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Info:
Here, there are a bit of convivence and many songs of Aristarchus, in many Iberian styles like "Redondilhas", "al-Zajal" (and other as well).

[RP] Que Festa... E aí vai uma seresta!

Aristarco




Estou a assistir o torneio com atenção, apesar de não ter um campeão por torcer: receio que a simpatia, há disto dar cabo brevemente, então não mo preocupo...

E aos intervalos do torneio d’Arqueiria, com tantas pessoas que estão a assistir, pontearei minha mandola soltando voz com canção.

Como vejo agora, pequena parada necessária, com povo a comer e beber, muito rir, e finalmente a aguardar novas provas da Arte, já mo aproveito cá por alguma inspiração da musa, se vós permitis.



REDONDILHA

Arqueiria

Mote


“Arqueiria de Montemor a Vila?
Eis evento que cintila...”

Voltas

“Do famoso festival,
Eis p’ronde vou
Por caminhos da nação
Sem medo d’algum mal
À Montemor um jogral
Viajante que sou
Cantarei à população.”

“Um torneio floresce
Glosarei el campeão
Porquanto desta pecha
Um’arte que apetece
De Montemor rejuvenesce
Mestrança da mira e mão
Se faz El Rei da Flecha.”

“Quem se tornará
Do prêmio acometido
Lh’entregado uma palma
Pois el renome voará
De nobre alvará? Não importará!
E será mui conhecido
Da Arqueiria n’alma.”




Minhas reverências e vos peço licença p’ra comer!
(porque minha barriga também mui oca está – apesar de rugir...)

Aristarchus Setubalensis



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| Secrétaire Royal | Minstrel of Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |
Aristarco




Caríssimos convivas,

Lá me encontrava em uma conhecida taberna da preclara vila, quando meus olhos eram assaltados: um vai-e-vem de gentes assomou-se aos burburinhos atados, às risadas e amistosa diversão acontecia, até mesmo casal apaixonado dentre prosas de amigo ou parente se via.

Também despedidas daqueles com acompanhada parte dos festejos; também chegada d’outros bem atrasados em desejos, mas sempre esperançosos d’algo bom desfrutar, tanto quanto novas amizades angariar.
Pois não podia ser diferente, cousas da gente montemorense...



REDONDILHA

A Taberna

Mote


“Causa qual a quem pertence?
Esta logo lá, na taberna portucalense.”

Voltas

"Que pensaste
Estrangeiro chegado
Tão de repente
Não amansaste
E te espantaste
Ao ficar abrigado
Um coração comovente."

"Eis herdade
De costumes antigos:
Na lida fraterna
Comer a bondade
Beber a felicidade
Respirar os amigos
Bem viver n’A Taverna."

"Conduz alforria
Em arder confiança
Nos corações jovens.
Quando mazelas do dia
Murcham m’ boa companhia,
Renascendo a criança
No peito dos homens."



Meus cumprimentos!
Porque hei de estar tão breve possível, logo lá... Na taberna montemorense...

Aristarco de Setúbal




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| Secrétaire Royal | Minstrel of Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |
Sol


Barbarellaa caminhava tranquilamente pelas ruas da cidade, procurando inspiração e compôr nova canção.
Frente a tasca mais animada, ouvia-se murmúrios, exclamações de admiração, sorrisos e aplausos. Cada vez mais intrigada, decide adentrar discretamente o tasco. Qual não foi a surpresa! O motivo de tamanho festejo era o famoso trovador " Aristarcus Setubalenses".
Juntou-se aos amigos da cidade, acomodando-se para testemunhar o talento de tão distinto visitante.

Lorennzzo


Ouvindo bela trova, Lorennzo vai ao local de onde vem o som. Já vai a mais do meio o canto de Aristarcus e Lorenzzo se queda embevecido pensando.

Veja só que bela trova canta este homem! Bela homenagem ao nosso torneio de tiro com arco. Vou pedir-lhe que me autorize a utilizá-la em outros torneios.

Neste momento percebe que Aristarcus termina de cantar e grita:

Linda trova Aristarcus, preciso que me autorize a usá-la em outros torneios que pretendo organizar. Podes me fazer essa gentileza?

E aguarda a resposta de Aristarcus.
Aristarco




O trovador ponteia aqui e acolá sua mandola: dedilha “presto ma non tanto” como dizem nas mui itálicas.
Na voz desdobrada acompanha a castanhola, versejando cousas galaicas e alongadas vocálicas.
Eis que entre uma canção e outra se curva, a fazer mesura à dama quando já esta co’a vista turva,
Porque é assim a natureza do bardo intrusa, diante do belo sobressalto que lhe inspira a musa...

- Hã? Que? Como? Onde?

Desperta do pequeno transe etéreo, brevíssima e estranha ausência do mundo, ao notar o mestre-organizador (e por sinal bom atirador!) do torneio festivo. Responde-lhe, ainda a divisar aquela bela dama que entrou:

- Ah, pois! Tens-me como criado, bom señor! Usa os versos, se fizer um bem a Montemor por favor!

Faz uma longa reverência ao notável bem-feitor montemorense e faz soar no dedilhado um brinquedo. Ouve-se então:


“Afinal os 'parentes' sempre ajudam,
Pois quem atira dardo ou canta canção
D’alguma forma ou d’outra miram,
O homem bem ao meio... do coração!”


Outra longa reverência, quase a bater a barba ao chão, acompanhada de gargalhadas dos convivas (e mais acentuadamente alguns beberrões).




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Aristarco




Ah, meus caros montemorenses,

O festival primaveril lá se foi e eu cá fiquei, quase a perder senso ou juízo de minhas próprias cousas e vida. Porque para cada estado do chegar, tem outro bem adverso, o do partir. Assim, se locupletam início e fim, isto se bem sabe.

E então me recordo daquele dito aos marujos temerosos do mau humor do mar, em que outrora Pompeius Magnus, da velha e eterna cidade do Lácio, diante da necessidade e precisança não hesitou:

“Navigare necesse, vivere non est necesse.”

Ainda que me cá sirva “Ire necesse...”, com melancólica cantiga, se vos permitis.



REDONDILHA

Mote Alheio

“Se a tristeza chegar,
O remédio é lusitano tornar.”

Voltas

“Esta terra é assim
Há mui trabalho
Suor e dia duro
Tem até motim
Quiçá espada ao rim
Não to engano no detalho
Desse chão maduro.”

“Da plaga norte o Porto
Centro chão conimbricense
El torrão Lisboa condal
Mui há conforto
E se fica absorto
D’outros povos dispense
Pois Lusitânia, não há igual.”

“Se a tristeza chegar
Não olvides o trovador
Deixa no passado o dano
Parta sem tardar
Sem temor de errar
Não mais um visitador
Mas vir-a-ser Lusitano.”




Ao tomar uma última cerveja na taberna, com os trens de viagem para no lombo levar, a pobre mandola calada à mesa, recordo que hei de apanhar o caminho p’ra casa, feliz pela vossa companhia, recepção e amizade, mas também um pouco triste, porque parte do coração cá fica, já que me torno incompleto.

Mas um glosador é assim: nasce um pouco quando encontra gentil ingresso, morre um pouco quando coloca os pés ao regresso; mas com esperança do renascer ao dia vindouro em próxima plaga.

“Por se completar o incompleto... Eis o vir-a-ser irrequieto...”

Agradeço-vos bons montemorenses, hei de retornar brevemente assim; deixo minhas mais caras estimas do lugar que já roubou uma parte de mim.


Aristarco [um pouco mais] Montemorense




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Aristarco




Aristarco se encontrava sentado em um canto da taberna, desta vez em um lugar mais iluminado rente a uma janela bem logo à vista, a qual ele abriu um pouco mais (com a devida licença do proprietário), com fito d’algo não incomum fazer: colocar e afinar as novas cordas do bom e velho alaúde mourisco d’um desconhecido castelhano que se fizera obrigado a saldar dívida de taberna, como mui bem sabia.
O trovador então estava a dar a continuidade na história – do alaúde –, quando a aventura sempre continua enquanto os atores vão de quando em quando a se revezar junto ao tablado...

Mas eram pensamentos um tanto difíceis de serem entendidos, logo vereis, porquanto quem ali seria a personagem principal: o trovador, deveras mortal, ou o alaúde, deveras passível de destruição? Seria a Arte que também poderia se encontrar esquecida, caso alguma barbárie ou cataclismo do mundo acontecesse?
Quem ou o que desfaleceria ou subsistiria neste “palco cosmológico”?

Apesar de ser hipótese possível, quando os homens não têm direitos de reclamar quaisquer futuros (exceto na esperança), era de fato algo que poderia se pensar, afinal, o que não é passível de se ater com o intelecto? E mesmo assim, quando se acha algum limite de compreensão, o que não é possível de voo alçar com a própria imaginação ou alma que apesar de confinada, não se encontra no terreno do limitado? (mas isto, realmente não seria mais Filosofia, porém algo d’outra natureza)
Na Filosofia, tais assuntos eram elucubrados profundamente quando se tratava de Cosmologia, Universo e o Uno, o mundo material das cousas ao redor dos homens. Lembrou-se mais uma vez dos monges em Faaron durante estas investigações em grandes querelas de “disputatio”.

Quem por fim, seria personagem de qual cenário?
Afinal parecia que até o Cosmos andava de ponta-cabeça naqueles dias, diante aquelas famosas e polêmicas teses d’um ousado polonês chamado Copérnico. Por Jah, que confusão agora, apesar da excitante possibilidade de um novo modelo de universo. O que a “ratio” – razão – não poderia investigar, não é mesmo?
Mas que se tenha calma e detença: se este polonês estivesse lá ainda vivo, haveria de enviar uma carta a perguntar se teria ele sido leitor do velho Aristarco grego (que boa coincidência de nomes!) quando tratava do “sol como centro” das cousas.
Teria sido? Porque tais tratados só poderiam ter chegado pelas mãos dos mouros, o que tivera o privilégio de mui correr enquanto estava em Santa Maria de Faaron.
Copérnico usara quais cálculos? Os mouros do leste teriam contribuído n’algo?

Mas até aquele erudito “cedera seu lugar” ao cenário (pois já estava sete palmos abaixo da terra)...
Agora, as cordas velhas do alaúde cediam às novas, como se fosse um “microcosmo simbólico dentro d’um cosmos mais amplo”, completamente mutável de alternâncias e contradições, mutações...

Foi enquanto fazia essa operação e pensava na Filosofia, que seu aprendiz Martinho veio lhe avisar para que o acompanhasse, porque havia um lugar onde os bardos poderiam se apresentar naquela vila, ainda que a taberna fosse trivial e muito costumeira destas atividades.
Aristarco ficou por um momento espantado, afinal quando estivera no Festival da Primavera não tiver ciência disto; e lhe foi um evento feliz, ao notar este interesse montemorense pela trova em especial, algo sempre e continuamente louvável.

Levantou-se e pediu licença ao proprietário da taberna a se escusar aquela saída inesperada, mas que dava palavra d’um retorno, para que o taberneiro não se sentisse frustrado com o que contava.
Saíram os músicos rapidamente da casa, com o jovem Martinho aprendiz a conduzir o mestre pelos caminhos, sem deixar de sorrir claramente feliz por estar em Montemor mais uma vez (o pequeno já viera antes, a completar missão de envio de carta).

Aristarco ficou feliz por outra razão também, porque o aprendiz-de-trovador poderia até ter muito que ser burilado e maturado, porém mui atento e operoso era, após descobrir sobre esta praça ou lugar em que os bardos poderiam dedilhar cordas (ou enfim, arranhar quaisquer instrumentos), assim como rasgar o verbo que lhes enchiam o peito na precisança de serem reverberados.
Um cantinho da poesia, por assim dizer...



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Aristarco

OOC: Passagem em Montemor, em maio do ano da graça de 1460...




Aristarco finalmente chegara à boa Montemor depois de longos dias de viagens e comemorações aqui e acolá, notai bem como são os lusitanos, mesmo com suas inúmeras dificuldades da faina diária, seja do súdito mais simples até ao encarregado de cousa pública, jamais deixam de participar d’um festejo ou algo que o valha, talvez seja isso algo de valor ainda nestas terras do mui que parece ter se esvaído, oras, sem dúvida.

Mas nem tudo era tão fardo de fato, porque se assim fosse não haveria motivo ou razão alguma para prosseguir em frente, dada que a natureza do homem, segundo mui filósofos da antiguidade, era enfrentar quaisquer adversidades com algum brio cultivado no campo de sua alma, pois como seriam as cousas suportáveis se não fosse apenas dentro de si, a possibilidade d’uma garantia a existir quando tudo ao contorno não parecia se encontrar na posse das próprias mãos: ah, o mundo gira, mas ele é independente da vontade dos homens e sempre fora motivo de riso dos sábios ao ver todos aqueles que chamavam para si, clamavam para si, o mundo enquanto vassalo de seus gostos e trejeitos; pobre alma condenada a sofrer.
A vida ensina, mesmo que seja a sangrar sentimento ou corpo nestes casos, escolheis o que quiserdes.

E nada como uma boa festa para amainar as impressões dos dias, justamente porque alimentava ânimo para os tempos vindouros.
E o tempo vindouro de Aristarco já era ali, mais uma vez em Montemor, com alguns trabalhos a serem feitos, pequenos é verdade, mas trabalhos e deveres, porém com aquela renovação oriunda da colheita de bons risos e boas prosas (e logicamente boa trova!) na distante Elvas fronteiriça no leste.

Já arrumara inúmeros apetrechos na hospedaria assim que chegar, especialmente os trens de viagens; porém também já acertara com o dono d’um estábulo para cuidar bem dos cavalos porque não saberia se estaria ali no dia seguinte, oras, quanto comichão para se por o quão breve os pés (patas dos cavalos, melhor a dizer) por sobre os caminhos mais uma vez, isto posto porque assim é a maior parte dos trovadores que perseguem populações e novidades, locais de declamações e apresentações de cantigas, festivais e toda a sorte de gente que se avoluma por um ou outro motivo, não duvideis.

Mas por que não uma passadinha na taberna local? Já havia revistos alguns irmãos templários oportunamente a dar cabo de várias notícias e cousas da Ordem Templária, de forma que certas obrigações já estavam dirimidas a contento.
Mas ainda sobre a taberna... Um pequeno instante diário em que um bom gosto a ficar na saliva (claramente aqui se fala d’uma boa cerveja bem sabeis), significaria uma relaxada condição que somente uma mesa com cerveja há de proporcionar.
Depois de tudo e tanto...

Lá foi assim o trovador para o lugar de excelência de relaxamento das gentes, é claro que também para o mesmo, lugar não menos de “inspiração imediata”, quando histórias, contos e anedotas povoariam sua mente e coração, quando por fim, é o grande negócio a circular dentro de tabernas (mais até que as beberagens e os repastos) oferecendo aquele bom e velho espetáculo da convivência dos homens.
E quando chegou e se sentou, esperou ansiosamente a moça que atendia, a chegar a sua mesa com aquelas velhas palavras que se habituara “o mesmo de sempre, senhor Aristarco?”, porque já frequentava ali costumeiramente.
E costumeiramente se sentir bem ali também se haveria, na mesma velha maneira de ser.

Mas desta vez ela perguntaria também sobre o aprendiz-de-trovador Martinho, que já se fazia companheiro do trovador nestes tempos; certamente estaria ali oportunamente e somente por conta dos repastos que enchem barrigadas famintas, é claro; nada de bebidas para rapazotes ainda sem medidas dos temas de beberagem (e da vida), inda mais um aprendiz d’Arte que está mais para entreter do que ser entretido, convém não esquecer dos princípios e ordem das cousas.

E quando o caneco de cerveja chegou-lhe à mesa, se lhe alargou um sorriso de satisfação...


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Aristarco

OOC: Em meados de final de Julho do ano da graça de 1460...




Para encerrar aquele dia, chegara Aristarco finalmente à taberna e esta, diferentemente do ambiente citadino exterior que se recolhia cada vez mais enquanto o poente se fazia firme naquele domingo, encontrava-se em completa movimentação se não de alegria, então de copos indo e vindo, assim como beberrões a verterem goela abaixo verdadeiros barris em quantidade de cerveja e rum; sim, Montemor era assim aos domingos, afinal toda a rudeza dos trabalhos logo começaria no dia seguinte, e era preciso aliviar corações e intelectos em boa taberna...

O trovador pensava na longa viagem que estava por vencer mais uma etapa, as experiências convividas com os amigos-viajores, em momentos difíceis de exigências, assim como naqueles compartilhados que arrancam risada e festejo; pensava nas agruras de trechos nos caminhos, onde tempo e terreno pouco ajudavam, quando haviam de contar com a mão d’outro para prosseguir em frente.
As damas de Portugal ou de Castela a inspirar gentileza e cortesia por onde se passava, ou os bandidos e malfeitores a despertarem total e completa atenção nas estradas, a se armarem contra alguma vilania possível.
Não conseguia deixar de pensar nestas cousas todas, quanto mais chegavam perto de “casa”, sendo tocado pela típica contradição: vigília-sono, cansaço-descanso, bem-mal, partidas-chegadas, viagens-descanso, mudanças de estados contínuos e alternâncias teoricamente contraditórias.

Quando pensou naquela, talvez mais a atarantar os corações humanos, “vida-morte”, a de caráter mais decisivo.
Pediu um bom rum e ficou a pensar longamente naquilo... Até lhe alcançar o pensamento d’alguém que recentemente morrera, o rei castelhano, não muito tempo depois de sair a comitiva salaciense de Valladolid à regresso.
Morte é morte, seja de rei ou de escravo, de nobre ou plebeu, de ancião ou de infante, ou de qualquer outra alternância de espécie que se pensasse, acerca da contradição. Cessação da vida.
Ficou um pouco amuado então, e nem um barril de rum lhe poderia arrancar um riso porque a rudeza que sentia não era aquela dos dias, enquanto olhava aqueles convivas com tal destino, era aquela que às vezes espezinha o coração a fazer mover-se do tamanho d’um punho, para o tamanho d’um polegar.

Resolveu assim, amainar seu íntimo com aqueles “males” que já lhe acometiam, assim como suavizar o cansaço natural da chegada à Montemor, com uma cantiga que já criara no dia que soubera da morte daquel’ El Rey, mas sem alaúde, é claro (eis aí uma outra estória...), com uma melodia que já talhara lá com seus botões e ficava bem ao canto.
Então assim se fez audível em uma apresentação na taberna da vila, após alguns tragos...



EL-ZÉJEL

Mi Señor

Tristeza que hace muy sufrir,
Cuando mi señor morir.

En un día que hace mucha tristeza
Me pasa y me deja con la presteza,
Y devuelva a mí la fortaleza
Para esperanza ocurrir.

Tristeza que hace muy sufrir,
Cuando mi señor morir.

En noche que me encobre duramente
Me recuerdo del señor gentilmente,
Y venga un corazón cálidamente
Para entonces yo sonreír.

Tristeza que hace muy sufrir,
Cuando mi señor morir.



Cantara bem, chegando a repeti-la, apesar d’algum efeito do rum a começar a rodopiar a cabeça; só depois percebeu que eram as palavras de pesar que seriam entregues por missiva na já distante Coroa de Castela, à Marquesa de Santillana; e em castelhano, não em português, um descuido de seu cantarolar (talvez outro efeito do rum)...
Mas o próprio mestre-taberneiro que já lhe conhecia, bateu palmas e riu, e outros mais repetiram o gesto.
Uma breve transgressão não era de todo mal.

Isto deixou Aristarco um pouco mais à vontade, afinal, estava triste, ainda que não transparecesse.
O trovador fizera repetidas vênias de agradecimento, assim como se equilibrara um pouco para não cair n’uma ou n’outra...



OOC: é um tipo de canção medieval musta’rib com uma métrica muito peculiar, muito popular em al-Ândalus (que inclui porção de terra portuguesa).

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Aristarco

OOC: Em meados de Setembro do ano da graça de 1460...




Ao receber suas chaves da casa do governo, o trovador foi correndo lá ver a propriedade que tanto almejara por tempo, apertando-lhe o cinto e fechando os bolsos para todo e qualquer gasto trivial que ocorresse, excetuando-se suas obrigações com Martinho Albernaz, “o moço”, porque assim demandava o papel de mestre-trovador a prover um aprendiz, que nada lhe faltasse, seja estudo, sejam cuidados de alimentação, vestimenta, viagens e guarida às tarefas de trovadores.

Há algum tempo, aos convites (alguns bem pagos) pelos salões bem cuidados, realizava cantigas que lhe devolviam soma considerável, então melhora de vida já se fazia sentir, inda que a proposta d’uma casa de cantiga naquela vila de Montemor, tivesse lhe exigido um tanto da condição de vida espartana.
Se espartana condição era temporária, diferentemente permanecia com seu espírito estoico constante, um tanto zeloso com o equilíbrio das cousas e do desapego por tanta temporalidade ao seu entorno, a brevidade de tudo, passagem e “atualização”, como já falara um antigo filósofo d’Estagira; entretanto, atualização esta que levava ao fim, perecimento, porque no mundo sensível estava tudo isto e mui mais a olhos vistos; “constância para o fim atualizado”, vejais bem, pois vida e morte eram contradições de estados naturais, apesar da tristeza que ficava (e saudades, claro).

Já tinha seu bom burro, o Juventino, que neste momento se encontrava aos cuidados de Martinho na vila de Alcácer do Sal, em pedido curioso do aprendiz para permanecer algum tempo por lá, “às próprias expensas”, Aristarco se ria ao lembrar da missiva dele, como se isto ainda fosse possível com a formação que tinha.
Que não se entenda mal o trovador, Martinho até poderia saborear um pouco daquela vida por si mesmo, claro, mas longe estava o rapazote de ser verdadeiramente um trovador, faltavam-lhe maiores estudos de profundidade, inda que seu dom fosse inegável (talvez mais elevado que o próprio mestre, bem podia reconhecer, mas nada dizer para não fazê-lo vaidoso).
Também tinha seu cavalo Graelent, comprado com ajuda de um mecenas mercador da vila de Setúbal, um favor que jamais poderia esquecer, assim como também outra gran ajuda que recebera a participar daquel’ torneio de Justas Reais que se dera na época, propiciando todo e qualquer gênero de recursos; a montaria estava sob cuidados daquel’ mesmo mecenas, em seus campos setubalenses no momento, n’um pedido de Aristarco.

Por fim, sua pequena quinta a produzir gêneros da terra ao mercado, com uma casa a guardar seus livros, anotações de música ou filosofia, escritos de filologia e aqueles assuntos políticos e metafísicos, de contornos tipicamente humanistas.
Interrompera a compra de obras e tratados, porque eram mui caros e precisava pensar n’algum recanto do sertão lusitano, quem sabe um dia afixar-se na plaga, lugar “entre-caminhos” onde poderia deslocar-se melhor a todo o Condado. Já pensava em transferir mui materiais da vila praiana para aquele sertão montemorense, quando poderia propiciar mais oportunidades; e não fora ali em boa vila que começara a fazer cantigas?
Apesar de tudo, faltava-lhe o “alaúde mouro”, e que falta fazia, notai.

Ainda que o Destino lhe sorrisse com as rendas (ao menos por enquanto), não deixava de por suas velhas botas ao caminho empoeirado com alforje pendurado ao ombro, para cantar em tabernas, ruas e praças, lugares onde a trova tocasse coração, até mesmo às vila mais ermas e distantes, afinal trovador não era sofista como naquela Antiguidade: “comercializava” sua Arte porque precisava sustentar-se nessas necessidades de hoje, mas não menos a doava gentilmente diante o compartilhar da vida com as gentes.
“Porque nem tudo passa pelos dinares; mas tudo, ao irmanares”, ouvira certa vez um trovador mouro em al-Gharb quando um al-Kaid lhe perguntara por qual razão ora cobrava, ora não cobrava seus serviços, para homens de elevada posição ou para as gente simples.
Sábios mouros, mui sábios...

Enquanto caminhava até a propriedade, passavam-lhe à cachola mil cousas, mesmo seu coração já não era mais o mesmo, alimentando-lhe tão inusitadamente naquela vila, o que a vida fazia com as pessoas, ora essa, como é possível entender o que não se explica desde sempre.
Havia mui assuntos para resolver e mesmo assim procrastinava, difícil que lhe estava n’algo concentrar; andava a flanar pelas vielas e ruazinhas de Montermor...


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Jadhe


Sentada ouve atenciosamente as palavras de Aristarco.

- Ouro para os ouvidos, nosso ser revigora-se ! Presenteie- nos com mais...
Aristarco



Aristarco já estava em Montemor há alguns dias, quando viera passar tempo com suas estimadas amizades nestas terras em que havia encontrado, porque estas cousas são assim mesmo, nada melhor do que “matar tempo” com boa convivência fraterna; eis aí sempre algo bom se fazer, sem qualquer admoestação à semântica, pensava lá consigo o também interessado em assuntos de língua e filologia.

Neste ínterim, também além da convivência por si mesma razão suficiente daquela estada, seria preciso dizer que a “natureza d’um ente” acabava por ser regente, e aqui ao caso, a natureza d’um trovador que era jamais deixar de se apartar das questões que envolviam cantigas, trovas, rimas e toda munição que as palavras e sonoridades poderiam amparar.
Eis aí novamente as tais inclinações.

Quando nas altas horas da noite, encontrava-se naquel’ silêncio do quarto, apenas rompido por trilar de grilos, coaxar de sapos, piados de aves noturnas, inda sim, era-lhe silêncio (do íntimo).
Um pequeno castiçal com três longas velas lhe propiciava luminosidade suficiente para escrever à vontade suas anotações e rabiscos, sobre muitos assuntos.

Naquele momento, escrevia acerca de Heráldica, quando estudava alguns pergaminhos que tratara após as Justas d’Aclamação da Rainha Ana de Monforte, pois mui vira os mais variados escudos (inclusive se arrojara contra alguns...).
As cousas da peleja reverberavam de mui jeitos (alguns esquisitos) para Aristarco, certamente.

E por falar naquele tema bélico, também rememorava a peleja que acontecera em Montemor acerca d’uma velha luta helênica de tempos mui antigos, já escrevera há tempos o humanista sobre considerações do “pankrátion” com suas relações etimológicas históricas, a fim de entender os textos antigos dentro da cultura dos gregos.
Em algumas passagens, dentre os poetas, como o velho autor ateniense Aristófanes, a terminologia mais evidente era justamente de “pagkratiastôn téchne”, algo realmente curioso.
Algumas fontes precisariam ser revistas e pesquisadas, para não agora, provavelmente quando fosse à Biblioteca d’Ourém, naquelas cercanias da vila de Leiria...
Sentia-se mais à vontade para lá consultar, com muito gosto.

Quando finalmente, pensou se não poderia fazer uma cantiga sobre este evento, quem sabe até apertar as mãos dos criadores de tal ideia, singularmente tão devotada às causas montemorenses, afinal eram dias difíceis em que cada súdito carecia d’algo ajudar; nada mais condigno que esforços como aquele em questão.
Mas que geniais eram aqueles gregos, inda a trazerem presentes para esses tempos de hoje.

Enquanto não tomava forma uma ideia da trova sobre tal tema, Aristarco resolveu (por uma súbita inspiração) deixar de lado os tratados heráldicos para imaginar uma melodia que conviesse com uma letra (sobre heráldica, pasmai) que escrevera recentemente, justamente naqueles devaneios d’uma atividade ou outra ao silêncio da noite...
Cantarolou baixinho (antes que algum vizinho lhe viesse aos murros na porta) e rabiscou notações musicais para a seguinte cantiga:



AL-ZAJÁL

Azur*

Céu azolum que enfeitiça,
Faz a mha alma castiça.

Quando miro por alto,
Co Verdade faz ornato,
Que assi por mui exalto:
Azur m’ engraça.

Céu azolum que enfeitiça,
Faz a mha alma castiça.

Quando mo lembra cançom,
Co Justiça ao coraçom,
Que vai dar inspiraçom:
Azur m’ enlaça.

Céu azolum que enfeitiça,
Faz a mha alma castiça.



Já não mui distante veria novamente o céu azul da manhã que tão logo se aproximava.
Recordaria condizentemente sobre a Justiça e a Verdade que haveriam de inspirar todas as vezes que para ele, em sua imensidão, se dirigisse...



* OOC: cantiga/trova (al-zajál/el-zéjel), mas já com recuperação de elementos (e não apenas métrica) galaicos medievais.

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Elisabeth.swann


Elizabeth delicia-se com cada palavra da trova....


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Aristarco



Aristarco andou apoquentado de um certo humor tipicamente “invernal”, ou certamente consequência daquel’ Inverno rigoroso que se afirmara na terra, mal acostumado que se encontrava porquanto suas mais longas origens (de vivência) encontravam para lá do mais distante sul da Ibéria, no calorento al-Gharb; bem teria de se acostumar, paciência, mas qual homem não se acostumaria com as intempéries ou mudanças bruscas, quando a maior parte das cousas não repousa em suas mãos (como a natureza), mas tão somente aquelas dentro de si ao âmago ou espírito?
Mas não fazia mal, mesmo o seu “humor invernal” passava distante de grande ruptura que pudesse atravessar o caminho para com as demais gentes: não se tornava ermitão, tampouco a avançar como animal selvagem ao espaço alheio (afinal, humor humano visto alhures, era algo tão incerto quanto o acaso).

Ademais, o tempo havia melhorado, a neve que tanto castigara já recuara talvez a esbravejar apenas em seu encontro inicial com o mundo (ou naquela parte, do mundo), ela mesma se rendia à força incompreensível da mudança, serenando lentamente, serenando e serenando aos poucos, dando passagem e a perder vigor, como se envelhecesse para outro rebento (estação) nascer, ainda que ela própria renascesse em ano vindouro; tudo era um mistério, usualmente belo, para o trovador (exceto os pés gelados, dentes a batucarem na boca, movimentos do corpo humano como bonecos de pau e... enfim).

Talvez fosse hora para pensar nas cantigas, pois a garganta já deixava de ser agredida e arranhada pela lâmina da friagem, além das beberagens quentes que relaxassem a mesma (e não somente); os chás da terra lusitana faziam mui bom efeito realmente, ainda que fossem deveras saborosos aqueles outros que tivera oportunidade de experimentar n’O Porto, preparado por uma dama de origem da “terra dos pictos”, como diziam os romanos.

Sim, em breve o Inverno partiria, sem não antes deixar o trovador pensativo pela própria força do recolhimento aos pensamentos (de tanto frio, porta afora de casa), já ensejando o “al-Musta’rib” a verter aquela sorrateira vontade para deslizar pena ao pergaminho e cantarolar as rimas...


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Aristarco



Aristarco naqueles idos por onde avançava um Abril primaveril (e promissor), andou adoentado, ora por cousas daquel’ mal que acometia as gentes, ora por um mal estar seguido de tosses e espirros, bem que se a vida não era dadivosa quando nas necessidades dos homens – pois havia mui miséria e fome alhures – não se podia dizer que não era menos generosa nas pragas a abraçarem corpos daqueles que respiravam.
Curioso equilíbrio lá se lamentava Aristarco, quando na carestia d’um, sobravam d’outro, espantoso equilíbrio que usualmente lhe escapava a razão...

E naquel’ temperamento que bem guardava para si, a não despertar desassossego alheio (pois lhe bastava o seu), apanhou seu alaúde mourisco da velha Córdova para compor uma canção disparatada acerca d’um estado que às vezes lho acometia, especialmente quando se recordava dos ataques de espirro a obrigá-lo manter lenço a mão por boa parta das tarefas que realizava (mas a pior de todas era comer, como lhe custava).



QUARTETO
(com mote vilancico)

Mote

“Do corpo descurado
Ao coração profano,
Vida colhe mui dano.”

Coplas

“Como se já não bastasse
As parcas esperanças
De inverno que durasse,
Jazem pobres heranças.”

“Também faz-se fealdade,
Como areias que escapam
Pelos dedos, brevidade
De destinos que esfiapam.”

“Pois os céus não enganarão
Um homem quando deita:
Seus dias s’ assentarão
Co tristeza e maleita.”



Tentou tocá-la por inteiro, mas toda vez que chegava ao fim do último verso do primeiro quarteto, “jazem pobres heranças”, lá aparecia a voz arranhada com sonora tossida, ou narina que mui coçava em desajeitado espirro. Quisera pelo bom Sado que jazessem as pobres heranças das maleitas o quão antes, porque o Inverno teimara em pregar doentia peça enquanto se despedira.

Contudo, nada disso era para ser levado tão a sério, pois os dias custosos também ganhavam seu lugar na boa voz e ao bom alaúde cordovês de Aristarco – especialmente tempo depois das agruras... –, eis uma das poucas cousas que lhe alegrava naqueles dias difíceis de mui trabalhos (e espirros violentos e tantas mais impropriedades): o flanar que uma rima musicada provocava...


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