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[RP - Privado] O Inesperado encontro de um pai e filha

Donnatela.
Tella sentiu a adaga enterrar-se na mão do padre, mas ainda assim ele fechou a mão e segurou a sua única vantagem firmemente. Desarmada, Tella mal teve tempo de piscar os olhos quando foi arremeçada ao chão.

Soltando uma folfada de ar com o impacto, e por momentos atordoada, a criança mesmo assim lutou - esbracejando para se libertar sem sucesso, acabou por se agarrar ao braço que a segurava, tentando pontapear e empurrar o adversário, também em vão.


Você perdeu! Achou que um padre seria uma presa fácil? - inquiriu o padre, sorrindo. O sangue escorria-lhe do outro braço, mas ele ignorava-o, o olhar fixo nela. Tella resmungou em surdina por momentos, novamente a debater-se para escapar, mas era inútil. Ele tinha bastante mais força que ela.

- Acho que qualquer um que acha que crê que nós, do bairro de lata, devíamos estar a estudar e a brincar, é um cego que vive iludido e precisa de uma lição. - barafustou, indignada. - Onde estão as suas armas, de qualquer forma? Só não as usou por ser clérigo, huh? Mas ninguém está a ver. Pode ganhar como deve ser. Toma. - Ofereceu, largando por completo a adaga, e apercebendo-se de verdade que a sua linha acabava aí.

Adonnis
Acho que qualquer um que acha que crê que nós, do bairro de lata, devíamos estar a estudar e a brincar, é um cego que vive iludido e precisa de uma lição. Onde estão as suas armas, de qualquer forma? Só não as usou por ser clérigo, huh? Mas ninguém está a ver. Pode ganhar como deve ser. Toma.

A frase tão despida de esperança e de vida surtiu um efeito em Adonnis que o Padre, há muito, não experimentava: lágrimas escorrendo de seus olhos.

O Sagres se perguntava como era possível que alguém tão jovem tivesse tanto rancor e desesperança pelo futuro.


Não, minha criança. Respondeu Adonnis. Não uso armas somente por ser clérigo. Não uso armas também porque aprendi que existem outras armas que podemos usar.

Escute, criança. Continuou o Padre com expressão de pesar. Santa Kyrene nos ensinou que recebemos o dom da comunicação, para usarmos as armas da escrita e do amor. A espada, só deve ser usada quando não há mais alternativa. E eu sempre prefiro acreditar que há alternativas.

Adonnis, então, segurou a adaga que a garota havia lhe dado e a jogou para longe. A mão já latejava e ficava avermelhada. O Corte havia sido fundo.

Em seguida, o Sagres tirou o outro braço de cima da garota e, levantando-a, a abraçou fraternamente enquanto sussurrava no seu ouvido:
Amor, minha criança. Não há melhor arma que o amor. E sinto muito que a vida não a tenha deixado ver o quão poderoso este sentimento pode ser.

Agora, olhando diretamente para ela, o Padre diz: Mas não é o fim. Se você quiser, posso mostrar que há luz no fim do túnel e que você pode ser a criança que deveria ser.
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Juiz de Coimbra / Capitão do Porto de Leiria / Mentor-Chefe de Leiria / Diplomata-Chefe do Arquivo Diplomático / Arcebispo de Lisboa
Secretário Lusófono dos Registros Romanos / Missus Inquisitionis / Professor do Seminário Menor de Viana do Castelo
Professor do Seminário Inquisitorial Internacional de Roma / Redator do Ofício de Imprensas de Roma
Donnatela.
A criança viu com horror lágrimas surgirem na face do padre. Somente vira lágrimas nos moribundos ou gravemente feridos, e as que via agora impressionaram-na, num misto de incompreensão e medo.

As palavras do clérigo novamente não faziam sentido, não para ela. Ela sabia que ele acreditava no que dizia, mas sabia também que viviam em mundos completamente diferentes, e que cada um desses mundos só existia enquanto o outro existisse também. Só havia bairo de lata e pessoas esmagadas pelo trabalho árduo e pão duro porque os nobres e gordos burgueses tinham as suas vastas terras e posses vedadas aos restantes, e essas posses e terras cuidadas só existiam porque não havia tanta bonança para todos. E cada um nascia no seu lugar, e morria no seu lugar.

Mas por isso mesmo não adiantava debater. O mundo era assim e continuaria a girar assim amanhã, tal como girara assim ontem. E o clérigo vivia num mundo em que o seu dia-a-dia era acreditar naquelas palavras, e se podia questionar e debater, mas o dela era o de suor e agarrar o amanhã, e não podia amar o seu caminho até uma refeição ou até um par de sapatos que nunca tivera.

A fúria borbulhava novamente no seu peito quando o padre a abraçou com sinceridade. Tella ansiava por um abraço assim, mas desprezava-o intensamente ao mesmo tempo. Ouviu o sussurrar do padre, novamente a falar de amor - o que era isso sequer?

Afastando-se, ofegante, sentindo e não querendo sentir, vociferou:


- Eu posso ser uma criança como deve ser se simplesmente me deres o que tens, e pronto. Eu prometo que nem te assalto de novo. - suplicou, a voz quebrando até um piar baixo.
Adonnis
A cada momento de relutância da menina, Adonnis sentia seu peito apertar. Era triste pensar a quanto sofrimento alguém tão inocente foi submetido para estar neste nível de raiva e rancor.

Eu não vou entregar nem minhas botas, nem minha bolsa, tampouco meu dinheiro, retorquia Adonnis com uma firmeza misturada com tristeza.

Mas posso te algo muito melhor: a chance de uma nova vida. Não dormiria em paz de novo em pensar que uma criança, como você, está nas ruas, sob toda a sorte de riscos e perigos. Baixe sua guarda e me deixe cuidar de você. Serei capaz de te dar não só um teto e alimento, como também um recomeço e a chance de mostrar que há algo mais na vida além de dor e sofrimento.

Eu sei bem o que é dor e sofrimento. Fui, por anos, oficial no Exército Inglês e lá, fui capaz de ver toda a miríade de sofrimento e chagas que pode existir. Fui capaz de ajudar muitos, como também fracassei em muitos.


A dor em sua mão, fizera Adonnis interromper o que falava. Neste momento, já não impunha qualquer bloqueio à menina que estava completamente livre. O Sagres rasgou um pedaço de tecido de sua batina e fizera um torniquete em sua mão tentando conter o sangramento, quando continuou:

Me deixe ajudá-la! Venha morar comigo. Posso te dar o amor que você nunca teve, te educar. Pense que assim, um dia, você também será capaz de lutar, como eu luto, contra a tirania e a desigualdade e, assim, permitir que outras pessoas, adultas ou crianças, como você, não precisem cometer crimes e se por à margem da sociedade para sobreviver.

O que me diz? Pergunta o clérigo enquanto estende a mão boa, esperando que a garota aceite e a segure.
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Juiz de Coimbra / Capitão do Porto de Leiria / Mentor-Chefe de Leiria / Diplomata-Chefe do Arquivo Diplomático / Arcebispo de Lisboa
Secretário Lusófono dos Registros Romanos / Missus Inquisitionis / Professor do Seminário Menor de Viana do Castelo
Professor do Seminário Inquisitorial Internacional de Roma / Redator do Ofício de Imprensas de Roma
Donnatela.
Eu não vou entregar nem minhas botas, nem minha bolsa, tampouco meu dinheiro. - Tella ouviu as palavras do padre, e a cabeça da pequena caiu - tal e qual uma criança a quem é negado o doce.

Mas claro que ele tem mais a dizer, pensou irritada, levantando-se enquanto o padre falava, sem a mais mínima intenção de o escutar. Seria apenas tempo perdido, ouvir esperanças de alguém que não vivia no mesmo mundo que ela.

Mas posso te algo muito melhor: a chance de uma nova vida. - disse ele, e a criança estremeceu, incrédula. Fitou os olhos honestos do padre, e ela sabia já que ele não estava a mentir, mas também acreditava profundamente que toda a sua esperança era mera ingenuidade.

Batendo o pé, Tella mordeu o lábio, a pensar furiosamente. Podia simplesmente aceitar a sua boa vontade e rouba-lo quando tivesse acesso ainda a mais bens, mas a criança já vira os murais da igreja e as representações dos condenados na eternidade, e outros padres e bispos já lhe haviam gritado, enfurecidos, do que acontecia à alma daqueles que viviam no pecado, e isso impressionara-a profundamente, até mais do que gostava de admitir. E certamente que assaltar um padre, depois de ele lhe oferecer a sua ajuda e lhe poupar a vida, não lhe ia dar pontos positivos nem neste mundo nem no seguinte.

Engoliu em seco. Ali, agora estática, ouviu o resto das palavras do padre. Não fazia a mais vaga ideia do que pensar ou de como agir. As ideias do homem eram contrárias quase à sua natureza, e ela quase apostaria que ele não ia demorar uns dias a desistir. Ainda assim, seriam dias em que ela se alimentaria... certamente podia valer a pena tentar isso.

O padre começou a ligar a mão enquanto falava. Ela viu a experiência do militar e a ignorância dos que, com as mordomias da vida, haviam deixado o tempo esquecer os costumes de usar a terra e o que ela tinha para oferecer em seu proveito. Soltando um suspiro, Tella afastou-se para recolher teias, e com com elas poder fazer um emplastro para a ferida - não havia monge que fosse desperdiçar o seu tempo a cuidar dos moradores do bairro de lata, já condenados à nascença, e por isso era comum os mais resilientes conhecerem quase tão bem como os monges os pequenos truques e curas - e, no fim, os mais pobres, conheciam alguns tratamentos dignos de realeza.


O que me diz? - perguntava o clérigo, mas ela ignorou a mão estendida e pegou antes na outra, e firmemente retirando o pano - o desperdício! - para colocar a teia e selar a ferida apropriadamente. A sua expressão era tão teimosa quanto antes, mas o conflito interno era como as ondas ferozes do mar no inverno. Ela não sabia o que dizer.

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Adonnis
Ainda com a mão esticada, Adonnis arfou ao ver a garota se afastando, mas surpreendeu-se ao ver que ela retornara com algumas teias para, ainda muda, pegar sua mão ferida e aplicar-lhe um emplastro.

Um sorriso brotou na face do Pároco pelo gesto de carinho da menina que, pouco antes, tentava lhe roubar.

Depois de selada a ferida pela criança, ela ameaçou se afastar, momento em que Adonnis pegou a mão boa e a segurou pelo braço puxando-a de volta para ele.


Ainda estou aguardando uma resposta, disse. E não sairemos daqui enquanto você não me disser o que achou do que lhe falei.
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Donnatela.
Os olhos da criança escureceram quando o seu braço foi agarrado - ela estava acostumada, acima de tudo, a ser um ser conduzido pelos seus instintos como forma de sobreviver, e, como um animal é agarrado, também ela se abespinhou defensivamente.

Mas tão depressa como um trovão, ela apercebeu-se quem a agarrava e porquê. Relaxou, contrafeita, e fitou o padre, meio aborrecida, meio agradecida pela sua inocência.


- Escute, existe um fosso entre onde você vive e onde eu vivo. Esse fosso existe desde muito antes de você ou eu existirmos, e aqui ficará mesmo que você me leve. E eu vou continuar a ser alguém deste lado do fosso. Há coisas que nunca mudam. - explicou, quase condescendente. - - E tem coisas para as quais nem eu nem você estamos preparados mesmo que eu fosse consigo para essa nova vida.
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Adonnis
Escute, existe um fosso entre onde você vive e onde eu vivo. Esse fosso existe desde muito antes de você ou eu existirmos, e aqui ficará mesmo que você me leve. E eu vou continuar a ser alguém deste lado do fosso. Há coisas que nunca mudam. E tem coisas para as quais nem eu nem você estamos preparados mesmo que eu fosse consigo para essa nova vida. Falava a garota.

E quem foi que disse que planejo transformá-la numa princesa francesa? Minha criança, eu nunca aceitei deixar de ser o que sempre fui e não há porque eu forçá-la a mudar nada. Minhas intenções foram claras. Quero mostrar a você que é possível ter uma boa vida, honrada e honesta. Retorquiu o Padre.

Se houver alguma mudança, esta partirá de você e não de mim. Gosto de mostrar o meu ponto de vista do que é correto com exemplos e não com imposições.

Mas o que acha de me responder o que te perguntei, sem rodeios?

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Donnatela.
O que é francesa? - inquiriu a pequena, de repente genuinamente curiosa, como que esquecida da situação em si, os olhos abertos e quase redondos de antecipação enquanto imaginava o que seria francesa - alguma mordomia certamente, e claro que o padre a conhecia.

Ela viu confusão atravessar a expressão do homem, e continuou -
E eu não sei o que responder a uma oferta assim. Sim, obrigada? - riu nervosamente, fazendo uma pequena e irónica vénia - Eu vou consigo, mas tanto quanto você pode desistir deste projeto, eu também posso partir e ir embora quando ficar demonstrado que água e azeite realmente não se misturam. - sublinhou, franzindo o sobrolho.
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Adonnis
Adonnis sorrira ao ouvir o carinho disfarçado de altivez da pequena menina.

Eu não estarei tem impedindo, diz o Padre. Mas minha experiência diz que não fugimos, ao menos não em sã consciência, daquilo que nos faz bem e melhor do que já somos. Isto já me tranquiliza.

Em sequência, Adonnis dá a mão a menina e segue para a saída da Arena.
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