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[RP] Solar da Família Torre

Dott


Nessa linda madrugada de domingo, 9 de abril, após uma longa e bela bebedeira na taverna dos dragões Dott vem cambaleando pela rua tentando voltar pra casa. Tropeçando nas próprias pernas e algumas quedas no chão. Foi ai que teve a brilhante ideia de usar seu primo, Leonardo da Vince, como apoio para tentar se manter em pé (ideia não muito boa já que ambos estavam alcoolizados). Rindo e falando tolices no meio da rua.

Foi quando chega perto do solar e avista um vulto a distancia e ao chegar perto percebe que é sua prima, Raquel_, foi quando da um grande sorriso e diz tentando puxar ar pra formular as palavras:

- haha, iai "plima", (respira fundo) tudo bem? "touxe"o Leonardo até aquiiiiiiii... Mas "pude relaiiixa" a "giente" tá sobrio!


Mal conseguindo pronunciar as palavras corretamente da outro grande sorriso em direção aos primos.
Leonardodavinci


Leonardo por vezes se permitia entregar ao poder extasiante de Bacco. Como os antigos acreditavam, era na ebriedade que os etílicos forneciam, que se entrava em conexão com esta singular divindade. Nesse momento, acreditava-se, o homem estava livre das amarras e os excessos eram toleráveis. Uma forma completamente diferente de conexão, que se diversificava das exigências morais. Era o deus campesino, o deus bucólico, o deus dos homens simples ou pelo menos, o mais simples de se agradar entre os deuses.

Comemorava naquela noite, a aquisição de uma oficina. Apesar do elevado custo, Leonardo estava contente pela ampliação do negócio, que viria a ser a parte dos Montevani em Portugal. Geralmente, quando Leonardo se embriagava, arranjava os mais diversos problemas. Ainda as vezes vinha em sua memória, o vexame que passou no noivado de seu primo Lockee e que quase causara a morte de um homem inocente.

Havia se contido, mas Dott havia se embriagado mais que ele e o estado dos dois acabava sendo piorado pelas constantes risadas que soltavam pelas ruas. Conseguiram, mesmo sem saber como, chegar ao Solar, avistando então Raquel por ali. Leonardo não pôde distinguir se ela estava zangada, preocupada ou rindo deles dois.

Dott tentou explicar qualquer coisa, mas as palavras dele soavam estranhamente engraçadas e vagarosas o que fez Leonardo rir ainda mais. Ele olhou para prima, tentando parecer sóbrio elevando o corpo, mas apenas conseguindo ficar torto. Mostrou pra ela uma jarra pela metade de vinho.

- Voxe quer um pouco?
- Leonardo disse, explodindo de rir, numa risada que se assemelhava a "taktaktakta" .

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Raquel_


Raquel ouvira barulhos altos de homens conversando em algazarra, reconhecendo que uma das vozes pertencia a Leonardo. Resolveu descer até o salão do Solar para saber o que estava acontecendo, quando avistou Leonardo e Dott juntos completamente bêbados, e Leonardo a oferecer-lhe vinho. Ela apoiou as duas mãos na cintura, observando a continuação da algazarra, ambos falando alto e rindo sem parar.

- Assim vocês vão acordar todo mundo nesta casa, seus beberrões! Vamos subir que vou levar vocês até o quarto....conseguem andar ou precisam de uma ama?

Leonardo ergueu a garrafa de vinho, bebendo do gargalo, passando para Dott beber no gargalo também.

- Voxe picisa relaxarr Raquel! Toma junto com a gente! - Disse Leonardo, em seguida solta um arroto silencioso.

- Vamos para o quarto, vocês estão fazendo muito barulho aqui!! - Raquel segura Dott por um braço e Leonardo pelo outro braço.

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Dott


Ao ser agarrado pelo braço por sua prima se deixa ser carregado, mas o local fechado e a mão que aperta cada vez mais seu braço o deixam angustiado sentindo que precisa tomar um ar e fazer algo na rua, porem, percebe que esta muito, mas realmente bastante, alcoolizado então deixa ser levado até o quarto.

Lógico que no meio do caminho aquela garrafa de vinho estava meio cheia e isso não podia continuar daquele jeito. tentando fazer o mínimo de barulho pra se comunicar com Leonardo mas fazendo mais do que realmente achava.

- LEO, ME DA UM GOLE AI. - e no meio disso quase derruba um vaso.

Ao chegar no seu quarto vai direto pro banho pra dar uma melhorada, se sentindo sóbrio novamente após o banho. Começa a andar pela casa como uma alma penada em busca de algo pra fazer...
Leonardodavinci


Leonardo se deixou ser levado por Raquel. Ela ficava ainda mais bonita daquele jeito mandão, assumindo o tom sério, cuidando dos primos, mesmo que Dott fosse o mais velho ali, era nítido que ele não tinha tino para o negócio. Quando ela parou diante do quarto reservado a Dott, teve que soltar Leonardo para conseguir empurrar o outro primo para dentro. Aproveitando da situação, o rapaz escapou, levando consigo a jarra de vinho.

Tropeçando pelos corredores, derrubou um pequeno item de decoração, que ele sequer viu, mas que claramente emitiu um som pela casa, como se tivesse se despedaçado. Coberto de cacos e vinho, vendo que Raquel descobrira sua fuga e vinha atrás dele, Leonardo se levantou e saiu correndo. Ele estava muito mais lento e com menos coordenação do que o natural. Consequentemente, ao tentar descer da escada se atrapalhou, acabou caindo. Rolou pelos últimos degraus e caiu estirado no chão. A jarra, misteriosamente, havia se quebrado na parede, fazendo escorrer uma mancha de vinho, como se a tivessem ferido.

Raquel apareceu no topo da escada e apesar da dor, Leonardo só pode ir da situação.

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Dott


Dott andava pra la e pra ca sem rumo. Graças ao banho estava mais consciente foi então que começou a ver cacos pelo chão do corredor enquanto pensava "mas o que aconteceu aqui?" sempre curioso foi seguindo o rastro ate chegar a fonte.

Ve Raquel no topo da escada, é quando então vai ate ela calmamente e pergunta:

-Prima, como eu cheguei aqui? - ao chegar do lado da mesma, ve Leonardo estirado no pé da escada, então ela conta o ocorrido.

Fica preocupado, mas logo relaxa ao ver ele levantando. Percebe que ele procura algo e escuta ele reclamando: cade o vinho? cade o vinho? - Foi então que percebeu que a garrafa ja tinha quebrado...

- Não Acredito que vc quebrou a ultima garrafa, Agora não tem mais nada pra beber?Não, não... Já sei, vamos comprar outra e beber na rua!
Raquel_


Raquel desiste de botar ordem na bagunça depois da lambança que Leonardo fez com o vinho. "O vô Carlos vai ficar bravo quando ver essa parede manchada de vinho", pensou ela. Não teve outro jeito a não ser ir com eles pra rua novamente, e ficar de olho nos dois beberrões a fazerem mais besteiras, desta vez longe do silêncio do Solar onde repousavam.

- Anda, vamos a sair de novo, senão vocês botam esse Solar no chão!! Qualquer coisa vamos pra minha casa depois!!

Leonardo não se aguentava em pé direito, Raquel já imaginava o trabalho que seria dar conta de dois beberrões pelas ruas.

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Giovanna_bascio


Os largos portões do Solar pareciam intimidadores, mas com a obstinação de Giovanna, aquilo era um mero obstáculo. Estava convicta de que seria recebida após longos anos desde que tinham se visto pela última vez. Teve tempo de se preparar na estalagem, ajeitou os cabelos loiros para que pudesse dar mais visibilidade ao seu rosto, e usava um vestido com decote bem generoso. Pensava assim, que poderia reavivar as lembranças de momentos que julgava serem marcantes.

Adentrou pelos portões e caminhou até a porta de entrada com segurança nos passos, bateu quatro vezes aguardando ser recebida. Uma senhora abriu, e Giovanna se apresentou com intuito de ser recebida por quem era do seu interesse. Arranhou no português o máximo que pôde, ainda não estava acostumada.

- Buon pomeriggio... procuro o... sindaco de Chaves, Dom Lionardo. Ele está?
Leonardodavinci


Um dos aposentos do Solar dos Torres se transformara num estúdio improvisado. A luz forte da primavera atravessava as janelas e recheavam o local de vívida luminosidade, ressaltando as cores e deixando os mínimos detalhes mais evidentes. Os pergaminhos espalhados, repletos de anotações, as manchas de tinta no chão, os pedaços de mecanismos e objetos das mais diversas formas geométricas, revelavam a complexidade e ansiedade da mente que orquestrava aquele cenário caótico.

Ao centro da sala, Leonardo, passava com delicados e nervosos movimentos o lápis de chumbo sobre um largo papel. Seus olhos se concentravam e fissurados em seu objeto de estudo, transmitiam para mente e então para o papel, as mínimas percepções e detalhes. Experimentava de um estranho êxtase, de fixação e comprometimento com o objeto estudado, ao qual seu espírito o orientava e guiava a força de sua vontade para extrair, dele, a mais pura expressão. O trabalho artístico, antes da realidade, nascia no próprio individuo, não era voltado ao exterior, mas somente ao enriquecimento pessoal, mas era esta característica, que tão violentamente o fazia explodir e afetar todos as sua volta.

O objeto de estudo, era o jovem Giorgio, rapagote franzino, de cabelos ondulados e frágil cútis, que desnudo, diante de seu mestre, permitia-o capturar o seu corpo e transpô-lo ao papel. Apesar de ser direcionado a ele, a fixação da mente de Leonardo, o rapaz entendia, tão bem quanto seu mestre, a tarefa quase sacerdotal que a Arte exigia. Por tanto, ao mesmo tempo em que o desenhista se absorvia, absorvido também estava o modelo, que entendia não ser o seu corpo específico o intuito da arte, mas a natureza, que ele carregava em seu corpo e da qual era herdeiro, involuntário, pela condição de constituinte dela. Ao estudo do natural, se retirava a verdadeira essência, de quem era, sua progenitora, a natureza.

O lápis se esfacelava contra o papel, deixando para trás, no seu rastro, os contornos do corpo de Giorgio. Aquele tipo de estudo, era muito comum para os dois, visto terem sido educados em ateliês e terem tantas vezes disposto e observado a tarefa. Não havia entre eles nenhum constrangimento, mas sim a cumplicidade, dos artistas.

A poucos dias, Leonardo recebera uma carta de um nobre galego, que requisitava a ele, que o ajudasse a renovar a capela local, pintando um afresco, atrás do altar. O rapaz, afoito com a encomenda, uma das primeiras que recebia fora da Itália e a primeira a qual teria autonomia para trabalhar, não mais como aprendiz, mas como feitor principal. Por isso, dispusera grande quantidade de energia para aquela tarefa, recebia um direcionamento prático para seus estudos, além de sua atividade pessoal e a possibilidade de embelezar um local com uma obra sua. Era fato, que não precisava do dinheiro, mas precisava da cobrança, pois os assuntos da cidade e os do Banco Montevani, o qual ele tentava pela força tomar, o afastavam de sua vocação e o conduziam cada vez mais, a subserviência ao lado mais obscuro e implacável de sua alma, que ele lutava para aleijar.

Batidas na porta ecoaram pelo estúdio, que por um momento, parecera completamente estático e então foi perturbado pelo forte som da madeira reverberando. Estava quebrada a redoma, Giorgio se desequilibrara e Leonardo deixara escapar o lápis um pouco além do necessário.

- Quem é? -
perguntou secamente Leonardo, irritado.

A porta se abriu, revelando o rosto afogueado de uma das criadas do Solar que ao ver o rapaz nu do outro lado da sala, rapidamente baixou os olhos, terrivelmente constrangida. Os empregados já viam o rapaz que se mudara para lá recentemente, com estranhamento, devido a seus hábitos excêntricos, a tendência a nudez, a insônia, os pedidos repentinos de mais pergaminhos e a relação incestuosa com a prima. Ao grande hall de cenas e momentos acerca dos quais os empregados discutiam avidamente, se adicionaria aquele também. Muitos especulavam que o rapaz era um feiticeiro, outros diziam que era natural do sangue italiano o apetite por orgias e pelo incesto, alguns afirmavam que ele não era um único homem, mas vários, muito parecidos que usavam o mesmo nome, pois tinha o hábito de aparecer repentinamente nos lugares, observar demais e a realizar toda a sorte de profissões. Hora era prefeito, hora era artista, hora era músico, hora era militar, hora era inventor, hora era guerreiro e por aí, muitos afazeres o tornavam já, uma das figuras mais estranhas que já haviam pisado naquele Solar, outrora tão calmo. Por sua parte, Leonardo só sentia falta de seu aposento quente, na casa de Raquel, da liberdade que tinha e da bela visão que o acompanhava diariamente.

- Perdão, senhor, está aí uma senhorita italiana que diz lhe conhecer e o quer ver. - a criada disse timidamente.

- Mandai voltar outra hora. Estou ocupado.


- Senhor, ela me disse para insistir, disse que o senhor também gostaria de a ver imediatamente. Disse que seu nome é Giovanna Bast...Baci...

- Giovanna Bascio. - Leonardo reconheceu o nome, seus lábios se retraíram após pronunciá-lo, tivera a impressão que aquele nome tinha um sabor entre o doce e o azedo. Senti-lo novamente o fez se assombrar, mas se conteve, conservando uma certa serenidade. O trabalho artístico que estava realizando anteriormente, o ajudou a manter o equilíbrio.

- Irei vê-la. Conduza a senhorita até um dos escritórios do meu avô no térreo e fique de olho nela.


A criada se retirou, obediente e fechou a porta. Leonardo se levantou, tomou as roupas de seu aprendiz e as colocou no colo dele. Giorgio o fitava expectante, o rapaz sabia quem era a mulher e no que a presença dela ali implicava. Temeu por seu mestre e aguardou sua orientação.

- Você sabe quem é esta mulher, não é?

Giorgio assentiu.

- Então, meu amigo, sabe o porquê de ser preciso ter cautela. Não posso deixar que Giovanna saiba de Raquel e é melhor para minha prima também não tomar conhecimento de quem foi Giovanna para mim. - Leonardo se perdeu por um segundo em seus pensamentos. Sentiu uma rápida frigidez de medo. - Preciso que encontre Raquel e me diga se ela está no Solar ou em qualquer lugar da Vila... Vá rápido, meu amigo e me relate o que encontrar.

O diligente aprendiz, vestiu suas roupas com pressa, saindo por completo do papel que representava e andou rapidamente através da porta. A áurea do estúdio havia se partido, a alma do artista estava obscura e todo o ambiente o seguiu. Ele teve a impressão que uma nuvem cobrira o sol, pois uma penumbra adentrou o estúdio, para lhe fazer companhia. Procrastinou alguns momentos, organizando inutilmente, sua mesa, preparava em sua mente, todos os mais derivados cenários e fixava-se no objetivo de tirar Giovanna dali o quanto antes.

Ele caminhou nervosamente pelos corredores do Solar, até chegar no andar inferior, ao térreo e ao escritório onde estava a mulher. A criada sinalizou qual das portas ele deveria atravessar e se retirou. Ele hesitou por um momento na maçaneta, mas respirou fundo. Precisava enfrentar aquela situação.

Do outro lado da sala, estava Giovanna, voltada para a janela, com as costas banhadas pelos cachos louros. O vestido modelava o corpo dela, destacando os quadris e os contornos do dorso. O perfume doce e exagerado dela, impregnava o cômodo e parecia se esgueirar em cada fresta, como se fosse ali buscar se fixar. Leonardo mal podia acredita no que via, por um momento, reconheceu todas as formas dela, mas ainda uma esperança havia de que não fosse Giovanna ali, ela estava estática, uma mera silhueta de encontro ao sol. No entanto, a possibilidade logo se desmanchou, ela o percebeu entrar e se virou, olhando-o, inicialmente com reconhecimento e depois com o que ele interpretou como uma certa luxúria.

Ao observá-la, Leonardo se recordou de muitas coisas. Voltara por alguns segundos, para os anos que passara em Florença. Um calor subiu de seu baixo ventre e o tomou até ruborizar sua face, por um momento, ele era um garoto de novo e aquela familiaridade que havia entre os corpos dos dois, a forma como naturalmente a luxúria deles se encontrava reavivara. Olhou como lhe era natural as formas daquele corpo que ele tantas vezes possuiu. O decote dela, expunha parte do seios e ele sentiu novamente aquele sabor doce nos lábios. Os olhos dela eram felinos, com um brilho que refletia agressividade, eles o analisavam, a espera do próximo movimento que faria. Ele se sentiu como uma presa.

Leonardo lembrou então, do que havia além do corpo dela. Os anos em que passou sob a influência de Vincenzo e como aquela relação, nada mais era, que a exteriorização das torpezas que o maledicente mentor plantara na cabeça do jovem Leonardo. A luxúria que aquecera seu corpo tantas vezes e o prazer que recebera, se contrapunham, ao prazer e o calor que lhe trazia o fazer artístico e a iluminação. Lembrou também, de Raquel, da devoção que sentia por ela, que transcendia o corpo e habitava delicadamente em suas ideias. Ao pensar em sua amada, formou-se entre ele e Giovanna uma barreira, a oposição entre o passado e o presente, o claro e o escuro.

Ele respirou fundo.

- O que você quer?


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Giovanna_bascio


Quando ouviu Leonardo perguntar friamente o que queria, Giovanna percebeu que havia um enorme obstáculo entre os dois. Havia feito uma falsa previsão, de que Leonardo a receberia pelo menos como velhos amigos, mas o tom de voz dele caiu por terra suas expectativas. Usaria de outro subterfúgio para estabelecer um contato que não fosse tão hostil, pois não havia feito uma viagem tão longa para ser enxotada 5 minutos após se verem. Olhando para Leonardo, ela procurou um cacho dos seus longos cabelos louros e começou a enrolar entre os dedos da mão, mantendo-se em pé. A conversa fluía em italiano sem precisar recorrer ao parco português.

- Eu achava que a recepção seria mais amistosa, mas acho que me enganei. Há quanto tempo não nos vemos, Leonardo? Talvez Bartolomeu não aprovaria sua atitude assim comigo... será que posso me sentar? Ou serei expulsa da sua nova casa?

Leonardodavinci


Leonardo entendeu a postura que Giovanna havia adotado. Precisava ser cuidadoso com ela. Percebeu que havia cometido um erro ao ser direto demais na primeira abordagem. Ela reagia, tentando desviar a atenção dele para outras coisas. Leonardo percebeu que teria que se valer de uma arte de trato social muito mais refinada. Teria que se comunicar por meias-palavras, tal como era a regra social quando se tratava de qualquer assunto delicado.

Ele observou Giovanna enrolar os cachos na pontas dos dedos e olhar para ele com fixidez. O uso da língua italiana e a menção a Bartolomeu denunciou a intenção dela em fazê-lo se relembrar das memórias que ele compartilhava com ela. Este fato o incomodou, sentiu como se suas memórias lhe impusessem uma dívida. O fato de a ter esquecido durante os últimos anos, dava a ele a impressão de que havia sido ingrato com aquelas lembranças.

Diante das palavras dela. Ele suspirou.

- Sente-se, por favor. Perdoe minha ausência de modos. - Ele ofereceu a ela, um assento, no entanto, permaneceu de pé. Aquele encontro não deveria demorar muito tempo - No que concerne a Bartolomeu, não acho que você tem direito de evocar a memória dele. Não me agrada que você use isso contra mim, deve saber que ele faleceu há dois anos...

Ele olhou para os olhos dela. Jogava para saber o quanto ela sabia sobre ele. Ela sabia acerca da morte de Bartolomeu? E como ela sabia disso?

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Giovanna_bascio


Era evidente para Giovanna assistir Leonardo em pé proferindo espinhos em forma de palavras, formando uma barreira de proteção entre os dois. Naquele momento Leonardo não era diferente de qualquer homem que havia conhecido, principalmente Vincenzo, denotando superioridade e desprezo. E por estar tão acostumada aos constantes ultrajes masculinos, por certo agressivos e tão ordinários quanto ladrõezinhos de estrada, Giovanna não interrompeu o enrolar do cacho em seus dedos quando Leonardo a julgou mesmo sem procurar saber sobre o passado.

Havia uma ruptura mais profunda do que Giovanna se permitisse pensar, por um momento teve a impressão de que seria mais doloroso ainda ter que recorrer à grande memória de Bartolomeu e do desenrolar dos acontecimentos. Era muito menos difícil quando podia dedicar-se aos encantos da conquista do rapazote protegido de Vincenzo.

- Primeiramente, obrigada por me deixar sentar, mas não significa que você possa cuspir facilmente em meu rosto o impedimento de lembrar de alguém que também teve significado para mim.

Giovanna parou de repetir o gesto que fazia com os cabelos. Continuou, tendo que manter a cabeça erguida para encarar Leonardo. Não deixava de ser um ato de bravura em sua mente.

- Sim, ele faleceu... por isso vim de Gênova até aqui, a muito custo, um custo bem alto, de vidas que se perderam e das que estão se perdendo no caminho. Agora vês, a imagem do seu sacro Bartolomeo é bem maior que sua vã existência...

Giovanna apenas começava o seu embate triunfal, muito conhecida como a grande persuasão de Gênova.

- ... não és o único com cicatrizes.
Leonardodavinci


Leonardo olhou Giovanna nos olhos.

- Não dissimule. Se Bartolomeu significou algo em sua vida, se sabe da morte dele e tem dimensão de o quão dolorosa ela pode ser, então não o use como arma contra mim.


A conversa foi interrompida por algumas discretas batidas na porta. Era Giorgio que trazia consigo uma garrafa de vinho, os copos e a informação que Leonardo pedira. O jovem aprendiz, ergueu as sobrancelhas, surpreso ao ver que era de fato Giovanna que estava diante dele, tão longe de sua terra. Em seguida sussurrou ao seu mestre o paradeiro de Raquel, alertando-o para que evitasse um encontro entre as duas.

- Agradeço, amigo. Avisai-me acaso algo se modifique. - Leonardo ordenou, tomando a garrafa e fechando a porta em seguida.

Ele depositou os copos sobre a mesa e verteu o líquido nos copos. O vinho brilhava, quase rubro, o símbolo universal do sangue. Ambos, Giovanna e Leonardo, abriram um caminho sangrento em busca da liberdade das coisas do passado. A presença dela ali, no entanto, rompera a busca. Precisavam resolver os assuntos pendentes.

- Você sabe onde estão minhas cicatrizes, cada uma delas.
- disse Leonardo se sentando diante dela e empurrando em direção a ela o copo de vinho. Em seguida, pegou o seu próprio copo e se deixou beber primeiro, como sinal de boa fé. Afinal, os dois eram italianos. - Comecemos então pelas suas, pois creio não as conhecer mais, da forma como conhecia. Diga-me, como me encontrou?

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Giovanna_bascio


Com a entrada de Giorgio na sala interrompendo o diálogo hostil, Giovanna preferiu aguardar o momento certo para silenciar o atrevimento de Leonardo em desviar o assunto para atacá-la. Aquilo a deixara mais ainda obstinada, pois achava inadmissível ser vista como uma inimiga por quem havia dispendido tempo precioso, principalmente na arte profana de amar.

Giorgio e Leonardo não disfarçaram os sussurros perante Giovanna, e após a saída do garoto foi oferecido um copo de vinho, seguido de uma pergunta investigativa.

- Simples. Sua última viagem para Florença. Não foi difícil saber o seu paradeiro depois do que ocorreu durante sua estadia.
- Giovanna verteu o vinho lentamente, para depois continuar - Foi bem comentado em Gênova, por sinal... mas não vim aqui como inimiga.
Leonardodavinci


Leonardo tomou metade de seu copo de vinho e agitou o líquido, observando a forma como ele se movia no interior do copo, adaptando-se ao formato cilíndrico conforme se movia. Ele repassou brevemente o que ocorrera em Florença, pouco mais de um ano atrás. De fato, na época não procurara Giovanna, estava já de certa forma blindado por sua tarefa lá e pela admiração que sentia pela prima e pelo sentimentos que até o momento não havia ainda se tornado recíprocos.

- E como viveu os últimos anos? Bem, desde a morte de Vincenzo... - Leonardo lembrou-se de quanto tempo não pronunciava aquele nome. As lembranças todas pareciam ter escolhido aquele dia para assaltarem sua mente.

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