Afficher le menu
Information and comments (0)

Info:
Unfortunately no additional information has been added for this RP.

- O Retorno do Prior -

Yochanan


Parte 1 - O Jardim das Pedras

A pequena missão que se impôs para resgatar o sobrinho desaparecido havia minado em grande medida as forças do, ainda em recuperação, prior. Sua idade já não lhe permitia que feitos como aqueles que lhe foram exigidos o deixassem incólume como quando era jovem.

Assim, apesar de ter que estender sua morte por mais alguns meses, seu espirito estava tranquilo pois sua família estava bem e a Ordem havia sobrevivido.

Enviado por Alvorado à uma antiga, pequena e quase esquecida casa de cura dos Altai, o Viana viajou para o norte, além do Paço dos Arcanjos e do rio Lima adentrando as serras do norte português três dias após o solstício de verão. E quatro dias mais se passaram antes de que a pequena e lenta comitiva cruzasse os limites do Jardim das Pedras, nome que recebia aquela casa de cura.

A seu pedido, desde antes mesmo de partir em busca de Raphael, Alvorado havia estado avisando a Maese Teodoro, de quem havia sido discípulo muitos anos antes, do estado do Prior. Não era portanto nenhuma surpresa encontrar que era o reverendo ancião quem os recebia no jardim das pedras. O velho mestre já não usava o negro dos Azure, mas o hábito ocre e púrpura que os Altai costumavam usar antes da queda da Grande Ordem das Nove Sociedades. Apoiado em seu bastão, Teodoro era a viva imagem do sábio ancião, e nem o próprio Yochanan conseguia recordar como era aquele mestre quando jovem, apesar de que tinha a certeza que Teodoro não tivesse mais que uma trintena de anos a mais que ele.

Abriram-lhe a porta do coche, e o ajudaram a descer os pequenos degraus. Sua fisionomia ja delatava o esforço ao que havia se submetido. Mas o Viana ainda teimava em caminhar sem ajuda, assim, com passos lentos, percorreu a distância que os separavam e diante de Teodoro, lhe fez uma vênia respeitosa, pois aquela era a última verdadeira casa dos Altai.

-Que a Luz dos Nove ilumine o vosso caminho Maese. - disse o prior fazendo a saudação tradicional da Grande Ordem, levando a mão esquerda ao peito ao fazer a vênia.

-Que vosso caminho seja iluminado. - replicou Teodoro com a fórmula tradicional. - Bem vindo ao Jardim das Pedras, Prior. E tratemos que aqui o senhor descanse como deve. - ralhou-lhe com um leve toque de brincadeira.

-Tratarei meu amigo, tratarei. - respondeu o prior com um leve sorriso, meio apagado pelo cansaço, no rosto.

Quando as solidas portas se fecharam atrás deles, também fechou-se o mundo exterior ao outro lado delas. Ali, no jardim das pedras, o tempo se sentia diferente, e o mundo já não era o mesmo.


Continuará...
_________________
Yochanan


Parte 2 – A estrela da manhã vespertina

No Jardim das Pedras os dias passavam em serena paz. Ali sempre havia o que ser feito, e ninguém ficava ocioso. Com o passar do tempo Yochanan se recuperava, as feridas recebidas já não mais que cicatrizes a somar-se às constelações de outras tantas que marcavam seu corpo. O cansaço extinguia-se como azeite no candeeiro, lenta, mas continuamente, e o espírito do arcano se fortalecia novamente.

Poucas eram as visitas que ele recebia naquele lugar isolado, e muito de seu tempo era passado em profundas meditações, mas, uma visita que continuava a ir observar seu estado era Alvorado, quem lhe havia socorrido há tantos meses já, e graças a quem ele seguia com vida.

Foi no dia que antecedeu a partida de Alvorado, naquela que era a terceira ou quarta vez que o visitava ali que o Viana teve o privilégio de ser parte de uma antiga cerimônia Altai que não era realizada há pelo menos seis gerações de acordo com os relatos que ele ouviu no Jardim; a cerimônia da Vespere Alvorada.

Durante essa cerimônia o Grão Mestre reconhecia ao seu sucessor e dava inicio às suas funções, ao longo das quais o Grão Mestre delegaria ao seu sucessor a liderança dos Altai. Deste modo aquela pequena comunidade reafirmava sua tradição e seus votos ancestrais de cuidar e curar o corpo e a alma dos homens.

Após a cerimônia, Alvorado partira de regresso à cidade, de onde continuaria sua labor. E Teodoro convidou Yochanan para ceiar com ele em seus aposentos. Durante a ceia eles conversaram.

-Me alegra que hajas consentido ceiar comigo meu senhor Prior. - começou a dizer o ancião Grão Mestre. - Mas se não lhe for incômodo, gostaria que deixássemos de lado as conversas frívolas e abordássemos diretamente os assuntos que temos de tratar. - ele fez uma pausa longa, tomando um gole do cálice que tinha diante de si antes de continuar com a voz rouca tão familiar ao Prior. - Até onde sabemos, do Antigo Conselho restamos apenas nós e as Irmãs, que desde a secessão hão se mantido alheias ao destino dos Priorados, apesar de ajudar-nos sempre que pedimos.

Ante essas palavras o Viana assentiu. A ordem das Irmãs Descalças de Viana, foi uma das primeiras a ter como padroeira a Santa Luzia, quem não só era uma antepassada da Família Viana mas também uma das primeiras mestras dos Altai do espírito.

- Conheço bem as Irmãs e o voto que elas fizeram quando a Grande Ordem colapsou, Maese. - respondeu o Viana. - Elas continuarão fiéis ao Caminho que escolheram, e a nenhum outro. Onde nossos Caminhos se encontrarem, trabalharemos juntos, onde se separarem, continuaremos como amigos. - Ponderou o Prior já imaginando o porque daquele assunto. Recostando-se no encosto da cadeira disse. - Não creio que as Madres voltarão aos Altai, Teodoro, a menos que a mismíssima Santa Luzia lhes apareça e lhes diga que assim o façam. - brincou.

- Então restamos apenas nós. - Disse o velho grão mestre com voz cansada e sem dar atenção à brincadeira do prior.

- Por isso mesmo lhe peço ajuda meu amigo, agora vejo que só a Ordem não será suficiente para defender o Equilíbrio nesta nova era, precisaremos treinar novos Arcai. - Ele disse serio. Uma atmosfera pesada caiu entre eles. Fora o falecido maese Dimas, apenas Yochanan restava dos Arcai, o menor e mais arcano dos nove priorados da Grande Ordem e os Azure originais. Eles terminaram a ceia em silêncio meditando sobre as repercursões daquela decisão.


Continuará...
_________________
Yochanan


- Parte 3 – O Arcano

A decisão estava tomada antes mesmo daquela ceia com Teodoro, e medidas haviam sido já colocadas em prática para que tivesse inicio o treinamento de um novo Arcano, e para o retorno do Prior quando fosse o momento adequado. O tempo passou sereno naqueles paramos e assim muitos dias já se haviam passado desde que o Viana havia chegado.

Restabelecido de sua aventura e curado de suas feridas, o Viana ainda permaneceria ali alguns meses se não fosse as noticias que alcançaram aquele refúgio nos idos de julho.

Foi uma mensagem de Letícia que alertou ao Prior sobre a prisão de Ava, e das noticias que trazia Eleazar de sua visita ao Paço dos Arcanjos. Mas dentre noticias nefastas, haviam aquelas que alegravam o coração do Viana, como a de que sua pequena Celly noivaria dali a alguns dias.

Com linhas rápidas, ele despachou três mensagens naquele mesmo dia, uma para Eleazar, com quem se encontraria dali a alguns dias, outra para William, a quem encomendava buscar Ava quando esta fosse liberta da prisão, e uma terceira para Letícia, a quem encomendava um trabalho que requereria de toda a sua arte.

No final daquele dia se encontrou novamente com Teodoro.

- Parto com a primeira luz de amanha, Maese. – disse o Prior ao Grão Mestre dos Altai.

- Não esperava outra coisa de ti meu amigo, mas quanto aquilo que conversamos no outro dia, já tens em mente a um aprendiz? – indagou o velho mestre. – Se não me falha a memória treinar a um Arcano é algo que leva muitos anos e requer de um tipo especial de pessoa para suportar as provações. – ponderou.

- Vossa memória lhe és fiel Maese, e é por isso mesmo que por vosso intermédio já dei inicio à primeira das provações. - Disse o Prior. – Está tudo preparado para que um novo arcano se revele, se ele for merecedor, ainda que eu não viva para vê-lo. – disse serio.

- A caixa. – recordou o velho herbolário com um misto de afirmação e dúvida. – Aquela era A...? – perguntou surpreso sem ser capaz de dizer em voz alta o nome da antiga relíquia dos arcai.

Yochanan sorriu, mas negou com um gesto de cabeça, para um visivelmente aliviado Teodoro. – Aquela é apenas um meio para ver a Verdade, e encontrar a primeira Porta.

- Portis Terrarum. – murmura o ancião.

- A primeira das nove portas arcanas. – confirma o Prior assentindo ao murmuro de Teodoro.

Recostando-se na cadeira ambos homens ficaram em silêncio por vários minutos até que um dos irmãos que serviam na casa do Grão Mestre veio avisar-lhes que a ceia estava servida.


Continuará...
_________________
Yochanan


Parte 4 - A benção de Atena

Após deixar o Jardim das Pedras, Yochanan viajou sem cessar até o lugar combinado com Eleazar, uma das poucas pessoas que conheciam a verdade por trás de sua morte. Naquele então, quantos menos soubessem, melhor seria. Mas os tempos haviam mudado, e agora a situação era outra.

O presente aos sobrinhos em Roma havia sido uma manobra arriscada, mas ainda assim ele arriscou. Com Celestino morto e os sobrinhos reencontrados, eram tempos de jubilo. Já se haviam transcorrido várias semanas desde a sua "morte" e outras tantas desde o duelo com Celestino. E aquela seria apenas uma pista, uma migalha dentre as muitas que ele já havia deixado no caminho dos dois jovens. Agora ele apenas esperava que eles houvessem já descoberto ao menos a primeira parte do quebra-cabeças.


Os dois homens adentraram o bosque e avançaram entre as folhagens até chegar ao pequeno descampado onde um busto de branco mármore jazia, testemunha de um passado a meio contar, de uma verdade oculta por muitos anos. Yochanan se recolheu diante daquela efígie da mulher que ele havia amado e que falecera tantos anos antes, da mulher que lhe havia dado tanto e que por sua causa havia morto, da mulher que era a mãe de sua filha. Sarah Athena Korinthiellis de Viana, sua primeira e única esposa, seu primeiro grande amor.

Eleazar sentou-se ao pé de uma das árvores que rodeavam o descampado, sem cruzar aquela fronteira invisível.

Ajoelhado diante do busto, o Viana limpou a base do pedestal, ajeitando as flores silvestres que ali aninhavam e arrancando as malezas que cresciam entre elas, enquanto recitava em voz baixa, em uma língua estranha, um antigo poema sobre as portas do além:

Acima das Portas de Caleth
o jardim espera
um lugar de descanso
através das eras.

Deva o viajante encontrar-se
de pé diante dos portões
não deve temer
pois foi seu caminho que o trouxe aqui
mas sua jornada não chegou ao fim.

Seja fiel ao seu caminho
pois você o escolheu para trilhar
e estes são os teus espinhos
de decisões tuas implicar.

Muitas vezes, enquanto seu trajeto se revela
você pode se cruzar com Portas de Caleth

Mas se você ouvir
as Trompetas de Jericó
então regojize
pois você cruzou
as Portas de Caleth
e ao Fim
seu Caminho chegou.


- Minha querida. - ele disse com a voz engasgada e lagrimas teimosas nos olhos que não lhe escorreriam pela face, a mão apoiada sobre as letras gravadas do nome dela. E ele se calou. Em silêncio se levantou sem retirar a mão, usando-a de apoio e lançando um último olhar à aquele jovem rosto, imortalizado na alva pedra, deixou aquele lugar e caminhou para junto de Eleazar.

Sua expressão resoluta, apenas disse: - Reúna aos homens, estou partindo para o Porto! - E seus caminhos se separaram na orla setentrional do bosque, no mesmo lugar onde haviam se encontrado antes.


Continuará...
_________________
See the RP information
Copyright © JDWorks, Corbeaunoir & Elissa Ka | Update notes | Support us | 2008 - 2024
Special thanks to our amazing translators : Dunpeal (EN, PT), Eriti (IT), Azureus (FI)