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[RP] Ad maiorem Dei gloriam colligimus

Sylarnash



                    Ad maiorem Dei gloriam colligimus
                        (Para maior glória de Deus nos reunimos)


O Conde observava com inquietes o escudo que marcava a caixa, de médio porte, e, em madeira, que chegara às suas mãos e que tinha cuidadosamente pousado sobre a mesa à sua frente. As mãos, Sylarnash mantinha-as sobre o encosto de braços da poltrona onde se encontrava, a forma como estas moviam, a forma como os dedos batiam ritmicamente sobre o veludo do seu cadeirão sugeriam que se encontrava curioso, talvez até mesmo nervoso com o objeto que tinha à frente e do qual desconhecia a proveniência. Sylarnash enfrentava literalmente a caixa, procurando que esta lhe dissesse algo sobre o seu remetente ou conteúdo, mas esta, da forma como tinha sido concebida, mantinha na perfeição o seu segredo e, pouco, ou nada, dizia.

A caixa continha algo agarrado a si, talvez com uma espécie de resina ou outro tipo de líquido colante. Aquilo que mais chamara a atenção de Sylarnash não fora a forma ou o tipo de cola usada, mas o papel, dobrado em três, simulando um pequeno envelope, que se encontrava seguro e que permanecia selado, aparentando nunca ter sido violado. O selo redondo, de uma fina e avermelhada cera, continha as mesmas marcas do escudo esculpido na madeira. As marcas distintivas do escudo, as figuras, as peças e as cores do escudo, eram-lhe familiares, e o Conde poderia de imediato apontar uma pessoa que as usara, mas nunca as vira naquela posição, o que o deixara ainda mais inquieto com o teor daquela misteriosa caixa.

Sylarnash observou por mais uns momentos a dita caixa. Tentava agora obter informações sobre como chegara ela até si. Recordara-se que a recebera, em mãos, de um guarda que a encontrara à entrada da propriedade, fora estranhamente deixada perto dos portões, o que apontava que fora deixada por alguém do interior da propriedade, ou talvez alguém que a visitara. No entanto Sylarnash abandonou rapidamente a tentativa de identificar aquele ou aquela que enviou a coisa, qualquer um poderia ter tentado entrar à socapa na herdade e temendo ser apanhado abandonara a pequena arca ali mesmo. Fosse quem fosse receava ser identificado e, à revelia do que se passasse a seguir, abandonara a caixa ali mesmo.

Finalmente as mãos do Conde iniciaram uma viagem até ao fecho da caixa. Este parecia ter uma ranhura, talvez para algum tipo de chave ou outro objeto que a abriria. Após tatear o exterior da caixa por completo concluiu que pouco havia a fazer, para saber mais sobre o conteúdo no interior da caixa teria realmente que ler o que o pedaço de papel anexado partilhava. E Sylarnash não hesitou. Demonstrando um extraordinário cuidado o Conde de Óbidos quebrou o selo e abriu cada uma das partes do papel na sua devida direção, desdobrando-o, deixando a carta em posição legível.
Ao ler as palavras meticulosamente desenhas naquele pedaço de papel uma interjeição grave soltou-se da boca de Sylarnash.

- Impossível! - exclamou num tom estranho - Como é que pode isto ser verdade?

Os olhos de Sylarnash passaram vezes infinitas sobre aquelas linhas de texto. Algo o deixara perplexo e mal podia acreditar no que os seus olhos tinham à frente.

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Sylarnash
Seguida da perplexidade, de súbito, a hesitação tomou conta do seu corpo e, também, da sua mente. No interior a agitação e a adrenalina manifestavam-se e faziam com que o clérigo quisesse mais que tudo abrir aquela caixa, mas as implicações, caso aquilo que a carta descrevia estivesse mesmo ali dentro e a poucos centímetros de si, seriam avassaladoras.

O Conde de Óbidos deu literalmente um pulo do cadeirão, dada a sua já nada tenra idade foi possível ouvir-se alguns estalidos provenientes dos ossos dos membros inferiores, aos quais não ligou nem prestou qualquer tipo de atenção. Sylarnash tinha um costume de caminhar para aliviar a mente e espairecer as ideias, e fora o que fizeram, no entanto, ali mesmo. Começou por dar uns passos na direção oposta de onde se encontrava antes, após isso tomou novamente rumo ao centro do salão, repetindo esses movimentos por alguns minutos. À medida que as suas pernas começavam a sentir um ligeiro cansaço a agitação no seu interior foi perdendo intensidade, e é quando caminhando novamente para o centro do salão um livro sobressai da pequena estante à sua frente e chama à atenção do Cónego-Conde.

- Eis a resposta que procurava! - murmurou visivelmente mais sereno enquanto colocava a mão sobre o livro que lhe saltara à vista e o puxava para si

Ao recolher para si o livro, Sylarnash passou uma das suas mãos sobre as letras que juntas formavam as palavras gravadas na fronte da dura capa de couro, tentando assim sentir cada traço e detalhe nelas. A estranha composição daquela obra sugeria que se tratava de um artefacto, um livro antiquíssimo e raro, senão mesmo único no mundo.

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Sylarnash
Demonstrando um imenso cuidado e estima o Conde de Óbidos abriu o livro que retirara momentos antes da estante, e esfolheou-o com lentidão como que a ler o conteúdo de forma cruzada. O dialeto apenas fez com que a lentidão fosse ainda mais sentida, não que Sylarnash fosse um desconhecedor do mesmo, mas devido ao destreino. Não era todos os dias que pousava os olhos sobre um livro em Grego, e apesar dos estudos no mesmo idioma, a leitura era feita de forma mais cansativa.

Após alguns minutos o Cónego-Conde finalmente poisara os olhos sobre o assunto que procurava, e apesar da leitura esforçada conseguiu interpretar e traduzir algumas linhas de imediato, as quais leu para si de seguida. "E foi quando um grupo de Legionários cercou Christos com intento hostil. Retiraram-Lhe o Manto que Ele usava e lançaram-no para o chão enquanto marchavam colina acima arrastando-O. Recolhi o Manto para mim mal pude e conservei-o religiosamente." Ao interiorizar as palavras lidas Sylarnash sorriu e virou a página encontrando de seguida uma pintura do manto.





Por instantes a irrequietez desaparecera e Sylarnash manteve-se imóvel, nitidamente não sabendo o que fazer ou como agir relativamente àquele assunto. Já se fazia tarde e de repente observou um guarda a passar pela entrada do salão. Foi nesse momento que decidiu adiar qualquer ação para o dia seguinte, uma boa noite de repouso ajudaria a desanuviar e a ver as coisas com maior claridade.
O Conde fez sinal ao guarda para que o acompanhasse e após caminhar até à sala-cofre Sylarnash lá depositou a arca, pelo sim pelo não ordenando para que o guarda ali se mantivesse de guarda.

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Sylarnash
Vários meses tinham passado desde que Sylarnash tivera um despertar tão animado. A boa noite de sono que para trás ficara trouxera-lhe iluminação no que concerne ao assunto que lhe atormentara horas antes. Era claro como água, o Conde de Óbidos precisaria de ajuda para seguir em frente com o mistério.
E se havia alguém que poderia contribuir para uma resolução rápida do mistério da arca de madeira, essa pessoa seria o Velho Conde-Vigário de Vilar Maior, o seu tio e amigo de todos os tempos, o seu mentor nas vias eclesiásticas, Monsenhor Guido Henrique de Albuquerque. Aquele era o momento indicado para o visitar, depois de alguns dias sem o ver e, segundo os rumores, acabado de chegar à cidade, com certeza o assunto seria do seu agrado e receberia Sylarnash.

Rapidamente o Conde deu ordens expressas para que fosse preparado um transporte para sair, enquanto isso preparou-se. Naquela manhã nem pequeno almoço tomou, o assunto era de extrema importância. Momentos depois já Sylarnash tomava rumo em direção à Igreja de Aveiro onde o Conde de Vilar Maior passava os seus dias, tendo inclusive um quarto próprio lá.

D'A Residência do Conde de Óbidos em Aveiro até à Igreja, dada a sua proximidade geográfica, a viagem não demorara mais que um quarto de hora. Mergulhado nos seus pensamentos, no assunto na ordem do dia, a misteriosa arca brasonada, a viagem fora ainda mais rápida. De repente deixou-se de ouvir os cascos dos cavalos que serviam de música de fundo, e logo após um dos dois guardas que seguiam com Sylarnash tomou a palavra.

- Monsenhor, chegamos à Igreja de Aveiro. - disse num tom calmo e sereno

O Conde anuiu com a cabeça, e ele mesmo levou as mãos à porta da carruagem abrindo-a e saindo em direção ao interior da Igreja.

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Monsterguid
Há pelo menos seis dias o clérigo não havia deixado as dependências da Paróquia de Aveiro. Era costumeiro o ver andar pelo mercado ou pelo menos até o lago. Os últimos anos lhe foram os mais difíceis. Em silencio passara um longo período lendo e comentando as obras de Aristóteles, seja para exposição em suas aulas na Universidade de Coimbra, sela pelo amor à Igreja Aristotélica, a qual destinara seus exemplares para que os membros da Cúria lessem. Não obteve muitas respostas, com excepção da de um notório Cardeal do Sacro Império e duas outras de Abades, um do Ducado de Anjou e outro do Ducado de Sabóia.
O Abade de Anjou reprovou pelo menos dez teses, o de Sabóia, no entanto, enfatizou a excelência destas dez e outras oito. Do Cardeal recebeu incentivo para que a obra continuasse e que, se fosse para maior glória do Altíssimo, em breve os outros Cardeais também se pronunciariam sobre.


- O Espírito que iluminou São Titus pode até tirar breves cochilos, mas não dorme por completo. – Dizia para si mesmo com um largo sorriso.

As escavações e o testamento de Aristóteles eram o elo que faltava entre seus comentários. Certos pontos das obras se tornaram claras, outros obscureceram-se ainda mais, como que numa vontade do próprio livro, ou por maquinação das palavras, de esconder o verdadeiro significado.
Decidiu ir até o campo de escavações, porém dois lhe foram os esforços. O primeiro, o calor. O segundo, a força que lhe faltava.
Dois buracos no chão e sua disposição para procurar algo já havia sumido. Decidiu, no entanto, regressar para casa e estudar melhor o testamento. Escavações e funções que exigiam força, não eram indicados para o velho clérigo de Aveiro.

Já em seu quarto, de banho tomado e batina limpa, o clérigo lia e relia o dito testamento de Aristóteles. Algumas letras usadas não lhe faziam sentido. Quando levou a pena do tinteiro à folha, alguém lhe bateu à porta.


- Vossa Graça, Monsenhor Dom Sylarnash procura pelo senhor. Posso deixar entrar.

- Por favor, rapaz, deixe Monsenhor entrar. Tenho muito a tratar com meu sobrinho.

O quarto não era grande. Possuía uma escrivaninha, uma cama, um armário para guardar as roupas e três cadeiras, uma delas contendo uma pilha enorme de livros e folhas avulsas. O Conde-Vigário levantou-se e ficou próximo à porta, a espera de seu sobrinho.
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Sylarnash
Já no interior da esplendorosa Igreja de Aveiro, Sylarnash tomou rumo aos salões paralelos com o altar quando se cruzou, por mero acaso, com um dos acólitos. Este vestia de branco, trazia consigo um pequeno livro que se assemelhava a um missal.

- Monsenhor Sylarnash, sua bênção… - Sylarnash deu por si com o acólito à sua frente a pedir bênção

Depois de levar as mãos sobre a cabeça do jovem acólito, o Cónego-Conde, cuja missão ainda não tinha esquecido com aquele pequeno momento, procurou de imediato avançar nos confins da Igreja em direção ao seu tio e Vigário.

- Venho à procura do meu tio, o mesmo encontra-se por cá? Poderei ser anunciado? - pediu Sylarnash

O Acólito abanou com a cabeça, e Sylarnash seguiu-o pelos estreitos, mas em excelentes condições, corredores laterais da Igreja. Sylarnash conhecia aqueles corredores como a palma das suas mãos. Por fim, o rapaz anunciou Sylarnash e este teve permissão para se dirigir para junto do Conde de Vilar Maior.

À entrada do quarto, do lado de dentro, encontrava-se o velho Vigário. Sylarnash avançou para próximo deste, e efetuou todas as devidas reverências que um Vigário, e seu superior, merecia. No final, de forma um pouco menos formal, mas mais pessoal, o Conde de Óbidos abriu os braços e entregou um sentido e forte abraço ao seu Velho Tio. O grau de cumplicidade entre ambos fora por momentos exposto.
No final, apoderando-se, por instantes das instalações, Sylarnash tomou a liberdade de fechar a porta do quarto, demonstrando algum secretismo com o assunto que trouxera à procura do Conde de Vilar Maior.

- Meu tio, como é bom vê-lo. Lamento vir tão pela manhã, e sem avisar da nossa chegada, mas preciso desesperadamente da sua orientação. - explicou, por fim, o motivo da sua visita, revelando assim alguma preocupação

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Monsterguid
Sempre era uma felicidade rever velhos conhecidos, ainda mais quando estes eram parte de sua família. A vida que levava desde alguns anos era a vida de reclusão. A idade avançada era vista por alguns como dádiva, por outros como castigo.

Àqueles antigos amigos, de sua juventude, em sua maioria já estavam mortos, e muitos deles receberam os ritos aristotélicos pelo próprio vigário de Coimbra. Outros amigos, hoje estavam longes, viviam noutras terras, cujas cartas levavam tempo para chegar, e mais tempo ainda para retornar.
Os jovens já não conheciam sua fama de severo, ou mesmo as histórias que ocorreram naquelas terras Paroquiais conheciam. Talvez soubessem da fama de Seca-Adega, apelido atribuído para os nobres Albuquerques, porém seu apreço por várias canecas, de vinho ou cerveja, ficara em seu passado. Hoje continuava a beber, nem um pouco comparado com a força de sua juventude. É de se ressaltar que nunca ficara bêbado, tendo atribuído tal virtude ao sangue familiar que possuía.

Agora era só um clérigo simples, detentor de títulos e honrarias que outrora foram importantes, mas que representavam pouco respeito ou dignidade para os mais novos. “Os tempos mudaram” era a ideia que mais penetrava sua mente. Mesmo assim, seguia a vida que escolhera para si. Não sabia se alguém ainda o desgostava, ou se alguém ainda o tinha por apreço, lhe era indiferente, apesar de ser o amor dos amigos e familiares que o mantinham vivo.

A presença de seu sobrinho, hoje, ali, frente a frente consigo, representava muitas coisas, e muitas ideias agora passavam por sua mente. Levantou-se para receber as honras e para abraçar seu familiar, importante homem da Igreja Romana.


- Meu tio, como é bom vê-lo. Lamento vir tão pela manhã, e sem avisar da nossa chegada, mas preciso desesperadamente da sua orientação.

- Não se desculpe. Gosto de sua visita e faz-me bem nossas longas conversas. Sei também que nenhuma visita é desprovida de propósito, Monsenhor.

O velho vigário tornou a sentar-se, agora mais afastado da porta, e convidou seu sobrinho a sentar-se também. O Conde pediu duas taças de vinho e dispensou o acólito logo após.

- No que posso ser útil, sobrinho? Aproximou-se ainda mais, de forma a permitir que a conversa se desse em sussurros, para evitar que orelhas indevidas ouvissem o que ali se discutiria.
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Sylarnash
Assim que o Cónego-Conde vira o seu tio e fora convidado a sentar junto do mesmo, uma sensação de calma e paz invadiu o ser de Sylarnash, mesmo sabendo que o assunto que ali o trouxera nem sequer tinha sido introduzido. A simplicidade do quarto onde se encontrava e a presença daquele cuja função na sua vida tinha sido de mentor e mestre nas vias da Igreja Aristotélica, aliadas à típica postura de Vigário, providenciaram que o espírito do Conde de Óbidos se acalmasse.

No entanto apenas por curtos minutos. Temendo que o assunto o continuasse a assombrar Sylarnash nada mais fez senão de imediato, e sem uma palavra dizer, entregar o pedaço de pergaminho que na noite anterior abrira na tentativa de descobrir mais sobre aquela caixa.





Alguns segundos passaram e Sylarnash finalmente proferiu algo, embora curto.

- Meu tio, reconhece aquele símbolo no topo não reconhece?

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Monsterguid
A inquietude do sobrinho tornava seu coração também inquieto. Guido já era um homem velho, já havia vivido mais do que a maioria e, como uma minoria, ainda estava vivo – com picos de saúde e enfermidade, em que, de tempos em tempos alterava sua vida por completo.

O papel que lhe foi entregue, num primeiro momento o assustou. Nada havia sido dito desde o abraço, e o ar que circulava pelo quarto parecia agora inerte e pesado. A respiração tornava-se grosseira, seus olhos tentavam se fixar no familiar, porém o pergaminho lhe chamava muito mais a atenção. Com rapidez, porém delicadeza, agarrou e leu o conteúdo. Pensou em ler em voz alta – como era o costume, desde a antiguidade, dos oradores -, porém como a situação era outra, optou pela leitura silenciosa.

A leitura lhe causou certa aflicção. Seus olhos estavam arregalados, a boca semi-aberta e a respiração inaudível. Estavam em quase absoluto silêncio.


- Sobrinho, não me pregues uma brincadeira.. Riu o clérigo. Bebeu um pouco de vinho e sentenciou: - Já és um grande homem, mas ainda sou teu tio e posso lhe puxar as orelhas.

A seriedade continuou. Era o mal que o Vigário de Coimbra desejava que não acontecesse. O que ali se tratava era sério. Desajeitado, voltou seus olhos novamente para a carta, tornou a ler e depois fixou-se no símbolo que continha e no nome que a assinava.

- Conheço este sinal perfeitamente, Monsenhor. Este sinal pertenceu ao falecido Cardeal Albuquerque, Miguel Ângelo de Albuquerque, meu primo. Fui seu Vigário por algum tempo, li suas cartas e arquivos dia após dia e não conheço esta.

Por fim, pronunciou, talvez, a pergunta mais importante.

- Como a conseguiu?
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Sylarnash
O ar sisudo com que o Vigário encarara aquele pedaço de papel foi tudo menos antecipado por Sylarnash. A reação não tinha sido a esperada, a expressão facial acrescida pela aparente imobilidade do seu tio fez Sylarnash temer o pior e ele empalideceu, no entanto como que por magia, breves segundos depois Monsenhor Guido despertou daquele transe e expressou-se, mostrando o ar reprovador que o Cónego Sylarnash não via à anos.

- Monsenhor, por favor, acalme-se. - pediu Sylarnash - Tudo a seu tempo, dir-lhe-ei como obtive este pedaço de pergaminho e a sua aparente razão para a sua existência mas tudo a seu tempo.

Sylarnash, que até então estivera pálido, ganhou alguma cor, sorriu e mergulhou novamente no assunto em mãos. Não da forma como tinha planeado, mas tentando algo diferente - não expondo o assunto de uma só vez, visto que poderia causar alguma maleita ao seu tio, mas sim tentando primeiro apaziguar os ânimos naquele quarto.

O Conde de Óbidos levantou-se, mostrando-se mais sereno, no entanto apenas fazendo transparecer tal sentimento, o assunto ainda ali estava e a sua perturbabilidade permanecia. Ele apontou para a carta que o seu tio tinha em mãos e com uma mão sobre o ombro do mesmo pediu algo ao seu tio.

- Nobre tio poderia verificar e confirmar se esta é a letra do nosso tio-Cardeal? - fazendo uma curta pausa, apenas para se recompor, explicou-se de imediato - Sabemos que este é o símbolo usado pelo Cardeal Miguel Ângelo Albuquerque, mas somente a letra provará que esta pequena carta foi escrita pelo próprio, e se foi... - uma nova pausa se seguiu, repetindo-se Sylarnash - E se foi, bem... - outra pausa se fez sentir naquele quarto - Lá chegaremos. - disse Sylarnash

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Monsterguid
O Vigário ouviu o pedido de seu sobrinho e acenou com a cabeça. Não levantou de imediato, ainda olhou a carta mais uma vez.
Suas pernas doíam e precisou da ajuda do sobrinho para levantar-se. Estendeu a mão e foi puxado da cadeira onde estava. Caminhou até sua escrivaninha, onde havia dezenas de papéis e vários livros.

O clérigo tirou da pilha de livros um de capa de couro, não muito volumoso. Abriu-o. Era um arquivo pessoal. Nele havia inúmeros documentos da vida do Conde-Vigário de Coimbra, e iniciava-se no dia em que entrou no Seminário Menor de Viana do Castelo até o momento em que foi Padre Sinodal em Roma, pela Congregação dos Afazeres do Século, a Nunciatura Apostólica.

Depois de muito folhear, pousou seu olhar sobre um pergaminho timbrado. E entregou ao sobrinho para que analisasse..


- Este, Monsenhor, é a letra, o selo e a assinatura de Sua Eminência Miguel Ângelo Cardeal Albuquerque. Neste momento ele ainda era Bispo Sufragâneo de Coimbra, apenas depois é que tornou-se Arcebispo, depois Primaz e, por fim, Cardeal da Madre Igreja Aristotélica. O clérigo pensou um pouco e continuou. - Não sei dizer se a ordem dos factos é exactamente esta, porém, sei que os títulos foram estes.

O Clérigo tornou a sentar-se.

- É melhor que seja Vossa Graça a comparar os documentos. Talvez meus velhos olhos atrapalhem a qualidade ou até mesmo me enganem.

Dito isto, sentou-se e deixou o sobrinho com o livro em mãos.
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Sylarnash
Sylarnash tomara nas suas mãos o livro que até então se encontrara guardado. A sua existência era totalmente desconhecida, e teria sido sem dúvida algo trabalhoso obter tamanha coleção de documentos e tão bem conservados. Quem saberia os segredos que ali se encontrassem...

Mas espanto á parte o Conde seguiu de imediato para a comparação dos documentos.

- Bem. - soltou uma curta e monossilábica exclamação ao confrontar frente a frente os dois documentos - A semelhança é sem dúvida extraordinária. Não há uma curva fora do lugar! - disse - E o carimbo também aqui está, tal como esperado. - somou Sylarnash anuindo com a cabeça

Dois segundos se passaram, e então o Cónego-Conde pousou aquele portefólio, nada mais havia a fazer com ele apesar da imensa curiosidade quanto aos restantes pergaminhos. Logo após também Sylarnash se voltou a sentar, ficando de novo frente-a-frente com o Velho Conde-Vigário, e finalmente desabafou.

- Tio, ontem algo de estranho aconteceu. Pensei que não fosse mais que um objeto deixado para trás, quem sabe por uma carroça de mercador, mas a verdade é que tudo aponta exatamente para o contrário. - uma longa pausa se seguiu, exatamente para não deixar soltar tudo de uma vez - Um dos guardas trouxe até mim uma caixa que fora encontrada logo após os portões principais da propriedade. E apesar de ter tentado perceber a quem pertencera não tive sorte. Mas então notei uma pequeno envelope colado, um envelope com esse pergaminho. - disse apontando para a secretária onde Sylarnash o tinha deixado - É demasiado obvio o objeto para o qual apontam estes versos, confirmada a autoria do documento e também que a mim foi dirigido fica a questão no ar. Onde se encontrará o objeto divino? Na caixa? - questinou

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Monsterguid
A mensagem da carta ainda permanecia em sua alma. Como a μανíα - loucura, delírio - das musas, dos oráculos e dos sábios no tempo de Platão, aquela carta, totalmente desconhecida para si, lhe causava inquietude no espírito.

- Não posso discordar dos gregos ao dizer que a filosofia surge do θαυμα - espanto. Afirmou o clérigo que permaneceu em silêncio mais alguns instantes, e continuou. - Talvez meu intelecto nunca tenha trabalhado tanto quanto agora, Monsenhor. Sua narrativa unida ao conteúdo da carta me trouxeram inúmeras lembranças, antiquíssimas.

Seu quarto agora lhe parecia estranho. Não era o mesmo. O barulho de seu respirar agora era nítido, demorado e sonoro.

- Sobrinho, esta caixa lhe foi entregue. Isto se torna evidente pelas características que me apresentastes. Entretanto, por quem? E, a questão principal: por qual motivo? O clérigo fez nova pausa.

- Tens a caixa consigo? Precisamos abri-la! Exclamou. Os olhos daquele velho homem, antes apagados agora brilhavam e sua respiração começava a ficar mais rápida, como se estivesse cansado após uma longa corrida. - Muitas ideias me passam pela alma, mas apenas conjecturar não me levará à resposta.
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Sylarnash
As palavras filosóficas do seu tio caíram-lhe no seu interior, na sua alma. Sylarnash abanava afirmativamente a cabeça a cada palavra do Vigário em sinal de compreensão.
No momento em que lhe fora colocada a questão sobre quem e qual o motivo da caixa ter sido deixada, Sylarnash fora obrigado a intervir, interrompendo o Vigário.

- Tio, o seu espanto é tão grande quanto o meu, não entendo porque razão não se identificaram ou não entregaram a caixa em mãos, ou porque razão a entregaram, mas... - fazendo uma pausa o Conde de Óbidos encolheu os ombros e prosseguiu - O facto de saber que me é destinada, e só o mero facto de imaginar o seu conteúdo, afasta-me do quem ou porquê.

O Conde de Vilar Maior continuou o seu discurso, efetuou outra questão e em sintonia com aquilo que Sylarnash pensava, ele mesmo expressou o seu interesse em ver a caixa aberta.

- Tem toda a razão, precisamos abrir a caixa. - Sylarnash mostrou-se triste por segundos e continuou - Não trouxe a caixa comigo, era algo importante demais para transportar nesta tão repentina viagem, os riscos eram demasiado elevados. A caixa está guardada em segurança na mais segura sala de minha ca... - o conde estranhamente interrompeu-se a si próprio e continuou de seguida - Já me esquecia, a caixa tinha uma espécie de fechadura, era estranha, tinha uma abertura em forma de cruz, mas eu não tenho nada assim. - afirmou desapontado

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Monsterguid
As ideias ainda continuavam a inquietar a alma do velho Conde, principalmente no que se referia à abertura em forma de cruz da caixa.

O homem caminhou por todo o seu quarto. Andou duas ou três vezes por toda a extensão e perdeu-se diversas vezes em suas ideias, em silêncio.


– Nada que tenho comigo poderá ajudar neste momento. Scio in corde – Iniciou a frase em latim, como lhe era costume em suas aulas, mas assim que percebeu retornou para o idioma moderno – Conheço de cor todos os arquivos que escrevi e os que li na torre dos Registos, porém, sei que a Biblioteca de Coimbra ainda não me é conhecia por completo. Li os textos de Aristóteles, e conheço Platão, porém há muitos outros livros que nunca nem ao menos abri, e outros que li e me foram herméticos, talvez encontremos algum indício de resposta lá.

O clérigo caminhou novamente até a pilha de seus arquivos, puxou um livro de capa marrom, onde já não se lia mais as letras que antes constavam em dourado. Abriu-o e de dentro retirou uma chave já envelhecida e dois pergaminhos longos. Eram mapas.

– A Biblioteca de Coimbra possui uma segunda sala, trancada há décadas – mais do que consigo lembrar agora – acredito que nela poderemos ter uma revelação. Cardeal Albuquerque era um homem de Sapientia, não de Scientia. Acredito que tenha sido prudente e tenha deixado, sapientemente, alguma resposta para ser encontrada no devido momento. Precisarei de sua ajuda e de seu conhecimento na leitura, tradução e interpretação dos textos.

O homem parou por um momento, respirou fundo e sentenciou:

- Devemos viajar imediatamente.
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