[RP] Dois raptos para uma vítima

Após a refeição Ava se dirigiu para a esteira que ficara junto ao leito de Letecia. Sabia que nessa noite não iria conseguir dormir, e que a sua vida poderia depender da sua capacidade de resistência a o sono.

Mesmo ferida, Leticia poderia ser perigosa e o único desejo de Ava naquele momento era apenas e só que o prometido reencontro ocorresse.

As palavras de william tranquilizaram-na e a esperança surgiu novamente no rosto e nos olhos de Ava.



- Obrigada caro senhor, por tudo. Por me salvar e por me levar até ele. Espero que esse ferimento seja apenas superficial. Desejo-lhe uma boa noite e irei agora retirar-me e descansar um pouco.

A cavalgada até a casa do pescador foi lenta, por causa do ferimento de Letícia e das dificuldades iniciais de Ava com a montaria. A casa era distante e o local ermo. O velho pescador e a esposa receberam William e os demais com surpresa, mas os acolheram prontamente.

Letícia foi deitada sobre um leito enquanto a mulher do pescador cuidava dela, William contou-lhe dos problemas que enfrentaram. Eles ficariam lá aquela noite e na manhã seguinte William providenciaria uma carruagem.

Para Ava foi providenciada uma esteira ao lado da cama onde estava Letícia. William ficaria na sala. Antes de dormir o pescador serviu-lhes um pedaço de pão com um caldo de peixe que era o melhor que tinha pois já era muito tarde.

Antes de recolher-se William dirigiu-se a Ava.

- Amanhã iremos partir, não se preocupe. Conseguirei uma carruagem e eu levarei a senhorita e também Letícia para onde está o prior.

- Eu vou sobreviver, não se preocupem.

Ela disse tentando disfarçar a dor que sentia, e o fato de estar tonta. A noite esfriara de repente.

- Maldito, o que ele quis dizer com resta apenas uma?

Letícia perguntou olhando o vazio. A resposta aquela pergunta era terrível, dura demais para admitir. Ela era a última Medali dos Azure. Ela vociferou um palavrão em francês, sua língua natal e perdeu os sentidos. Estava viva, mas desmaiara.

William não questiona, ele segue o pedido de Letícia e vai atrás de Ava, que está sendo levada pelo besteiro. Felizmente, a segunda carga torna o cavaleiro menos lépido. William é capaz de seguir o rastro e saindo em disparada alcança-o depois de um grande esforço. O besteiro tenta em vão atingir William ao perceber sua aproximação e como uma distração deixa o "pacote" cair ao chão para assim escapar.

William fica preocupado temendo que a queda tenha ferido Ava. Ela sentiu dor ao cair repentinamente, sofreu escoriações e contusões mas felizmente não quebrou nada. Ao menos é o que parece. Sem tirar o capuz da moça, William a coloca em seu próprio cavalo e leva-a rapidamente até Letícia, preocupado também com a loira, que fora ferida. Seu próprio ferimento doí e sangra muito, mas ele nem se apercebe no momento.

Somente quando ele chega ao local onde está Letícia, ele tira o capuz e Ava pode ver que ali estão Letícia e um homem de cabelos escuros e olhos verdes. Ele tira a mordaça de Ava, mas não a solta e vai até Letícia socorrê-la do ferimento em seu ombro.

- Espero que esteja bem. Não pude evitar sua queda. Assim que estancar o ferimento em Letícia eu trato da senhorita.

Ele diz a Ava, enquanto procura socorrer a loira estendida no chão com um grande ferimento em seu ombro e que está perdendo muito sangue. Ava nota que o homem também tem um ferimento no tórax e sua camisa está suja de sangue.

- Sim, sou eu, não achei que fosse me reconhecer. Sempre me achou tão insignificante, não? Confesso que estou surpreso com a presença do Hiberno, vamos ver se essa sua lâmina é assim tão aguçada quanto dizem.

Ele diz e dois dos homens partem com as espadas para cima de William, que luta com a sua espada e uma main gauche, atacando e defendendo-se habilmente dos golpes. Mas acaba recebendo em meio a luta, um corte em seu tronco, ainda que não tão profundo. Os guerreiros escolhidos por Apolinário são mais habilidosos do que William inicialmente supôs.

- Quanto a você Letícia...Resta apenas uma... Letícia, Lethes, estás fadada ao esquecimento...Assim como seu prior. Eu vi a execução, ainda não entendo porque roubaram o corpo, mas vou descobrir.

Ele diz e sorri atacando Letícia com sua espada. O homem que está com ele, ataca-a também. Letícia luta não com espadas mas com um punhal. A aparência insignificante de Apolinário Celestino esconde um brilhante espadachim. Letícia é habilidosa, mas não consegue defender-se de um dos golpes de Apolinário que a fere no ombro direito. A força do ataque quase derruba Letícia que se defende atirando um alfinete de cabelo contra o olho de Apolinário que grita com a dor provocada.

É o tempo dela pegar novamente o punhal e atirá-lo contra o segundo atacante, atingindo-o mortalmente, no peito.

Em silêncio, Apolinário Celestino indica aos homens que peguem a moça e tragam até ele. A ausência da alegria da caçada o exaspera. Um novo virote é disparado, e dessa vez prendendo a manga do vestido de Ava à uma árvore próxima.

Ela vê um grupo de três homens armados com espadas saindo das sombras e cercando-a. O besteiro não se revela, mas provavelmente está ali também a espreitá-la.

Apolinário Celestino apenas observava Ava através das árvores da floresta, em absoluto silêncio. O ar parecia mais pesado e aquele silêncio repentino era o presságio de algo ruim.

A moça distraidamente desfolhava a flor e o homem pensava em como seria interessante desmembrar a jovem parte por parte, mantendo-a sempre consciente, ainda viva até o suspiro final. Se ela sabia algo certamente falaria custasse o que custasse. Havia um mistério envolvendo o sumiço do corpo de Yochanan, e ele o desvendaria. Em meio a esses pensamentos ele suspirou candidamente. Um dos homens que o acompanhavam imaginou que aquilo fosse encantamento pela bela moça colhendo flores, com seus belos olhos como uma corça entre as folhagens.

Apolinário fez sinal ao besteiro. Era o momento da caçada. Ele queria a diversão da perseguição e não apenas derrubar uma presa desprevenida.

O homem disparou uma seta que esmigalhou a flor que Ava segurava, passando rente a sua mão e por pouco não a atingiu. Mas essa não era a função do disparo. Ele desejava apenas alertá-la, assustá-la.

- Isso é mesmo estranho, mas ele pode estar com algum problema. Não vejo necessidade de me acompanhar nessa missão, será simples, mas se é o que o seu instinto diz, será um prazer.

Letícia disse e sorriu ao irlandês maliciosamente, segurando em sua mão. Em seguida, ela tomou um trago de whisky e mal bebeu, logo levantou-se, convidando-o a acompanhá-la. Letícia encostou-se levemente em William ao passarem pela porta, insinuando-se a ele. O homem alto apenas sorriu, sem demonstrar segundas intenções, acompanhou-a até os cavalos.

Os dois tomaram cada um o seu cavalo, e um dos homens que veio com a loira iria também com eles. Era mais que suficiente para dar conta da missão. O informante que vigiava os passos de Ava, dera a William os detalhes da rotina da jovem, e eles tinham um bom palpite de onde encontrá-la a caminho de casa. Ela não devia ter tempo de chegar a residência.

No silêncio da noite, Ava era observada, cuidadosamente...

Cada gesto seu era analisado, e em pensamento seu futuro algoz já a imaginava dependurada, pronta para o sacrifício que daria início ao seu ritual de vingança. Enquanto ele a observava, seus pensamentos iam longe ao passado, apegando-se a lembrança de seu pai a quem tanto admirava.

Uma perda irreparável com a tola desculpa da manutenção do equilíbrio em uma guerra injusta em que ele foi sacrificado em vão. E para que? Para o crescimento e o orgulho da ordem de Azure? Para a sustentação de um grupo de privilegiados?

Ele tinha certeza que a causa da ruína de seu pai fora a inveja da grandeza dele, de sua sabedoria, pois ele sim deveria ser o grão prior, e não um velho tolo, fraco e solitário envolto em um manto negro, que sem seus asseclas mal se manteria de pé.

Ele que tinha em suas mãos a energia e o vigor de tantos comandados e não agia como deveria agir, conquistando o mundo a sua volta e criando um império digno de seus nobres antepassados. Faltava-lhe força e intrepidez. Mas ele derrubaria aquele estrupício e se ergueria sobre todos, esmagaria a ordem de Azure com a violência de um anjo vingador e traria o verdadeiro poder aos escolhidos.

Mas por enquanto ele apenas observava Ava e antecipadamente se regozijava com o sabor que teria a sua vingança.

Letícia partiu imediatamente, seguindo as ordens do prior "renascido". Ela tinha urgência em realizar a segunda parte do plano. Imaginava que tudo seria fácil e rápido, uma vez que a sua vítima jamais imaginaria o que se sucederia, nem o que lhe fora planejado.

As palavras de despedida de Letícia para Ava, foram breve e imprecisas, ela dissera apenas que enviaria notícias e nada mais.


Desse modo, Letícia retornara e Ava não tinha consciência de que forma essas notícias seriam recebidas.

A noite estava escura e um denso nevoeiro cobria a cidade. Letícia e sua comitiva prenderam seus cavalos na estrebaria da estalagem, onde seu colaborador os esperava. Todos os detalhes deveriam estar prontos. Eles incluíam a carruagem que levaria Ava e a droga que usariam para dopá-la.

Ela só saberia do ocorrido quando já estivesse praticamente na presença do prior.

O plano era perfeito. Assim pensava Letícia. Ela não contava que mais alguém arquitetara planos para Ava.

Letícia acordara irritada. O ferimento ainda doía e ela queria levantar-se daquela cama a todo custo. Notou que Ava dormia em uma esteira perto dela.

As imagens da noite anterior soaram confusas. Ela estava irritada e principalmente preocupada.

- Eu estou bem, isso não foi nada. Já estou pronta pra outra. Agora preciso me vestir e sair daqui.

Ela disse insistente e a mulher do pescador deixou-a e foi trazer uma bandeja com um prato de mingau e um pedaço de pão para Ava que acabara de acordar.

Depois de Letícia vestir-se ela se alimenta. Parece de péssimo humor. William vai chamar pelas duas para partirem. Ele se despede do pescador e da esposa deste agradecendo a acolhida e desculpando-se pelo trabalho dado.

Ele conseguiu uma carruagem simples, mas que poderá conduzi-los.

- Letícia ficará em uma fortaleza no caminho, ela ainda não tem condições de seguir até o final. Fico mais tranquilo se ela tiver tratamento adequado. Também preciso de alguém para observar as coisas aqui. Ainda estou preocupado com a nossa situação e a forma como Apolinário Celestino ficou sabendo dos nossos planos.

William ajuda Letícia e Ava a entrarem na carruagem que em seguida parte conduzida por um cocheiro também da confiança de William. A viagem é longa e tediosa, pois Letícia não conversa, envolta em seus pensamentos assim como William, eles param ao anoitecer em uma cidade próxima onde William pede três quartos, para que os viajantes possam ter um descanso mais adequado antes de prosseguirem. Nesse local William procura também alguns de seus contatos.

Felizmente para Ava, nessa pousada ela tem acesso a uma toalete mais elaborada.

Na manhã seguinte eles partem e no próximo anoitecer, Letícia é deixada em uma fortaleza remota, onde todos passam a noite antes de prosseguir para seu destino final.

No dia seguinte, ao entardecer, a bela paisagem das colinas cobertas de neve se delineiam ao horizonte. O grupo finalmente avista a cabana que William sabe ser o local onde se encontra o prior. A carruagem para e William desce e em seguida ajuda Ava a descer.