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This story is about a song of snow & cold.

[RP] Repentinamente, a neve...

Aristarco

OOC: às portas do Inverno, para lá daquelas bandas sulinas de Portugal...




O trovador se encontrava naqueles dias em estada na boa vila de Avis, lá pelas bandas mais ao leste do condado lisboeta, a fazer algumas pesquisas aos córregos, especialmente quando mui boatos se espalhavam aqui e acolá acerca de ouro achado.
Certamente que maioria das gentes ia às minas, Aristarco também, mas quedava-lhe gosto por um tempo solitariamente à natureza onde poderia se encontrar mais reflexivamente a pensar ou simplesmente a experimentar a intimidade com o “Todo criado”, inda que não mui lá coubesse em seu pensamento algum paradigma religioso, não na maneira formal ou ortodoxa...

Já fazia alguma oração mui particular quando bebia a água fresca do cristalino e agitado Almadafe, ou mesmo quando subia em algum morro e se punha a olhar o céu cinzento que a tudo tomava (e guardava), encontrando-se de todos os lados ao horizonte com a amada mãe-terra, já esfriada pela estação, mas inda a formar casal costumeiramente harmonioso.

Entretanto, naqueles mesmos dias em Avis, optou por pesquisar mais nas cercanias da vila, não aos seus sertões, porque subitamente o frio avançara mais do que se estava acostumado naquela região, oras, bem, assim ao menos diziam aqueles simpáticos avisenses que resmungavam um pouco daquela drástica transformação, de um frio mui típico para um outro mais assaltante que adentrava sem qualquer cousa perguntar...

E na estalagem, ao acordar mui cedinho, pronto (ou quase) para fazer suas andanças às margens dos córregos e rios daquelas plagas, sentiu tanto frio que ao sair das cobertas tilintara os dentes; abraçou a si mesmo, para algo (tentar) proteger e caminhou lentamente (e tremendo, logicamente) até a janela.

Disse entre os dentes a batucar na boca:

- Pelo meu bom Sado...

Subitamente recordava de sua terra (ao menos, intimamente se considerando), o quente al-Gharb al-Ândalus em que tanto tempo de sua vida, para não dizer a maior parte, vivera: terras quentes e às vezes até lânguidas, mui vinho e poesia recitada ou cantada de Khayaám dentre outros orientais a se saborear nas praças, assim como mulheres de olhos amendoados, e ‘modus vivendi’ completamente distinto.
E claro, daquel’ intenso calor do verão e de uma amena e deliciosa temperatura de inverno, nada que fizesse doer aos ossos como agora bem (ou mal, a melhor dizer) sentia.

Quando abriu a janela, inda diante a claridade esbranquiçada que lhe quase ofuscava os olhos, tomou prontamente um susto por um punhado de neve que caíra ao bordo da abertura e ao seu pé, quando fez por o trovador a um praguejar instintivo.
Mas rapidamente caiu em si e notou: não apenas a claridade esbranquiçada, mas tudo em volta esbranquiçado, telhados, muros, copas d’árvores, o velho poço d’água público, onde quer que apontassem seus olhos...

Abriu um sorriso, porque jamais vira aquilo, afinal o al-Gharb era calorento (até suarento, para não dizer poeirento também), assim como a costa moura d’África por onde tanto perambulara (e vivera).
Apanhou um punhado de neve com as mãos, a fazer uma bola, pensando divertidamente naquele prodígio da natureza.

Então pensou que talvez algum conhecido avisense pudesse passar ali na via, d’onde sua janela tinha privilegiada vista (e proteção contra o revide, porque estava no andar acima; pois claro, tem que se ater aos detalhes sempre).

Preparou-se melhor, até que alguém aparecesse, e lhe seria divertido lançar uma seta, ou a melhor dizer, uma bola daquelas e rir à socapa com o pobre coitado do alvo humano...
Contra si nada haveria, nem um “processo” e aquelas cousas cansativas, senão mau humor e vingança de sua vítima.
E felizmente não seria a “vingança otomana”, usualmente evitada nas plagas mais ao sul, e aqui já rendia graça em pensamento, por se encontrar na Lusitânia.

Aguardou, enquanto a bola de neve ganhava uma forma ideal para seus intentos...



OOC:

RP sem pretensão alguma, exceto a ressaltar a neve que chega às vilas
Quem quiser relatar o instante onde se encontra, fique à vontade...

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| Scholar: humanist thinker | Minstrel of al-Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |
Anne_laura


A caminho de Montemor, Anne aconchegou-se no seu manto para que a neve não lhe penetrasse os ossos. Só queria chegar a casa da avó rapidamente antes que Hermenegildo entregasse as ultimas cartas da sua expedição. De repente, repara que Aristarco, que a acompanhava desde Avis, tinha ficado para trás, com aquele seu olhar de quem está a magicar uma trova.

- O homem não se despacha... - pensou consigo mesma.

Na pressa de continuar o caminho, Anne pega numa bolinha de neve e atira-a à cabeça do trovador. Mesmo em cheio! Admirada por ter acertado no alvo, a pequena ri-se às gargalhadas e começa a correr com medo das represálias.

Mal sabia que a vingança estava perto, pois ao chegar a Montemor, Sol e Lorennzzo atiraram-lhe com duas bolas de neve, mesmo na cara. Anne tentou ripostar mas os ventos estavam a favor do inimigo. Em vez de gastar já todas as suas energias, correu para a taberna para se aquecer.

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Aristarco



Seus olhos encontravam-se avermelhados, sinal de gran irritação.
E não, não era de sono acompanhado de olheiras ou cousa que o valha, mas fruto d’uma boa mirada daquela jovem traquinas que lhe fizera esquecer o “rumo”, ou para melhor dizer, a “rima” que lhe vinha nascente com a inspiração.
Tentou alcançar Anne Laura, mas até bem limpar-se, tanto quanto diminuir ardência daquel’ frio nevado nas vistas, já perdera qualquer chance de reivindicar ‘direitos de resposta’ do desafio...

Resignado, prosseguiu mais atrasado assim mesmo, e pior, com rima fugidia que escapara, só lhe faltava essa.
Mas resolveria esta pendência logo ali em Montemor, já não faltava muito: a taberna da vila usualmente era ponto de parada a todos os chegados ou em partida, então não seria difícil encontrá-la inda por lá, antes de juntar-se à família Coutinho.

Entretanto mal chegou a entrar na vila, Aristarco tomara outro ataque deveras inclemente daquelas bolas de neve, mas agora pela impiedade de seus amigos, estimada dama Sol de Miranda e o não menos estimado sr. Lorennzzo.

Mas que traição era aquela, onde já se viu, simplesmente jogou os braços à frente do corpo, em franco sinal de desistência; mesmo assim, outras cargas de neve a mais o atingiram.
Foi pisando duro na neve, que de tão afofada já atrapalhava a caminhada, até a taberna da vila. De sorte que dama Sol e sr. Lorennzzo não tardariam ali reunir também, talvez houvesse ainda alguma ‘munição’ para queimar (ou melhor a dizer, gelar) outros “incautos” (amigos) mais...

Aproximou-se da donzela Anne, que já se aquecia ao lado da grande lareira da taberna, para dizer resignado:

- Oras, que nunca uma bombarda chegue às mãos de dama Sol ou de sr. Lorennzzo, pois poderiam fazer bom estrago com suas terríveis pontarias.

Falou claramente da arma, por mais que mui apreciasse aquel’ instrumento musical bretão.
Pediu então um vinho ao mestre-taberneiro e tão logo se apercebeu d’algo que lhe escapara, também regressara (a memória); voltou seu olhar novamente à jovem:

- E nem nas tuas mãos também, donzela Anne, nem nas tuas... Pelo bom Sado...

Rogou consigo que não apanhasse aquela seca tosse de inverno, porque já bastara a ardência dos olhos ao meio do caminho, o “cañonazo” daqueles outros já na vila, e a perda da rima (ou rumo, enfim) que se esvaíra para todo o sempre...



OOC:


Humpf...

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| Scholar: humanist thinker | Minstrel of al-Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |
Sol
Enquanto a neve caía...

A cidade estava linda, toda branquinho e gelada e Sol, alegre e faceira, encantada com a neve que teimava em cair sobre seus cabelos dourados - mirabolava planos e rotas para divertir-se naqueles dias em que a neve caia de mansinho e ia cobrindo todos os caminhos.
Pensou, pensou e pensou. Pegou uma pequena quantidade de neve com suas delicadas mãos e fez logo uma bola rechonchuda. Por sorte, ou por azar...quem passava na rua da frente?

- Meu amigo, senhor Aristarco!

Pois sim: mirou em seu peito e contou até tres e "pimba!" acertou-lhe em cheio!!!
Notando que havia surpreendido o poeta, correu apressada, coração descompassado e cada vez que observava, sorria...
Então, foi acertando todos seus amigos que via na cidade, até que seus dedinhos quase congelaram.
Aristarco



Aristarco tomava um vinho naquela altura, para sentir-se aquecido pelos dois lados, o de fora à lareira e o de dentro ‘ao coração’, por assim dizer, belo ‘phármakon’ era o doce efeito da beberagem, desde que sem mui excesso, já bem sabia de mui histórias vividas...

Inda sim, foi pego desprevenido, pois bem, eis que uma dor de garganta aparecia sorrateira, salpicando de alguma incômodo ora na golada do vinho, ora em algum comentário que fazia.
Tremeu (de frio) só de pensar sobre dama Sol e sr. Lorennzzo lá por lá tasca afora, com seus ‘belicismos’ (de neve) e debaixo d’um leve vento mui faceiro, daqueles a gostar de apanhar incautos e desprevenidos de sua parceira do momento, a estação invernal.

Oras, debaixo do céu é bem isto mesmo, é estar debaixo das intempéries, abraçado por elas inevitavelmente.
O trovador suspirou fundo, porquanto de todas as dores que a borrasca, estranhamento (para alguns, medo mesmo) d’um vendaval ou irritação d’um calor agourento, também encontrava um de seus contrários a tudo se por em equilíbrio (ao “kósmos”), por mais que a guerra dos contrários do velho Heráclito efésio parecesse em sua proposição, ‘subjugar’ o homem em sua condição ‘natural’.

Ademais, nada disto era páreo para uma dor, estranhamento (ou medo), e irritação debaixo da cútis mesmo, “intus et in cute” que mui lera alhures, talvez n’uma obra de Albrecht von Bollstädt, ou melhor dizendo, Albertus Magnus, mas já não recordava tão bem como, onde e quando, afinal eram palavras esquecidas e um tanto perdidas, quem sabe alguém no futuro pudesse trazê-las a tona.
Nada como um contrário da intempérie localizado no âmago do ente, ou melhor, do homem, e quando ia pensar algo mais a respeito, foi interrompido bruscamente:

- Cof!

O ruído inda não era parecido com aquele de ‘cachorro’ (um mal sinal) tampouco seca, felizmente.
E mais felizmente ainda, era sorver mais uma golada do vinho naquel’ frio imenso, por mais que a tosse se tornasse 'um contrário' do que antes ocorria em forma de soluço...



OOC:

Dia 20 passado...

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| Scholar: humanist thinker | Minstrel of al-Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |
Aristarco



O trovador ficou curioso para ver se havia gente debaixo daquela neve que caia, era-lhe difícil imaginar naquela hora alguma alma corajosa que porventura perambulasse a esmo ou a fazer traquinagem com estes prodígios (de neve).
Duvidava um tanto, mas enfim, não custava nada já ver qual altura da neve estaria a cobrir chão, ao menos isso, para medir um tanto da dificuldade em voltar para a propriedade, estalagem ou qualquer lugar (se bem que dormir defronte a lareira da taberna, não seria má ideia).

Pediu licença por um momento e se dirigiu até a entrada, para em seguida abrir a porta de madeira um tanto pesada e com dificuldades, porque já se enroscava ao pé um punhado de neve, além d’um pouco de lama ao centro.
Abraçou a si mesmo, pois tentara grudar-lhe um pouco mais as vestimentas ao peito, e já bem se arrepiara com a fraca (e gélida) brisa, uma navalha à pele.

Seus amigos “traidores e bombardeiros” não estavam mais à vista, talvez n’algum canto a pregar outras peças mais, deliciando-se com ‘novos alvos’, entretanto viu um pequeno bando de meninos que fazia um boneco de neve. Oras, se poderia falar de coragem, era justamente ali com os meninos com seu novo desafio debaixo da friagem.

Subitamente incomodou-se com aquilo, era melhor fazerem bonecos, tocos e outras formas de neve com um tempo menos rude, sem vento e a friagem que avançavam; caminhou para dispersar o bando, para que os meninos voltassem às suas casas bem debaixo da saia das mães, e tomassem uma boa sopa quente antes que caíssem acamados.

Quando ali chegou, os pequenos notaram e por já conhecerem o vulto que ia em direção, disseram em voz alta, alegres:

- O trovador! O trovador voltou!

Antes mesmo que Aristarco pudesse responder, um dos pequenos lhe disse:

- Mas canta, canta algo!

Outro reforçou, com boa voz:

- Ou declama! Algo da neve e frio.

Aristarco ao lado deles (e do boneco de neve com barrigada e pés já bem moldados), coçou o queixo e disse:

- Neve e frio, ein? Muito bem, muito bem... Mas só se fordes para casa e apanhardes cobertor, e deixardes para fazer o engenho, apontou para o boneco, quando estiver sem vento e sem mui frio a piorar, e abriu os braços mostrando ao redor, a neve que caia um pouco mais intensamente, Concordais?

O pequeno bando concordou e então Aristarco tentou não tremer os dentes enquanto improvisava rapidamente à cachola algumas rimas.
Começou a mexer a destra, como que acompanhasse por movimento, as rimas que iam a sair.

E não é que saíram mesmo?



REDONDILHA

Mote

“Bate-que-bate dente,
Frio a matar a gente!”

Voltas

“Pois se parece um tambor
Sacudido e ritmado
Como música a soar:
Tirita co dissabor
Já o queixo faz seu labor
Oras, mas que coitado
Boca inteira vai toar.”

“Com frio não se brinca
Porque pode ser cruel
Ficai bem avisados
Certeza não se trinca
Neste conselho finca
Cuidado tende a granel,
Ou sereis acamados.”

“Caso isto não bastasse
Frio, vento e mui neve
Quereis mais travessura.
Mas se o boneco falasse
De neve vos mirasse:
Para casa já, breve!
Pois lá tendes quentura!”



Bateu palma imediatamente para os meninos dispersarem, que cumprissem sua parte do trato, sem qualquer resistência deles por causa d’um efeito da cantiga.
Eles já iam com mote à boca enquanto se afastavam, sem que parecessem seus dentes a batucar um no outro, ao contrário de Aristarco, já se virando a voltar-se rapidamente para dentro da taberna, pelos céus (ou pelo fogo d’uma lareira, melhor a dizer).

Enquanto ouvia a cantiga se dissipando com os meninos aos poucos, deu uma risada satisfeita.



OOC: ainda em tempo, feliz ano novo p’ra todos!

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Aristarco



O tempo havia melhorado consideravelmente naqueles dias, apesar do vento parecer-me mais como uma lâmina de boa espada de Toledo, ou mesmo d’uma ta’ifa qualquer d’Africa, que mui bem chegavam naquel’ agitado e incansável porto de Faaron.
Evidentemente não lhe era familiar de modo algum experimentar ‘tal intimidade’ com um gume d’arma, especialmente ao ventre ou pescoço, mas não lhe eram alheios os efeitos que bem vira em Tanja e terras longínquas dos sarracenos.

Dizia a si mesmo que o tempo com suas intempéries, não deixava de ser bom general, tanto quanto as estações a lhe prestar vassalagem mui condignamente, afinal impingiam aos homens bem graves e dolorosas derrotas quando em alguma campanha; especialmente aqueles que vacilavam por algum momento (quiçá campanha inteira) diante a força da natureza (mui vezes invisível também).

Convinha mais aliar-se a ela “ad continuum” do que desafiá-la. Se bem que aquel’ que a desafiasse e a vencesse, teria seu nome imortalizado: Odysseýs, Hanniba’al, Aléxandros ho Mégas, e até mesmo o persa Xerxes (I) não eram lembrados e cantados, mencionados por eruditos, homens-d’Armas entre tantos outros, à toa, certamente.
Mas também tinha lá suas dúvidas se nestes dias, a natureza não estaria para lá de sonolenta, sem dar mui atenção às cousas dos homens...

Assim que saiu da cama e lavou o rosto em um recipiente sobre um criado-mudo, foi então abrir a janela para cumprimentar a vida um pouco (e arejar o quarto, sem dúvida), para iniciar seu dia, como lhe era tão habitual.
E ao abrir a janela com alguma força que não conseguiu conter, deu-se pequeno estrondo de madeiros: fora estranhamente fácil abri-la, diferentemente de todos os demais dias naquel’ Inverno deveras rigoroso.
A água lhe respingara de tal maneira, para não contar o susto, que lhe afetara o humor com uma pequena praguejada solta...

Sonoramente então:

- Eia... Mas o que...

Alguns momentos ele levou para atinar-se, quando finalmente compreendeu que a neve recuara, a secura do ar dera vez à umidade, além d’um sol ainda que distante, já mostrava sua cor amarelada que diferentemente do amarelo aos rostos dos homens, era mais do que bem-vinda.
Já subitamente sorridente, pensava em encontrar seus bons amigos naquel’ dia, para comemorar um pouco desta benesse da natureza.

Pode imaginar mui gentes a fazer assim ou algo parecido, a fim de comemorar com seus amigos tal situação, afinal andar sem escorregar na neve pelo caminho, mover-se sem parecer boneco de pau, além de imaginar em breve dormir sem os pés frios, também era algo a ser mencionado na vida simples (sem nada com os Magnos e outros vultos), e verdadeiramente digno de ser lembrado (e celebrado); e não à toa...



OOC:

Mas a neve foi tão rápida assim?

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