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[RP] Desencontros

--Narrador_
Cidade do Porto - Abril de 1460



A muralha de pedra granítica, cinzenta e fria, como aquele dia, erguia-se altiva e imponente sob a vizinhança. Por entre os merlões olhos atentos e cansados perscrutavam o horizonte, mas nada mais viam do que campos verdes envolvidos na neblina matinal e as águas do Douro, serenas e profundas. Nas torres da muralha ardiam tochas que, àquela hora, já não tinham qualquer utilidade, mais não eram do que vestígios de uma noite de vigília. O passadiço do portão principal estava descido e meia-dúzia de guardas sonolentos inspeccionavam os que chegavam e partiam da cidade, fossem mercadores, burgueses, ou camponeses. Nuvens grossas faziam prever um temporal, mas nem por isso havia menos algazarra nas ruas. A cidade acordara barulhenta, com as carroças cheias de vinho, lãs e madeira a troarem pela rua principal rumo ao mercado. Acompanhavam-nas mercadores tardos, cujas vozes se confundiam com o resfolegar dos cavalos e os silvos dos chicotes. Os pregões multiplicavam-se e os interessados regateavam. As galinhas pavoneavam-se por entre a multidão e, de vez em quando, um bacio era despejado para a rua.

Aos olhos menos atentos, pareceria um dia normal.
Beatriz Affonso, roleplayed by Lorena_davila
Beatriz embalava uma pedrinha. Era o que de mais parecido com uma boneca alguma vez tivera. Rasgou até um pedaço da capa grossa que a cobria para a aconchegar, mas tinha o fundo tão esfiarpado que não se notava.

A mãe gritou-lhe da loja dos animais e ela acorreu:

- Sim, minha mãe!

Maria Teresa, roleplayed by Maria_madalena
Passara os últimos dias a trabalhar de sol a sol nas terras do seu senhor, Dom Lourenço Freire d’Andrade. Era o tempo da cegada e trabalho não faltava. Faltava era tempo para amanhar as suas terras, que ficavam descuidadas no entretanto. O ano viera seco e não tardava que chegasse ao fim. Era preciso pagar as rendas: seis sacos de trigo e 150 cruzados.

Agora, cuidando dos animais, uma raiva cega subiu-lhe à garganta:

-Beatriiiiiz, a pita pôs outra bez fora!! Bai a saber do obo, anda! Mais um prejuízo!
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Beatriz Affonso, roleplayed by Lorena_davila
Beatriz largou desconsoladamente a boneca e saiu, decidida a procurar o animalzinho nas imediações.

A rua estava apinhada, como habitualmente, mas as pessoas aglomeravam-se em grupos e encaminhavam-se para a praça. Os ânimos estavam exaltados e falava-se muito alto. A menina esqueceu rapidamente a galinha e, movida pela curiosidade, seguiu a multidão. Todos se acotovelavam e Beatriz foi arrastada.

D. Sancha Andeiro, roleplayed by Maria_madalena
Sentada na beira da cama, Sancha contemplava sem grande entusiasmo o ondular da cortina contra as paredes humedecidas. Pequenas gotas de água escorriam pela superfície irregular das pedras e algumas das tapeçarias tinham já vestígios de bolor. O Inverno rigoroso prolongara-se além do previsto e teimava em ceder lugar à tão esperada Primavera. A chuva caía incessantemente havia meses e as ruas da cidade mais não eram do que um lamaçal. A doença e a fome grassavam mesmo entre os mais afortunados.

Vestida apenas com uma camisa de noite, a Duquesa mantinha o corpo numa posição encolhida, sem contudo perder a postura altiva que lhe era característica. Os seus pés descalços estavam assentes no tapete de pele de veado, isolados, portanto, de grande parte do frio e as mãos de Sancha estavam pousadas sobre o colo, os dedos entrelaçados. Tinha o olhar vazio, estava perdida em pensamentos.

Lá fora, o vento soprava com brusquidão lançando uivos e gemidos que distorciam as vozes dos primeiros mercadores. Uma aragem entrou no quarto e a luz proveniente do único candelabro aceso tremeluziu. Sancha arrepiou-se, tinha receio. De imediato levou os joelhos e o olhar ao chão, murmurando rezas e suplicando clemência. Foi somente quando o corpo lhe começou a doer que Sancha voltou a sentar-se na cama. As suas preces de nada tinham servido, os ululos do vento continuavam a fazer-se ouvir, cada vez mais altos e implacáveis. Estava gelada e precisava das suas damas de companhia.
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Branca Freire d' Andrade, roleplayed by Maria_madalena
Branca bateu duas vezes à porta de carvalho enegrecido, esperou alguns momentos e depois entrou no quarto da Duquesa seguida por uma comitiva de aias e damas de companhia.

Vossa Graça... - murmurou, completando o cumprimento com uma ligeira vénia. Atrás de si os movimentos e as saudações repetiram-se até a última mulher presente no quarto. Foi só então que a algazarra matinal teve início. Vestidos, sapatos, escovas e pózinhos, tudo surgiu num ápice, aquele ritual era uma dança bem coreografada em que cada uma sabia exactamente quando devia entrar e que passos tinha de dar.
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D. Sancha Andeiro, roleplayed by Maria_madalena
Sancha tecia comentários e críticas acerca de cada uma das sugestões das suas aias e damas de companhia, não fosse ela uma das mulheres mais importantes e influentes na cidade do Porto. Descendente de uma linhagem nobre com mais de cem anos e filha do Senhor de Valpaços, a Duquesa passara a infância e juventude a servir na corte francesa, como dama de companhia da Rainha. O regresso a Portugal foi-lhe custoso, mas as agruras da mudança foram enterradas com a possibilidade de um bom casamento e uma posição de relevo na sociedade.

Branca, qual das aias ficou responsável por manter o fogo na lareira a noite passada?
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Branca Freire d\' Andra, roleplayed by Maria_madalena
O coração de Branca falhou um batimento. A jovem pousou a camisa de noite que segurava numa das poltronas do quarto e aproximou-se da Duquesa.

- A Isabel, Vossa Graça.

O seu rosto transmitia calma, mas Branca estava nervosa.
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D. Sancha Andeiro, roleplayed by Maria_madalena
Sancha suspirou em desagrado e os seus olhos deram uma volta nas órbitas.

- Essa incompetente deixou o fogo apagar-se esta noite! Quase morri gelada! - a sua voz autoritária fazia tremer as pedras - Quero-a na rua e arruinada!

A Duquesa passou as mãos pelo cabelo, certificando-se que os fios estavam lisos e arrumados tal como ela gostava, quando por fim se mostrou satisfeita disse:

- Certifica-te que nunca mais a vejo,Branca. - sorriu brevemente e continuou - O pequeno-almoço já estará pronto? Espero que saibam que não é um bom dia para atrasos, não posso perder o que aí vem.
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Branca Freire d\' Andra, roleplayed by Maria_madalena
Branca estremeceu ao ouvir aquela ordem, um súbito desconforto tomou conta do seu espírito e por momentos duvidou da sua capacidade para manter o rosto tranquilo. Assentiu ligeiramente com a cabeça, evitando olhar a Duquesa nos olhos, mantendo o olhar baixo mesmo durante aquele breve silêncio que antecedeu a pergunta sobre o pequeno-almoço.

- Vossa Graça, o pequeno-almoço está pronto, pode descer quando quiser. Além disso a carruagem para o vosso transporte também foi providenciada.
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D. Sancha Andeiro, roleplayed by Maria_madalena
Sancha sorriu de contentamento. Gostava quando as coisas eram feitas de forma eficaz, gostava ainda mais quando lhe adivinhavam os pensamentos. Era uma mulher exigente, mais com os outros do que consigo, mas isso não a impedia de barafustar com quem bem entendesse.

- Branca, faz-me companhia até à sala das refeições.

As aragens e assobios que constantemente galgavam os corredores deixavam-na assustada, pelo que preferia deslocar-se na companhia de outras pessoas. Dessa forma não se sentia tão sozinha e vulnerável. Aqueles receios eram o seu mais profundo segredo e Sancha esforçava-se para não os revelar.

A descida até à sala das refeições foi feita em silêncio. O cheiro a pão e manteiga fresca encheu-lhe as narinas assim que adentrou naquele compartimento.

- Bom dia, meu filho. - cumprimentou enquanto tomava um lugar à mesa.
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