Leonardo observou enquanto Bacamarte dava sua confissão acerca das armas em seu porão. No entanto, confrontado com a última pergunta de Anton, Bacamarte olhou para a filha, que chorava fino como um irritante miado de gato e com grande resignação nos olhos, emudeceu.
-Ao inferno, Bacamarte! Maldito! Quem te contratou? - Leonardo vociferou, os olhos faiscantes de raiva.
Nesse momento, Charlie colocou a garota de joelhos, de frente para o pai, e agarrando os cabelos da moça mais uma vez pressionou a lâmina afiada no pescoço alvo dela.
- Se eu não contar, vocês me matarão, se eu contar, ele me matará... - Bacamarte falou simplesmente.
Profundamente irritado, Leonardo socou com força o músculo diafragma de Bacamarte, logo abaixo do peito. O homem logo se contraiu, sem ar algum, mas forçado novamente a se erguer pela lâmina no pescoço. Bacamarte então apontou para algo em sua escrivaninha e guiado pela adaga de Leonardo, ele abriu uma das gavetas, revirou um punhado de cartas e entregou uma delas para o rapaz que o rendia.
Leonardo leu. O conteúdo era obscuro, porcamente traduzido, o remetente não se identificava, falava de negócios urgentes, das vantagens de se trabalhar pra ele e nomeava um intermediário:
Volpone. Neste ponto da carta, Leonardo foi surpreendido.
Bacamarte se aproveitou da distração de Leonardo, para tomar da mesma gaveta um punhal e estocar o rapaz. O movimento não foi completamente bem sucedido, dado os reflexos do jovem rapaz terem agido, uma vez que o fato de Bacamarte ser canhoto retardou o movimento, porém fora suficiente para fazer um corte transversal levemente profundo no peito de Leonardo.
Reagindo ao ataque de Bacamarte, Leonardo o chutou com força, para conseguir ganhar certa distância. Algo impressionante é uma luta de facas. Os dois opositores confrontavam-se olho-no-olho e avanços agéis e golpes rápidos cediam para os reflexos e desvios. Bacamarte não era um exímio lutador, mas com o pouco que sabia estava conseguindo manter-se vivo, Leonardo ainda não havia completado seu treinamento com espadas, mas conhecia a adaga e era mais jovem.
Num golpe cansado de Bacamarte, ele aparou o punho de seu algoz com seu braço esquerdo e tratou de perfurar violentamente o antebraço de Bacamarte, estraçalhando o nervo mediano e fazendo o crápula largar o punhal com um grito de dor lacerante. Leonardo puxou o punho de Bacamarte e o impediu de tomar distância, em seguida, num movimento de puro impulso e furor esfaqueou Bacamarte pelo menos dez vezes antes do pesado corpo do homem cair ajoelhado aos seus pés.
Leonardo estava banhado no sangue do assassino de seu padrinho, ofegante. Aquele era o primeiro passo para sua vingança. Antes que a vida se extinguisse de Bacamarte, Leonardo levantou a cabeça do homem e olhou nos olhos dele com o olhar de uma fera e viu o homem morrer.
Um longo momento passou antes que qualquer um daquela sala se movesse, um momento floreado pelos gritos de dor de Ana Bacamarte e do som dos pés dos guardas que entravam na casa principal...