Leonardodavinci
Toscana, 1454
O desacordo
Leonardo, uma pequena criança de sete anos, sentado no peitoril da janela, balançava suas pernas sentindo engraçado o vazio abaixo de seus pés. A paisagem que podia ser vista a partir daquela janela que ficava num dos corredores da mansão dos Montevani era esplendorosa, no entanto, o pequeno Leo já estava cansado dela, queria estar de volta a sua casa em Firenze.
A criança ficou ali por alguns minutos, pensando em sua mãe, que já não via há anos. Ele se lembrava pouco do rosto dela, mas tinha uma lembrança clara dos cabelos castanhos e grandes, que ele gostava de enrolar entre os dedinhos pequeninos. Leonardo era o filho ilegítimo de Messer Piero Fruosino di Antonio Davinci, um homem rico, mas desdenhoso em relação ao garoto. Ali naquela janela, Leonardo estava como na maior parte do tempo: sozinho.
Quando repentinamente ele sentiu um puxão forte em sua blusa que o trouxe de volta para o interior da mansão. Alguns tapas na cabeça e o garoto foi jogado ao canto da parede. Ele se levantou rápido, com os olhos cheios de lágrimas, de frente para seu pai, que o encarava com os olhos cheios de desprezo.
- Não me faça a desfeita de cair da janela da casa de nossos gentis anfitriões, Lionardo! - o pai do garoto falou friamente e levantou novamente a palma estendida para mais alguns tapas.
- Deixe-o, Messer, é apenas uma criança. - Interviu o patriarca dos Montevani, tocando o braço do pai de Leonardo gentilmente, em uma postura apaziguadora. Logo que Messer abaixou a mão e pareceu se acalmar, o Montevani prosseguiu. - Vamos, temos muitos assuntos a resolver hoje.
Só daí Leonardo viu, que seu pai e o senhor Montevani eram seguidos por alguns homens totalmente estranhos, todos andando com uma postura perfeita e passos pesados. O mais novo daqueles homens, era um rapagote de pouco mais de 15 anos, que passou pelo pequeno Leo segurando um riso de deboche, enquanto os outros seguiram com suas expressões faciais incólumes, como se a criança sequer existisse.
Quandos eles viraram a esquerda, Leonardo pôde ouvir.
- Por aqui, senhor Franchini, aqui é o meu escritório. - era a voz do patriarca Montevani que soava por aqueles corredores antigos.
Leonardo ficou por ali mesmo, ao longo de toda a reunião dos dois patriarcas. O pequeno rapaz sentia o ímpeto de voltar a se balançar na janela, mas o temor do seu pai era maior do que o desejo de sentir a vertigem. Após algum tempo, era possível ouvir gritos exaltados vindos de dentro do escritório do Montevani. Os assuntos parecem ter chegado a um ponto crítico e ambos os patriarcas estavam em completo desacordo.
Não demorou para que a porta fosse aberta e saindo de lá abruptamente, os Franchini ficaram a amaldiçoar.
- Malditos Montevani, avarentos e arrogantes! Ao inferno com vocês todos! Vocês terão o que lhes é devido. - vociferava o Franchini, com o punho cerrado erguido.
Leonardo observava de longe aquela cena. O patriarca dos Montevani tentava trazê-los de volta a negociação, mas o patriarca dos Franchini cuspiu no chão e deu as costas, sendo seguido pelos outros homens. Eles atravessaram o corredor, Leonardo se espremeu no canto para sair do caminho daqueles adultos enormes aos olhos do pequeno.
O garoto viu os rostos de todos eles, mais tarde ele teria o desprazer de se encontrar de novo com aqueles homens. O rapagote, era um dos filhos do patriarca Franchini e imitava a carranca que fazia seu pai. Os outros dois, eram Alberti Giacomini, conhecido como o Volpone, e Lando Abbiati, dois homens relacionados a todo tipo de crime pérfido.
Após vê-los sumirem descendo as escadarias. O pequeno Leo, sem entender, procurou estupidamente por seu pai. Ao se aproximar do escritório, ele ouviu o fragmento de uma conversa.
- E agora, Domenico? - perguntou o pai de Leonardo ao Montevani.
- Agora é guerra. - respondeu o patriarca melancólico com um longo suspiro.
Assim que Messer notou o filho diante da porta, ele lançou a ele uma vez mais o olhar de desprezo, mas invés de disciplinar o bastardo, se contentou em fechar as portas do escritório.
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