Padaria " Oficina do Sabor "

Manuel, um senhor um tanto obeso, conhecido na cidade como "Seu Manel " o melhor padeiro de Porto!! Juntamente com sua esposa e companheira, Dona Clotilde, durante anos e anos trabalharam lado a lado.

Dona Clotilde, mesmo em dias difíceis e frios sempre incentivava o seu esposo.

mesmo nos dias mais difíceis, quando estavam começando, muito trabalho e pouco lucro, sempre incentivava seu esposo.

Levantava-se pela manha, preparava o cafe e saiam os dois a cortar lenha para aquecer o forno da padaria.

Sempre sorrindo, o casal era visto andando abracadinhos envoltos pela neblina matinal a caminho da " Oficina do Sabor". Nome escolhido para a padaria da família.

A unica tristeza do casal era justamente não terem tido os sonhados filhos, herdeiros que um dia continuariam com tudo aquilo que tinham construído.

Com a perda de Dona Clotilde, Seu Manel perdeu também o animo de trabalhar e a vontade de viver, entregando-se a bebida e abandonando a padaria.

Tornou-se costumeiro encontrar Seu Manel embriagado dormindo pelas ruas, abracado a uma garrafa e murmurando pelo nome de sua esposa.

Certo dia Seu Manel entra na taverna, esta com feição cansada e abatido, Celinho um miudo que mora na rua, o recepciona e os 2 conversam por longas horas.

O senhor esta cansado da batalha da vida e convida o garotinho para ajuda-lo, propondo ensinar ao miúdo tudo que sabe de sua profissão.

Celinho aceita prontamente sorri e sacode as mãozinhas emocionado e na manha seguinte, antes do amanhecer, já esta esperando o tiuoo Manel.

A partir desse dia Celinho se torna o padeiro da Padaria " Oficina do Sabor "

Bem, mãos a obra! Exclamou Seu Manel

O menino atento não tirava os olhinhos do tiuoo Manel.

Seu Manel preparava a mesa onde amassaria a mistura e Celinho atento a cada movimento.

Depois de tudo arrumado Manel pergunta: Estais preparado miúdo?

Celinho sorri e diz eufórico: To preparado sim tiuooo

Manel então sorri e começa a explicar detalhadamente coda etapa do processo.

Ao final da explicação, Celinho esta com o rostinho coberto de farinha e a sua frente a massa ja estava pronta para ser repartida e colocada no forno.

Celinho de um lado e Manel de outro, levam a forma ate o forno que já estava aquecido.

Bem agora basta aguardar alguns minutos e já estará pronto. Fala Manel enquanto procura por uma garrafa por debaixo da mesa.

Celinho nem pisca, olha atento para o forno vendo a dança das chamas alaranjadas e preguiçosas.

Logo manel já com a voz enrolada pela bebida e dificuldade no equilíbrio chama o miúdo para ajuda-lo a retirar a fornada.

Madalena voltava a casa depois de mais uma noite de trabalho. Apesar da chegada da Primavera, as manhãs continuavam frescas e a meretriz caminhava com a capa vermelha achegada ao corpo. Os seus passos eram suaves e ia de olhos postos no chão com os cabelos a agitarem-se levemente ao sabor da brisa que corria.

De repente, um cheiro doce e delicioso, trazido pela brisa matutina, toma-lhe conta dos sentidos e o seu estômago ruge em sonoro protesto.

Como tenho fome... - suspira para a estrada vazia.

Guiada por instintos primitivos, Madalena segue o cheiro tão agradável até uma pequena casa onde se podia ler: Padaria Oficina do Sabor. A barriga da meretriz contrai-se novamente e faz-se ouvir reclamando por um pedaço de pão quente. Espreitando para os lados, Madalena verifica que as janelas ainda estão fechadas, assim como a porta.

Não pode ser... tem de estar alguém ali. Este cheirinho... - pensa ansiosa e atormentada pela fome.

Encorajada pelo alforge algo composto e pela sofreguidão, Madalena bate duas vezes à porta.

Madalena fica surpreendida por ver ali Celinho. Ainda há pouco tempo o miúdo vivia nas ruas e agora... bem agora estava a aprender um ofício.

Como o mundo dá voltas... Não tarda e será homem.

O rapaz de cabelos ruivos, atendeu-a com a maior animação e arrastou-a para o interior da padaria, não lhe dando sequer tempo para falar.

Já sentada no banquinho, a meretriz toma o seu tempo para observar a sala composta por um enorme forno a lenha e inúmeras bancadas em madeira, cobertas de branco, tal como o rosto do menino. Sentado a um canto está um homem gorducho, de garrafa na mão. Madalena não o condenada, sabe que por vezes a vida magoa.

Celinho, estás a gostar de trabalhar aqui? - pergunta-lhe quando finalmente encontra palavras.

Madalena sorri ternamente ao menino. Poderia haver rapaz mais singelo e meigo? Certamente que não. Celinho era a candura e a inocência, o sorriso ingénuo e o olhar doce, ao seu lado, todos os problemas se tornavam infantis e todos os sonhos eram realidade.

A meretriz desfrutou plenamente daquele momento de pacatez e harmonia. O ambiente era quente, o banquinho era confortável e as delicias do menino eram isso mesmo, delícias. Madalena comeu de tudo avidamente e no final até lambeu os dedos. Sentia-se refastelada e confortável.

Celinho estava tudo muito bom, vais ser um grande padeiro! - disse-lhe com o entusiasmo na voz. De seguida, abriu os braços e continuou - Anda cá, anda ao meu colo para te dar um beijinho grande.

Madalena viu o rapaz trabalhar durante mais algum tempo. Era impressionante como Celinho crescera nos últimos tempos. Ocasionalmente, a meretriz brincava com o menino, fazendo-lhe cócegas, ou fingindo ser um monstro que vinha para atacá-lo. Eram aqueles momentos de inocência e brincadeira que coloriam os dias cinzentos da messalina.

As horas tinham passado e os olhos de Madalena pesavam. Precisava de descansar agora que já tinha a barriga cheia. Com muito carinho despede-se de Celinho, enchendo-o de beijos e mimos.

Muito obrigada, um dia volto pequeno.

Manel bagunça os cabelinhos de fogo do menino enquanto diz:

Vai la miúdo, divirta-se e juízo, não chegues muito perto a borda, quero-te inteiro para continuar a me ajudar.

Sorri a dama Irises tentando esconder as saudades que já se fazia presente.

Da porta obversa Irises e Celinho partirem. O menino animado conversando sem parar e Irises sorrindo.

Quando somem da vista de Manel, ele fecha a porta da padaria aguardando o retorno do pequeno grande aprendiz.

entra na padaria do sobrinho e lhe pede um pãozinho quente para o cafezinho da madrugada

A porta estava aberta e Irises foi entrando devagarinho. Um delicioso aroma de pão sendo assado, a organização e limpeza impecáveis, as cestas com os ingredientes para os mais variados doces e bolos dispostas sobre os balcões de trabalho e o calorzinho gostoso que emanava dos fornos.

Neste ambiente acolhedor, seu pequeno Celinho, que correu para ela tão logo a viu!

Um abraço bem apertado e demorado, as palavras nem eram necessárias para exprimir as saudades sentidas por ambos e a alegria do reencontro.

O menino estava bastante ocupado, para atender à encomendas, uma lista extensa caprichosamente escrita a giz numa placa de pedra escura. Havia muito o que fazer, Irises ofereceu-se para auxiliar na separação e embalagem dos produtos já terminados.Enquanto trabalhava, observava Celinho diligenciando-se por entre os processos de fabricação, era mesmo organizado e aprendera muito!

Seu Manel respondia às perguntas de Celinho e fazia algumas poucas sugestões para o melhor andamento do trabalho, formavam uma dupla perfeita. Irises reparou que haviam dois rapazes bem mais velhos que Celinho, grandes e fortes, a Oficina do Sabor crescia e já contratara auxiliares!

Terminada a tarefa, abraçou mais uma vez seu pequenino e agradeceu ao Seu Manel por tudo o que fazia por aquela criança maravilhosa.

Rumou para a Casa da hera, agora poderia organizar a tecelagem e conversar um pouco com Aodh, de quem tinha muitas saudades.

As modificações na padaria eram notáveis! Após a morte de Seu Manel, e a passagem do comércio a Celinho, aquilo dinamizou-se de tal forma que parecia outro estabelecimento. Os sacos de farinha, outrora armazenados descuidadamente, agora estavam colocados sobre um estrado de madeira, a ventilação ideal para manter o fresco sabor da farinha recém moída.
A lenha empilhada, os fornos bem limpos, o depósito verificado e renovado diariamente.

O balcão antigo e carcomido tinha sido substituído por um novo, primorosamente decorado com imagens gravadas a fogo. Os desenhos tinham sido escolhidos por Aodh, dizia que eram mensagens de progresso, fartura, boa alimentação, e tudo o que se requer de uma boa padaria. Em divisões, para os pães, os bolos e biscoitos das mais variadas formas estavam expostos os mais apetitosos produtos.

As mudanças, ocorridas gradualmente, não chamavam a atenção de Irises. Acompanhara, dia a dia, tudo o que ali acontecera nos ultimos dez anos.
Chegava, como todos os dias, depois de auxiliar na taverna, para pegar seu pão quentinho e dar um beijo de boa noite ao filho.

- Gosto tanto de passar por aqui no caminho de casa! Não se preocupe, filho, estou acostumada a estas andanças! respondeu quando Celinho pediu que esperasse para irem juntos.

Gostava de caminhar sozinha, o percurso não tinha mais segredos para ela. Já as surpresas, eram muitas! Uma estrela cadente que traçava sua marca no céu, ora a neve cobrindo o caminho refletindo a lua! Animais noturnos e os sons que emitiam, uma árvore, tão conhecida durante o dia, que ganhava contornos diferentes (e por vezes assustadores) pela noite. Cada momento tinha seu encanto, reconhecer isso era uma dádiva que Irises cultivava.

- Hoje seu jantar não vai ser grande coisa, querido! Estive a despedir-me dos amigos de Alcobaça e demorei-me mais que o costume, os louvores à Deusa, bem sabes... diz, sorrindo, ao lembrar do barril de Morgaine.

Estende o braço para Poe, que sobe em seu ombro, dá um beijo na testa de Celinho e segue para casa, o coração tão quentinho quanto o pão que levava, caprichosamente embrulhado, num paninho bordado.

A jovem correu para o balcão, estivera distraída, cortando a massa em formato de estrelas para decorar as empadas, nem se apercebera da chegada de uma cliente.

Batendo as mãos na saia, em meio a nuvens de farinha, abeirou-se do balcão.
Era pequenina, apesar de seus dezesseis anos, de constituição delicada, cabelos cor de trigo e olhos que lembravam gotas de mel. Ficou na ponta dos pés, abriu um sorriso e perguntou:

Em que posso servi-la? Celinho está ausente hoje, disse que ia auxiliar a mãe na oficina de tecelagem. Se a senhorita preferir falar com ele posso mandar chamá-lo num instante... estava acostumada, os clientes sempre faziam questão de falar com o rapaz.

A agradável senhorita fez com que a menina fosse sentindo-se mais à vontade. A habitual timidez era o motivo pelo qual não gostava de atender ao balcão, mas a freguesa parecia tão serena...

Ao ouvir a palavra "volume" sobre a encomenda a ser feita, tremeu! Teria de anotar tudo muito direitinho, costumava ter dificuldades na escrita, por mais que Celinho a tentasse incentivar a aprender.
Pediu licença à moça e foi buscar a pena e pergaminho. O tinteiro estava ali, não sabia se conseguiria, mas ia tentar! Ao molhar a pena o fez desastradamente, e foi com muitos borrões que a palavra "Encomenda" registrou-se no papel.

Olhou para a senhora, que tentava disfarçar o riso. "É uma dama verdadeira, esta", pensou Ceres.

Empertigou-se, ergueu-se mais nas pontas dos pés e disse, com o ar mais profissional que conseguiu:
O que precisa, senhorita? Já tem em mente as quantidades? Qual será a data para entrega?

Arrepiou-se, fora longe demais! Se a moça respondesse tudo de uma vez nunca conseguiria anotar!