[RP] Instintos Cruéis

Beatrix achou deveras estranha aquela recepção, ela estava mesmo surpreendida e não esperava aquele tratamento por parte de Nicole. No entanto ao notar que Arnold concordara com aquilo, ela não fez nenhum protesto e seguiu com a escolta.

A situação deveria ser delicada e exigir aquilo, ou Nicole não a submeteria a isso.

Só lamentou que Maria não estivesse ali para despedir-se da irmã. Será que ela ao menos sabia do que se passava?

Ao aproximar-se de Nicole, Beatrix abaixou o capuz e dirigiu-se a ela.

- Nicole, você pretendia mesmo partir sem nos despedirmos? Achou que eu não saberia?

Ela disse sem ousar se aproximar. Um abraço ali diante dos guardas Casterwill talvez não fosse bem aceito. Ela esperou a reação de Nicole e como ela se comportaria. Ao menos aquele desagradável do Adrian não estava ali.

- Como se você pudesse dizer o que é bom para mim. Depois de tanto tempo ainda não entendeu que não recebo ordens, nem dos Nunes nem dos Casterwill?

Beatrix disse e olhou a sua volta, medindo a presença dos guardas que escoltavam Nicole.

- Não creio que seja à força, mas creio que seja necessário. Se é o que quer eu respeitarei, Lady Casterwill. É assim então que nos despedimos?

Ela perguntou, e olhou Nicole nos olhos.

Beatrix esperou que os guardas se afastassem um pouco para retomar a conversa com Nicole.

- Está bem, Nicole. Não nego que estou triste. Primeiro por você partir sem avisar, segundo, por que não sei se algum dia vou vê-la novamente. Apesar de tudo que passamos você é minha família também. Não culpe ao senhor Arnold, eu que insisti.

Ela suspira.

- Eu te perguntava quando esse pesadelo ia acabar, agora sei o preço que vais ter que pagar, e é muito alto, mas não deixaria de vir aqui te ver por nada. Tome cuidado, e se for possível, mande notícias.

Ela disse e se despediu, mesmo a distância, contendo o abraço que ela sabia que não poderia dar.

Beatrix encara o rosto de Nicole em silêncio e faz sinal de que entende, apesar de que não saiba o motivo de Lorde Casterwill querer vê-la.

Quando o guarda traz a cadeira ela agradece e se senta. Faz sinal ao guarda de que sirva seu copo. E bebe devagar do vinho que lhe deram, como se aquela fosse uma ocasião de uma visita banal.

- Se só me resta esperar, então, que eu espere da melhor forma possível.

Ela disse e tomou um gole e observou ao longe uma figura se aproximando dos guardas, mas aquela distância não o reconheceu.

Beatrix notou o sorriso de Nicole enquanto ela bebia do vinho.

- Não se preocupe, não desejo mais nada deles, além de que me deixem partir.

Ela sorriu e notou a aproximação do rapaz que falara com os guardas e que fora conduzido do mesmo modo que ela.

Sua surpresa foi maior quando viu Maria Madalena chegar escoltada por Michael Casterwill. Seria esse o último encontro das Nunes e Casterwill?

Ela não dirigiu-se a Maria para não interromper o encontro das irmãs. Ao menos ela poderia se despedir de Nicole e não teria apenas uma carta seca em sinal de despedida. Preferiu ignorar Michael, ainda aborrecida com o comportamento dele no último encontro que tiveram na festa de casamento.

Depois da chegada de Maria Madalena e do homem de sotaque francês, Beatrix tomou um gole de vinho e levantou-se da cadeira a fim de cumprimentá-los.

- Não conheço este senhor, acaso é meu parente também?

Beatrix perguntou e em seguida emendou.

- Nenhum de nós deveria, mas cá estamos todos. É esperar para ver.

Ela disse e foi até Maria e lhe deu um abraço, afinal, nenhuma delas teve culpa de nada que aconteceu no Natal, e aquilo não deveria afastá-las nem quanto à família nem quanto à amizade.

Assim que desfez-se do abraço e iria cumprimentar o rapaz francês, Beatrix notou a chegada de uma nova comitiva. Se aquilo era um plano para assassinar todos os Nunes de uma vez só, ao menos Eduarda estaria segura. Ao menos assim, Beatrix pensava.

Anglys chega perto da sua amiga Nicole e da-lhe um abraço afectuoso na amiga pois não sabe quando a volta a ver, e pede-lhe para ela ir mandando noticias.

Depois vai comprimentar sua madrinha e Madalena, e então depois retira-se e vai embora, com uma lagrima, a cair no rosto por ver sua amiga a ir embora...

Depois que Anglys se foi, Beatrix ficou mais aliviada. Jamais se perdoaria se algo de ruim acontecesse a sua afilhada. Depois que Anglys partiu ela desfez o sorriso de tranquilidade.

A antiga matriarca dos Nunes, Juliana Nunes estava ali à força. Fora retirada de sua propriedade, sequestrada na noite passada pelos homens dos Casterwill.

Ela não tinha ilusões sobre qual seria seu destino. Mas esperava que ao menos sua neta fosse poupada da ira de William, seu antigo amante.

A verdade é que ele nunca a perdoara, nunca a perdoaria. Ela mesma tinha várias coisas para não perdoar em si mesma.

Ao ouvir de Nicole Casterwill que seu neto João Nunes estava morto, ela não se surpreendeu. Ela fora fraca, não soubera fazer a justiça que deveria ser feita quando a traição dele foi revelada.

Depois de ceder a sua posição a Nicole, ela acreditou que os outros Nunes seriam poupados, mas ela estava errada, a sede de sangue deles não tinha limites.

Enquanto ela assistia impassível aquele espetáculo de horrores à beira do cais, ela olhou por um instante nos olhos de Beatrix e depois para Madalena, a bastarda. Mais que desespero, seu olhar trazia culpa.

Nicole certamente não teria piedade de ninguém ali, ela não tivera piedade nem dos próprios pais. Eles eram indignos. Juliana a seu modo também o era.

Beatrix olhava para aquele velho asqueroso e fazia um esforço enorme para não xingar-lhe e dizer o que pensava dele e do seu clã imundo.

Ainda que não tivesse uma imagem idealizada de Nicole, não podia negar que estava mortalmente surpresa. Custava-lhe acreditar que ela fosse capaz daquelas coisas...De tamanha crueldade. Nicole não a levara para aquele encontro mas esse no entanto não parecia ser o caso de Maria e dos outros, que foram levados para àquela "reunião" à força. Como ela poderia fazer àquilo à Maria, sua própria irmã.

Ela quase morreu quando ele a tocou com aquelas mãos, como se ela fosse uma coisa. Ele considerava a ela e Maria como "presentes" dados a ele por Nicole.

Ela tentou desviar da carícia indesejada, mas ele segurou-a pelos cabelos. O sangue ferveu-lhe e ela fez um esforço sobre-humano para não cuspir-lhe e estapear-lhe as fuças. Velho maldito!

Suas faces coraram de raiva e seus olhos verdes chisparam com uma ira difícil de conter, pois por dentro seu sangue fervia. Contudo, temendo que uma explosão de raiva de nada adiantaria, ela se conteve, mordendo os lábios até quase sangrarem. Foi quando o maldito lorde finalmente a soltou e passou a ocupar-se de Maria. Ainda que ela imolasse William não haveria como escaparem dali com vida. Ela pensava enquanto o homem tocava o pescoço de Maria. Ao ver que ele a machucava, seu olhar de ira voltou-se para Nicole. Como ela podia permitir isso?

Beatrix assistiu aquele espetáculo sem desviar os olhos. Não que ela apreciasse o sofrimento alheio, mas por que era como se estivesse em um pesadelo, e ao divisar aquela cena queria certificar-se de que era real.

Ela notou o desespero de Maria, e segurou a mão dela com firmeza.

Como aqueles ousavam chamar seu sangue de impuro. Acaso era puro o sangue Casterwill, alimentado com desonra e infâmia. Beatrix tinha que controlar-se para não dizer o que pensava sobre tudo aquilo. A infâmia maior não era os assassinatos, era a falsidade de Nicole que as usara para obter poder. Arrependia-se amargamente de um dia ter confiado em sua prima.

Ela agora barganhava suas almas como se fossem quilos de cebolas na feira.

Como Arnold podia assistir impassível ao assassinato do seu próprio pai? Que alma aquele homem tinha para se sujeitar a Nicole daquela forma tão vil? A mão de Beatrix se preparou para deslizar suavemente de encontro a sua adaga. Não suportaria mais aquilo assim. Dependendo das palavras que Nicole proferisse, ela levaria os Lordes Casterwill para o túmulo com ela.

- Deixe o André e a mãe dele longe disso, Nicole. Quanto às suas irmãs, elas nunca me fizeram nenhum mal. Gostaria de nunca tê-las conhecido e de nunca ter conhecido você. Boicotar? Eu nunca quis nada com o clã Casterwill, e só me envolvi com tudo isso por causa de você. O maior erro dos Nunes foi ter se envolvido com os Casterwill, uma tolice movida por poder e ganância, e já se pagou caro demais por isso, já se derramou sangue demais. Ainda não é suficiente para você? Onde acha que isso vai parar?

Beatrix disse e calou-se, olhando para Nicole e depois para Juliana. Ela pensava o quanto os Casterwill eram doentes e corrompidos. Eles só pensavam em sangue e vingança, e eram covardes. Se não estivessem cercados de mercenários veriam do que um Algrave Nunes é capaz, mas só sabem agir como cobras, na surdina, pelas costas. Não valiam o que comiam, e nem toda a seda que vestiam conseguia esconder o que eram, monstros, monstros bem vestidos e bem alimentados, mas apenas monstros, sua alma era torpe e corrompida.

- Por que envolver essas crianças nisso, William? Seu problema é comigo, elas nada te fizeram. É a mim que você odeia e despreza. Não posso apagar o passado e nem mudar as decisões que tomei. Se alguém tem que pagar que seja eu. Se ainda há algo de humano em você atenda ao meu pedido. Poupe-as e faça comigo o que quiser.

Ela disse e suspirou, sem muita esperança que suas palavras pudessem comovê-lo. Os olhos castanhos de Juliana miraram os olhos de William mais uma vez, em busca de algum sentimento que não fosse ódio ou vingança. Era difícil acreditar que aquele homem alguma vez a amara.

Juliana ouviu as palavras de William Casterwill e percebeu que apesar de tudo ela ainda o conhecia. Era capaz de perceber que seu olhar e suas palavras ainda que não o demovessem totalmente ainda eram capazes de afetá-lo. Mas onde algum dia já houve algum amor, agora só havia dor e violência. Ela não teria como escapar daquele destino, mas ainda poderia salvar o que lhe era mais precioso. Se o preço fosse doloroso ao menos valeria a pena. Se suas crianças ficassem a salvo.

Diante das palavras dele ela fechou os olhos por alguns instantes, como se preparasse para a morte. Em seguida os abri novamente e notou o olhar de Beatrix e viu a neta ser levada, enquanto mais sangue era derramado.

Não queria que ela a visse morrer e agradeceu em silêncio por terem levado sua neta dali em companhia da bastarda, a pobre criança enjeitada sobre a qual ela nada fizera.

Era hora de enfrentar o seu destino, e isso se daria da pior forma possível.

Beatrix olhara mais uma vez para trás, e a cena que viu deixou-a perplexa. O prior dos azure chegou e trocou breves palavras com Lorde Casterwill. Pela distância que ia, não haveria a menor condição de ouvi-los. Mas aquela presença no porto, sem que houvesse guerra trouxe-lhe uma impressão que ela não apagaria tão cedo, a de que não podia confiar em ninguém.

Ela ia caminhando com Madalena, e notou que o jovem francês estacou e antes de partir, disse palavras ofensivas em francês para o Casterwill. Ele só poderia estar louco, para naquela tensão dizer que odiava o Lorde Casterwill. Preocupada que mais uma morte pudesse ocorrer, ela puxou o francês, que mais que arrogante, devia estar perturbado para naquele meio ter aquela audácia.

- De toute évidence vous êtes fou. Allez! Allez!