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Info:
This is a little story about Sans Ximeno (NPC), The Master-Baker, when he was working to prepare breads to the Montemor's "Alcaide". Sadly, not for long time...

[RP] Castelo de Montemor – Os Fornos do Paço dos Alcaides

Segrel

OOC:
» Apesar de limitado, por ser um edifício interno do complexo da Casa do Povo (Paço dos Alcaides), é um tópico aberto para a participação de todos os jogadores, desde que atentando a este quesito (e bom senso).
» Não esquecendo que é tópico somente Role Playing, portanto, esmera na ambientação da personagem, descrição das ações, humores e das cenas, além de boa interação. Usa a criatividade e enriquece o fórum.







[Fevereiro de 1461]

Ainda que no Inverno houvesse um rigor naquel’ ano, e por mais que visivelmente recuasse gradativamente, o frio não era pouco, quando nas sombras da noite que caiam lhe acompanhavam ao alforje certa rudeza da intempérie; a neve rapidamente se fora, mas seus efeitos pareciam resistir em dar lugar para a outra estação.

Não que isto fosse novidade, mas em uma construção abandonada pertencente ao complexo do Paço dos Alcaides de Montemor (ou Casa do Povo, como alguns diziam), ganhava certa vida e não menos um grande calor que lhe habitara.
E não se falava mui trivialmente do calor humano montemorense, não vos enganais, porque isso sempre lá foi mui sabido, mas justamente do calor produzido por uma fornalha que fazia crepitar madeiros, debaixo d’um forno improvisado que ali existia; um ajudante, contratado apenas para a tarefa, usava um fole para atiçar aquela brasa toda, enquanto outro logo ali em uma grande tábula preparava massas com cuidado.

Tudo isto sob comando vigoroso do mestre-padeiro Sans Ximeno, um castelhano com distante origem dos “vascones”, que viera de Valladolid para tentar nova vida no promissor sul da península, e acabara por parar justamente em Montemor enquanto descia para Córdoba.
E não viera sem mestrança: tinha uma carta consigo da guilda castelhana a atestar o oficio por inúmeras gerações de sua família, o que era difícil pensar em primeiro instante porque mestre-padeiro teria saído da terra em que nome corria, para um futuro incerto em terras mouras (e para agora, ainda no meio do caminho, lusitanas).
Mas os homens são assim mesmo, cada qual com suas razões carregadas dentro de si, mui vezes bem escondidas e nunca compartilhadas, pouco se arrancaria do castelhano acerca de reais motivos.

E Sans Ximeno conheceu felizmente Aristarco, em uma taberna quando seu castelhano atraíra atenção do trovador, a descobrirem que tinham algo em comum, o próprio burgo de Valladolid, pondo-se Aristarco a soltar voz nas cantigas pucelanas que compusera naquela época de viagens.
O castelhano marejava os olhos ao ouvir sua língua cantada, ainda mais sobre sua terra natal o burgo mui amado, porque as saudades lhe apertavam o peito.

Repentinamente, como quem corrige enganos em momento agudo, levantou a voz:

- Más fuego! Más! Harás una cuenta de uno hasta quince, entonces utilice el fuelle así…- então ele mostrou ao ajudante enquanto fazia a conta, - Uno, dos... catorce, quince, ahora!

O ajudante, atento e com o olhar aguçado, ao seu turno fez tão precisamente contando até quinze e pressionando o fole, que tirou observação do castelhano:

- ¡Sí! ¡Muy bueno! ¿Fácil no? Has atención en la cuenta y todo más será simple.

- Sim, senhor Sancho, estarei atento na contagem… respondeu o jovem, um pouco receoso d'alguma ira do mestre.

O castelhano riu baixo, já se acostumava ao jeito com que os portugueses lhe chamavam; em verdade talvez lhe fosse mais fácil compreender os portugueses do que outros estrangeiros que chegavam em Valladolid, como aqueles naturais da Catalunya (de língua mais ou menos esquisita).

Porém e o mais importante de tudo, é que o trabalho não parava, fosse ele em Catalunya, Castilla ou agora, no Portugal...


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Aristarco



Finalmente regressara ao Paço dos Alcaides daquel’ bom burgo.
Entretanto, antes mesmo de subir as escadarias da Alcaidaria, deteve-se por um momento, um pouco perdido para respirar o ar frio daquel’ dia, quem sabe não lhe ‘queimasse’ as entranhas a fim de levar tudo de dentro embora, como bem gostaria ao expirar.

Subitamente lembrou-se do bom castelhano Sans, não tão distante dali, então resolveu abandonar a ideia de ir ao “scriptorium” para dirigir algumas passadas mais até aos Fornos, que deviam estar a trabalhar desde antes do sol raiar, ao final das Laudes; mesmo por que, Sans Ximeno gostava de começar logo cedo suas tarefas, ainda que a demanda não fosse lá tão exigente, conforme prosara com Aristarco.

O trovador então contornou o edifício para chegar ao pátio da retaguarda, onde outros ajudantes, guardas e gentes do Paço passavam cada qual com sua obrigação; cumprimentou-os enquanto dirigia-se mais ao fundo do terreno, onde estava uma construção em mal estado, mas que de seu teto com uma chaminé de pedra, produzia uma fumaça vista desde longe.
Também à medida que se aproximava, um odor mui agradável tomava-lhe as narinas, não poderia ser diferente diante a substância que ali se produzia, tanto pães e doces quanto outros regalos que o castelhano gostava de dar satisfação nas barrigadas alheias (ele mesmo, mais experimentava para saber se estava algo bom do que desfrutava).

Aristarco meneou a cabeça levemente ao soldado que estava à porta, infelizmente fora preciso deixá-lo ali ou o mestre Sans nunca conseguiria trabalhar em paz, além de fornadas (especialmente de doces) correrem perpétuo risco de jamais ficarem prontas, tamanho era o “interesse” da gente do Paço, do burgo e de sabe mais lá quem ali parava para “dar olhada” (ou petiscada...) no que se aprontava com os fornos acesos...

Estava quente ali dentro, Sans Ximeno veio logo cumprimentar com seus trejeitos castelhanos, largo sorriso a melhorar até mesmo o cinzento Aristarco daquel’ dia; interessante às vezes quando um temperamento alheio se refletia ou influenciava d’outrem, ainda que nada disto indicasse factualmente (no máximo, casualmente) uma gran suscetibilidade.
O castelhano, de espírito aguçado como bem se veria, trouxe imediatamente um doce típico de Castela que acabara de preparar e disse com ânimo:

– Ándale... ¡Debes comer esto ahora, ya!

O trovador seguiu a ordem de Sans Ximeno, e mordeu imediatamente o preparado, experimentando-o; e não é que estava bom?
Aristarco devolveu-lhe um sorriso como agradecimento.

O castelhano já a rir, satisfeito com a própria mestrança a mudar humores, disse:

– Los moros llaman de “al-Hasú”, mientras nosotros de Castilla, llamamos de Alfajor… ¿Bueno, no?

Aristarco meneou a cabeça positivamente, como se houvesse entendido a novidade; mas ele sabia bem do nome mouro e castelhano do doce, afinal comera um tanto daquilo em al-Gharb al-Ândalus, enquanto Sans Ximeno nada sabia da historia do trovador.
E a vida era assim mesmo, pouco ou nada se sabia das pessoas, mas ainda sim se podia compartilhar um sorriso aqui e ali...


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| Secrétaire Royal | Minstrel of Gharb al-Ândalus | Flemish-breton of Iberia: al-Musta'rib |
Segrel





[Meados da metade daquel’ ano de 1461...]

O castelhano passou pela amurada do castelo caminhando em boa passada como se fosse ele oriundo das gentes do norte, apesar da complexão tão tipicamente ibérica; tinha alguma pressa e a chuva bem fazia mudar o ritmo dos andantes, como se tão pode compreender...
Seu tempo também estava escasso, era preciso arrumar mui cousas ainda, toda sorte de gêneros que se carece durante a precisança, comidas, roupas, proteções, essas cousas todas dos viajores.

Aristarco já partira há dias, mas algumas cousas que deveriam ser concluídas, ficaram às mãos do pucelano, mesmo depois.
Sans Ximeno (ou Sancho, enfim), não era um criado ou serviçal de Aristarco, mas tinha apreço a ele para se colocar à disposição em tudo que lhe estivesse alcance, porque fora exatamente assim que o trovador também fizera para com ele na sua chegada ao condado lisboeta; também já não se tratava de quitar favores, porquanto com o tempo, já nutria afeição pelo moçárabe que demonstrava querê-lo bem de maneira igual.
Comprazia-se o castelhano sobre o aspecto de que o trovador conhecera e tinha amor por Valladolid, terra-natal do mestre-padeiro, algo não menos decisivo e definitivo em seu julgamento àqueles que ele trazia para seu círculo fraterno.

Quando entrou na construção em que estavam os fornos, olhou-a com saudosismo, lembrando-se de como encontrara assim que pusera os pés nela pela primeira vez, tão diferente, tão rude e cheia de tarecos; e agora, tão bem cuidada e organizada, parecendo realmente parte das cousas públicas daquel’ burgo, como bem convinha sê-lo.
Não foi uma tarefa fácil, mas com ajuda de Aristarco, do “al-Q’aid” – como dizia o trovador – entre vários outros (alguns até que já haviam partido), os fornos funcionaram rapidamente, dotando a construção antes abandonada, talvez uma das mais visitadas, sobretudo pelo talento do padeiro em sua Arte, costumeiramente interrompido durante os trabalhos...

Enquanto arrumava seus trens em um quarto adjacente onde morava, os dois principais ajudantes vieram saber o que se passava. E Sans, ainda sentado à cama enquanto enchia as trouxas, explicou-lhes não apenas sobre o trovador, mas também sua própria decisão.

Pela primeira vez, não eram as ordens do mestre-padeiro, ora com arrojo, ora com risadas, que ecoavam naquel' lugar, mas tão somente a tristeza, um dos ajudantes até chorou porque mui gostava do temperamento do castelhano, a ser dito que haviam mui aprendido naquela convivência, com mui orientações; enfim, as despedidas são assim, sempre com rasgos de afastamento que lhes dão substância.
Mas pouco ou nada poderiam fazer aqueles para demover o velho de suas intenções, apenas aceitar e aplicar tudo o que tinham aprendido, pois Sans exigia claramente não menos do que isso, caso quisessem honrar a amizade com ele assim como ao ofício.

Aquilo tudo não demorou longo tempo, enquanto conversavam para rememorar cousas em comum; até que resolveram finalmente sair.
Os ajudantes foram à frente, cabisbaixos e desalentados, e o pucelano lhes pedira que se encontrassem à entrada do Paço, porque iria recomendá-los ao Alcaide e haveria de lhes aprontar com esta novidade, quando sentira que era forma de agradecê-los e encaminhá-los na arte.

Sans Ximeno, já debaixo da soleira da entrada, recuou novamente para dentro e olhou para o grande cômodo onde estavam os fornos, agora frios e sem fogo, bem apagados, “en reposo momentáneamente”, pensava consigo (ou simplesmente desejava, “ojalá, ojalá...”) o mestre-padeiro.
Com a sensação apequenada pelos acontecimentos, deteve-se um tempo divisando, e finalmente despediu-se com um suspiro e olhos marejados daquel’ lugar que por um tempo feliz se dedicara.

E então fechou a porta e passou a chave, com alguma dificuldade, pois as mãos lhe vacilavam...


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