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[RP] O discípulo

Adriano


O velho mestre ferreiro aguardava a chegada do rapaz a quem devia treinar a pedido do Prior de sua Ordem, mas o jovem estava atrasado, e qual não foi a sua surpresa quando em lugar de escutar a voz do jovem, foi outra a voz que lhe falou.

Boa noite Adriano. - disse o dono daquela voz balsâmica - Fico agradecido que tenhas aceite meu convite.

A honra é toda minha, meu senhor. - disse o velho quando começava a fazer uma vênia ao Prior, quando foi interrompido por este. -Pois apenas sei dos metais e da forja meu senhor Prior. - disse humildemente perante as palavras do Viana.

Mas antes de qualquer outra coisa ele mudou de assunto, enquanto olhava o céu noturno, ao que o velho ferreiro tentou ver o que aquele que era o líder de sua Ordem observava nas estrelas, mas com sua parca visão, nada viu além das manchas de luz contra o fundo escuro da noite. Mas o Prior tinha razão, havia algo diferente no ar, e ele podia sentir isso nos ossos.

Um ligeiro escalafrio percorreu a espinha curvada do ferreiro, que foi logo afastado por um suave toque da mão do Prior sobre seu ombro. E ambos conversaram sobre os avanços que o menino Viana-Lobo vinha fazendo.

-Hmpf, o tolo ainda tem muito por aprender. Mas talvez esse consiga aprender o que tenho a ensinar.- concluiu o velho. Após isso eles se despediram, e o Prior partiu, desaparecendo tão suavemente como havia aparecido.

Momentos depois outra pessoa chegou, mas dessa vez foi Adriano quem falou primeiro.

- Estás atrasado. Acaso é que não queres ser ferreiro?! repreendeu ao jovem aprendiz que acabava de chegar.-Vamos, entre e acenda o fogo.
Johnrafael


Fora traído pela Valeriana. Dormiu demais, aquele sono pareceu uma eternidade. Acordou-se com o sol sumindo. Vestiu-se e saiu às pressas. A brisa amena do verão estava diferente naquela noite. Não entendia o motivo, mas perdeu-se pensando nisso. Atrasou-se para a hora de chegar à forja.

- Estás atrasado. Acaso é que não queres ser ferreiro?! Vamos, entre e acenda o fogo.

"Jah Altíssimo, mas que homem insuportável..." Acendeu a fornalha e foi alimentando-a cuidadosamente. Primeiro madeira mais fina, para queimar rápido e garantir que o fogo não se extinguisse de súbito, depois troncos mais grossos, que serviam de combustível mais duradouro para as labaredas fortes.

-Pronto, Mestre. - Colocou suas luvas (não iria esquecê-las jamais, não queria outra tarde como aquela) e esperou que Adriano lhe desse alguma ordem.

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Adriano


Pronto, Mestre. - havia escutado o jovem dizer. O crepitar das chamas era quase audível com o silencio da noite.

Adriano, com passos lentos mas firmes, se aproximou da forja e observou as labaredas a lamber a superfície da madeira. O arranjo da madeira era aceitável, o que valeu ao jovem aprendiz um - Hmm - do velho mestre. - Fizestes o fogo. Agora tens de mantê-lo em temple até a alvorada. Mas só podes usar aqueles madeiros. - Concluiu o ancião indicando a tina de resfrio, onde três madeiros estavam empapados com a água que o jovem normalmente utilizaria para resfriar o metal retirado da frágua enquanto as chamas se refletiam de maneira quase sobrenatural em seus olhos escuros.
Johnrafael


-Fizestes o fogo. Agora tens de mantê-lo em temple até a alvorada. Mas só podes usar aqueles madeiros.

"-Lenha Molhada? Como manterei o fogo com lenha molhada, velho maldito?" - Era o que queria dizer. Mas o que disse foi "Sim , mestre."

Retirou a lenha molhada da tina e colocou-a, empilhada, na boca da fornalha, mas sem tocar o fogo. O calor trataria de secá-la.

As horas que o fogo demorou para secar a lenha molhada foram suficientes para Rafael decidir o que faria. A água tinha feito os velhos troncos de faia ficarem com a casca enfraquecida , e o calor lhe reendurecera, mas dilatou as cascas, de modo que a primeira coisa que o jovem fez foi descascar todos os troncos, à faca. A fogueira começava a perder força, então ele partiu as cascas e foi atirando-as lá dentro, devagar, alimentando o fogo com a prudência que teria ao alimentar um leão.

Pouco mais tarde, já passava-se e muito da hora máxima da noite (mas nem por isso a alvorada chegava mais rápido), e então Rafael partiu um dos troncos em pedaços de madeira similares a galhos. e com eles fez uma base sobre a lenha já queimada. Depois partiu o segundo em dois e mandou para as labaredas. Por fim, o maior, inteiramente descascado, sobre os demais.

Já havia passado muito da noite. Sentou-se no chão, ouvindo o estalar da lenha em chamas, vendo as chamas lamberem os troncos com seu beijo rubro, e torcendo para aquele arranjo durar até os primeiros raios do sol do verão. Mas parecia que o Sol não voltaria.

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Adriano


Adriano observou, sentado em um canto em silêncio como o jovem resolvia o problema por ele imposto e gostou, ainda que não o demonstrasse, do trabalho do jovem aprendiz.

O fogo havia se mantido, apesar das chamas terem vacilado em alguns momentos, o jovem sabia manter o fogo aceso mas um bom ferreiro não deveria saber apenas manter o fogo, mas também controlar sua intensidade valendo-se das ferramentas de seu oficio.

O jovem havia se sentado no chão, deixando que fogo seguisse seu curso, e foi naquela mesma posição que o velho mestre encontrou o jovem quando retornou com um pesado bolso de couro. No interior do bolso havia um pedaço deforme de metal. Parecido em forma a quando uma folha de pergaminho é amassada em uma bola.

- Tome isto, sinta-o, veja em seu interior, aqui está a origem de qualquer lâmina ou ponta existente. - Dizia em um tom de voz quase apaixonado pela deforme peça metálica. E então tomando o pedaço de ferro das mãos do jovem aprendiz, lançou-o sem qualquer miramentos ao interior da forja. - Comece a trabalhar. Vejamos se você aprendeu algo com as pedras.- disse rispidamente, voltando ao tom de voz anterior, e proferindo dois precisos golpes de vara nas pernas do jovem para que se levantasse mais rápido.
Johnrafael


Os golpes atingiram as pernas e o jovem Viana caiu de mau jeito. Mas dois, e mais dois, e mais dois. Após alguns golpes em suas pernas, levantou-se e retirou o ferro do fogo.

Pegou o martelo e TIIIN... Não, fora muito forte. Se fosse com aquela coisa que usara na pedreira, seria um corte lancinante. De novo... TIN... Não, muito fraco agora, nem arranhou o aço.

Respirou por um segundo o odor acre e fumegante do ferro incandescente e bateu. TINN.... Assim. Agora teria de repetir isso mais vezes. TINN TINN TIIIIN. A terceira marcou o aço. Seus olhos estavam lhe traindo ou não contivera a força? Parou por alguns segundos, e antes que Adriano lhe pudesse dar outro golpe, saiu da frente da bigorna. Molhou um trapo velho e vendou os olhos.

-Não deixarei que os meus olhos me enganem. Mestre, se eu errar, acerte-me com a vara.

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Adriano


-Não deixarei que os meus olhos me enganem. Mestre, se eu errar, acerte-me com a vara.

Não bem John havia terminado de proferir aquelas palavras quando Adriano fez a vara zumbir no ar propinando um forte golpe nas costas do jovem aprendiz. - Menino tolo! Tire isso dos olhos de uma vez! - O ar zumbiu em torno a vara que novamente se abatia deixando outra marca vermelha no rapaz. - Acaso achas que é fechando os teus olhos que vai conseguir aprender a perceber os matizes do metal! Seu tolo! - Uma vez mais a vara cortou o ar e se deteve contra o corpo do jovem Viana Lobo, dessa vez nos braços. - Deixe de criancices e trabalhe direito!
Johnrafael


Retirou a venda e prosseguiu, constrangido. Teria que arranjar uma outra forma. Seguiu então, com maior cautela em reproduzir ao máximo as batidas corretas, como as da pedreira. E elas iam no ritmo certo, à exceção de uma ou outra batida que destoava, mas raramente.

Algum tempo depois, a disforme peça de metal ganhava contornos cuneiformes, que com mais algum trabalho, logo se tornaria uma pá.

Estava começando a cansar, mas não pararia. Continuaria fazendo a peça a seu ritmo, até que o mestre lhe interrompesse.

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Johnrafael


Retirou a venda e prosseguiu, constrangido. Teria que arranjar uma outra forma. Seguiu então, com maior cautela em reproduzir ao máximo as batidas corretas, como as da pedreira. E elas iam no ritmo certo, à exceção de uma ou outra batida que destoava, mas raramente.

Algum tempo depois, a disforme peça de metal ganhava contornos cuneiformes, que com mais algum trabalho, logo se tornaria uma pá.

Estava começando a cansar, mas não pararia. Continuaria fazendo a peça a seu ritmo, até que o mestre lhe interrompesse.

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Johnrafael


O velho mantinha-se imóvel. Indiferente ao ele, o jovem Viana seguiu com o trabalho. Bateu, limou, amolou e colocou o cabo na pá. Após um certo tempo, o trabalho estava concluído.

Citation:
24/09/1461 13:48 : Produziste um(a) pá.


Um pouco cansado, evidentemente, pois já desde a manhã trabalhara sem trégua, e a segunda hora da tarde já aproximava-se, pediu a um miúdo que por ali passava que fosse na tasca e lhe trouxesse pão e carne. Trazida a refeição, sentou e começou a comer. Mas Adriano não se mexera-se nem uma polegada de sua cadeira.

-Mestre? Não comes? - Perguntou John.

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Adriano


Adriano observava cada movimento do jovem aprendiz, cada martelada que dava, cada sopro de ar da fole que aumentava o brilho das chamas na forja.

Ficou ali sentado observando, o jovem aprendia rápido. Era um pouco teimoso, mas tinha algo de talento, e o velho mestre percebia isso em cada movimento que o jovem fazia.

Observou como a peça informe de metal foi tomando a forma da cabeça de uma pá, como o jovem selecionou a madeira e colocou o cabo, a ferramenta estava pronta.

Do lado de fora o sol já ultrapassará seu zênite quando o jovem finalmente deixou o martelo de lado. E foi até a entrada onde pediu a um menino que lhe trouxesse algo de comer. Chegada a comida o jovem se sentou a comer. Ele se mantivera sentado observando. Até que o jovem perguntou:

-Mestre? Não comes?

O velho se levantou, e com um sonoro "hmpf" se dirigiu até a entrada da forja, ali no pórtico, virou-se e disse: - Amanhã chegue na hora certa. - e saiu sem mostrar o suave sorriso que agora havia em seu rosto. "Poderia ser este jovem o indicado para aprender a antiga arte?" O velho mestre tinha muito o que meditar antes de tomar o próximo passo.
Johnrafael


Quando Adriano saiu, sentiu-se gratificado por não ter tomado outra reclamação. A pá era para Vívian, sua mãe, então era justificado tanto esmero.

Mas ela teria que esperar. Já há dois dias John vinha sofrendo o diabo para cumprir as ordens do mestre. Primeiro a pedreira, cujos cortes ainda nem haviam acabado de fechar, depois uma noite inteira mantendo a forja acesa. Por fim, a montagem de uma pá, em ritmo frenético, quatro dias em um. Não era possível que aquele homem fosse de aço.

-Pois se ele vai, eu vou-me também.


Trancou tudo e pôs-se no rumo de casa.
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Johnrafael
Interlúdio.

Solar das Telhas Azuis, Porto.

-twiit, twiit, twiit. Era o ruído do arminho. Brun tinha alguns meses de vida, e como os demais de sua espécie, crescia rápido, e muito serelepe, mordendo e comendo o que visse, como por exemplo, o dedo de seu humano. Mas John estava muito cansado para brincar. Deitou-se e caiu no sono.



- Acordou-se, era tarde da noite. Silêncio. Tudo estava escuro. Andou até as escadas. No salão, sua família. Esposa, pai, mãe, irmãs, a prima Celestis e Yochanan, vestidos de preto, de luto. no centro, um enorme esquife de gelo, ladeado de quatro velas. Desceu.

-Senhora minha mãe? - Vívian olhou para ele e depois abaixou a cabeça.

-Senhor meu pai? - Richelieu, imponente, com um coronel de visconde na cabeça, olhou para o bloco. John andou em direção a Fllora, sentada no velho cadeirão de veludo carmesim, com uma grande barriga de gravidez e Celestis a consolar-lhe. Ela olhou-lhe nos olhos, com o rosto molhado de lágrimas, e disse:

-Não devias, marido. Disse-lhe que não devias ter matado-o.

Olhou para Yochanan. Sua expressão era grave. Fitado com olhar de desaprovo, ouviu do tio:

-Que lhe disse? Disse-lhe que não deixasse o aço lhe dominar!

Aproximou-se do incomum caixão. Mas quem estava ali dentro? O traje era preto, como o da Ordem de Azure. Passou-lhe o pior na mente. Matara o mestre. Mas como? Esfregou a mão no gelo e para ver a figura que ali jazia. HORRORIZADO, VIU QUE ERA ELE PRÓPRIO! ESTAVA MORTO! Como? Por quê? O que significava aquilo tudo? O que estava acontecendo ali?

Num átimo, tudo desvaneceu. Só havia névoa cinzenta e o bloco. E de repente, a mão do cadáver rompeu o gelo e agarrou-lhe os dedos.


-Ahh!- Gritou, em pânico. Não havia nada ali, só o pequeno Brun mordiscando seu dedo mais uma vez, querendo um outro petisco.

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Adriano


Os dias se passaram sem maiores desafios para o jovem aprendiz, apenas uma continua sucessão de exercícios básicos que qualquer aprendiz de ferreiro tinha que praticar uma e outra vez até que o movimento fosse tão natural para ele como respirar.

Mas o que pareciam na superfície ser o ato repetitivo de esquentar e martelar e voltar a esquentar e voltar a martelar a peça de metal uma e outra vez guardava em sua profundidade os grandes segredos do oficio. O numero de dobras do metal, o tempo que se mantinha na forja, as canções que marcavam o tempo o tinir do aço e o sussurro da água de resfrio. Nenhum movimento era ao acaso, nenhum suspiro estava de mais, e baixo o olhar atento de Adriano, qualquer desvio era duramente punido.

Por três vezes mais eles retornaram à pedreira, até que Adriano esteve satisfeito com o desempenho de John. O tempo avançava sereno, mas a calmaria muitas vezes precedia a uma grande tempestade, e Adriano sabia que não lhe restava muito mais tempo no mundo. O jovem Viana Lobo teria que estar pronto para receber os antigos segredos, e em breve.

Na noite anterior o velho recebeu uma mensagem vinda do norte, e com o raiar do dia aguardava já ao aprendiz na entrada da forja. Teve que esperar pouco pois o rapaz já não se atrasava, mas mesmo assim o recebeu com um solitário - Hmpf.
Johnrafael


"... Conta a lenda que um nobre mouro
à noitinha ia namorar
com as ninfas do rio douro
ao luar..."


Aprendera aquela letra para marcar a têmpera exata. Dizia-se que aquela música agradava as ninfas do rio,e por isso o tempo da canção era perfeito para marcar o tempo que a lâmina deveria ficar na água. E agora aquela canção não lhe saía mais da cabeça. E era justamente ela que cantava naquela manhã de outono. Já estava descendo a estreita viela que dava acesso a forja quando viu o mestre na direção oposta. Ao chegar, foi recebido com o humpf de praxe, mas aquilo aprendera a ignorar depois da terceira visita à pedreira.

-Bons olhos o veem, mestre. Que tenho eu de fazer hoje?

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