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[RP] A Casa da Colina

Maria_madalena
Durante todo aquele tempo Madalena estivera acordada. Os olhos propositadamente fechados, a respiração calma e o corpo inerte. Não pretendia um confronto. A noite não lhe trouxe as respostas que tanto procurava, a meretriz continuava perdida algures entre os gestos meigos e os beijos violentos, acalentava a esperança de que ele se fosse embora sem mais palavras, secretamente desejava que ficasse.

O peso de uma capa caiu-lhe sobre o corpo e Madalena necessitou de todo o seu auto-controlo para permanecer serenamente adormecida naquele sono fingido. Tão fingindo quanto a vontade de não o voltar a ver. Atenta agora às movimentações de ar e aos pequenos barulhos provocados pela movimentação dele, a meretriz apercebeu-se da sua aproximação. Por momentos prendeu a respiração, ele estava próximo, tão próximo...

Uma mão masculinamente rude tocou-lhe a face e a meretriz abriu os olhos.
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--Zeca
Zeca sobressaltou-se, os olhos cor de mel encaravam-no. Sentia-se uma criança mal comportada, o rapazito miúdo que um dia roubara maçãs das bancas dos mercadores, com aquelas maçãs calava a fome que lhe rugia aos ouvidos. O desejo que tinha em tocar-lhe era bastante superior a qualquer fome do passado. Sabia que não o devia ter feito, mas a mão dele permanecia encostada à pele morna do rosto dela, e a fome parecia apenas aumentar. Nos olhos dela não havia o rancor e a zanga dos mercadores, havia calor e havia espanto.

- Hum... hum... aham... - quis dizer alguma coisa que quebrasse a distância, não conseguiu mais do que vocalizar alguns sons incoerentes.
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Maria_madalena
Madalena colocou a sua mão sobre dele, afastando a mão de Zeca do seu rosto.

- Não quero que me toque. - a sua voz era séria e nela havia um ligeiro tom de ameaça.

Largou-lhe a mão, um gesto sobejamente frio e indiferente. Sentou-se e colocou as mãos livres sobre as coxas, evitou o olhar dele, mas era difícil resistir ao azul tempestuoso. Ele estava próximo, tão próximo...

- Vou-me embora!

A meretriz levantou-se num pulo e franziu o sobrolho quando a pele sensibilizada das suas pernas se voltou a rasgar. Disfarçou o melhor que pode, ocupando-se com a recolha dos seus parcos pertences, uma capa.
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--Zeca
Por momentos julgou que ela fosse segurar-lhe a mão, quem sabe conduzi-lo a novas descobertas. Estava redondamente enganado. Aquele toque, primitivamente mágico, foi apenas o primeiro passo de uma negação. Nos olhos dela já não havia calor ou espanto, apenas um frio magistral. Ao pedido dela, o estômago dele solavancou. As acções que se seguiram foram ainda mais gélidas e as boas intenções de Zeca morreram por ali. Não iria ser humilhado por uma mulher.

- Vá-se embora, vá-se embora e não volte. Vê aqui alguma porta? Está acorrentada, por acaso? Não sei porque não partiu de noite.
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Maria_madalena
De certa forma aquelas palavras magoaram-na, bem sabia que as suas atitudes não mereciam outro tipo de tratamento, em todo o caso esperara algum tipo de submissão da parte dele. Estava enganada. Angustiada, envolveu o corpo na capa e olhou em volta, procurando um caminho que lhe fosse familiar. Madalena inspirou profundamente e tentou recordar-se de todas as vezes que ali viera tomar banho, fechou os olhos e pensou durante alguns momentos. Os pensamentos iniciais foram difusos, mas à medida que mergulhava com mais afinco nas suas memórias o caminho que tinha de seguir surgiu claramente na sua mente. Satisfeita consigo mesma, a meretriz sorriu.

Agora que sabia o caminho, Madalena caminhou com confiança em direcção a Este, mais alguns metros e estaria num estrada de terra batida que desembocava na base da colina. Era um percurso relativamente largo e limpo, uma vez que por ali passavam carroças de mercadores e madeireiros. Olhou uma última vez para Zeca, continuava aninhado e furioso, as narinas dilatadas e as mãos fechadas em punhos. Orgulhosa, a meretriz cobriu o rosto com o capuz da capa e seguiu em frente.
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Maria_madalena
Apagar!
--Zeca
Zeca permaneceu agachado, furioso com as atitudes incoerentes dela, com a forma como ela se arriscava sozinha no mato, com o orgulho estúpido que a cobria. Furioso com o corpo elegantemente feminino dela, com os olhos desafiadores, com os cabelos longos e lisos. Furioso consigo, afinal ele era o único culpado. Era difícil ignorar uma mulher tão cheia de contradições e encantos, ainda mais quando os anos de solidão se arrastavam e apenas cresciam. O Floresta suspirou, o isolamento tinha-lhe quebrado o espírito indomável.

Ela já tinha partido há alguns minutos e os músculos das pernas ardiam em protesto devido à imobilidade. Lentamente, ele levantou-se e esticou o corpo, olhando em volta. Não precisava de ver por onde ela fora, para saber exactamente os passos que dera. Madalena era incauta ao ponto de deixar um trilho de pistas: ramos partidos, folhas desviadas, pegadas assentes em terra humedecida. Num ápice, Zeca recolheu a sua capa e outros pertencentes na sua sacola acautelando-se para que ficassem posicionados de forma a não fazerem ruído.

Cautelosamente seguiu o trilho de Madalena…
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Maria_madalena
Madalena foi em passo rápido até ao final do trilho, ali, por entre as árvores e o nevoeiro matinal, não se sentia completamente segura. O ar fresco gelava-lhe mais do que o corpo, entranhava-se com firmeza na sua alma despertando sensações de medo e insegurança. Foi pois com alívio que viu à sua frente a cidade do Porto, altiva e movimentada, capaz, julgava ela, de quebrar o gelo. A meretriz passou as mãos pelo rosto frio e olhou uma última vez para a floresta atrás de si, solitária e negra. Estranhamente não sentiu receio e os seus olhos perscrutaram intensamente o caminho não sabendo sequer o que procuravam. O choro de uma criança despertou-lhe a atenção, levou alguns momentos ainda a voltar-se, parecia incerta quanto ao que fazer a seguir, a dúvida pairava-lhe no olhar. Quando por fim se voltou, dirigiu-se para a Babilónia.
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--Zeca
Zeca estava escondido atrás de um frondoso arbusto na desembocadura do trilho. Estava tão próximo de Madalena que podia ouvir a respiração calma dela e sentir o odor almiscarado que lhe era característico. A candura que dela emanava não era condicente com as atitudes irascíveis, mas era exactamente isso que o cativava.

Quando por fim ela se voltou, caminhou decidida na direcção da cidade, mesclando-se com a turbe. Zeca esperou alguns momentos e depois foi atrás dela. Seguiu-a atrás de ruas e vielas, por vezes escondendo-se atrás de alguma carroça, ou esperando em alguma esquina que ela se afastasse o suficiente. Em nenhum momento a perdeu de vista ou se sentiu desencorajado pela confusão, barulho e odor desagradáveis da cidade. Ela caminhava rapidamente e levava o rosto coberto pelo capuz e foi somente depois daquela esquina que o passo de Madalena estabilizou e o capuz finalmente desceu. Cautelosamente, Zeca desacelerou também de forma a manter a distância que os separava, os seus passos tornaram-se mais cuidadosos e o Floresta procurou caminhar sob a sombra dos edifícios. Era uma rua relativamente ampla ladeada por edifícios lúgubres de um lado e do outro. “Que rua é esta?”, questionou-se intrigado pelas escolhas cada vez mais estranhas daquela mulher.

Aquela rua não era de todo movimentada e primava por uma pacatez, nitidamente contrastante. Estava ladeada por edifícios lúgubres de um lado e do outro e Madalena permanecia parada em frente a um deles. Uma sensação de nervosismo apoderou-se do Floresta e os pêlos no seu pescoço arrepiaram-se. Tinha um mau pressentimento.

Ao fim de alguns minutos, Madalena finalmente entrou no edifício para onde tanto olhava e Zeca caminhou agachado, escondido por entre as sombras dos edifícios, até às imediações daquele onde ela entrou. Sobre a porta havia uma placa redonda de madeira onde se podia ler "Casa da Babilónia" em sensuais letras vermelhas, encostada ao "B" estava uma silhueta feminina. Pelo olhar do Floresta passou uma raiva fulminante, ele não tinha dúvidas quanto ao que ela ali fazia.

A acção continua no tópico Casa da Babilónia

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Maria_madalena
Embora Zeca a tivesse amparado durante todo o caminho, Madalena estava entontecida pela dor e pelo cansaço. Ali na base da colina, ela gesticulou lentamente, dizendo-lhe para parar, precisava de um momento de descanso. A respiração saía em custosas golfadas e os olhos cor-de-mel da meretriz estavam inchados do choro, as suas feições contraídas pela sofrimento e sensações desconfortáveis.

- Preciso... de... parar... - disse enquanto as suas mãos desciam para se ampararem nos joelhos e o rosto enfrentava o chão de terra batida.
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--Zeca
Zeca olhou-a preocupado, as suas mãos envoltas delicadamente na cintura dela, tentando não pressionar as feridas que lhe rasgavam as costas.

- Madalena, vá lá, um último esforço...

Rapidamente perscrutou o caminho íngreme até à pequena casa no topo da colina, a estrada era incerta, cheia de altos e baixos, e sempre a subir. Um desafio sem dúvida superior aos caminhos de terra batida, lisos e de alguma forma fáceis que até então tinham percorrido. O olhar dele voltou a focar-se nela, curvada sobre o próprio rosto, ofegante e exaurida. No local onde a capa deixava de lhe cobrir as pernas, pequenas gotículas de sangue corriam por entre as curvas femininamente delicadas daqueles membros. Um pequeno rosnado, baixo e grave, escapou-lhe por entre os lábios.

- Não tenhas medo... - disse-lhe numa voz que em tudo contrastava com a fera capaz de rosnar daquela forma, bruta e enraivecida, momentos antes.

Segurando-a firmemente com a mão direita, Zeca encaminhou o braço esquerdo dela para o seu pescoço, firmando a mão dela sobre o seu ombro. Desceu cuidadosamente a sua mão direita para as coxas dela, envolvendo-as num abraço firme. Susteve a respiração por alguns momentos, a cabeça dele a latejar no local onde fora atingido, e depois ergueu-a contra si. O mundo pareceu estremecer por breves instantes, os seus olhos enevoados, e Zeca apertou-a mais contra si, assegurando-se de que não a deixava cair. Quando tudo pareceu estabilizar ele murmurou contra o ouvido dela:

- Não me largues.

E com cuidado iniciou a subida.
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Maria_madalena
Madalena não teve forças para responder a Zeca. Naquele momento, não conseguia formular qualquer tipo de pensamento coerente, tudo o que desejava era encolher-se, dormir e esquecer. As mãos dele constantes e suaves na sua cintura, eram a única coisa que preveniam que tombasse naquele exacto momento.

Quando ele lhe disse para não ter medo, a meretriz arregalou os olhos e falhou uma respiração. As movimentações que se seguiram deixaram-na ansiosa e algo receosa, acabando por descobrir, instantes mais tarde, que nada havia para temer. Ele não iria magoá-la, não de propósito. Os gestos dele eram carregados de meiguice e ternura e a voz dele mais não era do que um sussurro baixo e melancólico.

Ela agarrou-se como podia, firmando-se contra o corpo dele, e fechando os olhos, o rosto encostado ao pescoço dele. Não tinha um cheiro agradável e os cabelos estavam empastados em sangue e dejectos animais. Mas, naquele momento, a meretriz sentia-se estranhamente confortável e segura. Os braços dele estavam completamente retesados, os músculos contraídos dolorosamente pelo esforço, as respirações dele eram profundas e ruidosas e corpo dele cobria-se de suor, e Madalena foi assaltada pelo remorso.


- Eu posso tentar caminhar... - disse numa voz baixa para não perturbar o esforço dele.
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--Zeca
Ao ouvir a voz dela, Zeca parou de imediato e sorriu, apesar do esforço em que se encontrava.

- Já não falta muito... - disse-lhe numa voz que se arrastava entre respirações complicadas.

Equilibrando-se apenas numa perna e amparando-a com a outra, Zeca puxou-a mais para si, um gesto que lhe custou uma boa dose de energia. Estavam já a mais de metade do percurso, faltavam poucos metros, não iria desistir ali, poderia aguentar o peso dela mais um pouco. Para ganhar coragem, ele enterrou o rosto contra os cabelos dela e inspirou profundamente, inalando o doce cheiro dela, depois beijou-a delicadamente na testa permanecendo com os lábios ali encostados mais tempo do que seria necessário.

Quando por fim voltou a erguer o rosto retomou a marcha.

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Maria_madalena
Madalena deixou escapar um som abafado quando ele se equilibrou apenas com uma perna, suportando o peso dela e balanceando-a de modo a reposicioná-la contra ele. Se a meretriz não estivesse tão absorta na sua própria dor e humilhação teria pensado no quão forte ele era, os músculos duros apertados contra si, o rosto dele enterrado nos seus cabelos. O beijo que ele lhe depositou na testa, fê-la expirar lentamente, os olhos fechados, toda ela focada naquele pequeno gesto. Quando ele quebrou o contacto o movimento foi retomado e a meretriz abriu os olhos, observando com expectativa o resto da subida.

A distância que os separava da casa de Madalena encurtou-se no espaço de alguns minutos. Chegados ao topo de colina, a meretriz abriu a boca para falar, queria dizer-lhe que a porta estava aberta e que ela entrava em casa pelos seus próprios meios, ele não lhe deu tempo, empurrado a porta com as costas e entrando com ela ainda no seu colo.

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--Zeca
Zeca olhou em volta procurando um sítio onde pudesse pousá-la. Havia uma esteira depositada num dos cantos, mas de imediato abandonou aquele pensamento, era demasiado baixa, acabaria por magoá-la ou deixá-la cair. Tinha a cabeça a andar à roda e a boca seca, sentia-se extenuado.

- Vou pousar-te. - disse-lhe ao mesmo tempo que a descia até ao chão, sem nunca deixar de envolver nos seus braços.
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