Leonardodavinci
Leonardo estava encerrado em seus aposentos no Solar, diversos manuscritos estavam espalhados sobre sua mesa de estudos. Tinha uma tendência natural ao isolamento, principalmente, quando buscava por novas ideias. Ele escrevia algumas palavras num caderno, copiando um diagrama de um dos manuscritos para facilitar sua consulta posteriormente, quando ouviu Raquel chamar-lhe por trás da porta. Apreciava o tom comedido com que ela o chamava quando imaginava que ele estivesse concentrado em algum assunto, parecia sempre intrigada com as coisas que ele fazia e por conta disso, ele relatava suas ideias pra ela com certa frequência, uma pequena abertura em sua personalidade tão reclusa.
Ficou sabendo então que a jovem por quem Anton havia duelado e passado vergonha por ser ignorado no Porto estava no Solar e além disso ainda havia caído de um cavalo e torcido um dos tornozelos. Ligeiramente confuso, Leonardo pediu um minuto a sua prima e tentou organizar parte dos manuscritos, sem sucesso. Então, coçou os olhos para afastar o cansaço e após um suspiro foi atender a donzela.
Descendo a escadaria até a sala, encontrou a moça sobre uma das poltronas, suja de lama e com o pé levantado sobre uma das mesas. Ele a cumprimentou e sentiu-se ligeiramente estranho com toda a atenção que lhe parecia estar sendo direcionada. Sabia que ela era uma nobre de algum tipo e por isso se ajoelhou a contragosto, principalmente quando notou nos olhos dela, - fosse por ilusão de sua arrogância toscana ou pela situação dela de necessidade - que ela sentia que isso era uma espécie de obrigação dele.
Utilizando-se de um pouco de água fresca e um pano, o jovem italiano limpou a lama que havia secado sobre a pele alva da donzela, arrancando dela alguns ruídos de dor, mesmo que se esforçasse para ser o mais delicado possível. Ele então viu com clareza as manchas arroxeadas sob o tornozelo e a região visivelmente inchada. O olhar de Mantie para ele foi de intensa preocupação e os olhos marejaram ao ver o próprio pé arroxeado e deformado pelo inchaço.
- É mais grave do que eu pensei. Lamento, mas terei que amputar seu pé antes que o inchaço se espalhe para o resto do corpo - Leonado então se dirigiu ao primo - Anton, me empreste sua espada, agora!
Ao observar que a jovem quase explodia em lágrimas, Leonardo riu e tentou tranquilizá-la sob o olhar feroz de seus dois primos.
- Brincadeira, brincadeira, não foi nada demais. Vou apenas imobilizar o local, está bem? - Disse ele, sentindo-se arrependido pela pequena maldade.
Os criados trouxeram os materiais que ele pedira. Com tudo que precisava em mãos, ele então imobilizou o local com ajuda de uma tala, que amarrou com força, arrancando mais um pouco dos ruídos lamuriosos. Fez então uma mistura com ovos e farinha, formando uma massa, que aplicou sobre a região de forma que depois de endurecida, garantiria que o local ficaria completamente imobilizado, acelerando a recuperação da garota.
- Bem, acredito que terminei o trabalho por aqui. Dentre três a quatro semanas, já vai estar andando normalmente, talvez até antes disso. Recomendo que não tente forçar a articulação, fique aqui no Solar até se recuperar. - Disse, deixando o pé da moça sobre a mesa. Levantou-se e tomou um dos morangos da bandeja que estava sendo servida a ela, colocando-o na boca com um sorriso debochado - Esses morangos estão mesmo ótimos, mas se me permitem vou voltar ao meu quarto, se a donzela quebrar mais alguma coisa me chamem, por favor!
Leonardo então subiu a escadaria e seus pensamentos já se direcionavam a outros assuntos.
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