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Casa nș 12 - Casa da Cerejeira

Antonieta


Antonieta corou, as pernas começaram a tremer e as mãos suaram-lhe. Começou a virá-las uma na outra e a balbuciar sons sem jeito. Por dentro, uma luta travava-se. E agora? Se contasse, Lorena nunca aceitaria. Iria magoá-la. A ela, que tanto fizera por ela, que confiara nela sem a conhecer. Mas e se não contasse? Viveria numa mentira, gostava do novo trabalho e ganhava-se bem, não iria deixá-lo. Mas alguém acabaria por ver, por ir contar, e Lorena não era parva. Antonieta vira bem os olhares que ela lhe deitara ao vestido. Uma senhora de bem, não anda assim na rua. Decidiu-se, o resultado ia ser o mesmo, mais valia acabar já com o assunto.

- Lorena, eu arranjei um trabalho, de noite, entendes?
Lorena_davila


Lorena abriu a boca de espanto. Deixou o gato no chão e sentou-se, sem querer acreditar. Mas depois uma raiva surda subiu-lhe até à boca, fazendo-lhe disparar as palavras cegamente e ela levantou-se de novo:

- Como pudeste, Antonieta? Como te atreveste? Tu não entendes? Não entendes o mal que isso pode fazer à minha casa? Dei-te cama, dei-te trabalho, comida, tudo o que estava ao meu alcance e tu metes-te na vida? Nesse antro de podridão? O que as pessoas vão dizer se descobrem isso? Vão-me ligar a ti. Vão por-nos como farinha do mesmo saco! Sua desgraçada.

O tom da conversa subira e Lorena já gritava. Antonieta pareceu-lhe uma criança pequena. Olhava-a desesperada e calada. Lorena sentou-se outra vez e acrescentou com um fio de voz, sem a encarar:

- Arruma as tuas coisas e sai. Não te quero aqui.

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Antonieta


Antonieta pensou em replicar, em dizer-lhe que não tinha para onde ir, em gritar-lhe que o trabalho que ela lhe dava não era para ela: sujar as mãos de terra e fazer calos com a enxada, mas calou-se. Ela dera-lhe mais do que as parcas moedas que os outros que a tinham visto pedir lhe tinham dado.

De cabeça baixa, passou por Lorena e encaminhou-se para a sua pequena mala. Não tinha muitas coisas. Uma capa, dois vestidos, mais o que Madalena lhe emprestara e ainda não devolvera, e alguma roupa interior. Pegou ainda nuns sapatos rotos, os que trouxera quando chegara àquela casa. Levou a mão à bolsa que trazia à cintura e sentiu a dureza fria das moedas. Nunca tinha tido tantas de uma só vez. Arrumou uma trouxa e colocou-a ao ombro. Dirigiu-se à porta.

- Adeus Lorena e obrigada por tudo.
Lorena_davila


Lorena não lhe respondeu. Olhava para a janela, que abrira, e nem desviou o olhar. O gatinho miava aos seus pés e ela pegou-lhe e fez-lhe festinhas no pêlo macio.

Antonieta saíra.

Lorena não queria pensar no assunto. Não achava concebível que a rapariga lhe pudesse ter feito aquilo. Se alguém descobrisse, mancharia o seu bom nome. Seria posta de parte na sociedade. Os amigos nunca mais lhe iriam dirigir a palavra. Iria ser escorraçada da Igreja, olhada de lado no mercado, ouviria cochichos nas suas costas.
Pronto, o assunto morreria ali. Nunca mais ninguém ouviria falar de Antonieta por si.

Foi com o gatinho para o jardim e sentou-se debaixo da Cerejeira, onde agora aconteciam os encontros do Clube de Poesia. O sol afagou-lhe os cabelos e respirou o primeiro ar da manhã. Ela tinha sonhos para ela. Não deixaria que ninguém lhos destruísse.

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Criado_gilafonso


Enquanto tratava do jardim do seu amo, Gilafonso vê a Antonieta, a criada da vizinha, a descer a rua com uma trouxa às costas.

Como nessa manhã tinha recebido uma carta de D. Dinis para entregar à vizinha, aproveita o momento para a entregar e oferecer os seus préstimos. Entra na propriedade da vizinha e bate à porta.

- Senhora. Senhora.
Lorena_davila


Lorena ficara a pensar na criada. Teria onde dormir? O que comer? "Desenrascou-se antes de me conhecer, concerteza o fará agora", descansou-se a rapariga.

Perdida em pensamentos, assustou-se com as pancadas na porta. Não reconheceu a voz e, a medo, abriu uma fresta:

- Senhora. Senhora.

Quem lhe apareceu foi o criado do vizinho. Lorena sorriu-lhe e abriu-lhe a porta:

- Gilafonso, como está? Posso ajudá-lo em alguma coisa?

Lorena estava curiosa.

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Criado_gilafonso


Nervosamente Gilafonso faz uma vénia.

-Senhora, desculpe a minha ousadia, mas não pude deixar de reparar na Antonieta a descer a rua de trouxa às costas. Como o meu amo está fora, se precisar dos meus préstimos, é só pedir. Posso cuidar do jardim e fazer reparações, por exemplo.

Além disso tenho uma carta do meu amo para vós.
- tirando a carta do bolso entrega-a.


Quote:


Bem sei que pouco ou nada conversámos, mas desde que os meus olhos vos viram, nunca mais deixei de contemplar o vosso belo rosto. Nem mesmo a distância que agora nos separa, me faz esquecer-vos. Espero não estar a impôr a minha presença, mas gostaria de convidar-vos para o baile para celebrar o meu recente baptizado. O baile irá decorrer no solar dos meus pais, aqui em Alcobaça e a vossa presença aqui encheria de alegria o meu coração.

O seu fiel vizinho e amigo,

Dinis de Camões
Lorena_davila


Lorena ficou agradada com a disponibilidade de Gilafonso. O tom sisudo da primeira vez que o conhecera tinha desaparecido e achou-lhe até um ar simpático.

Ia para agradecer, quando o criado lhe apresentou uma carta do amo. Ficou surpreendida. Conhecera Dinis fugazmente na taverna e numa ou outra incursão ao mercado. Era um cavalheiro bonito, de nobre família. Ficara encantada com os seus modos delicados, mas depressa se esvaíra o sonho. Ele nunca olharia para uma menina do povo, por muito honestas que fossem as suas raízes.

Desenrolou o pergaminho e começou a ler. A letra era bem desenhada e bonita.

Quote:
Bem sei que pouco ou nada conversámos, mas desde que os meus olhos vos viram, nunca mais deixei de contemplar o vosso belo rosto. Nem mesmo a distância que agora nos separa, me faz esquecer-vos. Espero não estar a impôr a minha presença, mas gostaria de convidar-vos para o baile para celebrar o meu recente baptizado. O baile irá decorrer no solar dos meus pais, aqui em Alcobaça e a vossa presença aqui encheria de alegria o meu coração.

O seu fiel vizinho e amigo,

Dinis de Camões


Lorena ia perdendo o fôlego com o conteúdo da carta e leu-a num sopro, respirou apenas no fim. Depois releu-a várias vezes não querendo acreditar.
O destino era inesperado, matreiro, bondoso às vezes. Esta era uma delas.

Pediu a Gilafonso que aguardasse um pouco, enquanto escrevia a resposta.


Quote:
Caro cavalheiro,
fico lisonjeada com as vossas gentis palavras. Amabilidade vossa exagerar a minha beleza.
Muito me honra poder comparecer nos festejos. Ouso dizer que a vossa presença é jamais uma imposição, mas um aprazimento.
Ver-nos-emos em Alcobaça.

A amiga,

Lorena


A rapariga estava nervosa. Não queria parecer demasiado ansiosa na carta, nem tão pouco, desprendida. Entregou hesitante a resposta a Gilafonso.

- Faça chegar este pergaminho ao seu amo, Gilafonso. Agradeço por tudo. Partirei em breve para Alcobaça. Peço-lhe, se não for abusar dos seus préstimos, que vá deitando um olho às minhas plantas e ao meu jardim.

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Lorena_davila


Quando Gilafonso saiu, Lorena sorriu. Sorriu para si e para o mundo. Sonhara tanto com esse momento, e duvidava que alguma vez tivesse acreditado verdadeiramente, mas acontecera.

Arrumou os seus parcos pertences e não esqueceu o vestido que Irises lhe emprestara, junto com as jóias. Um grupo do Porto partiria em direcção ao sul nessa tarde. Pediria para ir com eles.

Deixaria as plantas e o jardim entregues ao cuidado de Gilafonso. O Clube de Poesia ficaria a cargo de Madalena. Tudo estava encaminhado.

Antes de sair, rezou a Jah, pedindo bom sucesso na viagem.

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Lorena_davila


Era bom regressar. Lorena pousou as malas à entrada de casa. Enquanto abria a porta, o gatinho veio ter com ela a miar. Pegou-lhe e fez-lhe uma festinha. Gilafonso encarregara-se de o alimentar na sua ausência e o bichinho estava redondo e bem tratado.

- Então, meu pequenino. Olha como estás gorduchinho. Espero que tenhas dado algum descanso aos pobres roedores.

Em resposta, ronronou-lhe.
Levou tudo para dentro e abriu as janelas de par em par. Algum pó acumulara-se em cima dos móveis. Era tempo de espanar, limpar, sacudir, até tudo ficar do seu gosto.

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Dinis_de_camoes


Depois da longa estadia em Alcobaça eis que a carruagem de Dinis pára em frente da casa de Lorena.

Desce do seu lugar e abrindo a portinhola ajuda Lorena a apear-se.

- Lar, doce lar. - diz-lhe sorrindo - Finalmente chegámos. Vou só pegar nas tuas malas e ajudar-te a levá-las para tua casa.

Entretanto Gil Afonso que estava a tratar do jardim d'Os Espinheiros vem dar uma ajuda.

- Semhor Dinis e menina Lorena. Que bom vê-los de volta! Fizeram boa viagem? - e pegando nas malas de Lorena, prossegue - Senhor Dinis deixe estar que eu trato da bagagem.

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O Solar dos Espinheiros - Casa n.º 11 - Consultório
Lorena_davila
Os cavalos refrearam a marcha e a carruagem estacou à frente da Casa da Cerejeira. Lorena pegou na aba da saia e deu a outra mão a Dinis, que a ajudou a descer.
A rapariga contemplava os jardins bem tratados e cerejeira frondosa, quando Gilafonso se aproximou, vergando-se cheio de mesuras.

- Fizemos boa viagem, obrigada, Gilafonso. E o Porto, há novas da cidade?

O criado levou-lhe as malas, enquanto Lorena estendeu a sua mão a Dinis e lhe sussurrou, certa de que mais ninguém ouviria:

- Obrigada por esta viagem, Dinis, por cada nascer do sol que vimos juntos e por cada poente. Quero ver contigo muitos mais! - e aproximando os seus lábios dos dele, sussurrou-lhe ainda mais baixo - Amo-te Dinis de Camões.

Lorena ouviu a tossidela de Gilafonso atrás deles, mas não se importou e sorriu para o seu amado. Depois, falando mais alto, acrescentou:

- Então, tenham um bom dia. - E fazendo uma vénia, entrou em casa, feliz.
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Lorena_davila
Os dias passavam mornos para Lorena. Ela e Dinis evitavam as saídas juntos e namoriscavam à janela das casas contíguas. Um descuido e ela perderia o seu bom nome.
A rapariga passava os dias a trabalhar. A viagem atrasara-lhe o amanho das terras que a prefeitura lhe entregara. Chegava a hora de pagar a talha* e ela atarefava-se, preocupada. A produção não seria suficiente.
Nas horas mortas, fazia planos. Queria arranjar uma profissão, subir na vida, ser digna do seu amado.
Não tinha dote, além de saber ler.

Naquele dia, Lorena acordou cedo. O gato ronronava-lhe aos pés e ela enxotou-o e levantou-se. Arranjou-se num ápice e saiu. O trigo esperava-a na seara. Talvez conseguisse vender a saca por bom preço.

*talha - metade da produção das terras que os servos deviam aos senhores feudais.

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Lorena_davila
Algumas semanas se passaram. Lorena atarefava-se com o amanho das terras e passava agora todas as horas livres no forno comunitário da cidade, onde estava a aprender a arte de padeira.
Ao final do dia, encontrava-se com os amigos e o seu amado Dinis, quando trocavam olhares e a vida a afagava e lhe sorria.
Um dia, ele surpreendeu-a. Pediu-lhe para passar o resto dos seus dias com ela. Lorena ficou radiante e feliz. Agora, havia mil coisas a preparar.
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Criada_maria
A criada Maria foi enviada pelo senhor Marquês ao Porto para tratar do noivado e casamento do menino Dinis. Ele estava preocupado com todos os afazeres de preparação do casamento e com as recepções durante o noivado. Enviou a criada Maria para "preparar caminho"

- Este menino Dinis... compromete-se... não me diz... coitada da menina Lorena. Entra nesta família e nem a preparam. - dizia ela pelo caminho.

Foi com alegria que passados três dias chegou ao Porto. A cidade recebeu-a pela manhã. O cocheiro e os dois escoltas enviados pelo Marquês foram saber onde vivia a menina Lorena e foi ao raiar do dia que, depois de se instalar na pousada, se dirigiu a casa da menina Lorena,
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