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[RP] Herdade do Regato

--Adelaide.
Adelaide fica surpreendida com o gesto da sua senhora. Ao primeiro evita tocá-la, deixando as mãos suspensas no ar, mas assim que sente o fervor de Matilde, abraça-a com força, enterrando o rosto no ombro dela e sentindo o delicado cheiro das suas roupas. A voz embargada e cristalina de Matilde ao seu ouvido, provoca-lhe um estremecimento:

De nada senhora, não tem que me agradecer... - respondeu numa voz bem baixa.
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Matilde.
Terminado o momento de carinho, Matilde agarra na aia pelo braço e utiliza o dedo indicador da mão esquerda para lhe indicar que deve permanecer calada. Vão em passos lentos e silenciosos, de corpo meio curvado e olhar curioso, passam por árvores frondosas, carreiros de terra batida, flores a despontar, são constantemente surpreendidas pelo vislumbre de piscos-de-peito-ruivo e felosas musicais, ocasionalmente passa algum coelho a correr e um esquilo esquivo esconde-se por entre as árvores. Chegadas ao centro da pequena floresta que ladeia a propriedade, Matilde sorri... A vida fervilhava em torno do pequeno lago. A chegada da duas mulheres fez levantar um bando de pássaros e puderam ouvir o crepitar e murmurejo das folhas provocados pelo movimento animal. As pequenas rãs saltaram para a água, abandonado o seu lugar ao sol e os peixes nadaram em inquietação. Matilde continuou a puxar Adelaide, fazendo-a avançar devagar e cautelosamente. Por fim, sentou-se numa pedra por ali caída e pediu à aia, silenciosamente, que fizesse o mesmo.

Ficaremos por aqui hoje... em comunhão com a natureza, em paz... - murmurou ao ouvido da aia. Adelaide limitou-se a sorrir e a assentir com a cabeça.
Matilde.
[Ao cair da noite]

Depois de um dia bem passado, isolada do mundo e apenas com a sua aia, Matilde regressava feliz a casa. Ia em longa conversa com Adelaide discutindo ninharias e trivialidades, o perfeito diálogo corriqueiro de duas mulheres que passavam os dias em casa, quando foi interrompida por um dos criados da herdade.

Senhora, senhora! - chamou o moço em voz rasgada pelo arfar constante. Os cabelos do rapaz estavam espalhados pelo rosto em resultado da corrida.

Matilde perdeu o sorriso e disse-lhe:

Que desejais? Posso ajudar com algo?

O rapaz permaneceu calado por momentos, de mãos estendidas ao lado do corpo. Parecia tentar recuperar o fôlego ou talvez estivesse apenas a procurar as melhores palavras, Matilde não conseguia discernir.

O senhor voltou... disse que quer falar convosco. - falou quando por fim teve coragem.

Matilde arregalou os olhos e o seu coração contraiu-se, apertado em dor. Durante o dia não se lembrara de Dinis, mas o cair da noite trouxera o pesadelo.

Onde está o senhor? - perguntou tentando disfarçar a nota de hesitação na voz.

No escritório senhora, pediu-me para vos acompanhar até lá.

Matilde ponderou por breves momentos, tentando inventar desculpas para não o ver, nenhuma pareceu suficientemente boa. Resignada, assentiu por fim e acompanhou o rapaz até ao escritório de Dinis.
--Dinis.medeiros
Dinis estava de pé ao lado da janela do escritório. Espreitava por entre as cortinas, curioso para ver de que lado a sua esposa viria. Ela bem sabia como o desagradava com aqueles passeios. Uma boa mulher deveria permanecer em casa a tomar conta dos filhos, auxiliada pelas aias e criadas. Mas ela, ela não lhe dava filhos. Cerrou as mãos e cravou as unhas contra a pele, numa manifestação física do descontentamento que aquela situação lhe trazia. O seu nome andava nas bocas do mundo e não era pelos melhores motivos. Iludira-se com a beleza frágil de Matilde, adorara os seus gestos delicados e atitudes femininas. E aqueles olhos? Apaixonados pela vida, detentores de um brilho especial, de uma avidez secreta. Fora por eles... Enamorado perdeu a cabeça. Agora ali estava, seis anos depois do galanteio, cinco anos depois do casamento, sem um único herdeiro. Os pensamentos cessaram quando viu a claridade bruxuleante de uma tocha a sair dos meandros da floresta. Com Matilde, vinha Adelaide, a aia, e o rapaz que mandara no seu encalço. Passou as mãos pelo cabelo e fechou os olhos inspirando fundo, tinha de ter calma.
Matilde.
Matilde fitava a porta do escritório já há alguns minutos. Por diversas vezes levou a mão à maçaneta e outras tantas a retirou bufando ruidosamente. Apenas quando uma das criadas passou com uns lençóis no braço e a olhou de forma inquisitiva é que a senhora ganhou por fim coragem para bater à porta. Esperou uns segundos e entrou. Dinis estava em frente à janela com uma taça de vinho na mão e um olhar contemplativo. Olhava para o exterior e Matilde duvidava que visse alguma coisa, pois a lua estava coberta por nuvens. Não se voltou para a ver, não lhe dirigiu uma palavra, apenas aguardou. Provavelmente estava à espera que Matilde se rebaixasse e que outra alternativa tinha ela?

Senhor, queríeis falar comigo? - perguntou numa voz melindrada.
--Dinis.medeiros
Dinis voltou-se para Matilde e pousou o copo na secretária. Não resistiu a olhá-la durante uns momentos, apesar de todos os dissabores que lhe dera, continuava a achá-la espantosamente bonita.

Sim, minha senhora. - respondeu quando conseguiu quebrar o contacto visual.

Contornou a mobília e achegou-se dela, tomou-lhe uma das mãos na sua e continuou:

Tenho uma viagem de negócios a Setúbal... uns problemas numa das propriedades. Preciso que me acompanhe. - falou-lhe na sua voz mais impessoal.
Matilde.
Matilde arrepiou-se com o toque frio. Apesar da mão de Dinis ser quente contra a sua, aquele contacto era totalmente frio e desprovido de afeição. Os olhos de Matilde vagueavam pelo rosto bem parecido de Dinis, procurando um sinal de comoção ou de amor. Não o encontrou.

Quantos dias, meu senhor?
--Dinis.medeiros
Oh, serão poucos dias, minha senhora. Prepare uma mala pequena, alguns vestidos formais, pois terei jantares importantes. - largou-lhe a mão - Partimos daqui a duas horas, esteja pronta. Pode ir agora.

Voltou-lhe as costas e caminhou até à secretária. Pegou no copo e bebeu o líquido num único gole.
Matilde.
Matilde lançou-se porta fora, quase correu. Na segurança do corredor, encostou-se contra a parede e chorou. Não de forma ruidosa, não com soluços, apenas encharcou o rosto, expondo por momentos a tristeza que lhe abarcava a alma. Foi com custo que voltou ao quarto, em os passos vacilantes e de ombros descaídos procurou a divisão. Adelaide estava lá.

Preciso de uma mala, alguns vestidos formais, poucos dias... - suspirou em voz baixa e deitou-se na cama, enquanto a aia lhe preparava a mala.

Ao fim de umas horas, Matilde estava pronta. Envergava a sua capa de viagem e tinha o olhar vazio e e ausente. Por fim, o senhor seu esposo desceu do escritório, passariam a noite em viagem, mas pelo menos não teria de se deitar com ele. Sem falar seguiu para o exterior com ele e entrou na carruagem, mais uns minutos e estaria na estrada...
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