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[RP] Vila Torre - Domicílio de Raquel Torre

Raquel_


O peito contraía e se expandia, indicando sinal de que havia vida. Raquel engoliu a seco, e sua garganta parecia arranhar, sintoma de uma enorme sede. A boca se encheu de saliva para novamente engolir na tentativa de aliviar o incômodo, e os olhos se comprimiram. Logo depois se abriram lentamente. De início o que se via era apenas o teto, mas buscou sondar o que estava à sua frente. Reconheceu que não estava em casa, e ao olhar para o lado, avistou Leonardo.

Então Raquel fez um esforço para se lembrar até onde podia. Não entendia a presença do seu primo por perto, já que ele tinha ido embora. Lembrou da imensa tristeza que sentiu e que, por não conseguir suportar, quis se distanciar o máximo possível daquelas terras. Pensou no que tinha ocorrido pelo caminho, e nada mais pôde lembrar. Sua reação foi levar a mão até a testa, e ajeitar o corpo na cama. Dores se manifestaram como se não tivesse movimentado o corpo por muito tempo.

Antou entrou no quarto aparentando ansiedade, e Leonardo se aproximou de Raquel perguntando o que ela sentia. Fez um esforço e murmurou algumas poucas palavras.

- Eu quero água...

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Leonardodavinci


Leonardo estava distraído olhando pela janela do quarto. Um estranho sentimento o preenchia. Já passava alguns dias que estava de vígilia a beira da cama de Raquel, esperando que ela retornasse de sua inconsciência. O tratamento que dispensara nela, havia ajudado e aos poucos ela se recuperava. Não demoraria muito para que ela despertasse, mas a incerteza do que ocorreria depois o perturbava.

Foi então que notou um movimento no leito. Era Raquel que respirava pesadamente e começava a se mover desorientada, enquanto recobrava a consciência. Leonardo então se levantou de imediato e começou a examiná-la. Tentou verificar se ela estava consciente e lançou algumas perguntas. Checou a temperatura na pele dela, que havia diminuído significativamente.

Quando Raquel lhe pediu água, ele um pouco afobado encheu um pequeno pote com água de uma jarra e verteu nos lábios dela o mais delicadamente que pôde com suas mãos ligeiramente trêmulas.

Leonardo queria que Raquel sentisse que ele estava ali para ela e que jamais quisera ir embora.

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Sir_anton


Anton entrou no quarto a tempo de ver um milagre: sua irmã acordada.

Ele apenas parou e assistiu enquanto Leonardo cuidava da irmã. Decidiu dar um tempo aos dois, antes de aproximar:

- Leonardo! Me dê um momento com minha irmã.

Com certa hesitação, o primo se retirou do quarto deixando os irmãos a sós.

Anton sentou na cama próximo a irmã:

- Como se sente? Você me deu um susto enorme. Mas talvez... Só talvez. Seja minha culpa. Um pouquinho. Me desculpe por antes mas, você é minha irmã favorita. Me preocupo com você.

Após conversar um pouco com a irmã, Anton se retirou do quarto para falar com Leonardo.

- Você fez algo bom. Obrigado por cuidar da minha irmã. Sabe, talvez minha reação antes tenha sido um pouco exagerada. Tenho certeza de que pode entender. Você... Pode ficar na casa na vila, primo. Acho que aqui no Solar, seria apropriado.

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Leonardodavinci


Após verificar o estado de Raquel e atestando que ela estava bem, Leonardo se retirou do quarto a pedido de Anton. Ele esperou num corredor do Solar, caminhando de um lado a outro. Alguns criados também esperavam do lado de fora aguardando qualquer ordem para se apresentar e por vezes lançavam ao rapaz italiano um olhar suspeito. Era óbvio que alguns boatos deveriam estar circulando pela Vila e pelo Solar, já circulavam desde quando ele havia mudado para casa de sua prima, mas agora, ganhavam nova força. Anton havia sido prudente e evitara um escândalo, mas era difícil disfarçar a tensão que contaminava o ar e as ordens que foram outrora dadas para não permitir a entrada de Leonardo no Solar. O italiano sentia a curiosidade nos olhos dos criados, e isso o deixava muito incomodado. Se irritava com a hipótese do que poderia estar passando pela cabeça de todos, especialmente, todo tipo de suposições baixas e maledicências mesquinhas sobre sua prima.

Leonardo tinha aquela nuvem negra pairando sobre ele em tudo que concernia a família e a laços afetivos. Perdera a maior parte dos amigos e dos familiares na Itália e novamente os perdia em Portugal. Poderia dizer que talvez Vincenzo de sua cova estava ali ao lado de seu afilhado, arruinando cada ponta de esperança e guiando-o para o desespero final que o tornaria tão vazio e perverso quanto o mentor. Pensava que se puxasse a adaga de seu cinto, poderia resolver todos os seus problemas.

No entanto, esse era um tipo de pensamento que Leonardo tinha capacidade de suprimir. Ele não era um demônio, mas um homem que precisava agora descobrir como alcançar sua amada. Estava diante de um problema, mas ele podia resolver. No breve momento que aguardava no corredor, apoiado diante do peitoril de uma janela, ele havia chegado a resolução de que não poderia permitir que Anton o afastasse de Raquel. Assim que ela melhorasse por completo, ele fugiria com ela. Iriam para longe daquele lugar. Poderiam ir a França ou aos principados no Sacro Império Romano.

Enquanto Leonardo devaneava, repassando seu plano de sequestro, Anton se retirou do quarto, e viu o primo no corredor à espera. Ele parou por um instante à frente de Leonardo, e em tom calmo, disse:


- Você fez algo bom. Obrigado por cuidar da minha irmã. Sabe, talvez minha reação antes tenha sido um pouco exagerada. Tenho certeza de que pode entender. Você...pode ficar na casa na vila, primo. Acho que aqui no Solar, seria apropriado.


As palavras do primo por um segundo surpreenderam Leonardo. Aquela proposta alterava o rumo das coisas. Diante de tudo que acontecera, Anton havia sido bem breve no seu pedido de desculpas, mas o rapaz sabia que seria inútil tentar arrancar algo mais dele. Educadamente respondeu:

- São águas passadas, Anton. Trarei minhas coisas da estalagem para o Solar. Fiz o que devia ser feito, e se pudesse faria de novo.


Havia verdade naquelas palavras. Agora que ele ficaria no Solar, teria uma chance de ficar próximo a Raquel. Aos poucos poderia convencer a família a permitir que ele a amasse. Leonardo agora já não conseguia pensar em mais nada além dela. Ele se aproximou da porta do quarto e ficou olhando para o leito onde ela repousava. Ela lhe abriu um largo sorriso, que por um momento, ele poderia jurar que derretera toda a neve lá fora.

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Raquel_


Os dias correram, e Raquel tinha se recuperado da enfermidade, se levantava da cama e já não fazia as refeições no quarto. Soubera que Anton tinha permitido Leonardo morar no Solar, e que seu primo já tinha trazido seus pertences e estava devidamente instalado. Era uma preocupação a menos, mas ainda haviam muitos sentimentos com os quais ela precisava lidar. Enquanto estava ali no Solar, estava exposta à impressão que o primo lhe causava. Encontrava-o algumas vezes na cozinha, na sala ou pelos corredores. Havia entre os dois uma questão não resolvida, mas que a presença de Anton impedia que pudessem tratar. Ela o observava as vezes de longe e em algumas trocas de olhares refletia acerca do que se passava na cabeça dele. O irmão já parecia desconfiado da permanência dela no Solar e perguntava se ela já estava bem e se desejava retornar para sua casa. As perguntas dele se tornavam mais frequentes e ela sabia que a preocupação dele não era com a estadia dela, já que se dependesse dele, ela ficaria sempre sob seus cuidados, mas imaginava que ele estava incomodado pela concessão que fez. Ela tinha receio que se caso Anton visse os dois juntos, a situação pudesse se complicar mais uma vez, mas permanentemente para Leonardo. Decidiu, então, retornar a sua casa. O dia que ela saiu do Solar estava escuro. Um punhado de neve havia caído na noite anterior e dificultava um pouco o passo. Ladislau ia na frente, levando em uma carroça os pertences que haviam sido trazidos pra ela. Raquel, no entanto, decidira ir a pé.

Talvez a caminhada com esforço pela neve ajudaria a manter-se alerta sobre si mesma. A cada passo queria se livrar do torpor que estava habituada a viver, adiando e adiando o que seria inevitável, silenciando inutilmente um grito ingovernável. Mas mãos invisíveis não eram o suficiente para calar a verdade, que de vez em quando teimava em resplandecer sua existência. A verdade vinha do olhar daquele que sempre esteve ao seu lado, materializado posteriormente num beijo. E qual a finalidade agora de permitir-se continuar violentando o que não fazia mal algum, se o que se mantinha na superficialidade foi desconstruído? É preciso coragem para enfim, admitir que havia tantas contradições em seus atos que se sentia estúpida por tal desumanidade consigo mesma, e que refletia naquele que só queria o seu bem. A cada pegada que deixava na terra era uma forma simbólica de abandonar tantos equívocos acumulados. Decidida a encarar de frente a idiossincrasia do que lhe ofereciam, delineava mentalmente uma solução, mas perigosamente excluindo as consequências.

Raquel atravessou o portão de sua casa enquanto Ladislau descarregava a carroça, e caminhou até a porta. Para sua surpresa, um gato estava encolhido na soleira. Tinha a pelagem preta, com respingos de neve. Ela se agachou, e ofereceu sua mão amistosamente. O gato farejou os dedos, e levemente esfregou a cabeça. Raquel se levantou e abriu a porta da casa, fazendo com que o gato se levantasse. Sem assustar, ela pegou o animal no colo e verificou que era uma fêmea. Entrou em casa, deixando a porta aberta para que Ladislau entrasse com as coisas e depois aquecesse a lareira, para enfim ser dispensado para sua casa. Enquanto isso, a gata andava pela casa, fazendo o reconhecimento da área, e Raquel foi tranquilamente para a cozinha fazer o seu chá de rosas preferido.

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Raquel_


O dia estava com um clima ameno, o tempo indicava que o inverno chegava ao fim. Raquel estava preocupada com a dificuldade de manter seus campos produtivos durante o rigor do inverno, e contava com a ajuda de Ladislau para deixar tudo em ordem. Durante esse período, foi eleita para o Conselho do Condado, adquirindo mais uma responsabilidade, só que desta vez perante a população. Não havia sequer uma preocupação quanto a isso, pois tinha consciência do passo que tinha decidido a tomar.

Enquanto isso, sua gata já estava devidamente acomodada em sua casa, e depois de alguns dias passou a chamá-la de Noir. Chamava-a várias vezes, para se acostumar com seu nome. Alimentava-a com pedaços de carne crua e invariavelmente Noir seguia Raquel para onde ela fosse. Aos poucos tornava-se uma boa companhia.

Às vezes, Raquel ia até o quarto que pertencia a Leonardo e ficava observando o vazio. Sentava na sua cama e olhava a ausência daquela personalidade que por tanto tempo esteve ao seu lado. Saía do quarto e seguia até o espaço do atelier, sentava-se, olhava para a tela vazia, e não conseguia extrair algo significativo para preencher aquele pedaço de tecido. Talvez era preciso arrancar à força a vontade que continha, mas que não se esforçava por se manifestar. Noir veio silenciosamente até o atelier e deitou próxima de Raquel. Encarava-a com seus olhos verdes, e Raquel correspondeu. No mesmo instante a gata desviou o olhar, e encostou a cabeça no chão.

Depois de desistir completamente de uma tentativa de distração, Raquel sentou em frente à lareira para ver o fogo crepitar timidamente. Em especial neste dia o silêncio a incomodava, tendo apenas o som do fogo queimando como pano de fundo. Queria poder também aquecer todas as suas dúvidas, até que se consumissem e virassem cinzas. Mas ao mesmo tempo era como iluminava suas certezas, mantendo acesas suas convicções. O fogo era uma efemeridade capaz de mantê-la confortável, com todo o cuidado para que não deixasse marcas significativas.

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Leonardodavinci


A noite estava perto de cair nas proximidades do Solar dos Torre. A neve ainda caía levemente, hora ou outra, resistindo a primavera que se aproximava. Um vento gélido por vezes uivava, lamuriosamente anunciava que faltava pouco tempo, para que todo o tapete branco se extinguisse e que a paisagem se modificasse por inteiro, moldada pelos raios de sol e pelas flores.

Leonardo em seu cavalo de viagem, se aproximava do domicilio de Raquel. Viajariam naquele dia para o Porto, para que Anton pudesse se encontrar com Mantie e resolver alguns negócios familiares. O equino em que estava ia em passo acelerado, levantando um rastro de neve e lama. O jovem italiano se apressava para se encontrar com sua prima, antes que Anton aparecesse. A questão é que seu primo, a contragosto, precisou ficar um tempo a mais no Solar resolvendo as questões administrativas de seus mercenários durante sua ausência e como já se aproximava o pôr do sol, foi forçado a deixar que ele fosse a frente buscá-la.

Uma estranha energia impulsionava ele para aquela casa, sentia subir uma sensação de euforia, que subia-lhe pelo estômago e que enchendo ele de impaciência e vontade, fazia-o atiçar a montaria ainda mais. Aquele sentimento aumentou ainda mais quando ele finalmente parou diante do pequeno portão, a entrada da casa.

Leonardo desceu do cavalo, tomado de um estranho torpor, tentou atravessar o portão, mas esqueceu de abri-lo, batendo com as pernas contra ele. Recuando e refazendo a manobra, continuou e atravessou o terreno preparado para jardinagem. Cada centímetro daquela casa era pra ele uma lembrança dela, algo que alimentava ainda mais sua vontade e enrijecia seus músculos.

Colocou as mãos sobre a maçaneta, seu coração batia forte e acelerado como ele poucas vezes sentira. Era a primeira vez que iria vê-la desde que ela se recuperara. Por um segundo sua mão hesitou em abrir a porta. Pela sua mente passou todas as possibilidades da forma como ela poderia recebê-lo, mas incapaz de decidir qual delas seria, simplesmente atravessou a porta e adentrou na casa.

Viu que ela estava pronta pra sair, de frente pra ele, carregando com a ajuda de Ladislau algumas das bolsas de viagem com suas roupas e provisões. Leonardo a olhou nos olhos e viu como ela ruborizou, surpresa ao vê-lo ali, sozinho. Percebeu também que o criado sutilmente deslizou para fora da cena, entrando na cozinha fingindo que havia esquecido algo.

Ele largou o mantô molhado de neve no chão e caminhou a passos largos até ela. Sem esperar que ela reagisse, puxou-a contra o seu corpo num abraço apertado, quase a erguendo no ar. Sentiu o perfume dela como jamais havia feito, apertou o corpo dela contra o dele, com uma intenção que nunca havia se permitido ter. Os agasalhos dela eram um incômodo para ele, queria senti-la com plenitude e o instinto que sentia era de removê-los.

Os lábios dele rapidamente acharam o caminho para se encontrar com os dela e ele saboreou o beijo, deixando-se levar, empurrou-a contra a parede, prendendo-a naquele mundo que era só deles.

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Ladislau


Ladislau foi até a cozinha verificar se havia provisões o suficiente, já que ficaria encarregado de tomar conta da propriedade na ausência de sua patroa. Ajeitou as últimas coisas da casa para que tudo estivesse organizado como ela costumava gostar, deu a volta pelo jardim de trás e ficou a espiar a chegada de Anton para buscar a irmã para a viagem, enquanto Raquel recepcionava Leonardo.

Meia hora depois Anton despontava próximo àquela casa, desceu do cavalo e Ladislau cuidou dos cavalos, inclusive o de Raquel que Anton trouxera do Solar, o Enfant Terrible. foi caminhando do portão até a porta que estava entreaberta, conversando com Anton num tom mais alto de voz. Com educação, empurrou para Anton a porta que estava entreaberta, e encontraram Leonardo segurando as coisas de Raquel e todos prontos para viajar.

Intimamente Ladislau pedia a seu Deus que aquela viagem ocorresse com tranquilidade.
Raquel_


Raquel retornara do Porto, e pensava que o mundo desabava em sua cabeça quando pisou os pés em sua aconchegante casa. Ladislau a auxiliava na chegada, enquanto relatava fatos pitorescos ocorridos durante a ausência da patroa. Sua gata Noir estava languidamente deitada na sala enquanto observava a movimentação de idas e vindas de Ladislau para trazer os pertences de Raquel.

A esposa de Ladislau, senhora Prudência, gentilmente tinha feito uma bandeja de carne assada com legumes, e seu esposo trouxe de bom grado sabendo que Raquel não teria tempo para se preocupar em fazer sua própria comida. Ela fica muito grata com a boa disposição e oferece o que é necessário para retribuir a gentileza, mas Ladislau recusa.

Conformada com a resposta, convidou-o para almoçar juntamente e fazer companhia, enquanto ela organizava mentalmente o que fazer na sua chegada. Era inevitável pensar se Leonardo chegou bem no Solar, já esperando por notícias dele. Relembrou do passeio em Porto e um tímido sorriso esboçou no rosto, enquanto permitia fincar uma âncora imaginária de calmaria no meio da sua tempestade particular.

Noir veio ter com os dois presentes na cozinha, e Raquel cedeu um pouco da carne do seu prato para a felina, fez um pouco de carinho e se levantou em direção ao seu quarto, onde precisava conferir as correspondências depositadas na escrivaninha, que havia recebido. Lembrou que precisava falar pessoalmente com Leonardo sobre o misterioso artefato que ele carregou durante a viagem, pois agora sua curiosidade estava aguçada o bastante para querer saber a finalidade daquele objeto tão particular.

Mesmo sentindo toda a vontade de querer descobrir do que aquilo se tratava, resignou-se em atualizar suas correspondências. Estava de volta, e o trabalho diário precisava de um pouco de atenção.

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Leonardodavinci


Apenas um dia após a sua chegada em Chaves e Leonardo já estava defronte a porta de Raquel, impaciente. Sentia imensa vontade de vê-la e apesar de Ladislau ser sempre ágil e rápido a atendê-lo, para ele, demorava uma eternidade. Não queria também, ficar muito tempo exposto de frente a casa dela, de forma a evitar também que o denunciassem ao primo.

A porta se abriu e era Raquel que o recebia. Um sorriso se formou em seu rosto assim que viu os lindos olhos dela o fitarem do outro lado do portal. Não aguardou o convite para entrar e beijou-a, entrando na casa, fechando a porta atrás de si.

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Raquel_


A impulsividade de Leonardo ainda causava surpresas. O gesto impetuoso ao beijar assim que avistou Raquel não deixava margem para tão somente retribuir de início com um pouco de aflição. Os músculos da face enrijeceram um pouco, e a tensão se distribuía pelo corpo. No que Leonardo percebeu, puxou-a com um braço pela cintura, e começou a beijar mais lentamente. Raquel abriu os olhos e viu que ele a observava, ambos dividindo da mesma lentidão, encarando-se. O coração de Raquel palpitava mais rápido, e nesse desencontro de sensações, um barulho de uma caneca caindo na cozinha surgiu para interromper a rendição momentânea. Gentilmente Raquel pousou uma mão no ombro de Leonardo, e disse:

- Tem um criado do Solar na cozinha, que não pode nos ver assim.

Apressadamente Raquel foi até a cozinha com intuito de dispensar o criado, pela porta dos fundos da casa. Recomendou que Ladislau o acompanhasse para entregar as correspondências pendentes e que fosse ao mercado comprar algumas coisas do que precisava.

Ao retornar para a sala, não avistou Leonardo. Viu que a porta que dividia a sala e o atelier estava entreaberta, e foi em direção ao atelier. Seu primo estava distraidamente a olhar o estojo de pincéis, quando Raquel chamou sua atenção.

- Enfim, uma visita aqui... procurando por algo?

Raquel se recordou daquele disco tão enigmático que viu.

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Leonardodavinci


Leonardo resolvera passar no ateliê, que há muito não visitava. Quando entrou no cômodo, sentiu um estranho frio na barriga. De certo modo despertara nele a consciência de que a maior parte dos últimos dois meses, fora gasta em conhecimento técnico e não na Arte. Havia alguns livros ali que poderiam ser úteis na investigação que ele iniciaria acerca da moeda misteriosa que recebera no Porto.

Embora seu interesse fosse os livros, ele passou por uma das telas e sentiu com a ponta dos dedos o tecido pálido, preparado para a pintura, pedindo para capturar em sua superfície, uma imagem, uma ideia. Ele avaliou a condição dos pincéis e refletiu acerca do que poderia retratar ali naquela tela. Havia alguns esboços que ele preparara nos primeiros meses que morou ali, mas não queria terminá-los, queria algo novo.

- Enfim, uma visita aqui... procurando por algo?


Ele virou-se pra ela.

- Procurava inspiração, mas ela acabou de chegar... - ele se aproximou dela e tomando sua mão, puxou-a para mais próximo de si e sussurrou - Eu poderia pintar você... Você é tão linda... Se ao menos eu pudesse capturar um pouco dessa beleza, transpô-la para esta tela, isso me faria o mais feliz dos artistas...

Ele sonhou um pouco acordado, imaginando uma pose, um cenário, que se adaptasse aos olhos dela, os cabelos, as curvas do corpo dela...talvez um pouco menos de roupa... Sua mente travava.

- Raquel, você me deixa de um jeito... - ele começou, adotando o ar tímido com que as vezes ficava diante dela. Acariciou os lábios dela com o polegar. Sentiu o perfume dela, aproximando sua boca do pescoço dela. Podia sentir ali o quão forte o coração dela palpitava. Sussurrou no ouvido dela - Você é minha musa, minha Erato... Adorável...

Ele estava ofegante, quase inebriado no perfume dela. Beijou-a na boca, saboreando o beijo, como se fosse a última vez que pudesse beijá-la. Sabia, apesar de todo o desejo que sentia, que não podia ficar ali muito tempo, não era seguro para nenhum dos dois.

- Eu preciso voltar ao Solar... você entende? - ele a perguntava fitando-a no olhos, doía nele se separar dela.




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Raquel_


Leonardo fez um esforço para interromper a própria atmosfera que havia criado, mais envolvente que qualquer outra oportunidade anterior. Foi angustiante para Raquel ser tão cativada e logo depois não receber tal estímulo prolongadamente. Ainda estava com os olhos cerrados e com os pensamentos mais lentos quando Leonardo disse que precisava voltar ao Solar. Aquilo a despertou, e respondeu:

- Fique mais um pouco, ninguém vai aparecer repentinamente. Assim você pode avaliar melhor se realmente quer elaborar uma pintura, o que considero perda de tempo.... - Raquel dá uma risada breve - Eu nem mostrei uns poucos esboços que fiz.

Ela beija rapidamente os lábios de Leonardo, e se desvencilha amorosamente dos seus braços, indo em direção a um pequeno móvel. Abriu a portinhola e tirou um papel enrolado como pergaminho para mostrar.

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Leonardodavinci


Raquel desenrolou alguns papéis e mostrou a Leonardo. Ela tinha os olhos expectantes e ele pôde perceber que a opinião dele era importante para ela. Tomou os esboços e começou a olhá-los, com um olhar crítico, buscando neles alguma falha técnica. Ele pode notar que os traços não eram experientes, havia certa rusticidade nos traços, eram simples, mas havia qualidade neles, desenvolviam bem os contornos e ressaltavam áreas de sombra e luz com bastante coerência. No entanto, os temas o surpreenderam. Haviam alguns esboços de partes do corpo, o que era de se esperar, mas alguns outros, retratavam a vida campesina, os animais, cenas cotidianas.

Leonardo passara muito tempo em contato com a arte florentina, feita sob encomenda pela Igreja ou pelos mecenas, que aquela arte feita por mero prazer, baseado nas coisas que se podiam ver no cotidiano, era surpreendente e inovadora ao seus olhos. Alguns camponeses num milharal, alguns homens conversando numa taverna, uma gata andando pelos muros de uma propriedade. Alguns detinham certa imprecisão anatômica, mas era possível entender isso, sabendo que Raquel não pintava com modelos. O retrato de alguns cenários eram possíveis de se ver em alguns dos esboços, a maioria eram vistas de Chaves e era provável, que ela tivesse muitas vezes se dedicado a essa análise ao ar livre.

Enrolou novamente os esboços e a entregou.

- O que eu não daria pra poder te ensinar...- ele olhou nos olhos dela - ...você tem um talento para isso, tem os olhos, o espírito. Só precisa de orientação. Que bela artista você daria...

Ele a observou, esperando que ela pudesse imaginar que ele só a elogiasse para ser gentil com ela.

- Eu gostaria de te ajudar a completar alguns desses esboços. Fazê-los obras completas. Seria uma pena que o mundo os perdesse, presos no atelier.

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Raquel_


Uma das características de Raquel, se é que poderia encaixar como defeito, era ser neutralizada por algum elogio. Ela não sabia como reagir frente a um elogio, por vezes tentava agradecer somente por educação ou tergiversava, mas intimamente preferia não ouvi-los. Naquele momento Leonardo não só disse um, mas vários, no que Raquel olhou para baixo, encabulada.

- Eu gostaria de te ajudar a completar alguns desses esboços. Fazê-los obras completas. Seria uma pena que o mundo os perdesse, presos no atelier.

Raquel riu brevemente. O tom de voz alterou, dando voz a um pensamento com sabor de amargor.

- Ora Leo, convenhamos... desenvolver esta habilidade em um lugar inóspito como esse em que moramos, onde há o desprezo por estas atividades, onde a morte e a intriga são as religiões predominantes, é evidente que eu preferiria mantê-los trancados no meu atelier. Mais fácil eu voltar para Dijón, lá sim haveria apoio. Ou Florença, talvez...

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