O Nascer do Pecado

Rebeca era uma mulher culta e formada, sabia como dirigir e realizar um parto da melhor maneira tanto para a mulher em causa como para a crinça que iria nascer.
Pelos seus cinquenta anos, Rebeca já tinha viajado por toda a Europa, desde muito nova ajudavas mulheres no momento do parto, começou as suas primeiras pesquisas quando com apenas 12 anos viu a sua mãe morrer ao dar á luz o seu irmão mais novo. Desde então decidiu estudar e tornar-se parteira profissional. Entrou para a igreja e foi lá que começou a dar os seus primeiros passos no mundo da medicina.
Aos quarenta anos retoma a Portugal onde ajuda a nascer grandes figuras do Reino.



Após receber uma bolsa recheada de moedas Rebeca vai ao encontro da jovem, ouve os seus receios e tenta acalma-la e informa-la da melhor maneira possível.

- Minha querida o que me pedes não será necessário asseguro-te! Vai correr tudo bem, mas se insistes vou providenciar o que me pedes. Irei agora mesmo comprar tudo o que me pedes. De facto o nascimento esta para breve, pelo que vejo.

Rebeca caminhava a passos largos ate ao mercado do Porto, sabia que numa das pequenas lojas de lá se vendiam ervas e essências, as más línguas diziam ser uma loja de bruxas, se era Rebeca fingia nem perceber ou mesmo saber. A sua função era comprar o desejado por Juana. Já não era a primeira vez que entrava na loja, a comerciante uma senhora já de idade conhecia Rebeca desde os seus 3 anos de idade, era a sua madrinha de batismo, uma antiga amiga da sua já falecida mãe. Ao vela entrar digerir-se a ela com o rápido abraço. Logo pergunta o que Rebeca faz por ali e esta apressa-se a explicar.

- Madrinha!! Que bom ver-te, como estas? A família? Estou de volta a Portugal!! Desta vez vim ajudar uma jovem a ter uma criança, aquilo esta para breve e a rapariga já sofre de ansiedade, estas "meninas2 de hoje em dia exageram muito, mas sabes como é, marido rico acham que podem comprar tudo, mas das dores não se vai livrar!!

Ri enquanto abraça mais a senhora.

- Por isso tenho aqui uma listinha ... Aquilo ... Bem não é para se espalhar .. não me vão acusar a mim de bruxaria, e pelo que desconfio a bruxa aqui é a própria mãe da criança!! Mas pagam-me para ajudar ,não falar, já sabes. Arranja-me estes ingredientes por favor.

Fica a olhar os armários cheios de ervas e frasquinhos enquanto a sua madrinha procura pelos ingrediente e os guarda-os envoltos num pano, para não dar vistas.
Em cima de uma das mesas vê um pequeno caldeirão, olha para a madrinha com olhar cúmplice e guarda para si o que tinha pensado, sabendo que era verdade, aquela pobre velha praticava bruxaria.. era certo..



Pegando no pano com muito jeitinho abre a porta discretamente, espreita e não vendo ninguém segue o caminho ate casa de Marramaque, onde Juana se encontra á espera dos ingredientes.

Um pouco irrequieta por saber que Rebeca pode entrar em casa a qualquer momento e Marra descobrir tudo, Juana tenta sossegar Marra, o seu plano é tentar adormece-lo para ele não dar por nada..

- Não tenho nada meu amor.. Estou só cansada. Algumas dores nas costas .. Vá vamos dormir um bocado..

Encosta-se a Marra tentando sossega-lo o mais rápido possível.
Da cama olha para a secretaria e repara que a carta esta um pouco fora do livro.. Mas Marra já não pega naqueles livros aos meses, nem ia dar por nada..

Rebeca volta do mercado com tudo o que Juana pediu .. Aproxima-se da casa e bate á porta devagar. Esperando uns breves segundos vê um homem já com alguma idade (em relação a Juana) abrir-lhe a porta, olha de alto a baixo e pensa para si se poderá ser o marido da jovem. Ao mesmo tempo que tenta disfarçar o que trás nas mãos ..

- O Senhor deve ser o dom Marramaque.. esposo de Juana suponho .. Bem eu vim aqui .. apenas ver como ela esta.. o parto esta para breve ..

Ao ver o marido exaltado tenta acalma-lo, segurando o nos ombros e olhando Rebeca como se tentasse comunicar com ela para sair de casa..

- Ah meu amor a Rebeca é a parteira, nada tens que te preocupar, ela tem vindo a falar comigo para me preparar melhor para o parto e trouxe me umas plantas que lhe pedi para fazer um chá!! Diz que acalma e ajuda com as dores... nas costa ... é nas dores de costas, bem sabes como tenho andado.

Diz num tom de voz nervoso, tentando disfarçar para Marra não descobrir nada, era impensável ele descobrir a verdade!! Tanto a poção "milagrosa" como a carta!!

Sem saber o que dizer ou agir começa a caminhar ate á porta.

Bem eu volto mais tarde não há problema ...

Dito isto começa a abrir a porta para sair, levando com ela as ditas ervas, bem embrulhadas e agarrando as com muita força.

Fica nervosa e um pouco corada, enquanto tenta disfarçar gesticulando as suas mãos e falando depressa.

- O paixão .. isso .. isso .. é para fazer uma espécie de poção .. caso eu tenha muitas dores durante o parto ... Nada de mais ..

Cala-se por momentos e baixa a cabeça. Num rápido momento começa a chorar .. Levantando-se da cama e correndo a abraçar Marra com força.

- Eu não quero deixar-te !! Desculpa.. é só isso ..

O momento era emotivo, lágrimas escorriam no rosto dos dois. Ainda abraçado Juana tentava acalmar Marra, enquanto soluçava entre muitas lágrimas.

- Bem melhor não te mentir mais... É uma poção perigosa sim .. Posso morrer ao tomá-la.. Alias a maioria das pessoas sujeitas a isso morrem.. mas eu posso aguentar meu amor!! As dores assustam-me.. E se for preciso morrer para salvar a bebê eu farei isso!! Mas não quero morrer de dores meu amor.

Dito isto Juana volta para junto da cama onde se senta.

Ainda em lágrimas fica cada vez mais nervosa, ao ver Marra segurar e ler a carta entra em pânico .. Todo o seu corpo começa a tremer..

- Marra ouve-me !!

Enquanto tentava acalmar Marra e explicar-lhe a situação, mas vendo que infelizmente Marra não se acalmava.

- Ouve-me marido!! Eu estava com medo!!

Sendo constantemente interrompida por Marra que continuava mais revoltado que nunca... Juana levanta-se e dirige-se ate á cozinha para beber um copo de agua, sentia o corpo a tremer, um frio percorria o seu corpo e uma dor começava-se a sentir.. Mas com tanto nervosismo e exaltamento passou despercebido.

Encostada á bancada a beber agua Juana tentava-se acalmar, começava a sentir umas dores fortes na barriga, como se umas picadas, leva as mãos á barriga e tenta perceber o que se passa, logo fica preocupada ...
Nisto entra Marra na cozinha a continuar a discutir, os nervos tinham-se apoderado de si e agora algo estranho estava a acontecer ao seu corpo. Juana quase em pânico ignora o que Marra falava, de repente sente um quente a escorrer pelas suas pernas, leva a mão de imediato e vê um liquido meio transparente, naquele momento sabia o que se estava a passar .. E ai sim .. Na primeira vez na sua vida gritou com Marra, não com maldade mas sim de aflição.

- Marra vai chamar a parteira rápido!! Por favor ... A bebé vai nascer .. Rapido!!

As dores começavam-se a sentir cada vez mais fortes e não paravam, cada vez pior. Juana com pouca força deixa-se deslizar na bancada até tocar o chão, nao tinha força para sair dali sequer.. As dores eram fortes.. e muitas ...

Rebeca estava completamente calma, afinal era só um parto, um dos tantos que já realizou, sabia os perigos e as dificuldades por isso nada a assustava. Não deixava de certa forma achar piada há preocupação de Juana e Marra, via-se que ambos eram "novos" naquela situação, dai o pânico dos dois.

Vamos a acalmar. Senhor Marramaque preciso que prepare toalhas quentes!! Umas três ou quatro devem chegar. Tenha calma vai tudo correr bem !!

Ajudando Juana a colocar-se numa posição confortável, colocando algumas almofadas nas suas costas, tenta acalmar a jovem. Desde logo coloca uma toalha debaixo dela e começa a olhar seria a sua barriga e começa os preparativos para o nascimento.

Enquanto dava pequenos gritos de dor, tentando-se contar ao máximo aguentando a dar, sentia o seu corpo pesado, duro e com dores muitas dores. Marra bem tentava acalmá-la mas as suas palavras só serviam para Juana ficar ainda mais nervosa e com aquele seu "irritamento" habitual, (também chamado mau feitio) .

- Eu pareço-te exaltada Marramaque Ávila ?? Eu estou calmissima!!! Olha eu calma !!!

Barafustava no meio de gritos de dor.

- Ai é bom que não me deixes !! Mato-te se depois disto tudo me deixares !!

Continuando com palavras sem serem sentidas.. mas os nervos. as dores .. De repente os seus olhos enchem-se de lágrimas .. Naquele momento uma mistura de sentimentos percorria a sua cabeça e coração.

Entre toalhas e mais toalhas olhando entre as perna de Juana,logoesboça um pequeno sorriso. Calmamente exclama:

Esta mesmo mesmo quase !! Só mais um pouco de força !! A menina consegue!! Vamos lá !!

Um pouco mais calma, ou pelo menos não tão exaltada faz força varias vezes seguidas, tentando controlar a respiração, ora gritava ora ficava totalmente apática tentando respirar.
Olhando fixamente a parteira via nas suas mãos panos com sangue.. o que a assustava bastante. Segurava a mão de Marra com muita força, chegando a cravar-lhe as unhas de tanta força que fazia.
Por fim num ultimo esforço sente todo o seu corpo contrair e depressa libertar. Uma dor enorme percorreu o seu corpo e logo um grande grito saiu da sua boca. Olhando de imediato para a parteira e tentando-se levantar o mais possível. Queria ver o bebé !! Não ouvia choro, não via reação da parte da parteira, nem Marra se mexia.
De repente um choro invado o pequeno quarto !!
Rebeca apressa-se a enrolar a criança num pano de linho e com muita emoção dirige-se a Juana..

É uma menina!! É uma menina !! Tal como preveu! Uma menina grande e forte.

Entregando de imediato a pequena bebé nos braços de Juana, a criança ainda com algumas marcas de sangue mas nem por isso menos bonita. Pele clara, lábios e nariz pequeninos mas ainda assim muito gordinhos, tinha apenas uma pequena mecha de cabelo claro, os seus olhinhos ainda pouco abriam.
Juana segurava a filha com muito amor e paixão, num segundo passou a sentir um enorme amor e responsabilidade por aquele novo ser.. A sua filha ..

Após Rebeca limpar a bebé entrega-a de novo nos braços de Ju, ficando ainda deitada na cama com Marra ao seu lado, agora os três perfeitamente aninhadinhos, mimando a pequena bebé. A noite foi passada com a pequena Tattva a dormir no meio da cama e Ju e Marra sempre de olhos postos na pequena, ás vezes falavam pequenas coisas, mas evitando ao máximo o barulho para a pequena não acordar.

Passaram alguns dias depois do nascimento da pequena Tattva, a vida de Ju e Marra mudou completamente. Agora Juana passava os dias em casa a tomar conta da pequena, aproveitava os poucos minutos que tinha para si para ler, tinha voltado a estudar e sempre que podia lia mais um pouco para aprofundar os seus conhecimentos. Mas não era fácil a pequena Tattva requeria muito tempo, quando não estava a dormir não havida paz naquela casa, a pequena estava sempre com fome e a pedir companhia, Juana passava muitas horas no banco do jardim com a pequena ao colo.

Ali Tattva ficava sossegadinha no colo da mãe olhando as flores á sua volta e rindo cada vez que cada pássaro se aproximava. O seu riso era a melhor coisa que Juana já tinha visto e sentido na sua vida, ver aquela pequena menina no seu colo, segurando com imenso carinho e ver a sua carinha pequena e redondinha de felicidade era de facto a melhor sensação da vida.

A pequena tinha a pele clara como Ju, carequinha com apenas uma pequena madeixa de cabelo castanho claro, o seu narizinho redondinho e pequenino igualzinho ao do pai, o queixo pequenino com um pequeno sinal ao canto, as bochechas muito rosadinhas e gordinhas, o resto do corpo era também gordinho, os pés pequeninos, claros, toda a sua pele suave e macia, era de facto uma bebe muito bonita que derretia por completo os corações de Juana e Marramaque.

Marra também tinha dedicado mais tempo á família, dividia a sua vida agora entre a reitoria da universidade e a sua casa, contudo nestes últimos dias trazia o trabalho da reitoria para casa, para poder estar mais perto das suas mulheres. A sala tinha se transformado num escritório, o sofá cheio de papeis e livros as mesas completamente cheias. Não havia espaço para mais nada ali, uma confusão.

Já era final de tarde e Juana lá estava no banco de jardim segurando a pequena, tapando um pouco os ouvidos da filha chama alto por Marra.

Amoooor !!! Vem aqui!!! Temos de combinar umas coisinhas !! Não sei onde vamos jantar hoje, ficamos sem mesa!!
Fazendo uma pausa enquanto se ri, a pequena Tattva sabia que a mãe falava com o pai e logo olhou a porta e sorrio, como se ficasse á espera de o ver aparecer. Continuando muito animada.
Paixão vem aqui, a pequena esta com saudades do pai!!
Disse a rir-se.