sangue a gotear, e a cada martelada errada os espinhos se cravavam na mão do aprendiz, e a madeira da cabeça do martelo se danificava.

Em determinado momento Adriano se aproximou e proferiu um seco tapa na parte de trás da cabeça de John. - Hmpf! Acaso foi um estúpido o que te ensinou a ser ferreiro! Ou talvez tenha sido um alfaiate!! Faça as coisas direito ou mude de profissão seu tolo! - disse rispidamente. - De novo! - ordenou para que o aprendiz continuasse a quebrar aqueles pedaços de pedra.
Johnrafael


O mestre olhava para John Rafael martelando, mas olhava com um olhar quase despreocupado, contemplando qualquer coisa que um mestre ferreiro pudesse contemplar naquela mina, ou em outras palavras, "vai se saber".

Enquanto isso, John não olhava para o mestre, poupando-se da irritação que seria discutir com aquele senhor. Mas a cada martelada que errava, sentia a pele ser cortada e rasgada pelos espinhos. A dor era maior a cada erro, pois além de abrir cortes, os espinhos entravam nos cortes feitos pelos erros anteriores, o que além de causar uma dor excruciante, fazia os dedos e as palmas da mão direita ficarem rubros de sangue. E quando não suportava a dor, e fez menção de parar para enrolar a mão com uma faixa de pano, recebeu um tapa na cabeça.

Hmpf! Acaso foi um estúpido o que te ensinou a ser ferreiro! Ou talvez tenha sido um alfaiate!! Faça as coisas direito ou mude de profissão seu tolo! - Sua voz era cruel. - De novo!

John Rafael pegou a faixa de tecido desajeitadamente com a mão esquerda e deu um nó malfeito, puxando depois o nócom os dentes. Não adiantaria pedir ajuda àquele homem, ele só escarneceria do rapaz, antes de mais um "Hmpf."

As mãos tremiam e o sangue já começava a ensopar a faixa, mas John não podia parar, nem que as mãos ficassem em carne viva. Procurava, já beirando o desespero, um jeito de terminar logo aquelas pedras, antes que sua mão fosse ainda mais judiada.

_________________
Adriano


O sol já começava a descender em direção ao poente quando Adriano mandou John parar de martelar. Do pano mal amarrado linhas de sangue escorriam pelo braço e pingava no solo de terra e pedra da canteira.

Tomando a mão de John, o velho retirou o pano, que já se esfarrapava pelo contato com os espinhos de metal, sem qualquer cuidado e pôs-se a observar as marcas que a ferramenta deixou na mão do jovem aprendiz de ferreiro.

Hmpf. Ainda falta muito. - disse e tomou o martelo e o observou com cuidado. - realmente falta muito. - E tomando um odre que tinha preso à cintura verteu o liquido claro que continha na ferida do jovem. O ardor do contacto do destilado na ferida foi visível no rosto do jovem.

Adriano então tomou o martelo, cuja madeira embebida com o sangue do jovem ficara mais avermelhada e úmida, e com um golpe seco transformou a pedra seguinte em pó, sem machucar sua mão e então verificou a cabeça da ferramenta. A madeira estava destroçada pelos constantes golpes errados que o aprendiz proferiu.

Balançando a cabeça em desaprovação, o mestre disse: - Vá cuidar dessa mão e esteja na forja no cair da noite.
Johnrafael


Aos poucos foi pegando o jeito, mas como o martelo já tinha o cabo um tanto desgastado, os espinhos continuavam a ferir-lhe as mãos, e o sangue continuava a escorrer entre gemidos abafados. Quando Mestre Adriano mandou que ele cessasse as marteladas, sentiu um alívio na alma, mas que não durou mais do que dois minutos.

Quando Adriano retirou-lhe os trapos com que usara sem sucesso para tentar proteger a mão, deu-se conta de quanto tempo estivera ali. Os cortes eram tantos que Rafael quis rasgar mais um pedaço da manga para proteger as feridas. Doía muito e doeu mais ainda quando Adriano derramou aquele líquido sobre os cortes. Lancinante. Parecia que o jovem ia morrer ali mesmo. As pernas ficaram fracas e caiu de joelhos, depois deixou-se cair inteiro no chão de pedra. Não queria gritar, mas a expressão grotesca de dor tomada pelo seu rosto foi maior que qualquer grito.

Caído no chão, arrancou com os dentes outro pedaço de pano da camisa, enquanto Adriano estraçalhava as pedras com uma expressão serena. Por fim, quando o mestre voltou-se ao aprendiz e mandou que fosse cuidar da mão, Rafael levantou-se. Com o rabo entre as pernas e humilhado, deixou a pedreira.

_________________
Ceu


Quando o senhor chegou, estava trêmulo, sujo, sangrando e com as roupas rotas. Se Fllora não já estivesse aproveitando (ou evitando) o calor do verão em Viana, seria um desespero de "leva maridinho pra cima, dá banho no maridinho, aplica compressa, tira compressa...". Rafael era muito mais prático.

-Maria do Céu, sofri um infortúnio no trabalho. Vou subir e me banhar. Peça que a senhora Natureza (aia de Fllora) suba e leve cataplasmas e bandagens. Leve-me pão e vinho forte, com raiz de valeriana e depois não torne a me chamar até o crepúsculo.

Em alguns minutos, Natureza subiu com uma bacia de água fervente e submergiu a mão do senhor. Não costumava reclamar das queimaduras que ela lhe tratava, mas visto que aquelas feridas eram mais profundas, foram grunhidos entrecortados por longos goles no vinho. Bebera tanto que antes da senhora terminar, a Valeriana já fazia efeito e Rafael piscava constantemente. Logo as feridas estavam cobertas por cataplasmas e bandagens e o jovem dormia profundamente.
Ceu
Duplicado
Yochanan


A noite era fresca comparada com o calor diurno. Já havia se passado algum tempo desde que o sol havia lançado seus últimos e rubros raios sobre a capital do norte português antes de desaparecer na linha do poente. Agora eram as chamas que iluminavam as ruas da cidade, e a aquela figura encurvada junto à entrada da forja do Viana-Lobo.

Boa noite Adriano. - disse o homem aproximando-se do velho. - Fico agradecido que tenhas aceite meu convite. - Sua voz era calma e transmitia grande tranquilidade.

O velho começou a fazer uma vênia que foi logo interrompida pelo homem que trajava roupagens muito similares às do mestre ferreiro. - Não há necessidade disso Maese - Disse o Prior fazendo por sua vez uma leve vênia com a cabeça enquanto dizia - Sou eu quem devo respeito aos vossos conhecimentos.

O Prior observou as estrelas que despontavam contra a escuridão do manto noturno, opacadas em parte pelo brilho da tochas e lampiões que criavam estranhas sombras contra as pedras habilmente calçadas daquelas ruas.

Os tempos estão mudando - disse o Viana, ao que o velho ferreiro olhou com seus olhos já algo velados pela idade, aos pontos de luz que pendiam da cúpula celestial.

Ambos então conversaram por alguns minutos, até que o Prior partiu, fundindo-se novamente nas sombras noturnas.
See the RP information <<   1, 2, 3, 4, 5, 6   >   >>
Copyright © JDWorks, Corbeaunoir & Elissa Ka | Update notes | Support us | 2008 - 2024
Special thanks to our amazing translators : Dunpeal (EN, PT), Eriti (IT), Azureus (FI)