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[Obra] Colectânea de Trovas de Aristarco

Ana.cat
Desculpem-me a ousadia, mas não encontrei um tópico já criado para reunir as trovas do Aristarco.

Colocarei também o RP que antecede a trova para se ter uma noção do seu contexto.

EDIT: Não está organizado cronológicamente


Editado por 1000faces para formatar o título
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Ana.cat
Leiria: Maio (ou inícios de Junho) de 1460




Vede pois, como são as cousas: viajor com natureza sábia sempre extrai o melhor do que cada detalho da estrada lhe revela; não importam intempéries ou mau humor do tempo, nem mesmo a vilania (d’algum fora da lei algures) que possa lhe acometer: é senhor do próprio coração o caminhante, a não esmorecer tão facilmente, e desfrutar do que for possível.

Aristarco nada conseguira extrair naquela prosa, enquanto o bom amigo não chegava daquela inspeção e averiguação do bom lago que não estava mui distante dali: o trovador se espantava com o ímpeto do amigo, porque ele próprio já havia desistido de sair da taberna, quando seu corpo já ficara cansado, diante um esforço d’um trecho entre o caminho de Alcobaça e Leiria.

Quando então finalmente Eudoxio chegou, puseram a se conversar todos sobre aqueles insucessos da investigação, mas como pode ser algo assim, oras.
Mas convinha não esmorecer facilmente, como cabe a viajor ou soldado, ou ambos n’um só tempo repentinamente.

E Aristarco se ria a valer quando ao lado do bom amigo Eudoxio, faziam verdadeira peleja e embate com cavalaria para saber daquel’ segredo assim que puseram os pés (ou patas de cavalo e boi, por melhor dizer) na boa Leiria, do famoso lago com sua magia ou encanto.
A senhora Vst fora deveras habilidosa em ocultar as cousas referentes àquele afamado lago (parece que tem cousas que não devem ser faladas, mas descobertas por si mesmo), mas não se pode desistir assim d’um bom duelo (de palavras) e aqueles viajantes do sul lusitano, nada de arredarem o pé ao perscrutar o mistério que envolvia a bela vila.

Até quando o Monforte se aprumou e na boa tática bélica, talvez a rememorar uma velha história vivida na Bretanha (que aqui levaria a um inusitado capítulo de bom longo livro), fez prosa delineada e floreada para que a preclara dama se convencesse a ceder receitas daquela bebida também mágica da taberna, porquanto parece que há questões que jamais se podem supor facilmente, como a relação distinta e espantosa da magia do lago com a magia de beberagem... Eis aí mais mistério.
Quem pode explicar isso, não se sabe; ou melhor, se sabe mui bem, eis a senhora Vst, mas que nem por qualquer magia (até a de Leiria, imaginai!), há de revelar o que move e instiga tais segredos da vila.

Paciência, paciência, mesmo bom cavaleiro sabe momento de que não se vence a lida, fica-se para outro dia e em melhores condições (mas sem desistir do fito): hoje vence a dama que convence Eudoxio e Aristarco viajantes, a desfrutarem da boa bebida e não mais insistirem em peleja já derrotada.

E enquanto riam-se, porque se há magia que se possa entender ainda é aquela que no convívio a taberna há de gentilmente conceder, tomavam mais um bom trago da bebida, e Aristarco parou por um instante para assim cantar em boa voz, cantiga daquel’ evento:



REDONDILHA

Mote

“Cavaleiro luta bem, mas bebe magia,
Se contagia, pois partida vem logo também.”

Voltas

“Em Leiria ao chegar
Seja condição qualquer:
Liberto ou degredo
Bem no que s’ achar,
Pois não há que se deixar
Daquilo que tão requer
Leiria: seu segredo.”

“Se diz aqui: El lago
Ou acolá: bebida.
Tudo vem com agrado:
Qual natureza? Divago,
Pois é tema d’um mago.
Mas luta é sabida:
Dama ganha el brado.”

“Descansa assim então,
Quando alma é feliz
Bondade bem propago:
Amizade faz clarão
Mais magia na questão.
Eis Leiria que assi diz:
Desfruta mais um trago.”



Há mui cousas mágicas ou misteriosas neste velho mundo, e pouco se saberia dizer um viajante destes dotes do lago ou da beberagem na boa taberna de Leiria.
Porém, talvez uma das mais inquietantes, seja a que leva à Amizade benfazeja, deveras misteriosa: se Leiria manteria seu segredo bem guardado a atiçar mil curiosidades, causava aos viajores não menos, a certeza (por vezes misteriosa) da boa fraternidade lusitana.
Que boa paragem, boa paragem sim, de Leiria.

E há que disto tudo, desfrutar.
Com mais um trago...

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Ana.cat
Montemor: 7 de Fevereiro de 1460




Estou a assistir o torneio com atenção, apesar de não ter um campeão por torcer: receio que a simpatia, há disto dar cabo brevemente, então não mo preocupo...

E aos intervalos do torneio d’Arqueiria, com tantas pessoas que estão a assistir, pontearei minha mandola soltando voz com canção.

Como vejo agora, pequena parada necessária, com povo a comer e beber, muito rir, e finalmente a aguardar novas provas da Arte, já mo aproveito cá por alguma inspiração da musa, se vós permitis.



REDONDILHA

Arqueiria

Mote


“Arqueiria de Montemor a Vila?
Eis evento que cintila...”

Voltas

“Do famoso festival,
Eis p’ronde vou
Por caminhos da nação
Sem medo d’algum mal
À Montemor um jogral
Viajante que sou
Cantarei à população.”

“Um torneio floresce
Glosarei el campeão
Porquanto desta pecha
Um’arte que apetece
De Montemor rejuvenesce
Mestrança da mira e mão
Se faz El Rei da Flecha.”

“Quem se tornará
Do prêmio acometido
Lh’entregado uma palma
Pois el renome voará
De nobre alvará? Não importará!
E será mui conhecido
Da Arqueiria n’alma.”




Minhas reverências e vos peço licença p’ra comer!
(porque minha barriga também mui oca está – apesar de rugir...)

Aristarchus Setubalensis

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Ana.cat
Montemor: 10 de Fevereiro de 1460




Caríssimos convivas,

Lá me encontrava em uma conhecida taberna da preclara vila, quando meus olhos eram assaltados: um vai-e-vem de gentes assomou-se aos burburinhos atados, às risadas e amistosa diversão acontecia, até mesmo casal apaixonado dentre prosas de amigo ou parente se via.

Também despedidas daqueles com acompanhada parte dos festejos; também chegada d’outros bem atrasados em desejos, mas sempre esperançosos d’algo bom desfrutar, tanto quanto novas amizades angariar.
Pois não podia ser diferente, cousas da gente montemorense...



REDONDILHA

A Taberna

Mote


“Causa qual a quem pertence?
Esta logo lá, na taberna portucalense.”

Voltas

"Que pensaste
Estrangeiro chegado
Tão de repente
Não amansaste
E te espantaste
Ao ficar abrigado
Um coração comovente."

"Eis herdade
De costumes antigos:
Na lida fraterna
Comer a bondade
Beber a felicidade
Respirar os amigos
Bem viver n’A Taverna."

"Conduz alforria
Em arder confiança
Nos corações jovens.
Quando mazelas do dia
Murcham m’ boa companhia,
Renascendo a criança
No peito dos homens."



Meus cumprimentos!
Porque hei de estar tão breve possível, logo lá... Na taberna montemorense...

Aristarco de Setúbal

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Ana.cat
Montemor: 12 de Fevereiro de 1460






O trovador ponteia aqui e acolá sua mandola: dedilha “presto ma non tanto” como dizem nas mui itálicas.
Na voz desdobrada acompanha a castanhola, versejando cousas galaicas e alongadas vocálicas.
Eis que entre uma canção e outra se curva, a fazer mesura à dama quando já esta co’a vista turva,
Porque é assim a natureza do bardo intrusa, diante do belo sobressalto que lhe inspira a musa...

- Hã? Que? Como? Onde?

Desperta do pequeno transe etéreo, brevíssima e estranha ausência do mundo, ao notar o mestre-organizador (e por sinal bom atirador!) do torneio festivo. Responde-lhe, ainda a divisar aquela bela dama que entrou:

- Ah, pois! Tens-me como criado, bom señor! Usa os versos, se fizer um bem a Montemor por favor!

Faz uma longa reverência ao notável bem-feitor montemorense e faz soar no dedilhado um brinquedo. Ouve-se então:


“Afinal os 'parentes' sempre ajudam,
Pois quem atira dardo ou canta canção
D’alguma forma ou d’outra miram,
O homem bem ao meio... do coração!”


Outra longa reverência, quase a bater a barba ao chão, acompanhada de gargalhadas dos convivas (e mais acentuadamente alguns beberrões).




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Ana.cat
Montemor: 16 de Fevereiro de 1460






Ah, meus caros montemorenses,

O festival primaveril lá se foi e eu cá fiquei, quase a perder senso ou juízo de minhas próprias cousas e vida. Porque para cada estado do chegar, tem outro bem adverso, o do partir. Assim, se locupletam início e fim, isto se bem sabe.

E então me recordo daquele dito aos marujos temerosos do mau humor do mar, em que outrora Pompeius Magnus, da velha e eterna cidade do Lácio, diante da necessidade e precisança não hesitou:

“Navigare necesse, vivere non est necesse.”

Ainda que me cá sirva “Ire necesse...”, com melancólica cantiga, se vos permitis.



REDONDILHA

Mote Alheio

“Se a tristeza chegar,
O remédio é lusitano tornar.”

Voltas

“Esta terra é assim
Há mui trabalho
Suor e dia duro
Tem até motim
Quiçá espada ao rim
Não to engano no detalho
Desse chão maduro.”

“Da plaga norte o Porto
Centro chão conimbricense
El torrão Lisboa condal
Mui há conforto
E se fica absorto
D’outros povos dispense
Pois Lusitânia, não há igual.”

“Se a tristeza chegar
Não olvides o trovador
Deixa no passado o dano
Parta sem tardar
Sem temor de errar
Não mais um visitador
Mas vir-a-ser Lusitano.”




Ao tomar uma última cerveja na taberna, com os trens de viagem para no lombo levar, a pobre mandola calada à mesa, recordo que hei de apanhar o caminho p’ra casa, feliz pela vossa companhia, recepção e amizade, mas também um pouco triste, porque parte do coração cá fica, já que me torno incompleto.

Mas um glosador é assim: nasce um pouco quando encontra gentil ingresso, morre um pouco quando coloca os pés ao regresso; mas com esperança do renascer ao dia vindouro em próxima plaga.

“Por se completar o incompleto... Eis o vir-a-ser irrequieto...”

Agradeço-vos bons montemorenses, hei de retornar brevemente assim; deixo minhas mais caras estimas do lugar que já roubou uma parte de mim.


Aristarco [um pouco mais] Montemorense




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Ana.cat
Montemor: 23 de Julho de 1460





Para encerrar aquele dia, chegara Aristarco finalmente à taberna e esta, diferentemente do ambiente citadino exterior que se recolhia cada vez mais enquanto o poente se fazia firme naquele domingo, encontrava-se em completa movimentação se não de alegria, então de copos indo e vindo, assim como beberrões a verterem goela abaixo verdadeiros barris em quantidade de cerveja e rum; sim, Montemor era assim aos domingos, afinal toda a rudeza dos trabalhos logo começaria no dia seguinte, e era preciso aliviar corações e intelectos em boa taberna...

O trovador pensava na longa viagem que estava por vencer mais uma etapa, as experiências convividas com os amigos-viajores, em momentos difíceis de exigências, assim como naqueles compartilhados que arrancam risada e festejo; pensava nas agruras de trechos nos caminhos, onde tempo e terreno pouco ajudavam, quando haviam de contar com a mão d’outro para prosseguir em frente.
As damas de Portugal ou de Castela a inspirar gentileza e cortesia por onde se passava, ou os bandidos e malfeitores a despertarem total e completa atenção nas estradas, a se armarem contra alguma vilania possível.
Não conseguia deixar de pensar nestas cousas todas, quanto mais chegavam perto de “casa”, sendo tocado pela típica contradição: vigília-sono, cansaço-descanso, bem-mal, partidas-chegadas, viagens-descanso, mudanças de estados contínuos e alternâncias teoricamente contraditórias.

Quando pensou naquela, talvez mais a atarantar os corações humanos, “vida-morte”, a de caráter mais decisivo.
Pediu um bom rum e ficou a pensar longamente naquilo... Até lhe alcançar o pensamento d’alguém que recentemente morrera, o rei castelhano, não muito tempo depois de sair a comitiva salaciense de Valladolid à regresso.
Morte é morte, seja de rei ou de escravo, de nobre ou plebeu, de ancião ou de infante, ou de qualquer outra alternância de espécie que se pensasse, acerca da contradição. Cessação da vida.
Ficou um pouco amuado então, e nem um barril de rum lhe poderia arrancar um riso porque a rudeza que sentia não era aquela dos dias, enquanto olhava aqueles convivas com tal destino, era aquela que às vezes espezinha o coração a fazer mover-se do tamanho d’um punho, para o tamanho d’um polegar.

Resolveu assim, amainar seu íntimo com aqueles “males” que já lhe acometiam, assim como suavizar o cansaço natural da chegada à Montemor, com uma cantiga que já criara no dia que soubera da morte daquel’ El Rey, mas sem alaúde, é claro (eis aí uma outra estória...), com uma melodia que já talhara lá com seus botões e ficava bem ao canto.
Então assim se fez audível em uma apresentação na taberna da vila, após alguns tragos...



EL-ZÉJEL

Mi Señor

Tristeza que hace muy sufrir,
Cuando mi señor morir.

En un día que hace mucha tristeza
Me pasa y me deja con la presteza,
Y devuelva a mí la fortaleza
Para esperanza ocurrir.

Tristeza que hace muy sufrir,
Cuando mi señor morir.

En noche que me encobre duramente
Me recuerdo del señor gentilmente,
Y venga un corazón cálidamente
Para entonces yo sonreír.

Tristeza que hace muy sufrir,
Cuando mi señor morir.



Cantara bem, chegando a repeti-la, apesar d’algum efeito do rum a começar a rodopiar a cabeça; só depois percebeu que eram as palavras de pesar que seriam entregues por missiva na já distante Coroa de Castela, à Marquesa de Santillana; e em castelhano, não em português, um descuido de seu cantarolar (talvez outro efeito do rum)...
Mas o próprio mestre-taberneiro que já lhe conhecia, bateu palmas e riu, e outros mais repetiram o gesto.
Uma breve transgressão não era de todo mal.

Isto deixou Aristarco um pouco mais à vontade, afinal, estava triste, ainda que não transparecesse.
O trovador fizera repetidas vênias de agradecimento, assim como se equilibrara um pouco para não cair n’uma ou n’outra...



OOC: é um tipo de canção medieval musta’rib com uma métrica muito peculiar, muito popular em al-Ândalus (que inclui porção de terra portuguesa).

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Ana.cat
Valladolid: 18 de Junho de 1460



OOC/FRP:
Inicio de lo mes de Junio, de lo año de la Gracia de 1460, en alguno momento de la estancia del trovador en Valladolid…




Aristarco tenía una sensación buena para si, ya que la experiencia de una nueva manera de tratar el cuotidiano causaba distinciones cuando si comparaban con lusitano, entretanto tan ameno y gentil cuanto, cosas esencialmente ibéricas con toda razón y quizá causasen una generosa proximidad singular y única entre los pueblos. Ah, que buena Iberia, que los romanos llamaban también de Hispania y Lusitania, tierra rica en todo, porque engañosa era aquella idea de haber apenas un sol luminoso que mismo los moros llamaran por al-Ândalus, y también con otras derivaciones de la sonora lengua sarracena.
Y en la filosofía, que tan era estimada por Aristarco, la definición de distinción no criaba cualquier contradicción necesariamente: así lo ámbito de diversidad era más contundente con aquel contacto de nueva gente, cuando se ligaba concepto y realidad, una maravillosa y rica combinación, quizá rara. “Cosas ibéricas”, pensaba Aristarco.
¿Quién podría concebir y sentir, o aún más, comprender estas cuestiones, aspectos y visiones, maneras de entender el mundo, más que aquellos naturales de la península?
¿Seria posible? Quizá no.
Que novedad, muchas cosas nuevas para los órganos sensibles y la esfera de la alma y razón… Todo que puede envolver nuestro mundo (de los hombres) es así mismo, una gran aventura y descubierta.

Por hoy ya había procurado los libros de filosofía y bien contactado un grupo de comerciantes libreros, para que en el futuro quizá inaugurase una posibilidad para encomienda y negocios; muy se interesaba por las palabras que los filósofos averroístas también estudiaban sobre los antiguos griegos, cuando eran de suma importancia de la penetración de importantísimos tratados aún inéditos en la Iberia, probablemente mucho más en la Europa. De cierto que Aristarco montó un “mapa de compras o adquisición” acerca de los caminos en que se encontraban al acceso de las obras, una vez con los navegantes italianos en grandes centros (y puertos), otra con los sarracenos del sur ibérico.
Mas también sin embargo no olvidaría las cuestiones de la Arte, porque los asuntos con música no estaban distantes y cantiga tan luego se nacería con toda certeza.
De manera que era una gran razón para andar en otra parte cualquier, con su laúd morisco…

Mas antes disto, tenía que pasar en una taberna para experimentar más un poquito da cerveza de la región, ya que recordaba los contos y las historias por intermedio de los viajeros lusitanos y castellanos, cuando él estaba en otro lado de la frontera; sí, sí, cerveza muy atractiva de Castilla. O mismo el hidromiel de la famosa “taberna pagana”…
Taberna pagana, taberna pagana… Y ahora Aristarco recordaba los contos acerca de su familia, especialmente los bretones de la cuesta que refregaban con los francos, así como aquellos otros que estaban comprimidos en Cornwall y tierra de los escotos en desgaste con los ingleses, como decía el bueno maese Liam de Downe, en la muy distante Harun del al-Gharb. Había una longa y complicada historia sobre los pueblos en la región, y las raíces de Aristarco vertían siempre en favor de la misma gente familiar, ora “Brettanôn” (como ya afirmaba Strabon griego; un término del caso genitivo ático según la antigua “grammatíké graikôn”), ora de Flandes.
Bien muy apreciaba cuestiones de la libertad y autonomía, como aquellas gentes que buscaban sustentar sus maneras y visiones del mundo, así como quedaban resistir contra fricción extranjera en la política y hasta mismo la religiosidad aristotélica al longo de la historia un poco más antigua: como no podría ser diferente, definió la opción escandinava, sin duda, al haber algo en común para compartir culturalmente e tradicionalmente.

Él tomó hidromiel muchas veces hasta que sonría abiertamente y ya arriscaba hablar la lengua castellana con menos recato…

Finalmente él se dirigió para La Casa de Cultura de Pucela, porque gustaría de conocer la famosa casa que estimulaba las acciones y obras artísticas, algo así tan esencial que Aristarco no podría dejar de visitar así como puntear un tanto de su laúd morisco (oriundo del al-Gharb averroísta), que cargaba consigo.
Apañó su instrumento e improvisó una cantiga, más o menos así (porque el hidromiel ya hacía algún pequeño efecto…):



REDONDILLA

Mote

“Hay un gentil sentimiento,
Cuando al pucelano, saludo lo intento.”

Vueltas

“Tierra pucelana
Es más que generosa
Con una grata bondad:
Por la vida, emana
Que allá de humana,
Siempre amorosa
Ofrece felicidad.”

“Entonces se atenta,
Las palabras no caen
Cuando hay la canción:
Sonido alienta
Armonía contenta,
Memorias no desvaen,
Pulsa la floración.”

“Vive gallardamente
Orgulloso pucelano
Del suelo varonil.
Confía solamente,
Hace tan plenamente
Con garbo castellano,
Valladolid juvenil.”



Ya abría mucho más fácilmente su sonriso, porque cosas de la música eran muy naturales para si, mismo cuando había la riqueza diferencial de lo idioma; y así es la Arte e correlatos con un típico e maravilloso entendimiento universal…





OOC/FRP:
. Yo pido nueva disculpa acerca de mí limitación (de la lengua) acá, porque intenté hacer una publicación completamente en castellano… Es difícil, mas puedo aprender un poquito.
. El estilo es de la transición del Renacimiento al fin del siglo XV y de lo período Moderno en meados iniciales del siglo XVI con (pocas) semejanzas en Gil Vicente y bien más tarde, Camões. También tiene influencia de aquellos cancioneros ibéricos más antiguos y la métrica siegue un poco a la línea de la redondilla mayor o heptasilábica.

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Ana.cat
Alcácer do Sal: 16 de Abril de 1460






Aristarco decidira se aproximar da praia por ali nas cercanias, porque não apenas ele próprio precisaria de descanso, bem como sua montaria, mesmo sem assim tão pouco esforço que lhe dera, ora pois, quem descuida de bom amigo cavalo é melhor que use os pés ou carroças, quiçá carruagens.
Deixou a montaria atada a um fino tronco de pereira nova que ali se encontrava, algo incomum naquela paisagem, mas que aproveitou para reclamar a curiosidade do bardo quando lançou olhar para algo dali se servir da natureza.
Ledo engano, mas que o bom hábito de medir sempre fazia valer a pena, n’alguma remota chance afortunada, quem há de saber se há algum fruto de repente.

Aproveitou e molhou um pouco o trapo de uso qualquer que trouxera, para acariciar e repousar nos joelhos do cavalo, apenas por boa precaução, enquanto sussurrava com a montaria.
Por um tempo ficou assim, a cuidar do bom animal, para depois cuidar de si, já que gostaria de se sentar um pouco, comer um tanto e fitar o velho mar a deixar tempo ser morto, certamente uma das melhores cousas a se matar nesta breve vida, às vezes.

Mas aquela história d’um bom e distinto amigo que conhecera na taberna, de nobreza familiar e mais ainda de coração, como pudera notar, parecia lhe dar um enorme comichão, algo que não era inesperado desde que já pressentira sobre Alcácer a abrir seus braços e dar boas vindas, a deixar deveras à vontade os viajantes, e especialmente ao trovador disposto aos bons ofícios da inspiração, por que não.
Finalmente se aprumou a se sentar por sobre uma pedra chata, guarnecida de boa sombra e a receber não menos uma boa brisa do horizonte azul debaixo (mar) ou de cima (céu) ali bem à frente.

Recolheu as pernas a segurar os joelhos com os cotovelos que enlaçavam, deveras folgadamente, por bom tempo. Os olhos não se cansam desse jeito (nem alma).

Até que as rimas começaram a lhe povoar a mente: um vai-e-vem de palavras, cruzamentos de sons e toda aquela parafernália que só os significados hão de inquietar o intelecto, primeiramente de maneira caótica, naquele afã da inspiração que a musa assopra, para depois as seguintes ordenações, porque as cousas humanas convém serem assim mesmo, depois de geradas na força e impetuosidade da vida, hão de ser bem tratadas n’alguma medida, pois se corre o risco de cair em desatino.
Todos os bons filósofos antigos tratavam justamente disto, da égide do “métron” ou justa medida: o ofício, a arte, o pensamento e o comportamento que na precipitação desmedida, usualmente se fadavam aos fins não tão gentis.
E isto posto, mesmo a trova cabia assim dotar de harmonia e equilíbrio certamente, ao menos naquela opinião de Aristarco.

Depois d’algum tempo que não se saberia dizer quão longo ou curto houvera voado, alargado ou encurtado, ou qualquer contradição que o valha, o trovador finalmente chegou a um termo, que tão logo chegasse à hospedaria, ditaria ao aprendiz Martinho (pois que já não estava a fim dele próprio debruçar à mesa naquele dia).
E nasceu algo assim:



REDONDILHA

Mote Alheio

“Cavaleiro de inusitada condição:
Sua peleja esta na espada e coração”

Voltas

“Contar-vos-ei no canto
Cousa de novidade
De rara condição.
Eis algo d’ espanto
Também de muy encanto
Se há tal castidade:
Estranha destinação.”

“Havia um cavaleiro
De muy Alcácer lusa,
Co aqueles viajou
De nome altaneiro,
Na família herdeiro
Tradição sem recusa:
Em Bretanha s’ arrojou”

“Na peleja bem pronto
Deveras se preparou
D’ espada e cavalo
Armeiro a confronto
Inimigo afronto
Em coragem declarou
Sem medo nem abalo.”

“Destino desafia!
Daquel’ inesperado
Vem correr prontamente:
Julga mal quem confia
Na própria maestria,
Ignora el fado
Por vezes não clemente.”

“Peleja diferente
D’ outra natureza
Gera gran amolação:
Em campo aparente
Assi tão de repente
A provocar pureza
D’ um probo coração.”

“Clama galantaria
Duquesa tão formosa
Em língua bem confusa.
Señor enfrentaria,
Da Bretanha viria
Üa história famosa
D’ Amor que tão abusa.”

“Em boa segurança
Na lusitana terra
Vem da valente ação.
Na próxima andança
Co cuidado avança:
Peleja que não erra
Não esta no coração.”



Cantou a cantiga por diversas vezes, não perdendo nenhuma palavra, para boa e veraz marcação e só depois quando se sentiu seguro, retirou do alforje os comes e bebes que trouxera junto consigo (e ignorou os pergaminhos).
Seria uma boa volta à hospedaria, mui satisfeita sem receios, afinal custou-lhe apenas uma noite e uma tarde na boa Alcácer para que estes acontecimentos se dessem, a mostrar-lhe que tal plaga deveria ser revisitada com mui, mui calma ainda.

Por um momento lembrou-se da prosa com o bom cavaleiro Eudoxio, sobre alguma estranheza que Alcácer parecia acometer pessoas quase que misteriosamente: teriam sido trazidos aqueles entes escondidos da distante e comum terra-natal de velhos antepassados, naquelas viagens que homens e famílias viviam a se apoquentar?
Quem estaria ali escondido entre as sombras das árvores, dentro dos troncos, imersos nos lagos ou no topo de colinas e interiores de bosques?
Aristarco rememorou momentaneamente alguns bons e velhos contos “De Britanniæ” e talvez Alcácer tivesse lá um encanto irmanado na terra. Eis ai um bom mistério...


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Ana.cat
Alcácer do Sal: 5 de Maio de 1460





Oras, como são as cousas, qual homem não há de tomar alguns bons tragos em boa taberna, às vezes para aliviar o espírito das rudezas e vicissitudes da vida, às vezes simplesmente para expandir e compartilhar algum estado de ânimo mui feliz?
Até mesmo a poder não estar acompanhado (é certo que na mágoa, se solitário de pessoas de quando em quando, ao menos a 'dialogar' com o bom e fiel caneco cheio).

Se alguém fosse contrário a isto tudo, poder-se-ia dizer que não compreende o gênero, porque se o mundo gira, tem pelo futuro sempre a novidade, o porvir indecifrável, o inusitado fado ou destino, que por sinal faz valer mui a proposição de filosofia estóica da vivência na instância, na valoração d’uma virtude que se aplica aqui e agora, ao mesmo tempo em que se compartilha com os demais a se apoiar no ânimo; porque afinal, tudo reside nisto: a alma com seus caracteres múltiplos; a alma que se sustém na circunstância; a alma que se contrapõe ao mutável, ao instável e inusitado.

Se algo deve permanecer é alma e n’alma. Mesmo que o velho filósofo Demócrito de Abdera afirmasse que tudo não resistiria ao tempo quando seu detentor viesse a morrer. Virtude lá encontra mais guarida.
Mas nem ele ousaria objetar que enquanto se vivesse o homem, a alma haveria de se sustentar até o fechar de olhos e repouso da respiração.

Mas deixemos tudo isto para lá porque a questão se tratava apenas de cousas de rum, cidra, cerveja ou vinho, e todo aquele universo de beberagem que vem socorrer um homem, apoiá-lo por vezes (ou simplesmente afundá-lo, porque acreditai, eis algo não menos comum).

E o trovador tomou lá um pouco mais de tragos do que o habitual com os bons amigos de viagem e os bons amigos salacienses: canções dos mares apareceram na taberna, assuntos de pirataria e planos de assaltos aos catalães, provençais, venezianos e sabe lá céus quais mais plagas e povos deste mundo envelhecido, todas praças repletas de bons certames bélicos para imortalizar feitos, assim como novos gostos de bebidas e comida, mui gemas e artefatos e cousas desta natureza.
Planejamentos de comitivas, ideias de armadores para conceber naves e todas as peripécias, anedotas e troças que faziam de aventuras, porque havia algo sério naquilo tudo: pegar os trens de viagem e partir pelos mares, pousar em mui vilas de línguas e tradições estranhas, beber e viver a amizade na aventura, rodeado de amigos bons e fieis.
Oxalá que o Destino recaia neste intento afirmando-o, enquanto que aqueles ali na taberna haveriam de fazer suas partes ao fito, acreditai e guardai bem isto.

Até que chegou um tempo após, o campeão do torneio de arco e flecha salaciense, que foi mui saudado pelo seus feitos (não, certamente não fora ele a acertar o pobre catador de flechas), com assuntos carregados naquelas festividades e cousas felizes que aquilo tudo propõe a dar.
Mais bebidas e pratos foram postos, consumindo-se junto um tempo feliz dos convivas.

Se não estivessem ao mesmo lugar aquela taberna e hospedaria, Aristarco sairia da taberna com os passos a “trançar”, parecido tal qual quando uma senhora é ajudada por alguma aia com os cabelos bem a se arranjar e já deveis ter visto aquele vai e vem das mechas, inda que o efeito ao sabor do rum era de fazer as pernas bambearem d’um lado ao outro, imitando-lhe os modos apenas.
Já dizia o filósofo Platão que havia a imitação do real pelo aparente, e se a trança de cabelo era real enquanto a trança de pernas estimuladas de bebida era aparente, não se poderia nada afirmar, acreditais, mas que a primeira era formosa e elegante enquanto a segunda era desajeitada e cômica, não se havia a menor dúvida.

E antes que isso acontecesse, um caminho trançado até o quarto, com boa inspiração lhe veio aquele comichão que balançara o íntimo de seu coração e pensamento (inda lúcido), que o fez então improvisar uma cantiga sobre as comemorações de Alcácer, especialmente depois que soubera dos eventos da competição de saltos, deveras divertidos e singulares.

Desapontado que se sentira quando não pudera comparecer, quem sabe uma cantiga viesse a remediar aquele lamento, pois também a música acaba por ter tais atribuições junto ao coração, e assim logo saiu uma em boa voz (inda não afetada de bebidas) ao se levantar e se por a cantar:



REDONDILHA

Üa tradição

Mote


“De Artois à Alcácer legada, competição,
Na corrida bem gingada, tradição.”

Voltas

“Historia que vou contar
Escuta, guarda isto:
De tão velha tradição
Assi deixa remontar.
Longo percurso narrar
Del Artois muy bem quisto
Vem üa competição.”

“Pois se tem algo comum
Na língua ou palavra,
Na razão ou coração
Na boa cidra ou rum,
Não se sabe de nenhum.
Porém há boa lavra:
De corrida, floração.”

“Mas nem se saberia
Do Mansur mouro senhor
Em puro sobressalto:
Quem imaginaria?
Que de Flandres viria
Ao luso chão um penhor:
Aquel’ jogo do salto.”

“Parte logo e salta
Mas tombo bem evita:
No ganho, perseguição.
Co gingado ressalta
Renome qu’ esmalta,
Alcácer se agita
Quando honra tradição.”



E os convivas memorizaram o mote enquanto o trovador cantava as passagens, repetindo a cantiga por algumas vezes, até que finalmente Aristarco fez uma reverência e se voltaram todos a beber e prosar no mesmo espírito alegre, depois de uma longa semana de jornada em ofícios e trabalhos daquela boa gente.
E assim foi a noite a correr larga, até o momento de tapar os canecos e pagar a conta, para finalmente pegar o passo trançado (mui cuidado para subir a escada, por favor) que levava lentamente até o quarto com a boa cama da hospedaria...



OOC:
Certamente que o bardo também não se esquece o “período mais flamengo” de Artois, algo de interesse particular de um ramo familiar que faz usar a trova ao seu favor.

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1000faces


Concordo com esta obra, tanto pelas trovas como pelos textos de ligação. Deixo só uma pergunta. Haverá mais trovas? Será boa ideia contactar o autor para nos ajudar a encontrá-las.

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Fé, honra e tradição. Eis os Templários!
Aka_amber
Eu o contactei e não obtive resposta ainda. Escreverei novamente.
_________________
Shyido
Aristarco fez uma obra no Porto, cuja obra não está presente aqui, então achei por bem traze-la para cá.

Essa obra está em contexto junto a algumas outras pessoas então trarei integralmente não apenas a dele mais como o contexto junto a ele.


Condado do Porto, Cidade do Porto

14 Jul 2012
Aristarco wrote:



Imagens enevoadas, cores a perder brilho, sons abafados e não totalmente compreensíveis, além de paisagens completamente sem sentido em suas conexões, em um balouçar caótico que parecia uma estranha estória sem qualquer enredo ou, em palavras mais simples, sem qualquer início, meio e fim.
Por um momento se encontrava no caminho de viagem entre Lamego e o Porto, rindo fácil na presença dos amigos, regado a bons tragos de vinho d’O Porto; por outro momento, a cabeça lhe rodava mais do que touro a correr pela arena em grande e repentina disparada; e daí, de repente parecia se encontrar no escuro com uma pequena luz que parecia vir da rua (hm?) e a bater no teto (hã?), com uma cor muito esquisita também.
Tentava ter “firmeza” no olhar para fixar-se em algo, mas uma dor de cabeça lhe vinha a assaltar violentamente, como um bandido ao meio do caminho entre dois pontos algures, obrigando-o assim a fechar novamente os olhos e colocar as mãos com leve pressão à cabeça, dolorida terrivelmente.

Ficou neste estado a parecer-lhe um longo sonho sem fim, sem qualquer compreensão ou razão do que ia e vinha pela mente e pela sensação.
Mas não somente isso, já nem poderia ser sonho, mas pesadelo, com aquela dor forte e lancinante além de um grande frio que lho acometia, lugar úmido, escuro e fechado como aquele, não se recordava na vida de ter presenciado (na pele, que se bem diga).
Porém não poderia estar no ‘inferno’ certamente, porque o frio não fazia combinação...

Quando ia inquerir com seu intelecto o que se passava... Aguda dor apanhou-o e soltou um gemido contido, como se o próprio espírito fosse abafado por aquele ar pesado e sufocante. Começou a perder os sentidos rapidamente.

Expirou... Mas não morreu não, oras, como se comprovaria isto mais tarde; o corpo alquebrado reclamou descanso e fuga da própria cabeça que girava e doía inclementemente.



14 Jul 2012
Aristarco wrote:



Por um momento, foi de imediato encontro ao plano d’uma longa mesa, a poder vê-la se aproximar inelutavelmente seu rosto na superfície. Conseguiu mover os braços para algo evitar, mas a imagem não lhe obedecia!
Sentia a pancada e dor em um tempo só, e nada ao que parecia impedia a imagem final, seu olhar já no chão, com a bota d’alguém bem a sua frente. Se a razão lhe tivesse firme, poderia quase afirmar que era uma bota d'um guarda, mas quando o pensamento parecia fruir, a dor vinha e lhe interrompia, e tudo novamente ficava escurecido e já sem forma, esvoaçado.

Até que a dor lhe atacou novamente, acompanhada do que parecia um verdadeiro estrondo, tão sonoro que já entrava em si e tomava toda a cabeça; estranhamente vindo de fora (?) a tomá-lo internamente por completo, como pode isto acontecer, que mistério; um mistério terrível de dor.
Ao abrir os olhos, via a luz rebatendo no teto do lugar que estava, contraposta com as sombras das barras cruzadas já bem definidas no campo de visão.
Mas a dor não vinha dos olhos recém-abertos, quando outrora tudo era escuridão, mas sim da... da rua! Ah, eram os sinos com suas badaladas, a fazerem explodir sua cabeça como bateria de canhões, a maior que existisse.

Colocou mais uma vez as mãos nas têmporas, como se aquela pressão pudesse evitar o dano sentido, mas certamente sem qualquer efeito; reações naturais às dores, o que se pode fazer, afinal o corpo luta a favor da vida sempre (e só os corações dos homens conseguem desvirtuar a natureza, quando insistem em buscar a morte por meio d’alguma destruição).

Levantou seu tronco e virou o corpo a se sentar por sobre aquela cama rude de madeira, ainda que se soubesse que mui celas alhures sequer cama houvesse, e então alguma sorte (?) tivera, se é que acordar dentro d’uma cela poderia se dizer que houvera sido agraciado pela fortuna, pelos deuses.
E então se pôs a esfregar os olhos enquanto ainda o canhão das badaladas do sino da igreja lhe atarantavam. E pasmai, era o sino da igreja do Porto que antes já ouvira, pois fácil lhe fora reconhecer o timbre e também a sequência rítmica tal qual efeito provocado quando aqueles frades haviam de se dependurar pelas cordas atadas aos suportes do mesmo, imaginai... E tão melhor não especular sobre timbres e ritmos, afinal são cousas para trovador, segrel ou bardo.
Viu a porta de ferro, intransponível é claro, um mau sinal para quem nem imaginava a razão dali se encontrar.

Foi até a mesma, com pisadas leves, para não fazer coro com os canhões das badaladas, porque nesta altura todo o movimento brusco do corpo atentava contra si e em prol daquela terrível dor de cabeça que se tornara quase uma parte integrada. Haveria de passar, é claro, mas enquanto isso não acontecesse, paciência (e movimentos vagarosos de cautela).

Chegou defronte à pesada porta, que tinha uma espécie de janela que ia d’um lado a outro, com as barras verticais não mui espaçadas; segurou-as com as mãos e com voz grossa e chamativa soltou um berro:

- Eia carcereiro!

Imediatamente a dor lhe agulhou e Aristarco fez expressão de rendição, e também a angariar lição, a mesma que lhe apontava que já não berraria na próxima vez, quando cabeça rebimbaria, pelos céus que pontada.
Isto sim, havia sido mui pior que o 'cañonazo' da igreja portuense, oras, sem dúvida alguma.

Pode notar e sem mui esperar, alguém a se mover lá naquel’ ponta do corredor, porque fizera contraste de sombra e luz de quem se levantava d’um assento ou algo que o valesse, e rogou que lhe viesse na direção; muito em breve ali saberia de sua situação, algo feliz, ao menos para o entendimento (sempre há que se extrair algo proveitoso, seja qual for a situação).



14 Jul 2012
Aristarco wrote:



E foi o que se deu, quando o vulto veio em passada tranquila, apesar de pesada deveras, como alguém a carregar um fardo ou algo parecido.
Um soldado, sem hábito completo, aproximou-se lentamente. Sim, felizmente seus olhos já viam com nitidez e logo concluiu que por paramentos daquele, poucos lhe vinham visitar naquela parte a exigir algum decoro de soldadesca, talvez no máximo um capitão vez ou outra.
Notava aquele ser velho, um veterano certamente e provavelmente há mui neste ofício, porque mantinha sorriso natural na face. Estava explicado no momento aquel’ andar um tanto pesado e moroso, porém faltava o principal.
E assim falou o guarda:

- Oras, acordou o senhor. Não deve ter sido noite boa, claro, mas não estas na pior das celas da prisão...

Aristarco em sua dor de cabeça, segurando as barras, perguntou-lhe com esforço da ordem para as palavras certas, afinal não se encontrava em uma condição mui decente:

- Mas... Como cá vim parar?

O guarda-carcereiro pareceu segurar o riso repentinamente e abaixou os olhos para o chão, desta vez, a parecer ele a fazer algum esforço para bem escolher as palavras.
Então respondeu:

- Hoje mesmo estará o senhor livre, fica tranquilo. O capitão avisou-nos que havias “esbanjado merréis” por teres bebido um pouco mais do que devia, e quando isso ocorre se pode esquecer d’alguns deveres... Bom, ele já mandou um mensageiro à tua comitiva. - Aristarco sentiu calafrio na espinha, com a tal cousa do “mensageiro”, oras, que vexame seria,- E mesmo com pesar, ele não teve opção a não ser em cumprir a lei... – e voltou o veterano o seu olhar para a cela, “apresentando-a”, por assim dizer.

Mas havia algo mais premente que o calafrio ou preocupação com outras cousas, porque o trovador sentia sua boca, garganta e goela (inspiração, humor e tudo mais que se imagine) mui secas, o que acabou por fazer um pedido:

- Poderias me trazer, - pensou rapidamente naquele enjoo do vinho e fez careta -, um pouco d’água?

O homem d’outro lado das grades (e livre) lhe respondeu novamente:

- Ah sim, claro, senhor! Porém hás de fazer o favor de mostrar alguma trova inda hoje sobre tua viagem e as gentes que acompanha, pois assim certamente a comida te chegará mais saborosa e quente, ah sim, se chegará! Garanto-te!

E saiu com uma risada contida o velho guarda, a divertir-se com aquela situação, um susto provavelmente, afinal, ninguém felizmente estava ali para sofrer alguma pena... Alguma pena mais definitiva, se assim se pode dizer.
Pareceu aquele se divertir com estes “pequenos eventos”, sim, pareceu, especialmente um trovador no mundo dos beberrões que gastava os tostões e depois não pagava a taxa da importante cidade, que vacilo diferente a lhe quebrar um pouco a mesmice dos dias.

Já para Aristarco, não era tão “pequeno evento” assim; apoiando-se pelas barras enferrujadas, meneava a cabeça negativamente por repreensão de si mesmo.
Encostou a apoiar a testa nas barras em um pequeno desalento.
Afinal, como ficaria sua reputação, pelas águas do Sado...



14 Jul 2012
Eudoxio wrote:


A fome apertava cada vez mais, não chegara a tomar o pequeno-almoço... Fora no momento em que se preparava para começar a comer que aparecera um soldado com notícias sobre Aristarco. Pelos vistos o trovador tinha bebido um pouco mais que o costume e arranjado alguns problemas, acabando por passar a noite na prisão. E agora ali estava o Faro Monforte, à entrada da prisão e seguindo o soldado, indo ao "resgate" do amigo. Mas não estava chateado... não, longe disso... Era uma situação caricata e fora do comum, algo engraçada (para Eudóxio, não para Aristarco, seguramente), não conseguindo Eudóxio deixar de sorrir ao reparar no nome do amigo na lista de prisioneiros, afixada à entrada da prisão.



- A cela é já aqui ao fundo do corredor. - disse o carcereiro assim que Eudóxio chegou, sem se alongar muito em conversas e avançou a passada lenta, mas bem vincada por entre o corredor frio e escuro da prisão.

Aristarco estava quieto, ao fundo da cela, agarrado às grades da cela e a olhar fixamente para o exterior. Estava com um ar cansado, a noite não teria sido, certamente, muito agradável... Eudóxio tossiu forçadamente e o trovador voltou-se, claramente aliviado pela chegada do Faro Monforte.

- Oras, senhor Eudoxio, gostaria de dizer-te bem vindo ao recinto, contudo apenas bem vindo basta, hás de concordar comigo...

- Grande trapalhada foste tu arranjar, hein? Muito bem, sim senhor... - respondeu, sorrindo -Muito bonito... É como se costuma dizer: junta ao rum um degrau e vais dar-te mal... Claro que teria sido preferível que tivesses simplesmente tropeçado num degrau, meu caro, em vez de toda esta situação... - calou-se por momentos, continuando de seguida, rindo-se- E noto que perdeste o alaúde... vai-te fazer alguma falta, não?

- Sim, bom amigo, alaúde faz mui falta, mas trocaria todos que existissem neste mundo, pela única e simples "liberdade". E ainda me sobraria o canto, não é verdade? - respondeu, sorrindo, Aristarco.

- Alaúdes não quero, mas aceito um bom pequeno-almoço como pagamento por este "salvamento"... Vá, vamos lá tirar-te daqui.

O carcereiro abriu a porta e Aristarco "arrastou-se", num passo cansado, para fora da cela.

- Espero que esta... esta situação não tenha atrasado a comitiva... - comentou em voz baixa e com um ar preocupado.

- Não, não atrasou, não te preocupes... Mas tiveste sorte! Foi a mim que o soldado encontrou e avisou, mas poderia ter calhado ele encontrar primeiro a rainha... e aí sim, estarias metido em grandes sarilhos, meu caro, podes crer que estarias...

Eudóxio observou divertido o olhar que Aristarco fez ao pensar na possibilidade de a rainha tomar conhecimento daquele "pequeno incidente" e começou a caminhar pelo corredor, em direcção à saída da prisão.


14 Jul 2012
Aristarco wrote:



Mais tarde e algum tempo passado, depois que todos aqueles fatos haviam perdido viço com a poeira do tempo que há de tudo resolver, como já bem diziam os mouros das terras áridas africanas que perambulavam no al-Gharb, o trovador um dia resolveu se apresentar n’alguma praça daquelas bandas do sul musta’rib lusitano.
E a cantiga se tratava daquelas vivências em sua memória, quando naquela comitiva salaciense estivera a visitar as velhas terras do setentrião lusitano, que tão carregava vividamente em afeição.
Já não se preocupava mais do corpo alquebrado ou dar dor de cabeça mais forte que tivera nesta vida, assim como já não mais lhe pesava a ideia de uma longa noite no cárcere, mas tão somente o cultivar lembrança dos sorrisos e palavras, dos gentis espíritos do norte que acalentavam os viajantes...



REDONDILHA

Mote Alheio

“Junta rum com um degrau,
Lá se cai no rumo mau.”

Voltas

“Olha tal situação
Que vida muy atina,
Cousa bem indevida
Ao beber sem precaução,
Eis admoestação:
Pode-se ter ruína
E dissabor da vida.”

“Cabeça dolorida
Corpo como um fardo,
Terrível situação
Ébrio sem guarida,
Em noite dolorida
Se não tomar cuidado,
Vai parar em üa prisão.”

"Mantém sobriedade
E guarda o que digo,
Ao que se deve curvar:
Cativa amizade
Ata fidelidade,
Porque só bom amigo
D’um dano te vai salvar."



E quando Aristarco tocava esta cantiga, largava aquele outro a rir em seguida, porque ninguém sabia das causas ou intenções verdadeiras nas quais o trovador se atentara, exceto o Monforte.

Também não era incomum que em todas as vezes que o trovador visitasse Alcácer do Sal, o amigo Eudoxio pedisse sempre para ser cantarolada aquela canção, sem que pudesse Aristarco se negar ou furtar, afinal era a paga pelo velho desatino e gratidão por ter sido “salvo”, e há que primar pela justiça, paciência.
Mas tudo isso já eram cousas mais felizes, certamente, já se faziam só boas lembranças.



Dois dias depois, algumas pessoas se fizeram presente neste contexto, contudo acredito que não estava previamente acertado com o escritor, sendo obra do acaso, apesar de que acredito que não estão diretamente ligados a obra do autor, trago aqui também para fins de analize se deverão ou não ser eternizados a respectiva continuação


16 Jul 2012
Celestis_pallas wrote:


Caminhava mui lentamente a jovenzinha Celestis Pallas pelos arredores do Porto. Sua fiel e inseparável amiga Sancha Machado andava, um pouco mais à frente, ansiosa para chegar logo à tasca:

- Espera! Até parece cavalo sem rédea!

Percebeu que a amiga não gostara muito da comparação. Antes mesmo que San pudesse reclamar, Celly ouve a voz de um bardo, que se aproximava cada vez mais, portanto, a menina susteve a mão espalmada em direção à loira, para que a mesma se aquietasse um pouco...Celestis fazia gosto de saber de quem se tratava, afinal, ela ainda não possuía conhecimento de nenhum músico por aquele sítio.

Como as duas duplas caminhavam em direção a um beco, o choque fora, por pouco, inevitável. Antes ainda de adiantar-se nas desculpas, Celly diz algo imprevisto a Aristarco:

- É uma redondilha? Me pareceu verso de seis sílabas poéticas...e no verso em que diz, claramente "cativa amizade"...não seriam cinco? Talvez seja um "heróico quebrado"...

Neste instante, Eudóxio riu-se, a levar ao pé da letra a alcunha que a menina dera à trova do amigo.

- Mas do que os senhores estão a rir-se? Aquietem-se, ser irônica não fora minha intenção!

Aristarco não queria contar, assim, em plena luz do dia e praticamente, em meio às casas. Celestis Pallas, sempre com muito jeitinho, convenceu-os a retornar à tasca, mesmo a perceber que o trovador arrepiou-se só de ouvi-la mencionar a palavra!

- Vamos...há cerveja e também chá a todos! Eu mesma passarei a chá! Sabem bem o que diriam de uma mocinha a contar 12 anos caso a mesma se excedesse, não?

Sancha ri-se igual parva! Decerto queria também entregar alguma da amiga Celes. Ari seguiu ainda a cantarolar...


18 Jul 2012
Johnrafael wrote:


Gostava minimamente de ver a prima andando por aí, na companhia de Sancha. Às vezes nem o próprio John gostava de superproteger Celes, mas era evidente que não queria ela sozinha ou pior, cercada de rapazes.

Ao encontrá-la, de longe viu que rumava, junto à Sancha, com dois rapazes para a tasca. Uma melhor olhada revelou Aristarco e Eudóxio. Do primeiro ouvira falar, e o segundo já conhecia da capital. Para lá seguiu, entrando em um desvio pouco antes, o que lhe fez chegar antes, e sentando-se no balcão, aguardou que entrassem. Ao entrarem, dirigiu uma cortês vênia a Aristarco.

-Boas, Menestrel. Há quanto não vos vejo... Eudóxio, mande lembranças minhas à Sua Majestade.

Viu a prima notar sua presença e ficar não menos que envergonhada.

-Não, não planejo atrapalhar a diversão de ninguém, passei apenas para dar um beijo em minha adorada Celes e pedir-lhe um versinho, Ari. Também verso, mas muito mal. Dou-lhe um mote e faz-me as redondilhas?
- Sorriu. - Pois bem, o mote é:

Lobo cruel, pior da matilha;
Mato à dentadas quem mexer com minha família.


Senta-se, esperando que Aristarco verse seu mote.


19 Jul 2012 [NPC]
--Sancha wrote:


Sancha percebera o ódio refletido no olhar da amiga. Achavam-se adultas demais para terem de ser acompanhadas em suas andanças matutinas por pessoa de mais idade.

- Calma, Celly. Eu falo com esse super-protetor do seu primo!

A dirigir-se a John, sempre com seu semblante sardento e simpático, diz-lhe:

- Eu não deixo ela beber tanto, está bem?

Em seguida, dirige-lhe uma piscadela cúmplice...John nunca confiava muito em Sancha, que conseguia ser ainda mais dissimulada do que Celestis!

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Shyido Von Elric

Dura Lex Sed Lex --- A lei é dura mas é lei
Dulce et decorum est pro patria mori --- Doce e honroso é morrer pela pátria
Ana.cat
Lamego: 25/26 de Maio





Naquela chegada à viçosa e florescente Lamego, a comitiva chegara com alguma dificuldade, a passar por caminhos ondulados e acidentados, algo mui típico daquela cercania. Contudo, estava a se vencer a etapa lusitana da missão salaciense, já a alçar os domínios da prima terra de Castela; mas se iniciaria a instância que mais iria requerer atenção, por conta daquelas cousas de política e tratos, quando o fim se consuma, porque se o traslado era movimento fundamental, a finalidade e término eram o coroamento de tudo.

Aguardariam por Eudoxio Monforte que se juntaria em breve: este, não deixara Aristarco acompanhá-lo naquela vez, porque havia arranjos a ser feitos e pouco tempo se valeria ter alaúde dedilhado com voz na ocasião. Fazia-se bem dar préstimos à companhia principal caso houvesse precisança, do que ajudá-lo até então, sinalizara o amigo.
Aristarco compreendera aquelas razões, e apesar de querer n’algo ajudar, aceitou a prudência porque convém mais agir com tino segundo a necessidade, que assim seja.

E então se deram aqueles ajustes de mil e uma naturezas como arranjar hospedagem, providenciar cuidados com animais de tração e montarias, provisões outras para etapa castelhana, cousas de governança que estavam em jogo e tão agora haviam de ser condignamente cuidadas porque mui se dependia de decisões e aguardos, pois isto tudo demanda tempo, é verdade, com diálogo e cartas, envios e recebimentos disto e aquilo e afins.

Demorou-se um tempo até que todas estas questões se resolveram (sem não uma boa dose de esforço, não poderia ser diferente), e o trovador descansou um pouco também, porque cortar a terra lusa em dois condados naquele ritmo, com todo o enfrentamento que se encontra pela natureza (apesar desta ter sido também condescendente em alguns trechos), fora uma empreitada das boas e sim, acreditai, trovas já nasciam sobre a jornada, afinal para qual razão existem trovadores e bardos, glosadores se não exatamente para isto, trazer um pouco da vivência à memória dos homens com seus mais estranhos e inusitados destinos ao sabor da cantiga.

E fora atrás também dos livreiros daquela vila de Lamego, quando procurara saber as novidades daquela região mui nova para si, certamente a esperar encontrar exemplares estrangeiros em maior quantidade do que a usual, notadamente castelhanas, provavelmente caras a lhe fazer apenas gosto e vontade, mas não aquisição; contudo, um bom contato com livreiros para encomenda futura não cairia mal e saberia avaliar com essa nova possibilidade talvez, dois pontos de entrada daqueles tesouros: a conhecida Lisboa por seu porto, a promissora Lamego também por outro porto, mas que rasgava o miolo de terra ibérico pelo Douro.

Consumira toda aquela tarde assim, quase a perder noção do tempo, como acontece com temas que são de agrado d’alguém: estabelecera uma ponte de ideias com as gentes que manipulavam papeis, livros, tratados e afins, sabendo com certeza ter angariado conhecimento vantajoso de pessoas e ofícios.
Mas o cansaço lhe venceu por fim, e a barriga faminta também ganhou outro duelo não sendo mais possível ficar naquele estado de situação com o corpo: alimento e descanso se tornaram a ordem, mais do que qualquer cousa.

Mas algo curiosamente aconteceu quando regressava para encontrar o senhorio da companhia salaciense, porque notou um promontório ali próximo do caminho, inda visível pelas ruas da vila: dava aquele certamente um bom ponto de vista a mirar aquelas terras acidentadas de Lamego.
Prometeu a si que iria estar logo ali, inda antes da jornada à Castela.

Por enquanto, acelerava o passo para retornar, quem sabe aquele amigo já estivesse também retornado, ou algo fosse necessário por fazer aos amigos e se não fosse assim, minimamente era preciso matar fome e cansaço, e encostar a velha bota ao lado da cama.
O Monforte estava mui bem que certo e não somente naquela altura da divisão temporária das comitivas anteriormente: o alaúde pousaria em silêncio por aquele dia também...





Naquela época a estação também tinha lá de seu mui mau humor, quase a colocar todo ser vivente debaixo de telhas das casas, soleiras protegidas ou quaisquer lugares que servissem d’um (seco) abrigo: chegavam chuvas rápidas e fortes às tardinhas, a quebrantar um pouco do vento seco do oeste durante o dia, assim como a resfriar aquele ar primaveril depois do lusco-fusco.

Aristarco só soubera destas cousas porque transitava sem receio pelas tabernas para mais uma vez “medir semblantes” ou por assim dizer, “inclinações d’alma” como estava escrito há tempos, porque se era verdade que trova nascia em si, também era verdade que se destinava para fora de si, segundo caráter da plaga povoada.
De sorte que não conviria cantar em salão arrumado, uma canção que tinha gosto de rum e maresia ou marujada; exceto se nobre ou senhorio fosse liberal e lá se divertisse saber pela cantiga o que pairava em tabernas e cousas daquela natureza. E o seu contrário, também ocorria, pois cada qual com seu mundo e um trovador metido lá no meio deles, com boa voz, alaúde e cantiga.

Assim mesmo, benesses nasciam dali para trovadores: todo e qualquer tipo de informação miúda (mas que poderia ser útil), salpicava aqui e acolá, cabendo o conviva a peneirar o tempero e fazer ao final, bom repasto disto tudo; assim como tantas outras cousas da vida se merecem assim tratar.
E curiosamente em um dia de chuva grossa (daquelas que molham até os ossos), e que caía repentinamente como um golpe desleal às costas d’um cavaleiro em embate, Aristarco foi apanhado em uma rua com meio céu a desabar, o que lhe foi preciso correr até uma taberna para lá se proteger do dano, quase ensopado que já se encontrava.

As mesas próximas ao fogo estavam concorridas, não sem boa razão, mas encontrou felizmente o bom companheiro de viagem Jonas, que parecia bem acomodado e com roupas secas. Talvez estivesse ali há algum tempo, certamente antes da “queda d’água”.

Cochilava aquele senhor, sentado com os braços cruzados ao corpo e cabeça baixa; e com uma expressão feliz ressonava naquela tarde agitada que nem mesmo os estrondos lá fora pareciam lhe perturbar o sono...
Contudo, não fora assim que aconteceu em seguida: um trovão ressonou (mais do que o cavaleiro) fazendo-lhe acordar subitamente, já com cenho fechado, afinal que ousava lhe importunar daquela maneira; e assim que viu Aristarco ali próximo, cumprimentou-o com um aceno de mão e baixou novamente sua cabeça, pois os olhos estavam a cair pesados.

O trovador respondeu n’um aceno e em seguida riu-se com a cena, e nem mesmo isto fora notado porquanto a chuva que tilintava nos telhados concentrava atenção geral.

Foi então que as palavras começaram a girar em seu intelecto e coração, daquela maneira caótica que a vontade impõe-se, para em seguida as rimas começarem tomar sentido...

E um pouco mais tarde quando chegou ao quarto (para por roupas secas), correu (inda encharcado) até a mesinha com os pergaminhos, pena e tinteiro, e começou a escrever a letra da cantiga que n’outro momento musicada ficaria desse jeito:



REDONDILHA

Logrado sonho

Mote


“Dorme bem, sem haver susto,
Porque vigília se detém, m’ alto custo.”

Voltas

“Eis mundo tão perfeito
Melhor nunca se ouviu,
Parece um conto bom
Que na canção ajeito,
Co palavras enfeito
Pois onde assi se viu,
Que se saiba alto tom.”

“Bebida sem censura
Comida à vontade,
Damas muy em cortejar
Moedas em fartura,
Inda mais aventura
Torna-se majestade,
Vida faz-se motejar.”

“Mas há o inesperado:
Desejos colidiram,
Dos bens ficou nenhum
O sonho foi quebrado,
Tudo já aclarado
Os olhos se abriram,
Com um copo já sem rum.”



E quando às altas horas da noite em seu quarto, em que Aristarco ainda lutava contra o sono ao ler obra filosófica, ou compor e arrumar trovas sob a solitária luz da vela, também ouvia a trovoada ressonante que por vezes até fazia tremer o chão, oras, que natureza enfurecida. Até detinha a pena por instantes, naquele mau humor do céu.
Contudo, também se lembrava do cavaleiro ressonante, com aquela expressão feliz dos sonolentos com alguma beberagem...


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Shyido
Condado de Lisboa - Cidade de Lisboa 15 may 2012

Aristarco wrote:



Aristarco nem bem tão cedo chegara à cidade de Lisboa, já estivera a resolver inúmeros assuntos em grande parte daquele dia. E basicamente se tratavam de pequenos negócios, mas principalmente reencontrar rostos conhecidos, o que usualmente se faz bem para qualquer ânimo, e assim são as cousas dos homens.

Mas também não olvidava de outras tarefas que para si encarregara com as escolhas de antão, e não poderia ser d’outra maneira, como bem sabeis.
O trovador soubera que um pequeno grupo de templários naqueles dias, levantava um fortim que serviria de entreposto de observação naquelas paragens, especialmente a se tratar de Lisboa, um lugar privilegiado em quaisquer âmbitos que a mente pudesse alcançar inteligibilidade.
E lá se foi ele a dar uma pequena mão ao bom trabalho dos seus irmãos que por lá se encontravam, por conta do costumeiro espírito fraterno da Ordem, que não fazia seu membro se furtar independentemente de sua situação particular, porque havia algo maior que o congregava e valia o esforço, dedicação e trabalho adicional; assim são aqueles que acreditam em causas e fazem seu quinhão ao girar a roda da própria vida, na contribuição d’uma engrenagem ainda maior, mesmo que além da compreensão.
Negava-se a inação e inatividade, sem dúvida alguma.

Ainda em fase final de construção, decidiu aquele pequeno grupo templário da cercania prontamente a deixar os portões abertos, com o fito de acolher quaisquer viajantes ou quaisquer pessoas que carecessem da acolhida d’uma boa cama quente para pernoitar, ou qualquer alimento para não passar o corpo na precisança, quando a fome e cansaço não hão de dignificar o homem, mas de maltratá-lo rudemente, já na lida mui difícil de viver.
Todos seriam bem vindos portanto, na boa convivência e camaradagem, até mesmo à sombra refrescante (para o espírito) da pequena capela que lá se encontrava, quando assim se necessitasse d’uma pequena pausa do mundo com seus torvelinhos e burburinhos, excessos de distrações e toda sorte de cousa que embrutece e retira a nobreza dos homens...





OOC: caro morador ou viajante, sê bem vindo!
Fica à vontade neste lugar de restabelecimento e amistosa convivência e posta RP por favor: deixa aqui o teu registro

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Shyido Von Elric

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