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[RP privado] O Enigma da Borgonha

Raquel_
Leonardodavinci


Leonardo afastou a fina cortina e observou as ruas de Dijón através da janela da carruagem. Aquela era a maior e mais rica cidade da Borgonha , cercada por muralhas gigantescas de dez metros de altura, uma verdadeira fortaleza, protegendo um dos principais pontos de florescimento cultural da Europa.

Apesar de sua grandeza, as ruas dos subúrbios daquela cidade fediam como as de qualquer outro lugar. O sacolejar da carruagem pelo caminho irregular aliado ao cheiro nauseabundo de partes do trajeto, deixavam o jovem italiano com um mal-estar, que ele disfarçava de seus primos que dividiam a carruagem com ele.

Nada obstante, o rapaz observava atento a movimentação nas ruas. Uma brisa gélida tocava seu rosto, um prenúncio do inverno que estava chegando. Leonardo estava de certa forma ressentido por ter que viajar mais uma vez, logo após a longa viagem que fizera a Florença. Estava novamente feliz em Chaves, acompanhado de sua família e se estabelecia aos poucos na casa de sua prima, de quem ele se aproximava cada vez mais.

A viagem, no entanto, não os havia permitido se aproximar tanto. Apesar do longo tempo juntos, a presença de Anton despertava no italiano um estranho alerta, talvez um lembrete de que ele era apenas um primo. Por conta disso, passava a maior parte do tempo, olhando a estrada, ao invés de se deixar trair ao trocar olhares com a prima. Leonardo admirava Raquel e cada vez mais se permitia pensar nela, no entanto, havia uma linha que ele ainda se negava a cruzar, mesmo dentro de seus próprios pensamentos.

Anton viajava ao seu lado, contando mais uma das histórias sobre seu pai, Shokan, enquanto Raquel, do lado oposto, fingia interesse. O grupo viajava para encontrar uma pessoa que Godoy os havia indicado ser capaz de decifrar o mapa numa pintura que poderia ajudá-los a organizar aquele estranho quebra-cabeça que se formara diante deles pelos acontecimentos recentes. Anton havia demonstrado se tornar cada vez mais fissurado na ideia de encontrar a estranha figura da qual ele sabia pouco além do nome: Hettinger. O primo havia insistido em levar arcabuzes para a viagem, embora Leonardo tivesse insistido para que deixasse aquelas armas que ele considerava malditas para trás.

Leonardo se tornava cada vez mais avesso a violência. A lembrança de si mesmo estripando Bacamarte o causava repulsa. Por conta disso, deixara em Portugal sua espada e trazia consigo apenas uma fina adaga aparelhada ao cinto. Suas lembranças lhe envolviam como o véu negro, mas ele lutava para que elas não se juntassem ao mal-estar e lhe fizessem vomitar.

De súbito, a carruagem parou. Godoy, que estava a frente com o condutor, abriu a porta.

- Chegamos, senhores. - disse com uma voz rouca.

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Sir_anton


Dijón era uma cidade que Anton não esperava ver nunca mais,mas ali estava ele,na carruagem acompanhado pelo primo,a irmã,Hagfish e Godoy enquanto um grupo de cavaleiros Torre os acompanhavam,
Anton observava a paisagem,não que ele a admira-se,mas também não a repudiava,ele simplesmente não se importava com ela.Não se lembrava de correr pela cidade com Richard e Lockee,não se lembrava das aulas de alaúde com signor Scapini ou das de história com mousier Bonnaire.As únicas coisas que lembrava era da violência,das mortes.Anton pensou em cada uma delas,durante o caminho,apesar de serem demais para contar...
- Da última vez que eu vi meu pai aqui nós estavamos nos reunindo com aliados para discutir o que faríamos com um inimigo espanhól,Herrera.Lembra disso Charlie?
- Sim,eu lembro.
- Um de nossos aliados,Emile Dunford,estava contestando meu pai diante dos outros.Dizendo que matar Herrera e sua família iria resultar em uma onda de violência enorme pelas ruas de Dijón,que o correto a se fazer seria buscar um acordo com ele que fosse razoavel para os dois lados.Eu lembro do velho se levantar,caminhar até Dunford,colocou a mão na nuca dele,e cravou um punhal na cabeça dele.Os outros ficaram pasmos por alguns instantes.Porém o velho apenas caminhou de volta até sua poltrona e se sentou,dando sequência a discussão.E todos concordaram com ele...Anton fez uma pausa ainda observando a paisagem -No fim Dunford estava certo,a violência tomou conta de metade da cidade.Mas meu pai conseguiu destruir Herrera como ele queria...
De súbito, a carruagem parou e Godoy abriu a porta.
-Chegamos, senhores.
Anton foi o primeiro a descer,observando a cidade,haviam se passado anos e parecia que tudo estava exatamente igual.
Enquanto os demais desciam,um homem e uma mulher vestidos elegantemente se aproximavam:
-Monsieur LeBlanc?-perguntou o homem.
-Cela dépend de qui veut savoir.
-Un vieil ami.
-Je n'ai pas vieux amis.
-Seulement deux-Disse a mulher.
Anton e os outros dois se olharam por alguns instantes.
-É bom ver vocês.
-Acredito que esta seja sua versão de "Meu Deus,faz tanto tempo,que saudades de vocês".
-Vocês sabem que são meus franceses favoritos.
-Nós fizemos os prepativos que você pediu.Lembra onde fica?
-Acredito que sim,mas seria bom vocês virem para garantir.
-Otimo,assim aproveitamos para conversar.
Anton olhou para Leonardo:
- Acredito que você seja o único que não os conhece,estes são Hugo e Alícia.Os gêmeos Bertrand.
-O afilhado do Bartolomeu?É um prazer conhecê-lo.
Alícia passou por Leonardo e foi direto falar com Raquel.
-Você cresceu!Lembra de mim Emilia?Você era uma garotinha a ultima vez que nós vimos.
Anton se aproximou do cocheiro:
-Eu e os irmãos Bertrand iremos na frente,nos siga.
Dubois desmontou do seu cavalo e subiu na carruagem ao lado do cocheiro para Anton pegar seu cavalo.Alícia e Hugo também subiram em suas montarias e os três cavalgaram na frente sendo seguidos pelos demais.
Hugo havia preparado uma casa afastada conforme as intruções de Anton.

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Leonardodavinci


Anton havia planejado uma parada antes da residência preparada por Hugo Bertrand. O grupo seguiu pelas ruas de Dijón até um trecho pavimentado que conectava as ruas principais a uma pequena igreja. O local era simples, sua arquitetura antiga e conectado a alguns edifícios em volta por passarelas arqueadas.

A frente do edifício principal, uma fonte, de onde um coroinha retirava água no momento que o grupo se aproximou. O rapaz, se espantou com a aparição súbita dos visitantes montados. Charlie foi o primeiro a descer de seu cavalo e se dirigiu ao rapazinho, em um tom discreto.

- Vá chamar o pároco.

O rapaz correu para o interior do edifício, abandonando para trás o balde.

Em seguida, o pároco saiu do edificio, coberto pela clássica batina. Os cabelos brancos do padre, lhe cobriam a cabeça e o rosto, como se este tivesse ficado exposto a neve por um longo tempo. Quando ele se aproximou, foi possível ver seus olhos afiados perscrutando os viajantes. Leonardo percebeu os lábios do velho se contorcendo, como num murmúrio de dissabor. Era provável que a aglomeração o perturbasse de alguma forma.

Ele se dirigiu a Hagfish. O silêncio entre os membros do grupo, só era quebrado pelos cochichos dos gêmeos Bertrand e todos observaram quando os dois trocaram palavras em um volume quase inaudível e quando o pajem de Anton, deslizou duas moedas de ouro para as mãos do clérigo.

O pároco então sem mudar sua expressão facial, se virou em direção a igreja e caminhou em direção a ela. Charlie, fez um sinal com a cabeça que indicava que deveriam segui-lo. Anton, Raquel e Leonardo desmontaram e acompanharam Charlie.

A igreja em seu interior parecia maior do que por fora, o silêncio parecia se acumular em seu interior, como um receptáculo, o local emanava a aura de misticismo através de seu altar, ornado pelas velas acendidas pelos fiéis. O som das botas dos visitantes pareciam como marretadas no chão de pedra, que ecoavam repetidas vezes, acertando as paredes e retornando através do corredor que levava até uma imagem de um Christos sob tortura.

Leonardo observava como Anton e Raquel caminhavam em singular sincronia a frente dele. O vestido dela, roçava gentilmente pelo chão da igreja, enquanto ela examinava tudo a sua volta e como deduzia Leonardo, lançava toda sorte de questionamentos. Anton, displicentemente, conduzia a sola de suas botas ao chão, sem cuidado com o silêncio sagrado que preenchia o local. Veio a mente do italiano, a estranha sincronia pelo qual agiam os irmãos Bertrand. Talvez, fosse, natural daqueles que fossem criados em Dijón, conservar fortes laços de sangue. Na Itália, laços de sangue são um mal necessário e o que liga os homens de poder, não é o sangue pulsante nas veias de um parente, mas o sangue derramado de inimigos em comum.

O padre guiou os quatro visitantes até uma porta na lateral da nave, que levava, a um dos edifícios próximos. Por um segundo, o padre hesitou em permitir que Raquel seguisse o caminho, mas o peso singelo das moedas de ouro, o fez repensar. Eles seguiram por corredor estreito e atravessaram mais uma porta antes de chegar ao refeitório dos clérigos. Antes que entrassem, o velho pároco, retirou de um guarda-roupas alguns hábitos e o distribuiu aos visitantes para que se trajassem a altura daquele lugar. Acreditava assim, o pároco, estar sendo discreto.

Eles entraram no refeitório onde diversas mesas rústicas de madeira estavam distribuídas pelo local. Havia algumas outras pessoas sentadas pelos bancos, se alimentando de pão e água. A maioria eram monges ou pessoas em retiro espiritual. Havia no entanto, uma figura indistinta, que estranhamente, consumia sua refeição sozinho em um dos cantos.

O padre deixou o grupo e desapareceu através da porta que levava de volta a igreja. Não foi surpresa, quando Anton e Charlie se dirigiram a figura solitária e se sentaram diante dele. O homem ergueu os olhos.

- A paz seja convosco, irmãos - debochou Jean LeMahieu.

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Sir_anton


- A paz seja convosco, irmãos
Após a saudação,Alicia sussurrou para Anton:
- LeMahieu.O contato.
- Moussier LeMahieu-falou Hugo apresentando Anton - Este é LeBlanc.Um homem que possui interesse em seus conhecimentos.
- Oh,é mesmo? Qual seu interesse Moussier?
Anton observou LeMahieu,que mais parecia um monge,por alguns segundos e então falou:
- Eu sou um grande fã de arte.Consegui uma obra esplêndida.Il Bagno di Sangue,de Hettinger.
Um certo medo tomou conta da face de LeMahieu ao ouvir o nome da pintura.Ele sabia muito bem do que se tratava,sentiu o frio bafo da morte em seu ouvido,como se sussurra-se que sua hora tinha chegado.Ele sabia que tinha que fazer uma escolha,ele precisava de uma lâmina,tirar a própria vida agora e evitar que Hettinger realiza-se seus vis planos.Se sacrificar agora seria um nobre ato que pouparia muitas outras vidas.
Hugo pode perceber o fim da serenidade de Jean,se sentou ao lado do "monge" e falou calmamente:
- Nós não trabalhamos para Hettinger.Nós estamos a procura dele.
- A procura? Por quê vocês estariam a procura do demônio? Vocês não sabem,onde seu nome é dito a morte chega? Assim como a nossa cidade.
- A cidade? O que há com a cidade?- Jean travou sua língua,como se estivesse arrependido de ter falado.Anton,mudou para um tom mais suave para falar - Você pode confiar em nós.
LeMahieu respirou fundo,e então disse:
- Eu lhe proponho um acordo LeBlanc,ou qualquer que seja seu nome.Os homens de Hettinger estão em Dijón,não sei o que planejam,não tenho como lhe dar nomes ou localizações especificas.Mas sei que estão.Se você descobrir o que eles planejam.E os impedir.Eu irei lhe ajudar.
- Nós iremos fazer isto.
Anton se retirou,seguido pelos demais.

Após algumas horas de viagem,estavam na casa prepara por Hugo.A casa era isolada,eles estavam bastante afastados da cidade,rodeados por mata e campos.O aroma fétido da cidade não chegava ali,ao invés disso,um suave aroma do campo percorria o espaço.A casa era grande e aparentava ser do século passado.Anton observava a casa.O silêncio,a solidão,a construção parecia um santuário para ele.Ele abriu a porta e se dirigiu direto para a sala a principal.O lugar havia sido limpo,mas em nada alterado.Após alguns instantes observando o local,Anton falou,em voz alta o bastante para que Raquel e Leonardo ouvissem.
- Lembram da história sobre Dunford?Aconteceu nessa sala

Anton,Raquel,Leonardo,Hagfish,Dubois,Godoy,Hugo e Alicia se reuniram na sala de reuniões criada por Shokan para se reunir com seus aliados.As paredes da sala estavam rondeadas com as informações que tinham sobre Hettinger,mapas de onde ele havia agido,tudo que puderam reunir.Havia uma grande e imponente mesa na sala,feita de carvalho com o escudo da familia Torre esculpido nela.As grandes cadeiras quase pareciam pequenos tronos.Anton se sentou na ponta da mesa,como Shokan no passado.
- Não há necessidade de que eu diga nada para vocês.Vocês ouviram LeMahieu.Os homens de Hettinger estão em Dijón.Não sabemos quem são.Onde estão.Ou o que planejam.Mas temos que impedi-los.Sugestões?
- O nome Melendorf significa algo para você?-perguntou Hugo.
- Um dos homens de Hettinger,um alemão.Tenho observado ele,por que?
- Eu soube por fontes confiavéis que o Prefeito Devereaux recebeu uma generosa doação para sua campanha de um contribuinte alemão.Eu investiguei o contribuinte e,apesar de estar usando um nome falso,é Melendorf.
- Isso não pode ser coincidência.Então,devemos investigar o prefeito?
- Temos um pelotão de cavaleiros e arcabusiers lá fora-interviu Godoy-Vamos simplesmente abrir um buraco na Casa do Povo e tirar o prefeito de lá.
- Não.Isso iria chamar atenção desnecessária,devemos fazer isto de uma maneira mais silenciosa.Leonardo,Dubois.Nós iremos.-Anton olhou para Raquel- Dessa vez nem tentarei te impedir.Mas prepare-se bem para isso.
- Não vai me chamar para esta festa?-perguntou Alicia.
- Certo.Alicia você irá junto.Dubois,você vai ajudar Manfredo e Hugo.-Anton olhou para os dois na hora que falou seus nomes-Eu quero homens vigiando aquela igreja o tempo todo.Se algo acontecer com LeMahieu tudo isto terá sido em vão.
Anton observou calmamente todos os membros do grupo até dizer:
- Vão se preparar!Todos sabem o que fazer.
Todos se retiraram da sala deixando Anton sozinho,desfrutando da solidão,na companhia apenas de seus pensamentos.De certo modo,Anton quase podia ver seu pai na outra ponta da mesa dizendo:
- Garoto.Você acha que pode estar no meu lugar? Acha que pode fazer o que eu faço? Você não é eu.Nunca será.

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Raquel_


Raquel se retirou da sala junto com os outros, e foi caminhando até a escadaria que dava para o segundo andar da casa. Parecia que estava tudo intocável, pois a disposição dos móveis permanecia a mesma. Ela olhava com um ar de desapontamento, por ver aquela casa vazia por tantos anos, à mercê do tempo e da degradação. Anton preferiu não vendê-la, e manter os móveis que não puderam ir na mudança para Portugal. Não compreendia o porquê daquilo, pois tal atitude a feria. Preferia não voltar para o lugar repleto de lembranças que estavam perdidas no passado.

Seguiu a passos lentos pelo corredor até chegar no quarto dos seus pais, onde ficaria hospedada. Raquel se sentia hóspede naquele lugar, sentia que não pertencia mais ali. Tinha sua casa, sua ocupação, tinha agora seu primo, uma companhia que não fazia relembrá-la dos momentos da infância mas sim criar novos momentos. Passou os dedos por um móvel empoeirado do corredor, e abriu a porta do quarto. Anton e Leonardo escolheram ficar no quarto ao lado, onde os irmãos mais velhos dormiram outrora. A porta fez um rangido alto, quando se abriu sentiu um cheiro forte de coisa guardada.

Ela não tinha muito tempo para descansar, abriu o baú que trouxe na cansativa viagem e tirou dele a calça e a camisa que usava para momentos que não exigia o uso de vestido. Vestiu-se para a ocasião e amarrou os longos cabelos para que parecesse pelo menos um menino. Ajeitou os punhais na cintura e no tornozelo, escondendo-os com a camisa e a calça, e ajeitou o chapéu para disfarçar os cabelos. Percorreu o quarto com os olhos, respirou fundo e saiu.

Quando retornou à sala, apenas Alicia ainda não se encontrava junto ao grupo. Hugo lançou um olhar de descrença ao reparar em Raquel, mas Dubois deu uma cotovelada e cochichou baixo explicando os costumes "exóticos". Anton conversava baixo com Leonardo, e Raquel preferiu sentar-se do que esperar em pé. Vários minutos depois Alicia despontou na sala, e assim o grupo estava completo. Leonardo esperou a chegada de Alicia na sala para repassar uma parte da sua conversa a todos, principalmente para Alicia e Dubois, que ajudariam para que o grupo não fosse percebido nem na entrada nem na saída. Anton liderava a retirada, e cada um montou em um cavalo, preferindo deixar os coches no casa rão.

O grupo seguiu a indicação de Raquel, que conhecia um atalho mais curto até a cidade, o que surpreendeu Anton. Ele tinha se esquecido do longo tempo que uma mulher precisa para se preparar para qualquer evento fora de casa, e para não chegar atrasada, requeriria inteligência caso morasse longe. O grupo alcançou a prefeitura quando já não tinha quase ninguém perambulando pela rua, exceto bêbados e mendigos. Amarraram os cavalos longe da prefeitura,assim não poderiam ser vistos pela guarda que fazia a ronda noturna. Alicia e Dubois logo seguiram para seus postos, e Hugo orientou o grupo até chegar na casa do povo, para alcançar a porta dos fundos.

Estava quase na hora na troca da guarda, e todos esperavam o momento adequado para entrar. Havia um número considerável de guardas, e havia boatos de que guardas do Hettinger estavam disponíveis na prefeitura também, o que exigia mais atenção. Os sinos da igreja começaram tocar ao longe, dando sinais que a troca da guarda seria efetivada naquele momento. O grupo de guardas se retirou do local, deixando vazio e uma brecha para a entrada. Leonardo correu na frente para tentar abrir a porta junto com Hugo, e assim que conseguiram, fizeram sinal para que o restante entrasse na prefeitura.

Anton acendeu uma vela para iluminar a escuridão, mas Raquel seguia na frente com Hugo a orientando para ouvir os passos de algum guarda caso surgisse. Eles precisavam chegar no gabinete o mais rápido possível.
Leonardodavinci


O grupo seguiu se esgueirando para pelo interior do edifício público. Dijón era uma cidade grande e por conta disso, a sede de seu governo civil era igualmente grande e complexo. A iluminação que Anton provia era pífia, como era o prudente, luminosidade demais podia atrair a atenção indesejada. Sem orientação de Hugo, seria impossível encontrar o gabinete do prefeito em tempo hábil.

Eles percorreram os corredores escuros da Casa do Povo, um encontro co um guarda seria desastroso e quanto maior o tempo gasto ali dentro, maior era a chance de tornar esse encontro realidade. O gabinete do prefeito ficava alguns andares acima e conseguiram percorrer as escadarias sem problemas, visto que os guardas ainda retornavam para seus postos de vigia. Quando chegaram no andar designado por Hugo, já era possível ouvir os passos de alguns guardas em patrulha.

Hugo parou diante de uma porta, era possível ouvir os passos de um guarda se tornando cada vez mais altos. Uma luz começou a surgir por uma das esquinas do corredor, crescendo e tomando as paredes. Hugo com uma pequena ferramenta, tentava abrir a fechadura o mais rápido que podia.

Leonardo viu que Anton instintivamente apagou a vela e colocou a mão sobre um punhal. A tensão era crescente. Uma gota de suor descia pela testa de Hugo.

A luz aumentou de tamanho, o guarda estava prestes a virar pelo corredor, quando ouviu-se alguém chamar:

- Gouvert!

Todos se sobressaltaram, o guarda que se aproximava subitamente estocou. Um outro guarda o chamara, discutiram algo. Parecia que o primeiro havia iniciado a ronda sem esperar pelo companheiro. No entanto, antes que eles pudessem seguir em sua patrulha, um estalido na porta e um suspiro aliviado indicaram que Hugo finalmente abrira a fechadura. Os quatro entraram no cômodo, apressadamente e Anton fechou a porta silenciosamente.

Quando Leonardo ergueu os olhos para examinar o gabinete, deixou uma exclamação presa na garganta.

O corpo do prefeito Devereaux estava suspenso pelo pescoço e balançava macabro no centro do gabinete. Aparentemente, em plena consciência da dimensão de seus crimes, o prefeito sentenciou a si mesmo a pena de morte na forca.

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Sir_anton


Anton olhou incrédulo para o suspenso corpo sem vida do prefeito.naquele momento,ele sentiu calor,como se estivesse em chamas,um incêndio de raiva em sua mente.Não que a vida do prefeito tivesse qualquer importância para ele,mas odiava o fato de que apesar de seus esforços,o inimigo sempre estava dois passos a frente.Por uma fração de segundo,passou por sua mente que talvez Hettinger tivesse poderes sobrenaturais e fosse capaz de prever o futuro.
Porém Anton sabia que não tinha tempo para refletir sobre a natureza do inimigo,ele precisava procurar por pistas,seus olhos apontaram diretamente para um pedaço de papel sobre a mesa do prefeito,calmamente Anton pegou a carta:

Quote:
Bom Deveraux,
Eu não tenho palavras para expressar a gratidão que sinto pela sua falta de coragem ou inteligência.Sem a sua ajuda,nós jamais teríamos conseguido realizar nossos planos.Você e sua ganância foram as peças essencial para que tudo acontecesse.Saúdo a sua colaboração.Mesmo um homem pequeno com uma mente pequena como você pode fazer parte de algo grandioso.
Eu espalharia pela sua cidade a noticia,para que todos soubessem,mas por quê soltar palavras ao vento se não haverá ninguém para ouvi-las?
As frias e nojentas águas do rio engolirão a alegre vida de sua cidade.Dijón perecerá pelo Suzon e os doentes e leprosos serão o fim.Reinarão incontestavéis no cemitério da Borgonha.
Agradecidamente,
H.

Anton leu rápidamente a carta,era uma carta curiosa que o fez ficar pensativo,decidiu não mostrar o conteúdo para os outros no momento,guardou a carta em seu casaco enquanto o grupo vasculhava a sala do prefeito procurando por qualquer tipo de pista.Sua mente estava embaralhada naquele momento.Em parte estava impaciente com a demora na busca,mesmo que fosse uma questão de segundos até agora para ele parecia uma grande demora,tinha a impressão de ouvir passos dos guardas do lado de fora.Por outro lado,pensava no significado daquela carta,sem dúvida era algo grande,e um corpo suspenso ao lado dela deixava isto claro.
- Anton!-foi Hugo quem falou segurando vários papéis nas mãos- Eu encontrei alguns contratos de urbanismo e comércio vinculados a Casa do Povo,em nome de Hans Hutten.O mesmo nome que Melendorf usou quando realizou a doação para a campanha de Deveraux
- Certo,pegue,nós vamos levar.-Nesse momento Anton viu que Raquel havia encontrado cartas pessoais do prefeito- Pegue essas também.
Após mais alguns instantes de buscas Anton concluiu que não iriam encontrar mais do que já tinham,não sem uma investigação minuciosa mas não podiam realizar uma.Cada segundo ali aumentava as chances de serem encontrados.
- Certo,peguem o que conseguiram.Vamos embora.

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Raquel_


Tudo que Raquel não queria naquela ocasião era encontrar o corpo do ilustre prefeito pendurado em seu gabinete. O dia seguinte seria efervescente na cidade, logo que se espalhasse a notícia. O único problema é que talvez estejam levando embora provas de seu suicídio, deixando duas portas violadas, atrapalhando a futura investigação sobre sua morte. A preocupação redobrou, pois precisavam mais que nunca saírem sem serem vistos, para não levantarem suspeitas. Se é que aquilo foi realmente um suicídio...

O grupo se apressou para sair do gabinete, e Hugo mais um vez se posicionou à frente para levá-los de volta pela porta dos fundos. Naquele momento, Alicia e Dubois estavam à espera do sinal para que dessem início ao combinado. Os dois olhavam a janela da prefeitura ansiosamente, esperando que tudo tivesse corrido como o planejado. Não havia sinal de guardas dentro da casa do povo, mas havia um guarda na ronda em frente à porta dos fundos.

Não foi difícil descer pelas escadas e alcançar o corredor que indicava a saída pelos fundos. Anton aproveitou que um dos guardas tinha acendido uma lamparina no corredor, e pegou para dar o sinal pela janela, que estava fechada. Passou alguns minutos com a lamparina acesa, e depois apagou-a, na expectativa de que tivessem visto. Se posicionaram próximo à porta para sair na hora que o guarda se distraísse.

Alicia começou a discutir com Dubois, fingindo serem um casal. Não estavam muito distantes da prefeitura, mas o suficiente para que o guarda não percebesse a saída furtiva do grupo. De início a discussão não incomodou o guarda, mas ambos faziam muito barulho para chamar a atenção. No entanto, Dubois resolveu fingir agressão física, e os dois começaram a se engalfinhar, jogando Alicia no chão e puxando-a pelos cabelos, o que deixou o guarda incomodado. Ele saiu de se seu posto e foi tentar apartar a briga, tendo que dar um soco em Dubois para que largasse Alicia no chão.

Leonardo ouvia bem atentamente atrás da porta e Hugo saiu da janela em direção à porta avisando que aquela era a hora de sair. Leonardo abriu a porta cuidadosamente, e o grupo correu até a esquina da prefeitura para que não fossem vistos. Leonardo fechou a porta com cuidado para que ninguém percebesse que estivesse destrancada.

O guarda. incomodado, mandou o casal voltarem para sua casa e pararem com a algazarra naquela hora, porque estava incômodo. Alicia e Dubois, vendo que suas intenções deram certo, saíram de perto da prefeitura e foram de encontro ao grupo, onde estavam os cavalos amarrados. Alicia proferiu pequenos xingamentos a Dubois dizendo que tinha exagerado, e este se defendeu dizendo que estava cumprindo uma missão.

Logo que todos se encontraram, Alicia e Hugo se adiantaram a desamarrar os cavalos e seguirem o caminho para sua casa, enquanto que o restante se dissipou na escuridão e foram rumo à estrada que levava até a casa onde estavam hospedados. Precisavam descansar pois a cidade iria ficar do avesso nas próximas horas com a notícia da morte do prefeito.
Sir_anton


Enquanto o resto do grupo retornava a antiga casa dos Torre,Anton e Dubois tomaram outra direção.Anton sabia que a carta era importante e precisava de um pouco de conhecimento extra sobre a situação na cidade.
Se dirigiu novamente a igreja,realizando novamente o mesmo processo.Ele precisava falar novamente com LeMahieu:

- Então,está tudo resolvido?-Perguntou LeMahieu simpáticamente ao ver Anton.
- Eu temo que não.-Anton entregou a carta.
Anton analisava LeMahieu enquanto esse lia as palavras dirigidas ao finado prefeito,como se buscasse adivinhar o que o outro estava pensando.E no final,ele conseguiu.

- Isso é muito ruim-LeMahieu estava preocupado.
- Essa parte eu sei.
- Como você conseguiu uma carta dirigida ao prefeito?
- Arno Deveraux já não está entre os vivos.
- Você mat...
- Não!-Anton o interrompeu antes que pudesse terminar- Ele ja estava morto quando eu cheguei.
[b]- Hettinger!Sempre um passo a frente...

- Eu acredito que você estava certo.Que algo vá acontecer,algo grande.
- Você tem alguma pista?
- Deveraux era corrupto,mas essa parte não deve ser novidade para você.Ele estava recebendo dinheiro de um homem chamado Melendorf,e em troca disto estava fechando contratos públicos com Hans Hutten,um nome falso usado por Melendorf.Eu tenho os contratos,mas são muitos,e o fato do prefeito estar morto,de ter recebido esta carta,deixa claro que ele não é mais necessário,o que vai acontecer,seja o que for,vai acontecer logo,eu preciso filtrar esses contratos.
Anton mostrou os contratos para LeMahieu e após uma análise sobre todos,dois foram vistos como mais provaveis.
- Estes dois,veja.Este fala sobre uma reforma da ponte,algo que é totalmente desnecessário aliás,quem está sendo pago para realiza-la é Hans Hutten,e o outro é para uma series de reformas em uma área pobre da cidade,próxima ao rio.São os dois contratos mais expressivos e os mais próximos do rio,mas,tem certeza que isto importa?
- Eu estou lhe dizendo,o modo como ele escreveu,o que acontecer,envolverá o maldito rio.

Anton retornou para casa o mais rápido que pode,não poupou Hermes,mas sabia que ele aguentava.
Enquanto passava pela entrada um pensamento lhe passou pela cabeça,uma lembrança,vendo o pátio,lembrando dele e de Richard lutando ali,dele sempre perdendo para o irmão,quanto tempo fazia que aquilo tinha acontecido? Há quanto tempo Richard estava morto? Parecia que aquela era uma mémoria de outra pessoa,ou que tinha acontecido em outra vida...

Com o grupo reunido,Anton deu a todos as informações que julgou necessárias,mostrou a carta e explicou sobre os dois contratos,Mas havia pouco tempo para explicações,Anton sabia disso,não havia nenhuma razão,ele apenas sabia.
- Eu,Alicia e Hugo iremos para a área habitacional,vamos levar um grupo de soldados para ficar de prontidão,caso se faça necessário.Leonardo,Raquel e Dubois irão para a ponte,Leonardo liderá.Eles também terão um grupo de soldados a sua disposição.Preparem-se o mais rápido possivel e vão.

Anton deu as costas para os demais e foi falar com Hugo e Alicia.
- Então seremos nós três?
- Como nos velhos tempos.

_________________
Sir_anton
Erro

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Raquel_


O pouco que foi explicado por Anton suscitou muitas dúvidas em Raquel. Ela se mantinha pensativa pelo jardim da casa, observando o que antes era um jardim florido com diversidade de plantas, feito por sua mãe. Sentou -se em um banco e contemplava a extensão de um jardim vazio que alcançava os muros.

Leonardo veio se sentar junto à sua prima. Os dois se olharam, e passaram um tempo fitando o jardim. Logo deram introdução a uma conversa breve sobre Dijon, e o tempo que Raquel viveu na cidade enquanto crescia. Não muito animada, Raquel descrevia o tempo em que seu pai vivia afastado das obrigações diárias após a morte da mãe.

Por fim, engataram uma conversa sobre o rio Suzon. Raquel se lembrava de poucas vezes que passeou próxima ao rio, e de como Dijon era uma cidade movimentada. Na beira do rio às vezes tinha apresentações teatrais, e artistas de rua a procura de um lugar ao sol. Leonardo prestava atenção nas lembranças de Raquel, e esta se sentia mais confortável dividindo algumas palavras do passado com seu primo.

Sem demora, os dois conversaram sobre as intenções de Hettinger com a cidade e o seu rio, e o que ele queria dizer com os mortos mencionados na carta. Ambos não tinham dúvidas que precisariam verificar com cuidado a ponte, pois não sabiam se os soldados do Hettinger estariam à paisana no local. Com a morte do prefeito, ela desconfiava que as más intenções seriam postas em prática rapidamente.

Mas o que aquele grupo seria capaz de impedir? Ela não vislumbrava uma saída para suas dúvidas, muito menos se colocava numa posição confortável de que tudo acabaria bem e eles impediriam Hettinger de mancomunar contra a cidade. Leonardo tentou confortar com palavras, mas ela estava relutante em aceitar de que eles seriam os salvadores da situação. A realidade era mais dura, e Hettinger era uma figura que envolvia alguns mistérios que enevoavam ao redor de sua imagem.

Os dois se levantaram, e Raquel se retirou para se arrumar. Leonardo foi até a cozinha comer algo enquanto esperava Raquel. Quarenta minutos se passaram, e Raquel retornou para a sala, onde se encontravam Leonardo e Dubois. Anton já tinha saído com o seu grupo, mas os que permaneciam não estavam com pressa. Preferiam chegar na ponte ao pôr-do-sol, e não serem vistos enquanto o anoitecer encobria o rio.

O outono estava um pouco rigoroso, e além da roupa de costume que Raquel usava para essas ocasiões, ela trajava botas e um casaco espesso para se proteger do frio, além de calças mais grossas para aguentar em cima do cavalo durante o trajeto. Deixou o cabelo solto dessa vez, pois o frio gelava seu pescoço.

Quando todos estavam prontos e de comum acordo, chamaram os soldados que os acompanhariam, e selaram os cavalos. Com um aperto no coração e receosa do que encontraria, Raquel partiu junto ao grupo em direção à ponte.
Leonardodavinci


A penumbra da noite começava a tomar conta do céu quando o grupo se aproximou da ponte. A movimentação das ruas no final da tarde permitiu ao grupo manter-se incógnito, mas a aproximação da noite tornaria a situação mais complicada. O grupo então se fragmentou, Dubois levou a maioria dos homens para ruas vicinais que permitiriam a eles chegarem rápido ao local em caso de necessidade, mas não os deixaria a vista.

Leonardo observou o local, havia realmente trabalhadores na ponte, que com o fim do expediente se retiravam e retornavam a suas casas em procissões barulhentas. A parte superior da ponte estava liberada, no entanto, uma pequena passagem na lateral dela permitia acesso a uma estrutura que permitia que os pedreiros trabalhassem sob a massa de pedra e sobre o rio.

Leonardo e Raquel permaneceram juntos, acompanhados de mais dois soldados. Apesar de serem um grupo pequeno, não era possível que fossem capazes de manter vigia tão próximo ao local esperado. O melhor seria obter alguma forma de se manterem fora de vista, tal qual Dubois havia feito. No extremo da ponte em que estavam, muitos prédios se aglomeravam a margem das ruas. Havia uma taberna grande na esquina, mas curiosamente fechada. Um hospedaria pequena se localizava a alguns metros da ponte e deveria servir como um bom local para manter-se de tocaia.

Os soldados tomaram quartos separados. Leonardo escolheu para ele e Raquel um quarto em conjunto, talvez assim pudessem conversar um pouco enquanto aguardavam. Os quartos foram dispostos próximos uns dos outros e voltados para a rua, de forma que pudessem ver quem passava por ela. Não havia visão direta para a ponte, uma desvantagem que já poderia ser esperada, Hettinger não havia escolhido aquele lugar devido a sua visibilidade.

Uma vez no quarto, Leonardo trancou a porta e examinou o aposento e suas janelas. Era um quartinho simples, com poucos móveis, embora aquela não fosse uma hospedaria das mais baratas, não era luxuosa. O quarto era soturno e talvez as paredes criassem um ambiente claustrofóbico, no entanto, o foco ali era o lado de fora. O jovem italiano observou a tensão em Raquel, ela se mantinha silenciosa e parecia refletir sobre a situação. Ele podia imaginar que existia algum tipo de temor que a afligia. Aquela era sua cidade e um perigo inominável se esgueirava por seus pavimentos, ameaçando todo uma história e milhares de vida.

O mesmo que afligia Raquel, talvez causasse em Leonardo uma espécie de desconforto. Um desconforto que não era justificado pelo limite da situação, mas sim pelo estranho desafio. Hettinger era um mistério, seus planos eram metódicos e fatais. Leonardo sentia o que não devia sentir, um sentimento que de seu ponto de vista lhe fazia questionar a natureza do próprio caráter, mas que era inevitável: Acima da compaixão e do desejo de acabar com o desejo maligno de Hettinger, ele sentia um estranho prazer, advindo do desafio feito por uma mente brilhante. Sentia uma necessidade de superar Hettinger, de vencê-lo em seu jogo e esse estranho sentimento misturava-se a arrogância e ao ideal. Ele já havia lidado com aquele sentimento algumas vezes, mas nenhuma das situações anteriores envolviam tantos danos colaterais caso um dos lados alcançasse o sucesso.

Fazia já algum tempo que Leonardo não era defrontado por tamanho desafio. Desde que chegara a Portugal anos antes, havia se limitado a enfrentar e superar a selvageria dos homens. Experimentara o desejo de matar, a vingança, a traição, a intriga e a ferocidade de um combate. Mesmo quando se envolvera no mundo traiçoeiro do comércio, jamais jogou algum jogo tão arriscado. Não jogava mais com sua própria vida ou com o próprio dinheiro, jogava agora com a vida de milhares de inocentes. Era isso o que o desconfortava, aquilo tinha tudo pra ser um jogo, mas não era.

Ele apagou as lamparinas, sentou-se próximo a janela, uma pequena vela o ajudava com os preparativos.

Retirou de uma bolsa uma aljava cheia de flechas. Sentia aquele entusiasmo proibido crescer. Tirou dois frascos, contendo um líquido negro em seu interior e os observou iluminados pela vela, devaneou sobre o resultado do contato entre a chama e o líquido. Iniciou então, um trabalho meticuloso revestindo a ponta das flechas com a substância, mantendo extremo cuidado para não permitir que nenhuma gota tocasse o chão ou suas vestes. Talvez apenas Anton tivesse vislumbrado o estranho fascínio de Leonardo pelas chamas. Acreditava encontrar nelas, um poder que ultrapassava a matéria e entendia o domínio delas como uma arte própria.

Terminado o trabalho, guardou novamente as flechas na aljava.

Leonardo sabia como Hettinger executaria seu plano. Refletira durante toda a tarde sobre o Rio Suzon e sobre a carta do algoz. Lembrou-se dos relatos que lera sobre a peste negra e acreditava ter solucionado o mistério. Era daí que vinha aquele entusiasmo. Ele apostou tudo naquilo.

- Hettinger irá usar cadáveres e mortalhas contaminados com doenças contagiosas, como a lepra que ele citou na carta para contaminar o rio Suzon.
- ele se dirigiu a prima - É um plano macabro. Os pobres serão os maiores afetados e mesmo depois que o rio tenha se descontaminado, eles vão manter a contaminação na cidade durante meses. O transporte deverá ser feito por carroças, as flechas foram revestidas com resina inflamável pra que você possa atear fogo a elas antes que os agentes do Hettinger iniciem a contaminação.
Eu confio nas suas habilidades, minha prima. Acho que é seu o direito de salvar esta cidade.

Se Anton, Raquel e Leonardo conseguissem impedir os planos de Hettinger, eles atraíram para si um novo tipo de atenção específica, após diversas ações para prejudicar as pequenas operações do inimigo em Portugal, agora eles enfrentavam um plano complexo, concebido após anos de trabalho e que findava uma série de ações do Barão naquela região. Teriam que atacar novamente muito em breve ou aguentar uma segunda retaliação. Em todos os casos, o sucesso em salvar Dijón seria uma declaração de guerra.

A hora que se seguiu foi de extrema apreensão. Leonardo repassava seu raciocínio, criava planos alternativos e duvidou por diversas vezess de sua dedução. No entanto, o som alto de um comboio de carroças e o cheiro pútrido que subia até a janela, mostrou que sua hipótese estava correta.

- Chegou a hora, Raquel. Dijón perecerá pelo Suzon? - disse entregando nas mãos dela o arco e a aljava.

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Sir_anton


Anton ficou algum tempo sentado na sala,pensando,ele pensava muito ultimamente,a culpa poderia ser daquela cidade,ele não possuía nenhum amor por Dijón,as memórias de sua infância ali ficavam apagadas em meio as memórias da violência que acontecerá ali.Tudo se resumia a morte,tudo parecia terminar em uma vermelha tempestada de sangue.Anton estava cansado disso.Ele gostaria de deixar a cidade para trás,ele não estava ali para salva-la,havia um único motivo para eles estar ali,uma única coisa que o motivava:Hettinger.

A imagem de Hettinger havia se tornado uma personificação dos demônios de Anton:o desprezo de seu pai,não ser capaz de impedir a morte de Richard,ter tirado a vida de Ana.Anton havia matado mais pessoas do que ele podia contar,mas Ana era a única que o atormentava,ela era apenas uma garota inocente.O fato de Raquel entrar no seu escuro e podre mundo de violência e traição,de jogar com a vida das pessoas,era o maior dos espinhos na mente de Anton.Ele não tinha sido capaz de mantê-la fora disso apesar de seus esforços,a verdade é que ele sempre se culpou por tudo isso.Mas isso tinha mudado,agora ele culpava Hettinger,ele canalizava todo o ódio que possuía nessa imagem.Hettinger era seu nêmesis.Acabar com ele era sua missão,não importa qual fosse o preço disso.

Alicia e Hugo estavam do outro lado da sala.Eles mantinham distância de Anton,sabiam que deviam deixa-lo sozinho com sua mente.Seus demônios lhe fariam companhia.
Ter encontrado os Bertrand novamente havia feito Anton refletir,sobre quem ele era,quem ele foi e quem ele poderia ter sido.Eles o lembravam do tempo em que Alicia era apenas a jovem,aventureira e animada noiva de Richard e Hugo,um insolente e presunçoso tabelião.Das noites no Piqûre D'Abeille,bebendo e planejando o futuro,Anton falava sobre ser um capitão,viajar os mares,ele já nem lembrava disso,mas aqueles foram os bons tempos.A simpática taverna Piqûre D'Abeille,já não existia,era só mais uma memória.

Anton pegou o anel com o simbolo da familia e calmamente botou no seu dedo.Ele havia destilado o ódio por tempo o bastante,estava pronto para agir,Anton vestiu luvas,capa e seu lenço na cabeça como fazia quando mais jovem.Enquanto prendia a espada na cintura olhou para Hugo e Alicia:
- Vamos!

O trio cavalgou em direção da cidade e não pouparam os cavalos,eles estavam sozinhos,Anton havia enviado os soldados na frente para ficarem de vigia.
A viagem parecia que nunca acabava,Anton estava impaciente com aquilo,de fato,o local marcado no contrato ficava do outro lado da cidade e isto se somava a impaciência de Torre para resolver aquele assunto.

Chegaram a uma desolada área da cidade,se Dijón demonstrava seu esplêndor em outras regiões,ali não era o caso,tudo ali parecia sujo,era uma área repleta de criminosos,prostitutas e mendigos.O lado podre da cidade.

Um dos soldados veio até o grupo enquanto eles desmontavam:
- Senhor Torre.
- Os homens estão em posição?
- Arcabusiers de guarda nas proximidades do rio,como o senhor ordenou.
- Escondidos eu espero.
- Certamente,senhor.O inimigo não irá ver o que o acertou.
- Bom.E a construção?
- Um armazém caindo aos pedaços,pertence a prefeitura,mas aparenta não ser usado há anos.Estamos vigiando ele também,há trabalhadores entrando e saindo o tempo todo,mas a reforma nem começou,ao menos pelo lado externo.
- Vamos ver isso.

Após escoder os cavalos junto com os dos soldados atrás de uma taverna,o grupo foi dar uma olhada no armazém.O movimento na rua naquela região era pequeno,haviam vários prédios abandonados,um deles bastante próximo ao armazém chamou a atenção de Anton,eles poderiam conseguir dar uma olhada dentro do armazém.
Anton e Alícia decidiram investir nisso.
Se tratava de uma estalagem,os dois entraram tranquilamente e foram falar com um homem que aparentava ser o dono,era um homem na casa dos 40 anos,calvo,a barba dividia espaço com uma porção de cicatrizes no rosto.
-bonjour, monsieur
- Seu sotaque português é enorme,e irritante.O que vocês querem?
Anton pensou em como poderia responder a falta de cortesia do outro,mas tinha coisas mais importantes para fazer.
- Apenas queremos um quarto.
- Estamos lotados,vá embora.
Anton colocou a mão em sua bolsa de dinheiro e suavemente deslizou algumas moedas para o atendente:
- E agora?
- Você é surdo ou burro? Estamos lotados,dinheiro não vai mudar isto.
Anton precisava chegar aos andares de cima da estalagem e estava ficando sem paciência,observou rápidamente o que havia à sua volta,enquanto disfarçadamente colocava a mão no cabo da adaga na parte de trás do cinto.Há única "companhia" que tinham era um bêbado quase caindo sobre uma mesa."Eu poderia tira-lo do caminho e não haveria nenhuma testemunha"
Antes que Anton pudesse agir,Alícia o fez.Porém ao invés de uma lâmina ela decidiu usar outro tipo de arma contra o dono da estalagem.Ela suavemente segurou seu branço,enquanto se aproximava dele se inclinando sobre o balcão,falando levemente:
- Eu e meu amigo só queremos dar uma olhada lá em cima,estamos procurando um lugar para descansarmos um pouco,se você pudesse nos ajudar,eu ficaria tão agradecida...

A tática escolhida por Alícia funcionou,e os dois conseguiram avançar pelos andares da pousada,enquanto subiam as interminavéis escadas,a francesa criticava Anton:
- O que você ia fazer,cortar a garganta dele e passar?
- Bem,essa era a idéia.
- É assim que vocês fazem em Portugal?Aqui você vai precisar aprender a usar a persuasão.
- Eu já estava nesse ramo quando sua única preocupação ainda era se seus vestidos estavam na moda.
- E isso te dá permissão para ser descuidado?
- Na minha experiência,em um lugar como esse,ninguém da falta de um homem como ele tão cedo.

Quando finalmente chegaram ao terceiro andar da estalagem,ja era de noite,como Anton esperava,eles poderiam usar o escuro como vantagem.Uma das janelas da estalagem tinha acesso a um dos andaimes usados na suposta reforma do armazém,e foi por ali que eles passaram.Com muito cuidado,conseguiram entrar no armazém sem serem vistos por uma janela.Um evento interressante aconteceu,no primeiro andar do armazem haviam muitas tochas e velas,a iluminação estava otima,porém no terceiro andar,onde estavam,não havia nenhuma.Eles podiam ver sem serem vistos.
Haviam duas carroças dentro do armazém e alguns homens colovam corpos nelas.
- Aquilo são...corpos?-Alícia não compreendia qual era o sentido.

Anton ficou calado observando,tentando entender,quando veio em sua mente,anos atrás ,uma conversa com um médico e amigo de seu pai,na época,havia acontecido um surto de lepra em uma pequena vila,havia devastado ela,e Shokan buscava saber se seria possivél usar a doença como arma."Se você jogar roupas de infectados ou cadaveres infectados em um rio que a população do local irá utilizar,o resultado seria...catastrófico.".Em seguida,veio em sua mente uma frase da carta para Deveraux "[...]Dijón perecerá pelo Suzon.".

Naquele momento,tudo fez sentido.Hettinger iria espalhar a terrivel doença por Dijón através do rio Suzon.
Anton puxou Alícia pelo braço enquanto dizia:
- Eu sei o que fazer.Mas temos que sair daqui.Agora.

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Raquel_


Leonardo depositou sua confiança em Raquel, entregando a aljava com as flechas e o arco. Num ímpeto, falou sobre os planos do Hettinger. Que hora mais ingrata para saber os detalhes de como tudo aconteceria, pois não tinha tempo de pensar a respeito, as carroças encostaram próximos à ponte. Não esperava salvar uma cidade inteira apenas com um arco e umas flechas.

Raquel olhou pela janela o movimento que se iniciava. Guardas conversavam próximos às três carroças, e havia uma pilha de corpos empilhados em cada uma. Raquel aproximou a vela da janela, para que pudesse utilizar com mais rapidez. Sentou no parapeito da janela e tirou uma flecha da aljava. Enquanto se preparava, para quebrar o silêncio no quarto começou a falar para Leonardo ouvir.

- Tem poucos guardas do Hettinger lá embaixo, eles estão distraídos com alguma coisa...


Raquel posicionou a flecha no arco, e se ajeitou no parapeito para mirar corretamente o alvo. Abriu o arco e encostou a flecha na chama da vela, que começou a ser consumida pelo fogo que se alastrou devido à composição da resina. Virou o arco para o lado de fora da janela e levantou o braço, tentando encontrar uma posição adequada para conseguir atirar. A janela era pequena, e mesmo possuindo um corpo esguio, não era o suficiente para se manter sentada no parapeito com conforto.

- ... Se realmente Hettinger pensa em aniquilar a cidade usando desse subterfúgio, não acredito que vamos impedi-lo de uma vez.


Imóvel, Raquel apontou a flecha em chamas, segurando o arco e soltou com os dedos a corda, lançando a flecha em seu curso, alcançando a parte de trás da carroça, longe da vista dos guardas. Rapidamente pegou outra flecha da aljava, posicionou no arco, encostou a flecha na vela e repetiu o gesto duas vezes, mirando as carroças para que fossem atingidas pelo fogo.

- Creio que de onde veio essa quantidade grande de corpos pode ter mais, e nada irá impedir que amanhã ele tente de novo realizar essa manobra.


Raquel agilizou as próximas flechas, mirando nos corpos empilhados, atirando sem cessar. O fogo começava a se espalhar pelas carroças, chamando a atenção. Antes que Raquel se escondesse, foi avistada por um dos guardas. Raquel deu um pulo da janela, e pegou Leonardo pelo braço com ansiedade, e falou rapidamente ao primo:

- Me avistaram, e estão vindo em direção à estalagem. Precisamos sair daqui rapidamente.

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