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[RP] No encalço da sombra

Maria_madalena
Passava da meia-noite e aquela não era uma típica noite de verão. O céu escuro era iluminado por uma brilhante lua cheia, mas soprava um vento gélido e severo. A capa negra de Madalena ondulava em torno do seu corpo delgado e o ar anormalmente frio gretava-lhe a pele exposta. A luz nocturna banhava-lhe o rosto e a sua sombra prolongava-se pelo chão, a capa agitando-se em movimentos fantasmagóricos. Se alguém a visse, envolta em luz e sombra, poderia facilmente confundi-la com uma criatura mítica, pois tinha tanto de belo como de assustador. Ao seu lado de um frondoso carvalho agitava-se ruidosamente de cada vez que era fustigado pela enérgica corrente.

Estava no Postigo do Carvão e aguardava a chegada da sua mentora, a enigmática Letícia.
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Leticia


Na carta que Letícia deixara na casa de Maria estava a data do novo encontro, naquele mesmo local e no horário da meia noite e meia.

A estranha noite em que Leticia e Lilia participaram do "festim" real, foi a última noite em que Maria viu a figura esquiva e sombria que deixou a Casa da Babilônia, mal o corpo do rei fora levado dali. Isso ocorrera há três dias e durante esse tempo, Maria não teve nenhuma notícia sobre Letícia, apenas sabia que deveria encontrá-la ali.

Não demorou muito e no horário marcado, pontualmente, a carruagem apareceu. Quando o cocheiro a abriu, Letícia estava lá. Para surpresa de Maria, ela estava alegre e sorridente, bem diferente da expressão pesada que sucedeu os dias após a morte de Marilu. Mas o sorriso dela, tinha o tom sarcástico e provocativo que fazia parte do seu estranho senso de humor. O mesmo estilo de sarcasmo mórbido que Lilia presenciara em Marilu por conta da morte do rei e que não dera tréguas diante do defunto ainda fresco.

Ela vestia um traje negro e vermelho, e trazia em uma das mãos uma caneca de vinho, que ofereceu a Maria assim que a viu.

- Boa noite, Maria. Bebamos à essa hora morta. "Comamos e bebamos, que amanhã morreremos".

Ela disse e o cocheiro ofereceu ajuda para Maria subir à carruagem.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Não tardou para que a carruagem de Letícia aparecesse, solavancando pela rua esburacada. Nesse mesmo momento, uma rajada mais forte de vento fez-se sentir e o capuz que cobria os cabelos castanhos de Madalena caiu, fazendo com que algumas mexas se soltassem do rabo-de-cavalo. O cocheiro saiu e abriu a porta, revelando uma Letícia sorridente e alegre. Aquela era uma visão com a qual Madalena não contara, não depois da trágica morte de Marilu e da morte de Sua Majestade entre os lençóis da Babilónia. Madalena ainda suspeitava da sua mentora, pois esta era demasiado hábil nas artes do assassinato e da dissimulação. O sorriso estampado no rosto de Letícia apenas adensou a suspeita da proxeneta. Não sorriu perante o gracejo provocante da sua mentora. O cocheiro estendeu-lhe a mão para a ajudar a subir e Madalena aceitou-a de bom grado. Sentou-se ao lado de Letícia e afagou distraidamente a saia do vestido ao mesmo tempo que a encarava pela primeira vez naquela noite.

- Boa noite, Letícia. Vejo que o teu humor em nada reflecte os tempos sombrios que temos vivido. - Tentou que a voz soasse firme e indiferente, mas não conseguiu disfarçar um ligeiro tom de azedume que Letícia poderia facilmente confundir com o desagrado que era esperado da proprietária de um estabelecimento onde as mortes pareciam ocorrer com mais frequência do que o habitual. - De qualquer forma, bebamos, Letícia.

Madalena aceitou a caneca de vinho e beberricou.
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Leticia


Leticia pareceu não se importar com a expressão de desagrado de Maria. Aguardou que ela subisse e quando Maria estava acomodada estendeu-lhe a caneca.

A porta da carruagem fechou-se e então o veículo pôs-se novamente em movimento.

A duração do percurso foi a mesma da vez anterior. Letícia tomou uma segunda caneca e seus olhos tinham um estranho brilho de euforia. Ela não se conteve e disse.

- Hoje teremos uma lição muito mais interessante, mas acho que não usaremos misericórdia...Não, não dessa vez.


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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
A carruagem arrancou pouco depois de Madalena se acomodar. Letícia parecia particularmente satisfeita naquela noite e a boa disposição dela trazia desconforto à proxeneta. Bebeu o vinho em goles mais ou menos controlados, tentando não parecer muito ávida. Aquele era uma problema para o qual ainda não tinha arranjado solução.

As cortinas da carruagem iam bem fechadas, tal como da primeira vez, e Madalena nada conseguiu ver. Todavia, o percurso pareceu-lhe bastante similar, assim como o tempo que levaram a fazê-lo. Pensou se algum dia Letícia lhe revelaria onde ficava o local de treinos, a curiosidade matava-a e o medo de enfrentar o desconhecido não lhe dava descanso.

- Sem misericórdia... - Disse pausadamente e em voz baixa ao mesmo tempo que agitava a taça de vinho à frente dos olhos. - Pois bem, que seja, não me sinto particularmente misericordiosa hoje.
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Leticia


Novamente as duas estavam no pátio do palacete isolado. Letícia desceu e convidou Madalena a acompanha-la como fizera da outra vez.

O céu estava ainda mais nebuloso, o vento úmido e o ar pesado indicava que logo mais cairia uma tempestade.

Maria agora conhecia o caminho que tomariam. Letícia atravessou o pátio, tomou um archote aceso em uma das paredes que iluminaria o caminho das duas.

Ela foi seguindo pelo portão que dava acesso a parte interna do castelo. Desceu a escadaria, que levava a masmorra. Em vez de parar no amplo salão, ela seguiu em direção ao corredor que conduzia às celas.

- Tenho uma surpresa para você, creio que o que faremos não é algo que não tenha visto, mas não creio que tenha feito algo assim, alguma vez que seja. Hora de sujar as mãos.

As celas naquela parte estavam vazias, com exceção de uma, em que estava um homem preso pelos pulsos e pelos tornozelos com correntes de ferro. O homem parecia um mendigo, sujo e feio. Tirando um olho roxo e alguns arranhões, não havia sinais de maus tratos.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
A carruagem parou no pátio daquele palacete e Letícia desceu, convidando Madalena a fazer o mesmo. Achegou a capa ao corpo e seguiu a mentora pelo caminho que lhe era agora conhecido. No céu havia o rugido familiar da revolta e da tempestade, o ar tornara-se mais húmido e Madalena soube que não tardaria a chover. Letícia retirou um dos archotes que ladeavam o pátio e iluminou o caminho com ele, a chama amarelada tremeluzia nervosamente de cada vez que o vento soprava com mais intensidade. Desceram a escadaria que dava acesso à cave, mas daquela vez seguiram pelo corredor que dava acesso às celas. Madalena interrogou-se acerca do significado das palavras de Letícia, mas não levou muito tempo a compreender. Pararam em frente à única que estava ocupada, um homem sujo e maltrapilho jazia no seu interior agrilhoado com correntes de ferro. A visão chocou um pouco Madalena e esta esforçou-se por manter o rosto sereno, apesar do pânico que pulsava em si agora que imaginava o teor da sua tarefa.

- Que fez este homem?
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Leticia


- Tenho minhas suspeitas, mas quero ter absoluta certeza. Você deverá conseguir essa certeza. Quer interrogá-lo antes ou depois de ver as evidências?

Letícia propôs e aguardou a reação de Maria.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Madalena olhou o homem mais uma vez e afirmou com convicção:

- Gostava de ver as evidências primeiro.
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Leticia


- Vamos a elas então. Aí estão. Vejamos se elas dizem a você o mesmo que a mim.

Letícia disse, e colocou sobre a mesa um conjunto de objetos que ela recolhera do homem, e alguns que obtivera com a Lâmina Branca.

Um pedaço de tecido escuro, sujo e acinzentado, bastante similar a das calças do prisioneiro. Um cinto de couro já velho e desgastado. Dois sacos de moeda cheios e feitos de um veludo caro. Um envelope sujo e amarrotado.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Madalena observou com atenção os objectos que Letícia dispôs sobre a mesa. Depois de algum tempo disse:

- Temo que não me digam muito. - Segurou o pedaço de tecido nas mãos. - Este tecido é parecido com o das calças do prisioneiro. - Disse e apontou-o com o dedo, notando mais uma vez a similaridade. - Não nos diz realmente muito, apenas que rasgou as calças e que precisava de umas novas, o tecido é velho e sujo. - Pousou o tecido na mesa e elevou os sacos de moedas, tomando-lhes o peso e sentido o veludo. - Um homem com uma algibeira tão cheia não deveria usar calças assim. Além de que este veludo é extremamente suave, não foi barato. - Devolveu os sacos de moedas à mesa e sorriu. - Parece-me que este nosso prisioneiro é um ladrão bastante hábil. - Pegou no cinto de couro, gasto e maleável, e revirou-o nas mãos, examinando-o com atenção. Notou que havia uma pequena mancha que tornava a pele mais escura e o seu rosto transformou-se subitamente num esgar de horror. - Marilu... Foi sufocada com um cinto. - A memória daquele dia estava ainda demasiado presente e Madalena largou o cinto sobre a mesa, querendo purgar-se do seu toque. Inspirou pesadamente por duas vezes antes de se dirigir novamente a Letícia. - Posso abrir a carta?
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Leticia


- Sim, pode. Mas antes que abra o envelope, é preciso que saiba que esse pedaço de tecido foi recolhido por William Algrave na janela do quarto de Marilu. Esse saco menor, tem o mesmo tipo de veludo que o barão do cruzeiro costuma usar. Após ter atendido ao barão, Cecília recebeu um desses. Creio que Marilu também deve ter recebido um igual. Já esse outro saco maior, tem um veludo diferente.

Letícia comenta, séria. Ela achou curioso como a nota menos óbvia foi a que mais chamou a atenção de Maria.

- Quanto ao cinto. A marca da fivela que havia no pescoço de Marilu é igual.

Ela disse e esperou que Maria abrisse a carta. Havia dentro do envelope em um papel amassado, os seguintes dizeres em uma letra regular e metódica.

Citation:
Deixe uma boa lembrança e pague o que te fizeram. A recompensa te aguarda no local combinado.
A.C
Maria_madalena
Ouviu com atenção as informações que Letícia lhe transmitia e que lhe possibilitavam uma nova interpretação dos factos.

- O barão do Cruzeiro, dizeis? - Era difícil negar a possibilidade de Dom Dalur ter assassinado Marilu após uma noite luxuriosa, ainda mais depois do barão lhe ter expresso abertamente que era um homem familiarizado com as artes do assassinato. O antigo conde de Lisboa era um fratricida, matara o irmão e usurpara-lhe a esposa. Madalena não tinha dúvidas de que o homicida de Marilu era violento e sem escrúpulos, Dalur poderia ser considerado um homem com essas características. - Creio que será possível, os hábitos do barão não são os mais apropriados. Envenenou o irmão, pelo que sei. Não seria capaz de sujar as mãos no sangue, julgo, mas talvez estivesse disposto a pagar para que o serviço fosse feito. Pobre Marilu, deve ter recusado alguma parte do serviço. Um homem tão cheio de si pode ficar profundamente ofendido. Ofendido ao ponto de matar...

Suspirou com tristeza.

- O veludo do saco maior é igualmente de boa qualidade. Talvez o barão o tenha usado para pagar a esse vagabundo, se usasse um saco igual aos dos pagamentos na Babilónia não seria muito inteligente.

Lembrou-se de como o corpo de Marilu fora mutilado, cortado e humilhado e sentiu uma náusea súbita. Abriu o envelope e retirou do interior um papel amassado. A escrita era regular e metódica, indicando uma boa mestria das letras. Certamente que o mendicante não escrevia assim.

- A.C., quem será este? - Inquiriu pensativa, não esperando que Letícia lhe respondesse. A sua mente precipitou-se numa busca desenfreada, mas Madalena não se lembrou de ninguém cujo nome tivesse aquelas iniciais. Talvez fosse mais complexo.
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Leticia


Letícia ouviu as deduções de Maria com um sorriso divertido no rosto. Ainda que a natureza do crime a enojasse, Letícia tinha uma satisfação em ver a sua pupila pensando e criando hipóteses.

-Eu tenho minhas suspeitas de quem seja A.C. Isso descartaria o barão. Não estive com ele nenhuma das vezes que ele foi à Babilônia. Não me parece ser o tipo dele, contudo podemos investigá-lo. Estamos aqui com alguém que matou não apenas por prazer, mas também por lucro. Esse homem uniu o "útil ao agradável". Foi esperto em não gastar logo e mostrar-se abonado. Mas o que não gastou em roupas e aparência, estava consumindo no vício, pois esse saco já não está mais tão abarrotado. Marilu não é a única vítima dele, ele é dado a atacar mulheres. Peguei-o no flagra. Ele ia ser morto por uma turba, mas eu o "salvei". Se o tivessem assassinado, iam nos privar de informação. Agora poderemos arrancá-las, ou melhor, você deverá arrancar.

Letícia não pode deixar de pensar que A.C. não é tão esperto, se o fosse teria se livrado do assassino quando este foi buscar a recompensa. Ao menos é o que Letícia teria feito.

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"Sabe o medo que algumas pessoas tem da escuridão? Às vezes ele é verdadeiro. Nunca negue seus instintos, pois eles não mentem."
Maria_madalena
Madalena assentiu, mas não conseguia compreender como Letícia era capaz de sorrir. A frieza da sua mentora espantava-a.

- Tive uma ligeira conversa com o barão do Cruzeiro. Pareceu-me um homem cheio pelo poder que conquistou e a história sobre o assassinato do seu irmão não soou como uma mentira. Contudo, se me dizeis que o A.C. não será o barão, talvez a minha suspeita seja infundada. - Meditou durante alguns momentos. Não era assim tão incomum que mulheres fossem assassinadas na rua, principalmente prostitutas. - Tudo indica que este é o assassino de Marilu e terei todo o gosto em interrogá-lo.

Aproximou-se da cela do prisioneiro e encarou-o. Tinha vontade de lhe cuspir no rosto e assim que Letícia abrisse a porta, Madalena não hesitaria. Enquanto esperava, recordou-se de um relato de uma tortura efectuada por Nicole. A sua meia-irmã teria adorado uma oportunidade como aquela.

- Adrian!!! Adrian Casterwill!!

Madalena voltou a recuar, encostando-se a uma parede. De repente, sentia medo genuíno.
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