[RP] Uma tempestade, Um pajem, Uma Reforma...

Beatrix estava no prédio elaborando uma arte que fora encomendada pela Mestre-de-armas. A chuva também a impedira de ir para a sua casa e ficara ali. Enquanto tomava uma caneca de chá quente para espantar a friagem da noite chuvosa, notara o alvoroço dos pajens.

Quando se aproximava para ver o que estava acontecendo ouvira o barulho de uma parte do teto que cedera graças a uma goteira que deveria ter sido cuidada há tempos e que fragilizara aquela estrutura de argamassa e pedra.

Deparou com a situação de vários pajens tentando socorrer o pobre colega sobre quem caiu parte do teto e que agora tinha a perna presa sobre escombros. Ela se propôs a também ajudar da forma que pode.

- Removam os escombros com cuidado, e vamos levá-lo a outra sala e colocá-lo sobre a mesa.

Ela disse e pediu que um deles fosse avisar Nicole e outro fosse chamar um médico imediatamente.

Assim que os rapazes o fizeram, Beatrix tratou de pôr em prática o pouco que sabia sobre cuidados médicos, para estancar o sangue que afluía da perna fraturada. Era uma fratura exposta e se o socorro não fosse imediato o pobre rapaz poderia morrer de hemorragia ali mesmo. Assim, rasgou um pedaço da anágua do vestido e improvisou um torniquete.

Um dos pajens tentou espiar quando ela levantou um pouco a saia, mas levou um safanão do colega que percebeu o problema que aquilo ia dar se Beatrix percebesse.

Assim que viu Nicole chegar, Beatrix ficou mais aliviada.

- Ele deve resistir. Consegui estancar a hemorragia. Espero que não tenha que amputar a perna. Não chegou realmente a esmagar, mas tem uma fratura muito feia. Preferi não tentar mover pois é melhor o médico fazer isso. Eu só sei o básico.

O rapaz estava agora acordado e parecia sentir muita dor.

- Seria bom algo para aliviar a dor. Tem alguma bebida forte aí?

- Claro que vou mantê-lo vivo, é só o médico não se demorar demais. Eu conheço a mãe dele, pode deixar que vou cuidar dele muito bem. Uma boa mulher e não iria dar-lhe essa tristeza.

Beatrix disse e ofereceu mais um gole.

- Vamos lá, beba mais um pouco, meu rapaz. Hoje sua mãe te perdoa, garanto.

Ela disse tentando animar o pajem e fazê-lo desviar a atenção do ferimento e da dor.

- Resista bem, que logo o médico chegará.

Ela diz enquanto observa se a hemorragia continua bem estancada. Infelizmente, não há muito que possa fazer quanto a fratura, e tentar uma imobilização ali poderia piorar o estado do rapaz. Somente o médico poderia fazê-lo a contento. Felizmente além da perna não há outros ferimentos.

- Eu vou contar para minha mãe que vocês não cuidaram de mim direito. Só mais um golinho vai, eu estou melhorando, prometo melhorar.

O pajem insistiu choroso e já bêbado começou a ficar um pouco abusado.

- Quem sabe um beijinho e eu saro melhor também, nem vai precisar de médico.

Disse fazendo bico para Beatrix e Nicole.

O rapaz arregalou os olhos assustados para Nicole.

- Ca-ca-calma, calma, senhora.

Ele disse e ficou mudo olhando para a adaga, depois para Nicole e depois para Beatrix.

- Esse beijo não vai me fazer sarar, realmente. Pensei que ia me dar bem, e posso acabar me dando muito mal. Cala a boca seu bobo.

Ele pensou e ficou quietinho aguardando o médico.

O rapaz ao ouvir isso, queixa-se choroso.

- Mas que desgraça, que desgraça. Tão jovem e vou ficar aleijado.


Enquanto ele se queixava, Beatrix tomou-lhe de vez a garrafa.

- Por favor, senhor Spot, faça o melhor que puder para salvá-lo. Melhor vivo do que morto. A mãe só tem ele de filho homem. Nem quero imaginar a tristeza.

Beatrix diz baixinho e pergunta se há algo que ela possa fazer para ajudar com a operação.

- Quer que traga algo mais? Água quente, lençóis limpos?

Ela diz e aguarda ordens do médico.

Beatrix traz o mais rápido que pode tudo o que o médico pede, incluindo a mordaça e o whiskey que ela entrega com dó mas entrega.

Diante do pedido procura segurar o rapaz por trás, contendo-lhe os braços e chama mais um dos pajens para auxiliar-lhe nessa tarefa, que pessoas nessas situações tem mais força que o esperado. Também dá um pedaço de madeira para ele morder em vez da língua.

Beatrix:- Creio que assim ele nem há de se mexer.

Ela olha para o rapaz e espera que ele confirme que está pronto. Ele não parece ter acreditado muito nas palavras de Spot mas mesmo assim faz sinal de que o médico prossiga.

Spot finalmente conseguiu cortar toda a pele à volta do joelho, faltando agora serrar o osso. Gritos e gemidos de arrepiar a espina propagam pelo átrio.

Spot despeja um pouco do álcool na serra e depois dá um longo golo... - Começa agora a parte díficil... Ele começa a fazer movimentos lentos para começar a cravar uma ranhura no osso e assim que a serra não sai do lugar, Spot aumenta a velocidade e a intensidade...

- Preciso que limpem este sangue à volta do osso para eu conseguir ver alguma coisa... Usem os panos húmidos, pede Spot num tom autoritário.

Depois de um processo sacrificante e cansativo, o médico conseguiu amputar a perna do pajem, que apesar de perder muito sangue no processo conseguiu sobreviver.

Após a cirurgia e os últimos cuidados médicos, o pajem foi deitado sobre uma mesa com a ajuda dos demais pajens e enquanto os outros ajudavam a limpar aquele cômodo da heráldica, chegaram ao local a mãe e as irmãs do pajem, que perdeu a perna.

Felizmente, elas chegaram após o doloroso e violento processo em que o médico Spot teve que serrar-lhe o osso da perna e não presenciaram a amputação.

Foi com dificuldades que conseguiram acalmá-las. Mas felizmente, o fato do filho ainda estar vivo foi o suficiente para consolar a pobre mãe.