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[RP] Velório e Enterro de Marilu

Narrador, roleplayed by Maria_madalena
A primavera viera tardia naquele ano. A chuva grassara com intensidade raramente vista, alagando campos e destruindo plantios. Uma repentina subida do caudal do rio, em meados de Abril, apanhou os moradores das aldeias mais ribeirinhas completamente desprevenidos. As águas do Douro, fonte de vida e riqueza, tornaram-se então um símbolo de morte e destruição, levando consigo dezenas de bocas famintas e corpos maltrapilhos.

Estávamos agora no final de Maio e as primeiras flores desabrochavam. Os agricultores enchiam os campos e os mercados estavam de novo cheios de vida. A cidade do Porto parecia ter recuperado o seu encanto. Nada faria antever que, naquela fatídica noite, uma jovem e bela mulher morreria assassinada no leito do bordel mais afamado do reino de Portugal.

Foi na manhã seguinte que o seu corpo, mutilado e dilacerado, foi transportado até à floresta que ladeava a cidade do Porto. Adepta da fé druidica, Marilu foi levada até àquele santuário da natureza para ali poder receber as últimas palavras de conforto. Sorte que aquela era a sua crença, pois certamente que a fé Aristotélica recusar-se-ia a abençoar o seu percurso, agora totalmente espiritual, não tivesse Marilu sido uma pecadora. A jovem mulher, órfã de pai e de mãe, teve na Casa da Babilónia a sua família. E para o seu funeral não se esperava a presença de mais ninguém, para além das mulheres da Babilónia e, talvez, um ou dois clientes mais afeiçoados.
Rita, roleplayed by Beatrix_algrave


Rita foi uma das primeiras a chegar ao local. Ela usava um vestido preto simples e um véu da mesma cor. O corpo de Marilu estava sobre a pira funerária. Na medida do possível, o corpo da mulher foi preparado, para que a última imagem que se tivesse dela não fosse a visão assustadora que tanto perturbara os que a viram naquele estado. O homem contratado por William fez o melhor que pode, e não mediu esforços, ainda que surpreso com tamanho cuidado com uma reles meretriz. Deixou-a perfeitamente apresentável para o momento final.

Ela jazia agora sobre a pira funerária, cercada de flores, estava até mesmo bela, com os cabelos loiros, limpos e arrumados, ornamentando seu rosto pálido, recomposto graças a cera e maquiagem.

Rita aproximou-se e depositou flores sobre o seu regaço, cuidosamente. Fez o sinal da cruz e afastou-se.
Cecilia, roleplayed by Beatrix_algrave


Cecilia foi a segunda a chegar, e assim que viu Rita foi até ela, olhou Marilu sobre a pira e ainda custava a acreditar. Os olhos de Cecilia ainda estavam vermelhos de tanto chorar. Lembrava da tímida Marilu, com seu ar inocente. Cecília costumava rir-se ao ver Marilu corar quando se deparava com um cliente mais ousado. Ela tentava conservar as imagens boas e divertidas sobre Marilu e apagar as lembranças ruins da última noite.

Ela depositou uma rosa aos pés de Marilu e continuou em silêncio ao lado de Rita. Vestira o único vestido discreto e escuro que possuía, mesmo assim, ainda era um pouco decotado demais para a ocasião.
Helena, roleplayed by Maria_madalena
Helena trajava um vestido negro e puído que lhe estava extremamente justo. Aquele era o único vestido discreto que possuía e não o usava há demasiado tempo. Era agora mais roliça do que fora na altura e as costuras ameaçavam rasgar a qualquer momento. Cobrira o decote com um lenço igualmente de cor negra e tinha os cabelos castanhos claros presos num penteado simples. Passara a tarde em choro desmedido, perseguida pelas horríveis imagens de Marilu morta.

Chegada à floresta, Helena fungou ruidosamente num lenço branco e assim que a pira funerária apareceu à sua frente, soltou um grito alto e desesperado, bradando aos céus a dor que sentia. Os seus fartos seios solavancaram no vestido e uma das costuras laterais protestou fervorosamente com o inesperado movimento. Rita e Cecília já lá estavam e, num passo desajeitado, Helena juntou-se a elas, procurando evitar que o seu olhar repousasse sobre a inocente Marilu.
Violeta, roleplayed by Maria_madalena
Violeta arrumara os cabelos loiros e compridos num coque alto e trajava um vestido negro e cintado. Aquela calamidade deixara deveras triste e amedrontada pelo que, escondido entre as vestes, estava um pequeno punhal. Trouxe consigo uma flor rosa, a cor preferida de Marilu, que depositou solenemente sobre a pira. Espantou-se pelo trabalho feito no corpo da jovem pois pensou que fosse impossível deixa-la tão apresentável.

Violeta cumprimentou Rita e Cecília com um ligeiro aceno e deu um encontrão discreto à meretriz gorda. Helena fungava ruidosamente, histérica como sempre. Aproximou o rosto do ouvido dela e sussurrou:

- Com tanto berreiro, ainda acordas a Marilu. Cala-te mulher.

Os seus olhos recaíram sobre o corpo inerte de Marilu e sentiu um aperto no peito.
Helena, roleplayed by Maria_madalena
Perante o encontrão de Violeta, Helena franziu o sobrolho em desagradado e fungou novamente o nariz ao seu lenço agora completamente encharcado. Antes que Violeta se afastasse, Helena murmurou-lhe muito aflita:

- Valha-me Jah! Nem digas essas coisas, vira-me essa boca para lá mulher.

Violeta afastou-se e Helena empinou o peito e guardou o lenço, tentando manter uma postura mais adequada e menos histérica. Uma suave brisa varreu o lugar, agitando as folhas das árvores e as flores que cobriam a pira de Marilu. Os cabelos da defunta agitaram-se e por momentos Helena julgou que ela se mexera. Muito aflita, solta um grito assustado e encolhe-se sobre si.
Violeta, roleplayed by Maria_madalena
Também Violeta se apercebeu daquela brisa suave que lhe provocou um ligeiro arrepio, não soube se de frio, se de receio. Os cabelos negros de Marilu agitaram-se com o vento e algumas mexas haviam-lhe caído sobre o rosto mais alvo do que nunca. Pelo menos os estragos ao seu belo rosto não tinha sido tão grandes como no resto do corpo. Rapidamente se esqueceu dos seus anseios e pensamentos ao ouvir o grito desesperado de Helena. Lançou-lhe um olhar desagradado, apelando ao bom senso da gorda meretriz, e abanou a cabeça em negação. Violeta só esperava que durante a cerimónia, Helena conseguisse permanecer em silêncio.
--William_algrave


William chegou ao local da cerimônia, acompanhado de uma mulher alta e magra, que aparentava entre cinquenta e sessenta anos e tinha os cabelos grisalhos. Ele a conduzia pelo braço com muita reverência. A mulher usava um vestido escuro e por cima um manto igualmente com um capuz.

Ao ver Rita e as demais mulheres da Casa da Babilônia, William as cumprimentou com uma vênia, e ficou aguardando ao lado da anciã que presidiria a cerimônia, aquela era Atília, a fiandeira e druidesa que William conhecia desde criança e por quem tinha muito respeito e admiração.

Maria ainda não chegara, e William ficou aguardando-a.
--Fiandeiras


Atília observava em silêncio as presentes, aguardando a chegada de Maria Madalena para começar o ritual. Ela lembrava-se bem da prima de Beatrix, e lamentá-la revê-la em situação tão triste.

Ela estava ao lado de William e estava portando um cajado de madeira, sua expressão era muito serena. Em seu rosto marcado pelas décadas brilhavam um par de olhos azuis.

Sua postura transmitia muita dignidade e seus traços indicavam que na juventude fora uma mulher muito bela. Apesar da idade ainda havia muita beleza na figura de Atília, a anciã. Em sua capa estava bordada a figura de um corvo, destaca contra o tecido negro por fios de prata.
Maria_madalena
Depois da manhã atribulada na Babilónia e assim que o corpo de Marilu foi entregue ao senhor que ficara responsável por prepara-la para o velório, Madalena rumou a casa. Deitou-se e procurou descansar, mas os pensamentos na sua cabeça não lhe deram a paz de que tanto precisava. Imagens de Marilu, morta e dilacerada sobre a cama, fustigavam-lhe a mente de uma forma dolorosa. Não conseguia também esquecer as palavras que Letícia lhe dirigira, o mau presságio da sua mentora revelara-se uma verdade. Estaria ela envolvida? Traiçoeira e dissimulada como era, Madalena não duvidava dessa possibilidade. Nervosa, olhou para a adaga que estava pousada ao seu lado na cama e segurou-lhe o cabo, sentindo-se mais segura assim e acabando por adormecer.

Acordou horas mais tarde já perto da hora do velório de Marilu. Penteou os cabelos castanhos e compridos e prendeu-os discretamente. O vestido que escolheu para a ocasião era de um tecido negro e lustroso, com o bordo as mangas e da saia debruados a renda de um tom vermelho. O decote estava coberto por um rendilhado fino e delicado do mesmo tom rubro. Por fim, cobriu os cabelos com um véu negro e que lhe caía até meio das costas.

A viagem até à floresta decorreu com a normalidade expectável para uma situação atípica assim. Em torno da pira fúnebre de Marilu encontrava-se já Rita, Cecília, Helena, Violeta, William e uma mulher de cabelos brancos e vestes largas que Madalena depreendeu ser a druidesa. Caminhou lentamente até ao local onde Marilu jazia, arrastando as saias do vestido pelo chão coberto de pequenas ervas e flores. Depositou uma rosa vermelha sobre o peito da jovem e depois prostrou-se ao lado dos restantes presentes, saudando-os com um discreto aceno.
Leticia


Letícia foi a última a chegar ao local. Estava assim como os demais, de traje escuro. Aquela era a primeira vez que as mulheres da Casa da Babilônia a viam usando um xale preto e não o xale vermelho tão característico. Seus cabelos loiros e anelados estavam presos no alto da cabeça.

Ela estava séria e sua expressão era também preocupada. Não havia o sorriso desdenhoso costumeiro que adornava habitualmente sua face. Seus olhos verdes pareciam gélidos e distantes. Ela ficou no lado oposto ao grupo, diante de Marilu, depositou uma rosa de um tom vermelho, tão profundo que chegava a ser negra. Colocou-a delicadamente aos pés de Marilu. Algo no entanto, na postura, dela não era capaz de esconder totalmente as emoções que lhe passavam por dentro.

Para surpresa de Maria, o sentimento que escapava era raiva, um ódio profundo que era percebido em sua respiração, seu peito arquejava pelo desgaste em conter a fúria. Era o preço do esforço para ocultar o ódio que tomava seu corpo.

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Maria_madalena
Madalena observou intrigada Letícia que acabara de chegar. Não contara vê-la ali, afinal ela não era tão assídua da Babilónia como as restantes prostitutas, ia e vinha quando queria, atendia apenas quem lhe agradava. Ao contrário de todas as outras, Letícia ditava as suas próprias leis. Foi estranho vê-la envergar um xaile negro e mais estranho ainda foi notar como o seu rosto estava sério, o sorriso que lhe era característico, totalmente ausente. A espia da Ordem de Azure depositou uma rosa quase negra sobre o corpo de Marilu e o seu rosto estava contorcido em raiva, nos seus olhos havia o mais puro ódio. Naquele mesmo instante, Madalena teve medo, a quem estaria dirigida aquela fúria? Conheceria Letícia o assassino de Marilu ou estaria apenas furiosa por uma mulher da sua classe ter sido morta de forma tão brutal? Tinha vontade de questiona-la, mas aquele não era o momento adequado.
--Fiandeiras


Ao ver que a última pessoa chegara, Atília pediu a atenção de todos ali presentes. Ela removeu o capuz e ergueu o cajado de madeira, pedindo o silencio dos presentes.

Então, ergueu sua voz em meio ao silêncio da floresta. Nesse momento, curiosamente um corvo que por ali passava pousou em seu ombro.

- Sem a Virgem não há começos, sem a Mãe não há vida e sem a Anciã não há o fim. A morte faz parte do ciclo e não pode ser negada, mas em si ela é uma passagem e não o final absoluto.

"Meus ossos são frios, meu sangue é ralo.
Eu busco o que é meu.
O busco o que ainda não foi semeado.
Eu disse sim à vida e agora digo sim à Morte.
E serei a primeira a ir para o outro lado.
Eu trago o frio e a morte, sim, pois este é meu legado."


Quando pronunciou essas palavras um vento frio varreu o chão da floresta e tocou a pele de todos os que ali estavam. Houve alguns segundos de silêncio antes que a druidesa prosseguisse.

- A morte não é esquecimento, a morte é uma jornada pela purificação, pela cura e pela transformação. Essa é a lei da existência. A morte nada mais é do que um local onde as almas se detêm apenas o suficiente para serem curadas com fumaças purificantes, abanadas pelas asas brancas dos ventos sagrados, até se tornarem mais brancas do que os cisnes das lendas, mais brancas do que as gaivotas que pairam sobre as ondas do mar. Assim, não temam a morte, ela não é o local de dores e sofrimentos, ela é apenas uma etapa do ciclo da vida, do Outro Mundo e do renascimento. Mas ai daquele que violou o fio sagrado, que tirou dessa jovem o triplo caminhar e impediu que ela fosse a representação feminina da deusa tríplice. Cada ação produz uma reação e os frutos aqui são plantados e aqui são colhidos.

A última parte soou ameaçadora, o corvo agitou sua asas e grasnou. Então ela prosseguiu agora em um tom suave.

- Marilu, que sua alma seja guiada pela senhora guardiã do portal que das trevas faz surgir a luz, a senhora da transformação, a nossa rainha negra. Que encontre o caminho e siga o ciclo da eternidade. O seu corpo será consumido pelo fogo da destruição e da renovação, suas lembranças ficarão conosco e farão eternamente parte de nós.

Após essas palavras, William acendeu uma tocha e depois entregou outras tochas aos presentes, para que ateassem fogo na pira. Mais precisamente entregou uma tocha a Maria Madalena, outra a Rita e uma tocha para Violeta.
Dalur


Sem deixar-se notar, com uma manta sobre o corpo que ocultasse quem era, o barão do cruzeiro tomou lugar recluso na floresta. Havia chegado sem muito alarde, e iria embora da mesma maneira, tão rápido como pudesse. Iria embora como chegou, em um navio sem que ninguém o percebesse. Só lá estava para dizer adeus a alguém que foi seu, por não mais que uma noite, e mesmo assim havia contribuído de uma forma imensa para seu novo ser.

Agradeceu aos deuses ter chegado antes que a pira fosse acessa, pois queria ver uma vez mais, mesmo que de maneira não tão clara, a mulher que lhe fora como uma criatura divina enviada pelos deuses. De certa forma teve um orgulho mórbido, e um sorriso de crueldade e malícia surgiu de seus lábios, pois teve a certeza que fora o último homem na vida de Marilu.

Não bastou-lhe mais que uma noite para criar um laço com a defunta, era lhe grato por tê-lo salvo de seu antigo eu. Pareceu-lhe sensato que deveria ficar de luto, e ainda considerou que a prostitua morta lhe era mais digna que muitos nobres abastados. A riqueza que ela trouxe a sua vida não podia ser mensurada em vãs palavras, e logo uma tristeza pairou como um abutre sobre seu coração. Fechou os olhos e citou uma prece

- Oh Tíria, deusa da morte, recebei esta alma que se vai, que foi querida por uma noite, e que tanto marcou a trajetória deste que fala. Que receba a justiça que lhe é devida, e que seja lembrada como a mulher digna que foi.

E então aguarda o momento derradeiro, onde a pira seria incendiada, e assim também o corpo de sua redentora, Marilu.
Maria_madalena
Madalena observou com certo espanto a cerimónia e o discurso da druidesa. Não conhecia aquele culto e como tal, pareceu-lhe estranho, mas de alguma forma agradou-lhe. A velha mulher parecia ter em si uma força extraordinária, talvez isso proviesse da forma como ela estava em comunhão com a natureza.

Um vento gelado percorreu o seu trilho entre as árvores e Madalena arrepiou-se. Helena, no seu pranto, soltou um grito alto e agudo, incomodando os presentes e fazendo com que Madalena perdesse a concentração da cerimónia. Encarou-a de forma séria e pediu silenciosamente que a mulher se comportasse à altura do momento.

Ouviu com atenção todas as palavras que se seguiram e, quando chegou à parte final, a proxeneta sentiu em si um pequeno alívio, pelo menos a pobre Marilu tivera uma última homenagem.

Aceitou a tocha que William lhe entregou e aproximou-se da pira, aguardando que os restantes a acompanhassem.
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